Miguel:
Recebi Carla, antes Lorraine, na recepção assim que ela chegou. Ela sorriu ao me ver. Um sorriso diferente do que costumava exibir nas nossas antigas conversas. Naquele dia, havia um toque de nervosismo, talvez uma tentativa de se ajustar à nova realidade.
— Senhor Novaes … — Ela brincou, ajeitando a bolsa no ombro.
— Senhor Novaes é o meu pai. Me chame de Miguel, como sempre fez.
Ela riu e me acompanhou pelos corredores até o setor de RH. Durante todo o processo, permaneci por perto. Queria garantir que tudo corresse bem, que ela se sentisse confortável. Quando tudo estava resolvido, saímos juntos da sala.
— Parece que agora é oficial. — Ela disse, segurando a pasta com os documentos da contratação.
— Bem-vinda à equipe. Espero que aproveite a oportunidade.
Carla faz uma pausa, me observando com um olhar que conheço bem. Ela estava escolhendo as palavras, hesitando antes de falar.
— Você sumiu ... Nunca mais me procurou.
Eu sabia que, em algum momento, aquela conversa viria, e já tinha minha resposta pronta.
— As coisas mudaram. Eu conheci alguém ... ou melhor, reencontrei alguém. Estamos nos conhecendo melhor, construindo algo legal.
Ela arqueou a sobrancelha, como se analisasse a situação.
— Então é sério?
— Ainda estamos redescobrindo. Mas sim, tem sido importante para mim.
Ela desviou o olhar por um instante, absorvendo a informação, depois sorriu de leve.
— E você se incomoda se eu continuar com ... meu trabalho paralelo?
Balancei a cabeça sem hesitação.
— Você é livre para fazer o que quiser. Só peço que seja discreta aqui dentro. Não misture as coisas.
— Pode deixar, Miguel. Eu sei separar bem os assuntos.
Ela me encarou por um momento, depois soltou um suspiro leve.
— Obrigada. Pela chance, pela palavra cumprida ... Por tudo.
— Você merece. Agora é contigo.
Ela sorriu de novo, um sorriso sincero, verdadeiro. Nos despedimos e a vi se afastar pelo corredor, pronta para começar sua nova fase.
Meu dia estava apenas começando e eu não esperava a visita do meu pai naquela tarde. Quando a secretária avisou que ele estava na minha sala, fui cumprimentá-lo. Seu terno impecável e a postura rígida sempre impunham respeito, mas seu sorriso largo deixava claro que ele estava de bom humor.
— Resolvi aparecer sem avisar. Queria ver como anda esse império que você está construindo. — Disse ele, apertando minha mão com firmeza.
— Você é sempre bem-vindo, pai. Vamos dar uma volta?
Conduzi-o pela distribuidora, começando pelo setor de armazenagem. O novo galpão era um espaço amplo e climatizado, com prateleiras organizadas em fileiras perfeitas, lotadas de caixas de medicamentos e insumos. Funcionários transitavam de um lado para o outro, conferindo pedidos e verificando lotes. Todos, sem excessão, vinham cumprimentá-lo feliz.
— O controle de estoque foi otimizado nos últimos meses, assim como eu disse que faria. — Expliquei, apontando para as telas de monitoramento digital. — Agora temos um sistema que rastreia cada lote, reduzindo desperdícios e melhorando a distribuição.
Ele, orgulhoso, observava tudo com olhos atentos. Seguimos para o setor de logística, onde caminhões eram carregados com eficiência.
— Impressionante, filho. Antes de você trazer essas ideias modernas, as coisas eram bem diferentes. Agora vejo uma máquina bem ajustada.
Voltamos para minha sala, onde mostrei os relatórios financeiros do último mês. Ele analisou as planilhas, meneando a cabeça em aprovação.
— Os números não mentem. Você está fazendo um trabalho excepcional. Seu avô ficaria orgulhoso.
O elogio aqueceu meu peito. Eu sempre quis sua aprovação, e ouvir aquilo significava muito. Mas sua expressão mudou ao fechar a pasta e me encarar com seriedade.
