Obsidian: A Origem de Vincent - Parte 01

Da série Obsidian
Um conto erótico de Fabio N.M
Categoria: Heterossexual
Contém 3456 palavras
Data: 03/02/2025 06:09:27
Última revisão: 03/02/2025 09:28:00

A história a seguir se passa anos antes dos eventos da série Obsidian: De Esposa a Escrava. Porém, desta vez o foco será o nosso antagonista, Vincent. A trajetória da vida que fez dele o homem que vocês conheceram. Se não conheceram, é recomendável que conheçam antes de prosseguir.

Recomendações: Essa é uma história erótica contendo drama psicológico intenso e finais trágicos. Se você é sensível a esse tipo de história, pare agora ou continue por sua conta em risco. O mesmo vale para a série Obsidian: De Esposa a Escrava.

Prefácio

O céu de Blumenau, carregado de nuvens densas e pesadas, parecia refletir o turbilhão de emoções que se desenrolava no coração de Vincent Weiser. A brisa fria passava entre as lápides, carregando consigo o cheiro de terra úmida e crisântemos. Clara, sua Clara, a mulher que um dia havia prometido amor eterno e que ele também jurara proteger, agora jazia em um caixão de madeira escura, coberta por flores brancas que contrastavam com a frieza da ocasião. O cortejo fúnebre se movia lentamente, um desfile silencioso de rostos compungidos, cada um imerso em sua própria interpretação da perda.

Vincent, de pé, com as mãos fechadas em punhos e o maxilar rígido, observava o caixão sendo baixado à terra. O vazio que se espalhava por seu peito era feito de uma mistura venenosa de dor, raiva e ressentimento. A morte de Clara fora repentina e brutal, um acidente que a arrebatara ao lado do homem com quem ela o havia traído. A cidade falava disso em sussurros, os olhares discretos durante o cortejo sendo testemunhas silenciosas do escândalo que se encerrava ali, sob a terra fria.

Ao seu lado, Wagner, seu filho de vinte anos, seguia com os olhos baixos, a expressão marcada por uma tristeza que Vincent não sabia como decifrar. Ele não conseguia olhar para Wagner sem sentir a onda de mágoa que o envolvia. Wagner sabia da traição de Clara, disso Vincent tinha certeza, e o silêncio de seu filho havia sido uma punhalada quase tão profunda quanto a própria infidelidade de Clara. Por mais que Wagner fosse fruto do amor que ele e Clara um dia compartilharam, Vincent via nele uma lealdade dividida, uma sombra da mãe refletida no jovem que ele criara.

O padre murmurava palavras que se perdiam no vento, mas Vincent não ouvia. Suas memórias o puxavam para trás, para os ecos de sua infância em Hamburgo, para a primeira vez que sentiu a dor do abandono, quando sua mãe, Nora, o deixara sem olhar para trás. A mesma sensação de impotência e traição que sentira então agora reaparecia, faminta, corroendo as cicatrizes que nunca haviam realmente sarado.

Com os olhos fixos na cova que engolia o caixão, Vincent sentiu o passado misturar-se com o presente. A traição de Clara, o abandono de sua mãe, o pai ausente e violento, tudo parecia se amalgamar em um único fio condutor, costurando a história de sua vida em uma trama sombria e inevitável. Ele se perguntava, enquanto a última pá de terra cobria o esquife de Clara, se a vida lhe havia reservado apenas perdas e se, no fundo, todo amor que tocava estava destinado a apodrecer.

Enquanto o cortejo começava a se dispersar, Wagner se afastou em silêncio, deixando Vincent sozinho. O frio penetrante do cemitério e o zumbido abafado dos sussurros ao redor eram os únicos testemunhos da decisão que nascia ali, no silêncio daquela despedida. Vincent não sabia se odiava Wagner, se o perdoaria algum dia, ou se ambos estavam apenas à mercê de uma força maior que os havia deixado órfãos de amor verdadeiro.

Vincent respirou fundo, sentindo a pedra de obsidiana que carregava no bolso do casaco pressionar sua perna, um talismã de lembrança, uma marca de sua infância e das lições que aprendera cedo demais. Ele fechou os olhos por um momento, deixando o peso da memória tomar conta, e quando os abriu, era como se estivesse olhando para dentro de si mesmo, para aquele menino que perdera tanto e que, por isso, jurara nunca mais ser fraco.

