Quando enfim retornamos para casa, depois das compras, já passa das cinco da tarde e sigo direto para a cozinha, pois desejo preparar logo o jantar para depois poder relaxar em paz. No início, cogitei fazer algo mais requintado, mas concluí que estou exausto, por isso escolho preparar uma refeição mais prática.
Caminho até a cozinha e coloco tudo sobre a mesa, visto o avental disponível e lavo as mãos, retirando alguns mantimentos das sacolas e pondo na pia. Enquanto isso, Eduardo me observa fixamente; ele veio atrás de mim e agora está me assistindo cozinhar da porta da cozinha, o que me irrita, afinal, ele deveria procurar algo mais produtivo para fazer ao invés de só ficar ali atrapalhando.
— E o meu bolo? — ele enfim se cansa de ficar em pé e entra no cômodo, acomodando-se à mesa.
— Vou deixar para fazer só amanhã, não vai dar tempo hoje.
— E o que você vai preparar para a gente comer?
— Comida comum...! Arroz, macarrão, frango, feijão e uma salada simples. — respondo enquanto corto os legumes tranquilamente; decidi não me estressar com ele hoje.
— Hum... — ele murmura desanimado, levantando-se da cadeira — Queria comer algo gelado!
— Eu fiz mousse de... — nem preciso concluir a frase, porque ele já abriu a geladeira — Não sei se já firmou; acabei de preparar, deve estar mole ainda!
— Tá! — ele afirma, mas mesmo assim retira o recipiente do congelador.
— Não coma tudo, hein!
— Huhum...
— Estou falando sério...!
— Tsk, que saco... Para de ser chato! Vou comer só um pouco, beleza?! — ele pega uma porção e coloca em uma tigela — Está vendo?! Só um pouco... Já vou guardar!
— Tá, agora sai daqui... Não gosto de cozinhar com plateia!
— Por acaso vai colocar algo aí que não quer que eu veja?! — reviro os olhos — Tipo veneno...?
— Até que não seria uma má ideia — sorrio amarelo —, mas não vale a pena ser preso por te matar!
— Então por que não quer que eu veja você cozinhando?!
— Porque não consigo me concentrar! — ele ergue as sobrancelhas e se afasta rindo, indo em direção à sala — Idiota!
Depois que aquele estorvo finalmente me deixa em paz, posso enfim me focar no que estou fazendo e curtir o momento. E claro que não posso fazer isso sem música, então pego meu celular, escolho uma faixa, coloco no volume máximo e logo a voz da Adele domina a cozinha.
****
Estou exausto. Finalmente a comida está pronta, e o cheiro está incrível, então nem me dou ao trabalho de chamar Eduardo. Assim que termino de cozinhar, subo para o quarto, tomo um banho, visto uma camisa larga e uma boxer por baixo e só então desço para jantar, já me sentindo renovado. Estou apreciando a refeição quando Eduardo entra na cozinha com uma expressão nada boa.
— Por que você não me chamou?!
— Porque não sou obrigado, e não é minha responsabilidade! Ou por acaso sou seus pais?!
— Você é a droga do meu marido! — rio baixo sem interromper minha refeição — Pelo menos no papel, então sim, é sua...
— Cala essa boca e come logo essa porcaria! — ele se senta e me encara irritado.
— Passa o arroz. — entrego a travessa.
— Ah, já ia esquecendo...
Levanto e pego o refrigerante. Vou pegar os copos também, mas os desgraçados estão na prateleira mais alta, e eu sou um tampinha, claro que não alcanço, mesmo ficando na ponta dos pés... Que vexame.
— Tsk, deixa que eu pego, anda, sai daí. — Eduardo fala atrás de mim, e sua respiração quente toca meu ouvido, me assustando e fazendo com que eu bata a cabeça no armário.
— Ai... Seu imbecil! Nem sendo gentil você presta...
— Será que dá para parar de me chamar de idiota?! E quem disse que estou “tentando ser gentil” com você?! Só quero um copo para beber refrigerante... Não suporto mais você...
— Se você é um estúpido, quer que eu te chame de quê?! — pego os copos da sua mão.
Voltamos à mesa e nos sentamos um de frente para o outro. Eduardo começa a comer de um jeito assustador, quase como se tivesse se transformado em um animal diante da comida, e isso me dá enjoo.
— Por que você não usa os talheres e tenta comer mais devagar?!
— Vê se me poupa! — ele resmunga, pegando um pedaço de frango assado com a mão — Por que você não para de ser tão implicante e se preocupa com a sua própria vida?! Vai assistir uns filmes adultos, isso aí é abstinência.
— Arg... Por que tinha que ser sessenta milhões, Senhor? Por quê?!
— Passa o refrigerante!
— Toma!
— Ah, que maravilha! — ele diz, tomando o conteúdo do copo de uma só vez e arrotando logo depois.
— Meu Deus, isso só pode ser um castigo! — Eduardo pega mais um pouco de macarrão — Você parece um esfomeado e aparentemente desconhece o que são “boas maneiras”.
— Terminei! — ele me ignora e limpa a boca com a barra da toalha da mesa.
— Não limpa a boca com essa porcaria, seu idiota!
— Ah, vai se ferrar... Você reclama de tudo!
— Vai você, ogro! — levanto e vou para a sala, nem consegui terminar de comer direito; todo o show do babaca número um me tirou o apetite.
Ao chegar à sala, me jogo no sofá e me acomodo da forma mais confortável possível, com o estômago embrulhado. Em seguida, ligo a TV e vou mudando de canal até parar em Esquadrão da Moda; estou concentrado quando Eduardo se joga no outro sofá, me assustando.
— Lavou os pratos?
— Lavei, droga! — por que ele tem que ser tão rude?!
— Pelo menos isso!
— Muda esse troço para algo que preste!
— Não!
— É sério, troca de canal, não vou assistir essa bobagem! — ele reclama e joga uma almofada em mim com força, acertando meu ombro.
— Tsk, para com isso, já falei que não vou mud... — antes de concluir a frase, recebo outra almofadada, dessa vez na cara — Seu filho da... Argh! — atiro o controle na cabeça dele — Fica com essa porcaria, eu vou assistir no quarto! — levanto furioso e subo as escadas.
Ao chegar no quarto, fecho a porta e me jogo na cama, ligando a TV. Depois de um tempo, quando já estou distraído novamente, rindo das cafonices da participante, meu celular toca, me tirando do transe.
— Alô?
— André, seu vagabundo... — a voz de Feh, meu amigo da faculdade, ecoa do outro lado da linha — Como assim você casa e não me diz nada, cretino?!
[...]
— Quanto mede o do seu marido?
— Felipe... Eu não estou nem aí para o tamanho do pau dele. — percebo que não estou sozinho no quarto.
— Mas, não pense que essa conversa acabou, hein, André... Ainda estou furioso com você! — Feh diz isso e resmunga mais alguma coisa, porém, já desliguei.
— Você sabe que não pode me trair, né?! — Eduardo me encara de longe.
— Sei...!
[...]
— Então aí vou eu. — reviro os olhos. — Cuidado para não desmaiar. — ele diz sarcástico e, enquanto me beija, lembro dele arrotando e fico com ânsia novamente.
[...]
— Que susto, droga!
— Susto?! Quem tomou susto fui eu! Afinal, fui eu quem acordou com seu braço em cima de mim e sua pica colada na minha bunda!
Continua...