A porta da casa Weiser rangeu ao ser aberta, suas dobradiças cansadas protestando contra o silêncio da madrugada. Vincent entrou cambaleando ligeiramente, a mente embriagada pela combinação de álcool, adrenalina e algo mais profundo, uma mudança que ele ainda não conseguia nomear.
O cheiro da noite ainda estava impregnado em sua roupa: cigarro, o perfume de Luna e o desejo consumado.
Ele passou os dedos pelos cabelos bagunçados, jogando-se contra a parede do corredor estreito enquanto tentava alcançar seu quarto.
A casa estava escura, mas não vazia.
— Onde é que você tava, moleque? — A voz de Rudolph soou áspera e baixa na penumbra.
Vincent parou no meio do corredor, os olhos semicerrados, sentindo o sangue ainda quente nas veias. Ele virou-se devagar e encontrou a silhueta do pai na cozinha, sentado à mesa, uma garrafa quase vazia ao lado da mão pesada que tamborilava contra a madeira.
Os olhos de Rudolph estavam vermelhos, um misto de álcool e raiva contida.
— E esse cheiro? Bebida, cigarro… — Ele inspirou fundo — E mais o quê? Hein? Tá se enfiando onde, Vincent?
Vincent não respondeu de imediato. Ele podia sentir a tensão pairando no ar, uma corda prestes a se romper. O pai não estava apenas bravo, ele estava esperando uma briga.
Vincent riu baixo, um riso cínico e despreocupado.
— E desde quando você se importa?
O impacto da frase ressoou como um soco invisível.
Rudolph se endireitou na cadeira, batendo a garrafa sobre a mesa com mais força do que o necessário.
— Não me testa, garoto — A voz dele engrossou, o sotaque carregado se tornando mais áspero com a fúria crescente — Não me testa que eu tô no meu limite!
Vincent arqueou as sobrancelhas, cruzando os braços.
— E eu lá tenho culpa de você ser um fracassado?
O silêncio que se seguiu foi sufocante. A respiração de Rudolph se tornou pesada, os punhos cerrando-se sobre a mesa. Vincent sabia que estava cutucando a fera.
Mas ele não se importava mais.
Não havia mais medo, havia apenas desprezo.
— Você não sabe nada da minha vida, seu merda — A voz de Rudolph tremeu, mas não de fraqueza. De ódio.
— Sei o suficiente — Vincent deu um passo à frente, os olhos queimando com uma raiva que há muito tempo não conseguia conter — Sei que você é um fraco. Sei que você se afunda nessa merda de bebida porque não tem coragem de fazer nada da sua vida. Sei que, no fundo, você não passa de um coitado que quer que eu seja tão fodido quanto você.
A cadeira de Rudolph arrastou-se para trás abruptamente quando ele se levantou, batendo a palma da mão contra a mesa com força.
— Você se acha muito esperto, né, fedelho? Só porque começou a andar com bandido e se enfiar em puteiro agora se acha homem?
Vincent riu novamente, um riso curto, sem humor.
— Pois é, pai. Pelo menos eu tô aprendendo alguma coisa na vida. Porque aqui dentro dessa casa? Não tem nada pra me ensinar.
Rudolph avançou um passo, os olhos injetados. Por um segundo, Vincent achou que ele fosse bater nele, mas o pai apenas fechou os punhos com tanta força que as veias em seus braços se destacaram sob a pele.
— Du bist nichts weiter als ein undankbares Würstchen (Você não passa de um merdinha ingrato) — vociferou.
Vincent inclinou a cabeça ligeiramente, olhando o pai de cima abaixo com um desprezo frio.
— Und du bist nichts weiter als ein innerlich toter Mann (E você não passa de um homem morto por dentro).
O impacto daquela frase fez Rudolph piscar, como se tivesse levado um soco invisível, mas Vincent não ficou para ver a reação. Ele virou-se e caminhou para o quarto, batendo a porta com força suficiente para fazer as paredes tremerem.