E foi assim, com os olhos fixos na sepultura e a mente preenchida por recordações amargas, que Vincent soube que a única maneira de proteger-se era dominar, controlar e nunca mais ceder. E então, a narrativa de sua vida o puxou para trás, para onde tudo começou, para Hamburgo, quando as primeiras sombras se espalharam por sua alma e o transformaram no homem que era hoje.

Capítulo 1: As Primeiras Sombras

Hamburgo, Alemanha – 1984

A noite pesava sobre a cidade, e o silêncio da casa Weiser parecia mais denso do que nunca. Uma escuridão lenta se arrastava pelos cômodos, envolvendo móveis e paredes com uma quietude quase opressora. Rudolph Weiser estava sentado à beira da cama, o corpo inclinado para frente, os cotovelos apoiados nas coxas, os olhos fixos no pedaço de papel tremendo entre seus dedos. O papel era fino, os cantos dobrados denunciando que já havia sido manuseado inúmeras vezes. Uma de muitas cartas escondidas em um fundo falso da gaveta do criado-mudo de Nora.

Ele nem sabia o que procurava quando acidentalmente desencaixou o forro de madeira. E agora, a prova de sua humilhação estava bem ali, sussurrando segredos e pecados diretamente em seus olhos.

"Meine geliebte Nora,...

…Sua pele ainda dança sob meus dedos quando fecho os olhos. Você me pertence, e quando estamos juntos, nada mais importa. O mundo desaparece quando estou dentro de você…

…Até agora, ainda sinto seu gosto nos meus lábios, o calor do seu corpo sob o meu. Seus gemidos ainda ecoam em minha mente, uma melodia que não consigo esquecer. Você me pertence de um jeito que ele jamais entenderia. Me diga, amor, quando nos veremos de novo?..."

A mão de Rudolph tremeu. Sua visão escureceu por um instante, a pulsação latejando nos ouvidos. O nome do remetente não estava assinado por completo. Apenas as iniciais “L.D.”.

Seu peito se apertou em uma onda de náusea e fúria enquanto seus olhos percorriam as palavras lascivas, cada frase um golpe naquilo que um dia foi sua segurança. Sua mente começou a reconstruir as cenas descritas na carta, como se estivesse sendo forçado a assistir ao próprio inferno se desenrolar diante de seus olhos.

Ele viu Nora, sua esposa, deitada sob outro homem, o corpo nu emaranhado entre lençois desconhecidos. Os cabelos loiros, sempre tão bem alinhados em casa, estavam bagunçados, bagunçados pelo desejo. Seus olhos semicerrados carregavam um brilho de prazer.

As mãos do amante a exploravam com uma intimidade insolente, os dedos deslizando pela pele dela com um direito que não lhe pertencia. Os lábios de Nora se abriam em gemidos mudos, e seu corpo se contorcia em êxtase sob investidas que não eram dele.

O som de respiração ofegante, o rangido da cama, os lençois úmidos de suor e luxúria…

Ele a via morder o lábio, a respiração entrecortada, os músculos contraindo-se em um ritmo cada vez mais frenético que acompanhavam as estocadas. As coxas se apertavam ao redor do homem, implorando por mais, mais intensidade, mas força, mais agressividade.

E então o clímax. O corpo dela estremecendo em espasmos involuntários, os dedos crispando sobre os lençois, a pele arrepiada como se tivesse sido tocada pelo próprio prazer encarnado.

O som do papel sendo amassado se misturava ao eco imaginário dos suspiros e gemidos abafados, aos rangidos de uma cama que não era a sua. Ele ouviu tudo sem jamais ter estado lá. E o pior de tudo? Na sua mente, ela sorria após o ato. Sorria como se tivesse sido saciada de uma fome profunda e incontrolável.

Do lado de fora do quarto, no corredor mal iluminado, pequenos passos hesitantes quebraram o silêncio.

Vincent Weiser, com apenas seis anos, parou na porta do quarto dos pais, segurando seu carrinho de madeira desgastado pelo tempo. Seu olhar era curioso, mas havia uma sombra em seus grandes olhos azuis, uma intuição precoce de que algo estava errado. Ele não entendia as nuances da dor adulta, mas sentia o peso invisível dela pairando no ar. O pai estava sentado na beira da cama, imóvel, como se o peso do próprio corpo fosse um fardo que ele mal conseguia suportar. Suas mãos estavam cerradas ao redor do papel amassado, os nós dos dedos brancos pela pressão.

Vincent não sabia ler todas as palavras ainda, mas sentia que aquele pedaço de papel era mais perigoso do que qualquer coisa que já tinha visto.