— E a sua vida pessoal? Como está a questão com a Mina? Você tem certeza de que está fazendo o certo ao afastar sua filha da mãe?
Soltei um suspiro, já esperando aquela pergunta.
— Pai, eu não estou afastando minha filha da Mina. Ela mesma está fazendo isso, sozinha. Mina está desequilibrada. Você sabe que eu nunca impediria o convívio entre elas se ela estivesse em condições de ser uma mãe adequada.
Ele franziu a testa, desconfiado.
— Desequilibrada? O que quer dizer com isso?
— Você não sabe de tudo o que aconteceu. Mina não só me traiu, mas também colocou a farmácia em risco. A má administração dela quase levou o negócio para o buraco. Sem contar os indícios de fraude que foram descobertos.
Ele ficou em silêncio por um momento, assimilando minhas palavras.
— Eu não sabia disso ... Você preferiu não me contar?
— Você se aposentou para ter paz, pai. Não achei que deveria te preocupar com isso. Mas não se engane, Mina não é mais a mulher que você conheceu. Ela está tomando decisões impulsivas e perigosas.
Ele soltou um longo suspiro.
— Eu confio no seu julgamento, filho. Só espero que tudo isso termine bem.
— Eu também.
Ele se levantou e ajeitou o paletó antes de me encarar com um meio sorriso.
— Antes de ir, preciso te avisar de uma coisa. Sua mãe e eu vamos passar um tempo fora.
Franzi a testa.
— Fora?
— Sim. Finalmente vou cumprir a promessa de levá-la para conhecer a Europa. Um mês inteiro, sem pressa, aproveitando cada cidade, cada museu, cada restaurante que ela sempre quis visitar.
O tom dele era animado. Minha mãe sonhava com aquela viagem há anos, e agora, com a aposentadoria dele consolidada, e os negócios sob meu comando, não havia mais desculpas para adiar.
— Fico feliz por vocês, pai. A mãe merece.
Ele sorriu, satisfeito.
— Só queria que você soubesse. Vou ficar de olho nas coisas à distância, mas confio que tudo estará em boas mãos.
— Pode viajar tranquilo. Vou segurar as pontas.
Ele me deu um último olhar avaliativo antes de apertar meu ombro com firmeza.
— Você está indo pelo caminho certo, Miguel. Continue assim.
O vi sair pela porta, sentindo uma mistura de orgulho e alívio. Eu queria acreditar que tudo terminaria bem. Mas com Mina ainda sumida, eu sabia que a tempestade estava longe de passar.
Na sexta-feira à noite, me encontrei novamente com Carolina. Após um sexo de tirar o fôlego, ela estava ali, deitada ao meu lado, os cabelos espalhados pelo travesseiro, a pele quente sob os lençóis. A luz suave do abajur destacava o brilho nos olhos dela, aquele olhar que me fazia esquecer, por alguns instantes, tudo que havia acontecido nos últimos meses.
Cada encontro com ela parecia um passo adiante, uma construção sutil de algo novo. Algo que eu queria. Algo que eu temia.
Deslizei os dedos suavemente pelo braço dela, sentindo sua pele arrepiar. Ela sorriu, mas percebi que esperava algo. Talvez sentisse o mesmo que eu.
— Eu preciso te dizer uma coisa. — Comecei, escolhendo as palavras com cuidado.
— Isso não costuma ser um bom sinal. — Ela brincou, mas havia um resquício de tensão em sua voz.
Segurei sua mão, entrelaçando nossos dedos.
— Não é nada ruim. Pelo contrário. Só quero ser honesto com você.
Ela se virou um pouco mais para mim, o olhar atento.
— Eu gosto de estar com você, Carol. Cada momento, cada conversa ... É fácil, sabe? Você faz tudo parecer mais leve.
— Mas ... — ela arqueou a sobrancelha.
Suspirei, levando a mão ao rosto dela, acariciando sua bochecha com o polegar.
— Mas tudo ainda é muito recente. Eu preciso ir devagar. Não porque eu tenha dúvidas sobre o que sinto, mas porque eu não quero errar com você.
Ela franziu a testa, mas não se afastou.