A respiração de Vincent estava descompassada. Não pelo medo, mas pelo ódio fervente que se agarrava a suas entranhas como fogo vivo. Ele tateou os bolsos e encontrou um cigarro de maconha meio amassado, acendendo-o com a ponta dos dedos ainda trêmula de adrenalina.
O primeiro trago foi longo e profundo. A fumaça encheu seus pulmões, mas não conseguiu preencher o vazio dentro dele. Ele fechou os olhos, jogando a cabeça para trás contra a parede. Quando abriu-os novamente, seu olhar caiu sobre a obsidiana pendurada em seu peito. Fria. Sólida. Indestrutível. Ele pegou a pedra entre os dedos, segurando-a com força. Naquele momento, tomou uma decisão. Ele não ficaria ali mais uma noite sequer.
Não perderia mais um segundo naquela casa morta, dividindo espaço com um homem que já não era nada além de um espectro alcoólatra.
Se Rudolph estava quebrado, então Vincent não quebraria junto.
Ele se levantou com a determinação de alguém que nunca mais olharia para trás. Puxou uma mochila do armário e começou a enfiar suas coisas dentro dela. Roupa suficiente para alguns dias. Seu isqueiro. Sua carteira. E o mais importante: a obsidiana.
Quando abriu a porta do quarto, Rudolph ainda estava ali, de pé no meio da sala, segurando outra garrafa. O olhar do pai demorou um segundo para focar nele, mas quando focou, seu rosto se contorceu de raiva novamente.
— Aonde pensa que vai, moleque?
Vincent passou reto por ele, sem responder.
— Tô falando com você! — Rudolph berrou, indo atrás dele.
Vincent abriu a porta da casa e pisou para fora, sentindo o ar frio da madrugada bater contra seu rosto.
Rudolph parou na soleira, as pupilas dilatadas pela raiva e pela bebida.
— Se você sair por essa porta, não volta mais, entendeu?
Vincent virou-se para encará-lo pela última vez. O olhar dele não carregava mais fúria. Não carregava nada.
— Ótimo.
E então ele se virou e desapareceu na noite, sem olhar para trás.
**********
O vento gelado da madrugada cortava as ruas silenciosas da cidade, carregando consigo o cheiro de chuva distante. Vincent andava sem rumo, as mãos enfiadas nos bolsos da jaqueta, o corpo ainda carregando a eletricidade do confronto com Rudolph.
Ele não olhou para trás. Não porque não quisesse, mas porque sabia que, se o fizesse, poderia hesitar. E hesitação era fraqueza.
A cidade, normalmente tão acolhedora durante o dia, agora parecia estranha e cheia de sombras desconhecidas. Ele não tinha um destino certo, mas seus pés o levavam para o único lugar que parecia fazer sentido naquela noite. A casa noturna.
As ruas estreitas do centro eram mais vivas ali. Luzes fracas piscavam nas fachadas dos bares ainda abertos, e algumas mulheres riam alto nas esquinas, acompanhadas por homens de olhares famintos e passos incertos.
Vincent parou diante da porta da boate onde estivera algumas horas antes. Ele inspirou fundo, prestes a bater à porta de metal, quando uma voz familiar surgiu ao seu lado.
— E aí, piá, já tá viciado nesse mundo?
Luna.
Ela estava parada a alguns metros dele, encostada na parede de tijolos com um cigarro entre os dedos.
O vento bagunçava os cabelos negros dela, que estavam soltos e caíam desordenados sobre os ombros. Dessa vez, ela não usava o vestido provocante da boate, mas sim uma calça jeans justa e um moletom fino, claramente mais confortável do que suas roupas de trabalho. Ainda assim, havia algo nela que permanecia inalterado, aquele olhar felino, sempre atento, sempre curioso.
Vincent deu um meio sorriso, jogando as mãos para fora dos bolsos.
— Não tem pra onde ir. Pensei que talvez conseguisse um emprego aqui.
Luna soltou a fumaça devagar, como se processasse aquelas palavras antes de responder.
— Na boate? — Ela ergueu uma sobrancelha, o tom carregado de ironia — E tu quer fazer o quê? Servir bebida? Dançar no palco?
Vincent não desviou o olhar.