Então veio o som.

Um baque seco, seguido de um estrondo mais forte.

Rudolph jogou a mesinha de cabeceira no chão, o abajur se espatifando em cacos de vidro. A escuridão tomou o quarto como uma fera faminta.

Vincent recuou instintivamente, seu coração disparando no peito pequeno. Nunca tinha visto o pai quebrar nada antes.

Rudolph olhou ao redor, como se procurasse algo, ou alguém, para descontar sua fúria. Ele então fixou o olhar na porta, onde Vincent estava meio escondido, os olhos arregalados de apreensão. Por um momento, os dois se encararam, pai e filho, dois mundos que se colidiam silenciosamente.

Mas Rudolph não disse nada. Apenas passou a mão pelo rosto, abafando um suspiro pesado, tentando conter o turbilhão de sentimentos que o assolava. Então, sem olhar para o filho, ele rasgou a carta em pedaços e jogou os fragmentos no chão, como se pudesse destruir a lembrança do que acabara de ler.

Vincent, ainda paralisado, assistiu a tudo sem fazer um único som. Dentro dele, algo começava a se formar, uma inquietação, um vazio que ele não compreendia, mas que permaneceria com ele pelos anos seguintes.

— Vá para o seu quarto, Vincent — A voz saiu rouca, carregada de algo que o menino não sabia nomear, mas que apertava seu peito.

Vincent hesitou por um momento, o coração martelando dentro do peito pequeno. Então, ele correu.

Seus pés descalços fizeram pouco ruído contra o chão de madeira, mas o eco de sua fuga reverberou pelo corredor. Ele entrou no quarto e fechou a porta com força, os dedos segurando a maçaneta por alguns segundos, como se aquilo fosse suficiente para manter os monstros do lado de fora.

No entanto, os monstros não estavam do outro lado da porta. Eles estavam dentro da casa. Dentro de seu pai.

Vincent se encolheu debaixo das cobertas, os olhos bem abertos, encarando a escuridão.

Do quarto ao lado, um grito abafado de fúria rasgou a noite. Algo foi arremessado contra a parede, seguido de um soluço rouco, sufocado por um orgulho quebrado.

Vincent fechou os olhos com força.

Ele não sabia o que havia acontecido. Não sabia por que seu pai parecia tão diferente. Mas algo dentro dele lhe dizia que nada mais seria como antes.

**********

O céu noturno clareava anunciando um novo amanhecer dali algumas horas, mas ninguém naquela casa havia dormido. O silêncio sufocante havia se dissipado, sendo substituído pelo som de pés descalços arrastando-se pelo chão, gavetas sendo abertas e fechadas às pressas, o zíper de malas sendo fechadas com um som seco, definitivo.

A casa Weiser, que sempre fora um refúgio de ordem e rotina, agora parecia uma zona de guerra silenciosa. A sala ainda carregava os ecos da discussão brutal que havia acontecido algumas horas antes, palavras afiadas lançadas como facas, atingindo carne e alma sem piedade.

Rudolph Weiser estava sentado na cama, olhos fixos na sombra da esposa.

O peito doía de forma quase física, como se algo estivesse sendo arrancado de dentro dele. O papel amassado das cartas ainda estava jogado no chão, onde ele o havia lançado aos pés da esposa, como se quisesse expulsar a verdade que queimava sua pele. Mas as palavras estavam gravadas na sua mente, e ele as via dançando na escuridão do quarto como uma maldição.

"Até agora, ainda sinto seu gosto nos meus lábios, o calor do seu corpo sob o meu."

A voz de L.D., o amante, soava em sua cabeça como se o próprio demônio estivesse sussurrando em seu ouvido.

Rudolph não reconhecia a mulher à sua frente.

Nora, sua Nora, estava diante do armário, pegando roupas, enfiando peças às pressas em uma mala aberta sobre a cama. Seus movimentos eram meticulosos, precisos, sem hesitação. Havia algo de cruel em sua calma.

— Você vai mesmo fazer isso? — A voz de Rudolph saiu rouca, um misto de incredulidade e raiva contida.

Ela não respondeu de imediato. Suas mãos deslizaram pelo tecido de um vestido preto que ele adorava vê-la usar, e por um instante, ela pareceu hesitar. Mas então, endureceu-se novamente, dobrando a peça sem olhar para ele.

— Eu preciso ir.

Aquelas três palavras perfuraram o peito de Rudolph como facas afiadas.