— Eu não acho que você esteja errando.
— Eu sei. Mas tem muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo. A guarda da minha filha, a empresa, o divórcio que ainda não foi finalizado ... — Fiz uma pausa, olhando nos olhos dela. — Eu nunca quis que você se sentisse como um detalhe no meio do caos. Você merece mais do que isso.
Ela ficou em silêncio por um instante, processando minhas palavras.
— É por isso que você ainda não me apresentou adequadamente para sua família, não é?
Confirmei, tentando demonstrar calma.
— Minha filha ainda é muito pequena. Estamos nos ajustando a essa nova rotina, à casa nova, a tudo isso. E eu sei que a Mina não vai aceitar isso de forma tranquila. Ela pode estar sumida, mas eu conheço o jogo dela. Ela está esperando o momento certo para atacar.
Carolina respirou fundo, os olhos se suavizando.
— Eu entendo, Miguel.
— Eu só quero fazer as coisas direito. Quero que você entre na minha vida do jeito certo, sem ser alvo de confusão, sem precisar lidar com as sombras do meu passado.
Ela apertou minha mão, um sorriso pequeno nos lábios.
— Eu aprecio sua honestidade. De verdade.
Aproximei meu rosto, roçando meu nariz contra o dela em um gesto carinhoso.
— Obrigado por entender.
Ela se inclinou e selou nossos lábios em um beijo demorado, sem pressa. Quando nos afastamos, seus olhos brilharam com algo novo.
— Mas você sabe que eu não sou de fugir, né? Se a Mina aparecer, eu não vou correr.
Sorri, puxando-a mais para perto.
— Eu sei. E talvez seja isso que mais me fascina em você.
Puxei Carolina para mim, aproveitando para explorar cada curva daquele corpo escultural com as mãos.
— Vem cá, sua gostosa … Eu ainda não terminei o que começamos.
Coloquei Carolina de quatro na minha frente e dei um tapa carinhoso naquela bunda linda.
— Você gosta assim, não é? — Perguntei, meus dedos se enroscando no cabelo dela, a puxando levemente para trás enquanto ela arqueava as costas, um gemido escapando de seus lábios.
Ela não respondia com palavras, mas o tremor que percorria seu corpo era a confirmação que eu precisava. Eu a sentia, viva e pulsante, contra mim, e aquilo era tudo que importava.
Minha mão desceu pela curva de suas costas, explorando cada centímetro como se fosse a primeira vez, até chegar àquela área que eu sabia que a faria estremecer. A pressão dos meus dedos foi firme, mas não cruel, quando comecei a massagear os músculos tensos. Ela soltou um suspiro profundo, relaxando ainda mais contra mim.
— Miguel … que gostoso … — Ela murmurou, meu nome saindo como uma oração, e eu sabia que ela estava prestes a pedir mais.
E eu estava mais do que disposto a dar.
A massageei por alguns minutos, deixando minhas mãos trabalharem em seu corpo, até que ela se contorceu, impaciente.
— Vai … agora … me fode … — Ela gemeu, virando-se para me encarar.
Nossos olhos se encontraram, e foi como se o mundo ao nosso redor desaparecesse. A intensidade do olhar dela me deixou sem fôlego, e eu vi neles o desejo que ecoava no meu próprio ser. Eu a queria, precisava dela, e eu sabia que ela sentia o mesmo.
Minhas mãos desceram até as suas coxas, puxando-as para que ela se sentasse de frente para mim. Ela não hesitou, ajustando-se rapidamente ao meu colo, as pernas envolvendo minha cintura como se pertencessem àquele lugar. Nossos lábios se encontraram em um beijo voraz.
— Você é toda minha. — Eu disse, contra sua boca, as palavras saindo como uma afirmação, um lembrete, uma promessa.
— Sua … só sua … — Ela concordou, com a voz tremendo, que me fez querer mais.
Minhas mãos deslizaram para as suas nádegas, apertando com força e dando um tapa. Ela deu um pulo, surpresa, mas logo se recuperou, rosnando contra meus lábios.
— Mais. — Ela exigiu, e eu obedeci.