— Qualquer coisa que me pague o suficiente pra não precisar voltar pr’aquela casa.
Houve um momento de silêncio entre os dois. A cidade ao redor parecia distante, como se apenas eles existissem ali.
Luna, finalmente, apagou o cigarro na parede e suspirou.
— Tu não quer essa vida, piá.
Vincent estreitou os olhos.
— Você vive dela.
Ela deu de ombros.
— Porque eu não tive outra escolha. Mas tu tem. E antes que me pergunte, não, não vou pedir pro dono te contratar.
Vincent sentiu uma pontada de frustração, mas não discutiu.
Luna olhou para ele por mais um momento e então, como se tomasse uma decisão interna, estendeu a mão.
— Vem comigo.
Ele hesitou.
Luna sorriu de canto.
— Eu não mordo… a menos que tu peça.
Ele riu baixo, balançando a cabeça antes de aceitar a mão dela, e então a seguiu pela cidade adormecida.
A casa de Luna ficava em um bairro modesto, afastado do centro. Não era nada luxuoso, um pequeno apartamento de um quarto, com móveis simples e poucos pertences espalhados pelo espaço, mas era limpo e organizado e mais importante: não cheirava a álcool e ressentimento, como a casa de Rudolph.
Luna acendeu uma luz fraca na cozinha e jogou as chaves sobre a mesa.
— Não esperava visitas, então não tem muito o que comer.
Vincent encostou-se no batente da porta, observando-a enquanto ela procurava algo nos armários.
— Não tô com fome.
Ela encontrou um pacote de biscoitos pela metade e um pote de café instantâneo.
— Bom, eu tô.
Ela abriu o pacote e jogou um biscoito na boca, então olhou para ele.
— E então, piá? Vai me contar o que aconteceu ou tu vai ficar aí me olhando igual um cachorro que caiu do caminhão da mudança?
Vincent suspirou, passando a mão pelos cabelos antes de finalmente sentar-se à mesa.
E então ele contou. Falou da briga com Rudolph, dos gritos, da raiva presa no peito, da certeza de que não havia mais nada para ele naquela casa. Luna ouviu tudo sem interromper. Não havia piedade no olhar dela, apenas compreensão.
Quando ele terminou, ela pegou a xícara de café que havia preparado e tomou um gole.
— Parece que tu fez o certo.
Vincent franziu o cenho.
— Você acha?
Luna deu um sorriso pequeno.
— Se fosse o errado, tu não estaria aqui agora.
Houve um silêncio confortável entre os dois. A noite já começava a dar lugar aos primeiros sinais do amanhecer. A luz fraca do sol nascia pelas frestas da janela, tingindo o pequeno apartamento de tons alaranjados e suaves.
Luna se espreguiçou.
— Acho que tá na hora de dormir.
Vincent olhou ao redor.
— Onde eu posso dormir?
— Tu vê outra cama aqui? — perguntou ela rindo.
De fato, havia apenas uma. Vincent hesitou, mas então deu de ombros. Não era como se nunca tivesse dividido a cama com ela antes, mas nunca assim. Nunca de maneira tão íntima sem o magnetismo do desejo entre eles.
Luna bocejou, esticando os braços acima da cabeça antes de caminhar preguiçosamente até o pequeno guarda-roupa no canto do quarto. O ambiente estava envolto em uma penumbra cálida, iluminado apenas pela fraca luz da rua que entrava pela janela, projetando sombras suaves sobre os móveis e sobre ela.
Vincent, sentado à beira da cama, observava-a em silêncio, os pensamentos ainda um caos dentro de sua cabeça. O zíper da calça jeans deslizou com um som suave, e Vincent desviou o olhar um segundo tarde demais. Luna puxou a peça para baixo sem cerimônia, revelando as curvas firmes de suas coxas sob a renda delicada de uma lingerie preta.
Vincent engoliu em seco.
Ela vestiu uma camiseta leve e frouxa, o tecido escorregando por um ombro, deixando uma parte nua à mostra, e um short doll fino, tão fino que mal parecia estar ali. O tecido solto e delicado do short desenhava cada curva dela, e quando Luna se virou para encará-lo, o sorriso cansado nos lábios dela carregava um tom de divertimento malicioso.