— Precisa? — Ele riu, mas não havia humor em seu riso. Era um som amargo, desesperado — Ou quer? Porque são coisas bem diferentes, Nora. Você quer ir para os braços daquele desgraçado? Quer abrir mão de tudo? Da nossa casa? Da nossa família? De Vincent?

Ela se enrijeceu ao ouvir o nome do filho, mas não parou de arrumar as malas.

— Não fale como se eu fosse uma criminosa. Eu passei anos presa a esse casamento, sufocando, esperando algo que nunca veio. Você nunca percebeu porque nunca olhou para mim de verdade.

— Isso é ridículo! — Ele se levantou bruscamente. O coração batia forte no peito, como se tentasse escapar de dentro dele — Você está jogando sua vida no lixo por um idiota que só quer se divertir com você. E depois? O que vai acontecer quando ele se cansar? Quando ele procurar outra mulher para brincar?

Ela fechou a mala com um estalo seco. Pela primeira vez, seus olhos se encontraram.

— Então eu me levantarei e seguirei em frente.

A frieza na voz dela lhe deu um calafrio. A mulher diante dele não era a mesma com quem havia se casado. Não era a jovem doce, sempre preocupada em manter tudo em ordem, que o esperava em casa com um jantar quente e um sorriso. Nora havia se transformado em outra pessoa.

E ele não percebeu quando isso aconteceu. Rudolph sentiu um nó se formar em sua garganta. A raiva e a tristeza se misturavam em uma tempestade incontrolável.

Ele aproximou-se dela, segurando-a pelos braços.

— Não faça isso — Sua voz saiu mais baixa, menos agressiva, quase um sussurro. Era uma súplica — Não jogue tudo fora, Nora. Por favor.

Os olhos dela pareceram vacilar por um segundo. Ela sentiu o aperto dos dedos dele em sua pele, e por um instante, pensou em recuar. Pensou em parar. Mas então, ela respirou fundo. E se libertou do toque dele.

— Já está feito, Rudolph.

Ela pegou a mala, fechou o casaco e deu as costas para ele.

Escondido atrás da escada, Vincent observava a mãe atravessar o corredor em direção à sala. Ele não entendia completamente o que estava acontecendo, mas sentia. O peito doía como se alguém o estivesse apertando por dentro.

Ele viu a mãe descer as escadas devagar, carregando a mala preta. Viu o pai parado na porta do quarto, olhando para ela como se estivesse perdendo tudo. E viu o rosto de Nora quando ela finalmente passou pela porta da casa.

Ela não olhou para trás.

Não havia despedida. Não houve um último beijo, um último carinho. Apenas o som seco da porta batendo atrás dela.

Lá fora, o táxi aguardava com os farois acesos, iluminando a rua molhada pela garoa fina da madrugada.

Vincent sentiu algo dentro dele se despedaçar. Ele queria correr até ela, queria gritar para que voltasse, queria que ela olhasse para ele uma última vez. Mas não se moveu. Ele ficou parado ali, pequeno demais, impotente demais, vendo sua mãe desaparecer dentro do carro.

O motor roncou, e as luzes vermelhas dos freios brilharam por um instante antes de o carro se afastar.

E então, ela se foi.

A chuva engrossou lá fora. O céu escuro parecia maior do que nunca.

Vincent sentiu o chão sob seus pés se tornar instável, como se toda a realidade estivesse ruindo ao seu redor. Naquela noite, ele aprendeu uma lição cruel: As pessoas que ele ama podem partir a qualquer momento. E elas não olham para trás.

**********

A casa Weiser já não era a mesma.

Antes, o cheiro de café fresco pela manhã e os pratos bem organizados na mesa davam ao lar uma sensação de estabilidade. Agora, o cheiro forte de álcool pairava pelo ar, misturado ao ranço de cigarros amassados nos cinzeiros cheios. O tempo parecia ter parado dentro da casa, tornando tudo mais sombrio, mais pesado, mais esquecido.

Desde a partida de Nora, Rudolph Weiser havia se tornado um espectro. Sua rotina se resumia a trabalhar o mínimo necessário para manter a casa em pé e, logo após o expediente, afundar-se em garrafas de cerveja e schnapps (uma espécie de cachaça alemã). A cada noite, sua voz se tornava mais arrastada, seus passos mais incertos e seus olhos mais vazios.

E no meio dessa decadência silenciosa, Vincent aprendia a sobreviver sozinho.