Os tapas que dei foram precisos, calculados para provocar, para excitar. Cada um deles era acompanhado por um gemido, um arquejo, e eu sabia que estava levando-a ao limite, mas também sabia que ela queria ir além.
— Você gosta disso … Gosta de se sentir minha, de saber que estou no controle? — Provoquei.
— Sim … adoro … — Ela concordou, a voz trêmula, mas cheia de desejo.
Minhas mãos pararam, descansando nas curvas marcadas que agora estavam quentes e levemente coradas. Eu a puxei ainda mais perto, sentindo a pressão do corpo dela contra o meu.
— Quero sentir você dentro de mim. — Ela pediu, suas mãos se movendo para a minha cueca, desesperadas para me ver livre.
Eu a ajudei, tirando rapidamente, até que não houvesse mais nada entre nós. Ela olhou para mim, seus olhos faiscando, cheios de desejo e necessidade.
— Agora … — Ela disse. Uma ordem, um pedido, uma necessidade.
Eu a levantei, segurando-a contra mim, e a coloquei na cama com cuidado, mas com urgência. Minhas mãos exploraram seu corpo, relembrando cada curva, cada ponto que a fazia gemer.
— Você é perfeita. — Minha voz era pura admiração e desejo.
Ela não respondeu, apenas me puxou para mais perto, me beijando com mais intensidade.
Meus lábios desceram pelo seu pescoço, explorando cada centímetro de pele, até chegar aos seus seios. Ela arqueou as costas, oferecendo-se a mim, e eu aceitei, minha boca envolvendo um mamilo enquanto minha mão apalpava o outro.
— Hum …. Miguel … — Ela gemeu, suas mãos se enterrando no meu cabelo, puxando-me mais perto, mais forte.
Minhas mãos desceram, encontrando a xoxota. Ela estava molhada, quente, pronta.
— Você está pronta para mim?
Eu adorava provocar, fazê-la dizer.
— Sim … — Ela respondeu, cheia de certeza.
Eu a penetrei com um movimento suave, mas firme. Um gemido escapou de seus lábios.
— Ahhhh … que gostoso …
— Você é minha … só minha. — Eu afirmei, com a voz cheia de posse e desejo.
— Sua … só sua … — Ela sussurrou, submissa e necessitada.
Eu comecei a estocar, e ela correspondia a cada movimento meu. Nossos quadris em sincronia, nossos corpos trabalhando juntos na dança que já conhecíamos tão bem.
— Mais … Não para …
Gozamos juntos, terminando aquela noite abraçados, namorando. Era uma pena ter que levá-la para casa. Ela não era minha esposa, mas já era minha mulher.
Na semana seguinte, na sexta-feira à noite, eu e Carolina saíamos do restaurante de mãos dadas, após um jantar romântico e muito agradável, e ela encostou a cabeça no meu ombro enquanto caminhávamos até o carro. A noite estava agradável, e eu sentia uma leveza na alma. Aquela paz durou pouco.
Quando destravei o carro, meu celular vibrou. Uma mensagem anônima. Sem nome, sem número salvo.
"Bonito casal. Ela tem sorte. Mas por quanto tempo?".
Cerrei os punhos, preocupado, abrindo a imagem anexada. Era uma foto nossa, tirada minutos antes, dentro do restaurante. Um ângulo perfeito, como se a pessoa estivesse bem perto. Meu estômago revirou.
Olhei em volta, tentando identificar algum olhar suspeito, mas a rua estava como deveria estar: movimentada, cheia de gente indo e vindo. Carolina percebeu meu semblante fechado.
— Algum problema? — Perguntou.
Guardei o celular no bolso e forcei um sorriso.
— Nada. Só um e-mail chato do trabalho.
Não queria preocupá-la, mas por dentro, eu já sabia: Mina.
Nos dias seguintes, os sinais ficaram mais evidentes. Sempre que eu e Carolina saíamos juntos, algo acontecia: Um carro preto parado tempo demais perto da minha casa. Uma mulher de óculos escuros que parecia nos observar no mercado. Outra mensagem anônima, dessa vez com uma foto de Carolina saindo do trabalho, acompanhada da legenda:
"Será que ela sabe no que está se metendo?".