— O que foi? Tu nunca viu uma mulher de pijama antes?
Vincent não respondeu. Não confiava na própria voz no momento.
Luna riu baixinho.
— Relaxa, alemão. Hoje não tem joguinho. Só sono.
Ela se jogou na cama, soltando um suspiro satisfeito ao afundar no colchão macio. Puxou o cobertor até a cintura, acomodando-se de lado, de costas para ele.
Vincent permaneceu sentado por um momento, hesitante.
— Tu vai ficar aí me olhando ou vai deitar também?
Ele soltou um suspiro curto pelo nariz, balançando a cabeça antes de se deitar ao lado dela.
O colchão era pequeno, e o corpo de Luna estava perigosamente próximo.
Vincent virou-se ligeiramente de lado, ajustando-se ao espaço apertado. Seu peito quase roçava as costas dela.
Quase.
O cheiro da pele dela preenchia seus sentidos, uma mistura de sabonete suave e algo inebriante que parecia unicamente dela. Ele tentou ignorar o calor tentador que irradiava do corpo dela. Tentou ignorar o desejo traiçoeiro que rastejava sob sua pele, mas foi impossível. A maciez do short doll roçando levemente contra suas coxas, a forma sutil como Luna respirava devagar, a curva delicada da cintura dela tão perto de seus dedos…
Seu coração acelerou. Seu corpo reagiu. Era um teste cruel e Vincent não sabia se conseguiria passar. Luna se mexeu levemente, pressionando-se mais contra ele despretensiosamente, ou será que não?
Luna sabia exatamente o que estava fazendo.
Mesmo de costas, ela sentia cada reação de Vincent, cada centímetro da tensão que se acumulava entre eles na cama estreita.
Ela podia ouvir a respiração dele ficando mais pesada, sentia o calor que emanava do corpo dele, a rigidez silenciosa que se instalava contra suas costas.
E ela gostava disso.
Gostava do poder sutil que exercia sobre ele, da forma como ele lutava contra o próprio desejo, tentando manter o controle quando tudo nele pedia para quebrá-lo, mas, no fundo, ela queria que ele cedesse. Ela se moveu levemente, como quem busca uma posição mais confortável, mas o movimento foi preciso, calculado, seu quadril pressionando-se contra a virilha dele, um toque que parecia inocente, mas estava longe de ser.
Vincent prendeu a respiração. Os músculos do seu corpo estavam tensos, cada fibra queimando com o esforço hercúleo de manter o controle, mas o controle era uma linha fina prestes a se romper.
Luna sentiu o primeiro sinal da rendição dele quando seu peito expandiu em um suspiro quente contra sua nuca. E então, ele ousou.
O toque dele foi lento, experimental, mas carregado de intenção. Os dedos deslizaram por seu braço nu, traçando um caminho suave da curva do ombro até o antebraço, um mapeamento silencioso de pele contra pele.
Luna se arrepiou.
Ele se aproximou ainda mais, sua respiração agora contra o lóbulo da orelha dela, quente e irregular. Então, sem pressa, ele beijou seu ombro exposto. Foi um toque firme, mas ao mesmo tempo exploratório, como se quisesse entender como o corpo dela responderia a cada provocação.
Luna mordeu o lábio, contendo um suspiro. Naquele momento, o jogo já havia mudado. Ela não era mais a única provocando. Agora Vincent também sabia jogar e ela queria ver até onde ele iria.
Luna moveu-se lentamente, como quem se entrega a um fluxo inevitável.
Virou-se sobre o colchão macio, acomodando-se de bruços, a cabeça repousando sobre os braços dobrados enquanto os quadris oscilavam. Foi um gesto sutil, mas claro, uma permissão silenciosa, uma provocação sem palavras. Ela queria que ele assumisse o controle.
E Vincent não hesitou. Ele se moveu sobre ela, afundando seu membro entre as pernas dela com precisão, suas mãos segurando firmemente sua cintura, explorando cada curva com dedos firmes e exigentes.