Aos seis anos, ele já sabia como esquentar leite no fogão sem se queimar. Sabia como se trancar no quarto quando o pai chegava bêbado demais para perceber sua presença. Sabia como não chorar quando sentia saudade da mãe.

Mas havia noites em que não conseguia evitar.

Naquela madrugada, Vincent acordou sobressaltado. O barulho de vidro quebrando ecoou pela casa, seguido de um murmúrio gutural vindo da sala. Ele permaneceu imóvel por um instante, o coração batendo acelerado, tentando ouvir melhor.

— Maldita mulher… maldita… desgraçada…

A voz de Rudolph era um rosnado rouco, quase um sussurro, entrecortado pela embriaguez.

Vincent se encolheu embaixo das cobertas. Sabia que o pai não estava chamando por ele. Não era a primeira vez que ouvia essas palavras no meio da noite.

Era sempre sobre Nora.

Ele respirou fundo e apertou os olhos, tentando ignorar, mas, como sempre acontecia, a inquietação foi mais forte do que o sono.

Lentamente, ele se levantou da cama e saiu do quarto descalço, seus pés pequenos fazendo pouco ruído contra o chão frio de madeira. Na penumbra, a luz mortiça do poste de rua entrava pela janela, lançando sombras distorcidas sobre os móveis.

Rudolph estava largado no sofá, uma garrafa caída ao lado, o olhar perdido no nada. Seu rosto estava marcado pelo cansaço, as olheiras profundas faziam-no parecer muito mais velho do que era.

Vincent não disse nada. Apenas ficou ali, olhando para o pai, observando o que restava dele.

Mas Rudolph não notou sua presença. Depois de um longo momento, Vincent desviou o olhar e subiu as escadas novamente, voltando para seu quarto, mas ele não queria dormir, não queria ouvir a voz rouca do pai chamando por alguém que nunca voltaria. Seus olhos pousaram sobre a porta entreaberta do antigo quarto da mãe.

Ele não entrava ali desde que ela partiu, mas, naquela noite, Vincent não resistiu. Ele empurrou a porta com cuidado, sentindo um arrepio percorrer sua pele ao entrar. O quarto ainda tinha o cheiro dela, mesmo depois de tanto tempo. A cama estava arrumada, as roupas que ela não levou estavam guardadas no armário, mas a ausência era um grito silencioso no ar. Sua mãe nunca voltaria para aquele lugar.

Lentamente, Vincent se aproximou da penteadeira. As gavetas estavam fechadas, mas ele sabia que algo dela ainda estava ali. Ele puxou a primeira gaveta. Dentro dela, algumas bijuterias que sua mãe havia esquecido estavam misturadas a pequenos objetos. Broches, aneis baratos, algumas fotos antigas, mas foi um colar que chamou sua atenção.

Era simples, uma corrente fina de prata com uma pequena pedra de obsidiana em forma de coração. Vincent a segurou entre os dedos. A pedra era fria ao toque. Ele não sabia por que, mas algo naquela pedra o atraía, o prendia. Era um pedaço da mãe que ela deixou para trás. Seu peito apertou. Pela primeira vez em meses, as lágrimas vieram antes que ele pudesse segurá-las.

Ele odiava isso. Odiava chorar. Mas, naquela noite, não conseguiu impedir. Ele se sentou no chão, segurando o colar com força, os dedos pequenos pressionando a pedra contra a palma da mão. A frieza do amuleto se misturava ao calor de seu próprio corpo, e ele sentiu um conforto estranho nisso. Era como se aquele pedaço de obsidiana carregasse dentro de si todo o peso do que ele estava sentindo, dor, saudade, solidão, e, ao mesmo tempo, uma necessidade silenciosa de se tornar forte. Ele apertou a pedra com mais força. Não podia ser fraco. Se sua mãe tinha ido embora e seu pai se afogava em álcool, então ele teria que se proteger sozinho.

AUTOR: Se você chegou aqui sem ter lido a série Obsidian: De Esposa a Escrava, serei bonzinho e ter dar tempo para se atualizar antes de eu postar o capítulo seguinte.

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Foto de perfil de Fabio N.MFabio N.MContos: 116Seguidores: 149Seguindo: 43Mensagem Segredos para uma boa história: 1) Personagens bem construídos com papéis e personalidades bem definidas qualidades e defeitos (ninguém gosta de Mary Sue ou Gary Stu); 2) Conflitos: "A quer B, mas C o impede" sendo aplicado a conflitos internos e externos; 3) Ambientação sensorial, descrevendo onde estão seus personagens, o que estão vendo ou sentindo.

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