Meu sangue ferveu.
O auge foi no sábado, duas semanas depois, quando levei Carolina para um café. Nos sentamos próximos à janela, e quando ergui o olhar, lá estava ela. Mina. De frente para nós, encostada em um poste, de braços cruzados e um sorriso macabro no rosto. Ela estava diferente.
Carolina notou minha tensão e virou-se para ver o que me incomodava. Mina fez questão de acenar para ela, debochada.
— É ela mesmo? — Carolina perguntou, a voz carregada de frustração.
Confirmei, já me levantando. Mina percebeu e simplesmente se virou, atravessando a rua e sumindo na multidão.
Aquilo precisava parar.
Os dias seguintes foram um inferno. Mina não se limitava mais a mensagens anônimas ou aparições discretas. Ela estava me cercando, deixando claro que não pretendia desaparecer tão cedo.
Na quarta-feira, enquanto eu trabalhava na distribuidora, minha secretária me mandou uma mensagem urgente.
— Acabei de sair para o almoço, mas estranhei uma mulher parada aqui na frente. Ela está aqui há quase duas horas. Diz que é cliente, mas só fica olhando pra dentro. Tá estranho. Eu acho que é a Sra. Guilhermina. Mesmo toda coberta, eu a conheço bem”.
Meu estômago revirou. Eu sabia que era ela.
Desci às pressas e, assim que saí pela porta, a vi. Mina, encostada em um dos pilares do estacionamento, vestindo óculos escuros enormes e um casaco pesado demais para uma tarde de outono. Quando percebeu que eu a encarava, ela sorriu e caminhou até mim, como se fôssemos velhos amigos se reencontrando.
— Você está ocupado, amor? Ou tem um tempinho para sua esposa? — O tom de voz era doce, mas os olhos, mesmo ocultos pelos óculos, carregavam algo doentio.
— O que você quer, Mina? — Cruzei os braços, sem paciência para seus joguinhos.
— Eu só queria ver como você está. Sei que deve estar feliz com a nova namorada. Ela é muito bonita, viu? Parece uma bonequinha de porcelana. — Seu sorriso se alargou. — Mas será que ela sabe que você ainda pensa em mim? Ela é só uma criança.
Revirei os olhos.
— Vai embora, Mina. Para com essa loucura.
— Ah, Miguel ... não finja que não sente minha falta.
— A única coisa que eu sinto é arrependimento.
O sorriso dela sumiu, e, por um instante, vi a verdadeira Mina por trás da máscara. Ela inclinou-se um pouco, baixando a voz.
— Então me diz ... Carolina sabe que você ainda tem uma esposa?
— Ex-esposa. — Corrigi.
— Isso é um detalhe. Eu não assinei nada.
Antes que eu pudesse responder, ela deu um passo para trás, ergueu o queixo e lançou um último aviso:
— Se eu fosse você, ficaria de olho na sua princesinha. O mundo pode ser um lugar perigoso.
Ela se virou e saiu, rebolando como se tivesse vencido alguma batalha imaginária que só existia na cabeça dela.
Mas o pior ainda estava por vir. Na quinta-feira à noite, após colocar minha filha para dormir, ajeitei o cobertor ao redor do seu corpinho pequeno. Ela dormia tranquila, alheia ao caos que Mina estava tentando instaurar na minha vida.
Suspirei, passando a mão pelo rosto. Dona Lúcia, sempre atenta, percebeu minha inquietação.
— O senhor parece preocupado. Aconteceu alguma coisa?
— Não é nada. Só um dia difícil.
Ela me olhou com aquele olhar sábio, de quem já tinha visto muita coisa na vida. Mas não insistiu. Apenas saiu do quarto, me deixando sozinho com meus pensamentos.
Foi quando o celular vibrou. Um novo número desconhecido. Atendi com o coração já acelerado.
— Alô?
Nada. Apenas uma respiração baixa do outro lado.
— Quem é?
Um riso baixo, carregado de malícia.
— Você sempre foi tão protetor, Miguel. Mas será que pode proteger todo mundo?