A forma como ela arqueou levemente o quadril, como seu corpo reagia ao menor toque dele, apenas incendiou seu desejo de ir além.
Ele passou os lábios pela nuca de Luna, pressionando beijos lentos e provocativos, sentindo o arrepio que percorria a espinha dela.
Ela gemeu baixinho, empurrando-se mais contra ele, buscando um encaixe mais profundo. Foi a última gota. Vincent segurou os pulsos de Luna, imobilizando-os suavemente contra o colchão.
Ele não era mais um aprendiz. Ele estava no comando. Seus movimentos se tornaram mais firmes, mais seguros, guiados pela forma como o corpo dela respondia a cada estocada, a cada fincada no colo do útero. O ritmo crescia, um fluxo intenso de calor e controle, de domínio e rendição simultânea.
— Isso, alemão… bem fundo na minha boceta, caralho — murmurou entre os dentes.
O suor se misturava às respirações aceleradas, cada gemido um reflexo do desejo mútuo que os consumia. O clímax se tornou inevitável.
Luna pressionou o rosto contra o travesseiro, seus gemidos se desfazendo em um sussurro rouco quando seu corpo tremeu sob o dele.
Vincent segurou firme, sentindo a onda arrebatadora consumi-lo por inteiro, seus músculos tensionando antes de sentir a descarga vigorosa de semên jorrar em seu destino. E então, veio o silêncio. Um silêncio carregado de eletricidade e resquícios de prazer, como a calmaria depois de uma tempestade intensa.
Vincent permaneceu sobre ela por alguns instantes, sentindo sua respiração descompassada se acalmar lentamente.
Luna abriu os olhos, um sorriso preguiçoso e satisfeito brincando nos lábios.
— Tu é muito tarado, alemão.
Vincent sorriu contra a pele dela, ainda sentindo os ecos do desejo pulsando dentro de si.
**********
A noite estava fresca, e a cidade iluminava-se com luzes difusas à medida que Luna conduzia seu novo colega de quarto pelas ruas menos conhecidas de Blumenau. Ele não perguntou onde estavam indo, pois ele confiava nela.
Depois da última noite juntos, algo havia mudado entre eles. O aprendizado não estava mais restrito a provocações e trocas de poder entre quatro paredes. Agora, era um ensinamento profundo sobre controle, desejo e como moldar os próprios instintos para dobrar a vontade dos outros.
Quando Luna parou diante de uma porta discreta, o nome Secret Club brilhava no letreiro em neon discreto, mas luminoso o suficiente para os habituados, Vincent soube que estava prestes a cruzar um novo limite.
Ela lançou-lhe um olhar cheio de promessas e sorrisos enigmáticos.
— Pronto pra aprender de verdade?
Ele sorriu de canto, aceitando o desafio.
O interior do clube era uma mistura de sofisticação e mistério. Luzes vermelhas banhavam os corredores, criando uma atmosfera envolvente, quase hipnótica. O aroma de couro, incenso e velas pairava no ar, dando um tom sensual ao ambiente.
À medida que avançavam, Vincent percebeu os olhares de algumas pessoas, algumas em trajes provocantes, outras elegantemente vestidas, mas todas compartilhando o mesmo brilho nos olhos que ele ainda não distinguia.
Luna conduziu-o pelos corredores, abrindo portas que revelavam diferentes cenários.
Em uma sala, um casal jogava com vendas e cordas, explorando a tensão entre a submissão voluntária e o domínio absoluto. Em outra, uma mulher elegantemente vestida segurava um rinding crop, deslizando-o sobre a pele do parceiro, provocando arrepios antes mesmo de qualquer contato firme. Cada cena era um espetáculo de desejo e controle, e Vincent sentia-se cada vez mais fascinado.
Luna sorriu, percebendo seu interesse.
— Isso não é só sobre prazer, Vincent — Ela murmurou, deslizando os dedos pelo braço dele — É sobre poder. É sobre saber até onde a mente e o corpo podem ir quando guiados corretamente.
