Longe da luz e de sua autoridade: o retorno da puta

Um conto erótico de Carmilla
Categoria: Sadomasoquismo
Contém 622 palavras
Data: 01/02/2025 17:03:13

Envelheci um pouco. Agora tenho 24 anos. Há alguns não escrevo. Dois, quase três, para ser mais precisa. A experiência com aquele bêbado fingido trouxe um alerta e um novo desejo: ser descoberta. Atirada de quatro no solo, suja de areia, ofegante de gozo e humilhação, agressão no som e na luz daquela fotografia que só captou a minha bunda. Eu quis — e como quis — que capturasse meu rosto. Só que o que tenho de desejo, tenho de covardia, e, claro, lutei contra isso.

Na maioria das vezes, durante esse tempo, tomei o caminho mais iluminado para casa, mais perto da santidade, mais longe do desejo. Uma avenida de postes reluzentes que trazia, como em qualquer lugar daquela cidade, os olhares para o corpo em cima da bicicleta e a impossibilidade de qualquer travessura. Diante da luz e de sua autoridade, era preciso me comportar. Outras vezes, quando o desejo falava mais forte, atravessava ruas escuras, ouvia comentários, hesitava e nunca parava. Continuava a pedalar.

Não foram poucas as vezes em que o desejo foi demais e refiz aquele mesmo trajeto, implorando, quem sabe, para que ele aparecesse e me ferrasse de vez. Nunca apareceu. Nunca o vi outra vez. Talvez não me conhecesse. Se visse novamente, certamente eu saberia.

Com uma frequência maior do que revisitava aquela rota, vasculhava a internet atrás daquela fotografia. Entre grupos de WhatsApp e Telegram da cidade, utilizando fakes, foram muitos e muitos meses até que um dia a encontrei.

Eu de quatro, de cara na terra e no mato, a bunda branca empinada, o cabelo ruivo e cacheado serpenteando ao redor, meu rosto enfiado na areia. Exausta de gozo, os joelhos um tanto dobrados, buscando se tocar. A buceta exposta e vermelha, um buraco, escorrendo porra. Não existem muitas ruivas na cidade, cacheadas menos ainda. O que me protegia era o lugar, que poderia ser qualquer lugar do mundo tropical. Ervas daninhas tão vulgares quanto eu, que se acham aos montes em qualquer espaço baldio do país. Foram muitos, muitos os dias em que me toquei antes de dormir, olhando aquela fotografia.

Nesses dois anos, juro que tentei ser uma garota normal. Entrei na faculdade de educação física. Passei a dar aula de natação em mais lugares. Até mesmo arranjei um namorado. Era difícil guardar todas as minhas perversidades e me decepcionava a cada noite dormida sem qualquer agressão, verbal que fosse. Nem mesmo quando passei a me fotografar nua para ele, na esperança de que percebesse com que tipo de mulher estava lidando.

Até parei de enviar no modo temporário, com a esperança de que ele salvasse as fotos e compartilhasse com alguém. Que me libertasse com o escudo de vítima.

Muitas foram as vezes em que peguei o celular dele enquanto tomava banho ou dormia, torcendo para encontrar minha foto exposta em algum grupo de pornografia, ou mesmo entre amigos. Mas a verdade dura é que meu namorado era amável, dócil, doméstico. Simplesmente apagava minhas conversas com ele — e, junto delas, minhas fotografias comprometedoras. Fotos em poses degradantes, nas quais fiz questão de deixar meu rosto bem à mostra. Talvez, no fundo, eu soubesse que ele era um animal castrado. E assim podia desenvolver minha vontade de me expor como uma puta e ser protegida como uma covarde, enquanto me iludia com a chance de um vazamento.

Foi quase um ano evitando rotas. Uns bons meses me tocando com aquela fotografia. Quase um ano nesse namoro. Alguns meses transtornada.

E então estou de volta à noite, em uma nova cidade. De volta à escrita. Ainda covarde. Extremamente covarde.

E ainda torcendo para errar um novo julgamento e ser pega de uma vez.

Colocada para todos aqueles que me amam como uma puta completa.

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