Meus dedos se fecharam ao redor do aparelho.
— Mina, para com isso.
— Ah, meu amor, você sabe que eu não gosto quando você me chama assim, mas já que estamos falando de proteção, como está a Carolina? Ela anda tão distraída ultimamente … Seria uma pena se algo acontecesse com ela.
Mina me enviou uma foto tirada na frente da casa de Carolina.
Me levantei num pulo.
— O que você fez?
— Quem sabe? O mundo é tão perigoso para mulheres sozinhas … Ainda mais quando o pai dela já está tão velhinho.
O sangue gelou nas minhas veias.
— Mina, se você chegar perto dela …
Mas a ligação caiu.
Tentei ligar para Carolina, mas a ligação caia direto na caixa postal. Não pensei duas vezes, corri até o quarto da dona Lúcia e bati na porta. Ela abriu de imediato, assustada com minha expressão.
— Eu preciso sair, é urgente. Você cuida da minha filha?
— Claro, senhor Miguel, mas o que houve?
— Depois eu explico. Fique de olho em tudo. Se qualquer coisa acontecer, me ligue na mesma hora. Vou deixar o sistema de segurança ligado.
Ela concordou, preocupada, e eu saí às pressas.
Já passava das vinte e duas horas, e eu dirigia como um louco pela cidade, alheio aos sinais vermelhos. Nem desliguei ou tranquei o carro, saindo apressado e indo bater na porta da casa de Carolina com força.
— Carolina! — Eu gritei.
Demorou alguns minutos, mas ouvi os passos apressados e, finalmente, a porta se abriu.
— Miguel? — Ela me olhou surpresa, vestindo uma roupa confortável, o cabelo preso num coque bagunçado. — O que foi?
— Por que não me atendeu? Te liguei várias vezes. — Acabei falando mais alto do que pretendia, a assustando.
— Minha bateria descarregou. Cheguei tão cansada, que acabei pegando no sono e esqueci de colocar o celular para carregar. — Ela respondeu, ainda me encarando sem entender.
Passei por ela sem responder, inspecionando a casa com o olhar.
— Suas portas estavam trancadas? E as janelas?
— Sim, claro! Miguel, o que está acontecendo?
Antes que eu pudesse responder, o Sr. Antônio surgiu na sala, amarrando o robe.
— Meu Deus, rapaz, precisa derrubar a porta?
— Desculpa, seu Antônio. Mas preciso ter certeza de que vocês estão seguros.
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Seguros de quê?
Fui até a janela da sala e chequei a fechadura. Tudo estava em ordem. Nenhum sinal de arrombamento ou qualquer coisa suspeita.
— Mina me ligou. Ela sabe onde vocês moram. Está ameaçando Carolina.
O semblante do Sr. Antônio endureceu.
— Essa mulher perdeu completamente a noção.
Carolina, que estava quieta até então, se aproximou devagar.
— Eu estou bem, Miguel. Não aconteceu nada.
Virei para ela, ainda inquieto.
— Não quero que você ande sozinha. Pelo menos até eu descobrir até onde ela pode ir.
Ela assentiu, pegando minhas mãos entre as dela.
— Eu entendo. Mas você precisa se acalmar. Não vou deixar Mina estragar o que estamos construindo.
Seu Antônio se aproximou, batendo de leve no meu ombro.
— Fique tranquilo, rapaz. Estamos seguros aqui. Mas se precisar de ajuda pra botar essa maluca no lugar dela, eu topo.
Carolina riu baixinho, e eu, finalmente naquela noite, consegui respirar um pouco melhor.
Meu celular vibrou novamente. Outra mensagem, o mesmo número desconhecido de antes.
“Relaxa! Achou mesmo que eu iria machucar sua bonequinha de porcelana? Você não precisa viver assim, tão tenso, é só voltar para mim. Vamos reconstruir nossa família, cuidar da nossa filha e seguir em frente. É simples”.
Eu sabia que Mina ainda não tinha mostrado todas as suas cartas. Seu jogo sádico estava apenas começando.
Continua…
Revisão: Id@