Vincent manteve o olhar fixo em uma cena particular, um homem ajoelhado entre as pernas de uma mulher, completamente entregue, como se esperasse por suas ordens para chupá-la. Havia algo hipnótico naquela dinâmica. A mulher não tocava nele, mas ainda assim, controlava cada movimento dele com um simples olhar.
Isso… isso era poder e Vincent queria aprender aquilo.
Luna percebeu a fixação dele na cena e sorriu.
— Pronto para um teste prático?
Vincent ergueu uma sobrancelha, desafiador.
— O que tem em mente?
Ela riu, puxando-o para uma sala privada. A luz fraca projetava sombras fluidas sobre os móveis de couro, dançando sobre a pele de Luna enquanto ela segurava o flogger diante de Vincent. A alça de couro trançado parecia um convite silencioso, um símbolo de controle prestes a ser reivindicado.
Ela não disse nada de imediato. Retirou sua blusa, revelando os arreios de couro e metal que apertavam suas curvas de maneira provocante.
Vincent sentiu o peso do instrumento ao pegá-lo. O cabo se encaixava firmemente em sua mão, e as tiras suaves e flexíveis pendiam com uma leveza enganosa.
Era um objeto simples, mas dava uma sensação única de poder. Ele tinha o controle agora. Luna deu um passo para trás e pegou uma venda preta de cetim sobre a mesa. Ela passou o tecido macio sobre os olhos, ajustando-o com um nó preciso atrás da cabeça. Quando terminou, ergueu o rosto ligeiramente, como se o desafiasse a dar o próximo passo.
— Agora… tô nas tuas mãos — disse ela em um sussurro enquanto se sentava sobre os calcanhares.
Com os olhos vendados, Luna estava completamente vulnerável ao toque dele. Não por obrigação, mas porque ela confiava nele.
Vincent respirou fundo, sentindo o peso dessa confiança assentar sobre seus ombros. Ele precisava provar que era digno dela. A primeira coisa que fez foi não se apressar. O cabo do flogger deslizou sobre a palma de sua mão, como se ele estivesse estudando cada detalhe antes de usá-lo.
Ele ergueu o braço e passou as pontas das tiras macias sobre o ombro exposto de Luna, sem aplicar força alguma.
Apenas um toque. A pele dela se arrepiou instantaneamente. Vincent percebeu a forma sutil como ela inspirou mais fundo, como se seu corpo processasse a sensação antes de reagir. Ele sorriu.
— Gosta disso? — Sua voz saiu firme, mas controlada.
Luna inclinou levemente a cabeça.
— É uma delícia.
Aquilo o excitou de um jeito novo. Não era luxúria banal, mas a satisfação de saber que tinha controle sobre cada arrepio dela, cada batida acelerada do seu coração. E ele queria mais.
Vincent repetiu o gesto, trazendo o flogger para deslizar sobre a linha da clavícula dela, descendo lentamente até os seios. O objeto em sua mão que transmitia cada comando.
Luna exalou um suspiro baixo, os lábios se entreabrindo levemente. A antecipação estava funcionando. Ele moveu-se para trás e ergueu o flogger novamente, dessa vez passando-o sobre o ventre dela, roçando o tecido sobre a pele quente e receptiva.
— Isso… — Ela murmurou, a voz um pouco mais rouca — Ah… É isso o que significa controle.
Vincent sentiu um calor subir por sua espinha. Era como manipular uma corrente invisível entre os dois. Com um movimento calculado, ele virou o pulso e, pela primeira vez, deixou as pontas do flogger estalarem sobre a lateral da coxa dela, com um impacto leve que mais provocou do que machucou. Luna arqueou levemente a coluna, um pequeno som escapando de seus lábios.
Vincent prendeu a respiração. Aquela resposta… Ele causou aquilo.
Sem pensar, repetiu o movimento. Dessa vez, um pouco mais forte. Luna soltou um suspiro mais profundo, o corpo se moldando à sensação como se estivesse absorvendo cada nuance do toque. Vincent podia ver a entrega dela. A forma como ela cedia sem resistir, não por fraqueza, mas porque ele estava conduzindo o jogo da maneira certa. Ele queria levar isso até o limite.
