**PRÓLOGO**
O despertador toca, e eu mal posso abrir os olhos. Não dormi o suficiente. A vida está uma loucura: faltam menos de um ano para terminar a faculdade, e o TCC está me enlouquecendo. Além disso, fui demitido e o aluguel está atrasado. Parece que o universo está de mal comigo, fazendo tudo dar errado em tão pouco tempo.
Levanto da cama com a sensação de estar quebrado, como se tivesse sido partido ao meio. Vou devagar até o banheiro e tento me recompor, sabendo que o dia será cheio. Tenho quatro entrevistas marcadas, e preciso ser um dos primeiros em todas. Tomo um café rápido e saio para enfrentar o mundo.
***
Oi, meu nome é André Luis, tenho 22 anos, e estou terminando o curso de biomedicina. Moro sozinho e estou tentando encontrar um jeito de melhorar a minha vida.
***
A quarta entrevista foi tão frustrante quanto as outras três. A mesma desculpa: “Não é o que estamos procurando no momento.” Saio da sala pisando firme, preciso de uma solução urgente para meus problemas financeiros. No caminho até o ponto de ônibus, meu celular toca.
— Oi, mãe.
— Oi, filho, como você está?
— Bem, mãe. — respondo, embora a mentira me queime a língua.
— Tem certeza?
— Sim, mãe! — tento convencer, mas a voz dela fica preocupada.
— Já conseguiu algum emprego?
— Tô procurando, mas tá difícil...
— Eu sei, filho... Não vou te encher, mas tudo vai melhorar, você vai ver.
O ônibus chega, e a conversa fica mais difícil. Sento na cadeira perto da janela.
— Mãe, o que está acontecendo? Eu sou um adulto, posso lidar com as coisas.
— Eu não queria te contar, mas... Seu pai foi demitido.
— Como assim? Você não disse que ele tinha o apoio do chefe?
— As coisas mudaram... — ela hesita. — Eu liguei também para te avisar que seu avô faleceu.
— O Sr. Gustavo? Nem lembrava mais dele, ele se afastou.
— Tinha uma parada cardiorrespiratória... O velório vai ser na mansão dele.
Gustavo Arantes, meu avô, um homem rico e excêntrico, sempre se afastou da família, inclusive do meu pai. Eles brigaram feio, e meu pai foi deserdado, o que explicava a nossa situação financeira difícil.
***
Chego ao velório e noto que não há muitas pessoas, não mais do que trinta, provavelmente ex-funcionários. Vejo meu pai perto do caixão, visivelmente abalado.
— Oi, mãe. — me aproximo dela, que observa meu pai.
— Que susto, menino — ela me abraça. — Vai lá, anima seu pai, ele está destruído.
— Não sei se consigo, mãe.
— Todo gay tem esse poder, filho, eles sabem animar os outros, mesmo passando por dificuldades... — ela sorri com um toque de tristeza. Eu não posso deixar de lembrar das dificuldades que passei com o bullying na escola.
Vou até meu pai e o abraço.
— Eu o perdi, André... — ele diz, e uma voz interrompe.
— Quem é você? — meu pai pergunta.
— Sou Eduardo Arantes, filho do Gustavo. — ele diz com arrogância, me fazendo ficar irritado. — Ele falou de vocês.
— Não seja ridículo, meu pai só tinha eu de filho.
— Pois fique sabendo que ele me adotou.
— Você me respeite!
— Vamos parar, por favor? Estamos em um velório.
Eduardo me olha com desdém.
— Vou fazer isso, mas não por você, e sim pelo meu pai.
***
Após o sepultamento, minha mãe menciona a leitura do testamento.
— Vai que ele deixou algo pro seu pai?
— Duvido, depois de tê-lo deserdado. — penso em algo e olho para minha mãe. — Posso te perguntar uma coisa?
— Claro.
— Nunca entendi a briga do meu pai com meu avô. O que aconteceu?
— Era sobre você. Quando seu avô descobriu que você era gay, quis que seu pai te expulsasse de casa. Seu pai não aceitou e o relacionamento deles acabou.
— Então a culpa foi minha? — lágrimas começam a cair. — Eu...!
— Não, filho! A culpa foi do preconceito dele, não sua. Não se culpe.
***
Durmo na casa dos meus pais, não quero voltar para minha casa tão cedo.
— Eu não vou poder ir com você à leitura do testamento, querido. — minha mãe me avisa.
— Tudo bem, mãe. — meu pai se prepara para ir, e eu o acompanho.
— Pai, você prometeu me ensinar a dirigir, mas nunca fez isso.
— Quando eu arranjar um emprego, te ensino.
— Promete?
— Prometo.
***
Na leitura do testamento, o advogado lê as últimas vontades de meu avô.
“Deixo para meu filho, Jorge, minha casa em Búzios e R$60.000,00.”
“Para minha nora, Eliza, deixo R$30.000,00.”
“Agora a parte mais importante: Deixo para meu filho, Eduardo, e meu neto, André, minha mansão e tudo dentro dela, além de R$,00. No entanto, para usufruírem de tudo, terão que se casar e viver como cônjuges.”
A leitura continua com uma lista de exigências absurdas, incluindo morar juntos, dormir na mesma cama, e viver como um casal por um ano, sob vigilância constante.
“O casal deve se casar duas semanas após a leitura deste testamento.”
“Eu sou gay, e peço desculpas ao meu neto, André, e ao meu filho, Jorge, pelo que aconteceu no passado. Sei que vocês serão um ótimo casal. André, mude o jeito difícil do Eduardo. Ele é mais como você do que imagina.”
— Gustavo Arantes Pinto.
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O que será que vai acontecer agora? O testamento de Gustavo coloca André e Eduardo em uma situação inesperada!
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