Vincent circulou ao redor dela, estudando como ela reagia sem o auxílio da visão, como seu corpo respondia apenas pelo tato e pelo calor da sua presença. Ele brincou com o tempo, alternando entre toques suaves e pequenas pausas para que ela sentisse o espaço vazio entre um movimento e outro. O desejo está na espera, na incerteza do que vem em seguida. Ele se inclinou perto de sua orelha, a voz um murmúrio quente e calculado.
— Vamos aumentar a intensidade?
Luna mordeu o lábio inferior.
— Como tu quiser.
O pulso de Vincent acelerou. Ele segurou o flogger com mais firmeza e, com um movimento rápido e preciso, o fez estalar sobre a parte interna da coxa dela com um impacto calculado. Luna soltou um gemido curto e contido. Vincent estava cada vez mais excitado. Era… viciante.
O som do flogger cortando o ar era como um pulso ritmado, ecoando pela sala em sintonia com as batidas aceleradas do coração de Luna. A cada impacto preciso e controlado, o corpo dela reagia, não com recuo ou hesitação, mas com um prazer avassalador que a consumia por dentro.
O calor se espalhava por sua pele, o arrepio correndo pela espinha, se misturando à excitação que crescia sem controle. Seus lábios se entreabriram em um gemido baixo, um som involuntário, quase suplicante.
A certa altura, Vincent parou. O silêncio preencheu o espaço como uma presença tangível, fazendo Luna sentir a maior expectativa da noite. Ela mordeu o lábio, os músculos tensos, a respiração entrecortada. O que viria agora? Vincent deixou o tempo se arrastar, prolongando a espera, sabendo que a antecipação era sua arma mais poderosa.
Então, ele se aproximou. Ela não podia vê-lo, mas podia sentir o calor dele diante de seu rosto. A eletricidade densa no ar. E, quando os dedos dele deslizaram suavemente por seus cabelos, ela soube exatamente o que fazer.
Luna inclinou-se sem hesitação, guiada apenas pelo instinto e pelo desejo incontrolável que a dominava.
Os lábios dela envolveram o membro enrijecido de Vincent, e no momento em que o contato se firmou, um gemido abafado escapou de sua garganta, reverberando contra a pele quente dele. Vincent fechou os olhos por um breve instante, absorvendo a sensação da boca de Luna, a umidade, a pressão perfeita, o ritmo que ela ditava sem precisar de palavras. Ele segurou seus longos cabelos com mais firmeza, guiando-a, mas sem pressa, não queria apressar nada, queria saborear cada segundo.
Luna, se movia com uma fome lenta e provocante, explorando cada reação dele, sentindo o poder que sua boca tinha sobre ele, mas, diferente das vezes anteriores, Vincent não estava apenas recebendo prazer. Ele ainda comandava. Ainda ditava as regras.
Cada vez que ela aprofundava os movimentos, ele puxava os cabelos dela com mais precisão, forçando-a a desacelerar, a sentir que ele ainda estava no controle.
Luna adorou isso. Ela queria ser conduzida por ele.
O calor cresceu entre eles, uma pressão insuportável prestes a romper. Vincent sentia-se à beira do limite, os músculos tensionados, o corpo inteiro entregue ao prazer absoluto de dominar aquele momento. E então, o clímax veio. Poderoso. Avassalador. O corpo dele se contraiu com um estremecimento intenso, e um gemido rouco escapou de sua garganta enquanto ele lançava jatos profusos na garganta de Luna, que não havia sido tocada diretamente, que não havia recebido nenhum estímulo além do próprio desejo e da excitação de se entregar ao controle dele, mas tremia sob o próprio peso do tesão. Seu corpo se arqueou, seus lábios se abriram em um gemido profundo, seu sexo escorreu, pingando entre suas pernas. Apenas pelo poder da entrega, pela experiência de ser totalmente dominada.
Vincent ficou estático por alguns segundos, observando a forma como o corpo dela ainda tremia, como seu peito subia e descia em respirações irregulares.
Naquele instante, Vincent compreendeu o verdadeiro significado de dominação.