Eu estava cansada da rotina chata da cidade então decidi fazer uma visita ao interior do RS, onde minha irmã morava, pra dar novos ares aos meus pensamentos.
A viagem de ônibus parecia interminável, mas a paisagem mudando me acalmava. Eu estava vestida de um jeito bem casual, uma camiseta regata e um shortinho jeans, pronta para o calor do verão. Na mala, só o necessário e algumas lembranças pra minha irmã, o marido dela e meu sobrinho Gabriel que a época da minha partida tinha uns 12 anos já. Quando cheguei, o silêncio do campo me deu um alívio que não sabia que precisava.
A casa deles era uma coisa linda, meio escondida entre árvores. Fui até a porta e pra minha surpresa foi meu sobrinho quem a abriu e, caramba, ele tinha crescido, agora com 20 anos, forte, com um cabelo bagunçado que dava vontade de passar a mão. Ele estava de camiseta e short, despretensioso, mas tinha um brilho nos olhos muito fofo.
— Pô, Gabriel, você tá gigante! Mal te reconheci, cara, dá um abração na tia.
— E você continua uma gata, tia Michelle.
"Ele me chamou de gata ?!" Pensei eu. Meu coração deu um pulo, e ali começou uma tensão entre a gente que foi tomando caminhos estranhos, talvez diferentes.
Ele ajudou com a minha bagagem, mostrando a casa. Era tudo muito aconchegante, parecia um lugar onde você poderia esquecer as regras do mundo lá fora. Conversamos sobre tudo e nada, mas eu sentia um calor diferente, pelas temperatura e pela companhia agradável, de certa forma Gabriel era um homem como poucos que me fez me sentir bem a vontade conversando sobre tudo. Me trouxe mais vontade de estar perto dele, até mais do que era certo.
A noite chegou, e depois do jantar, ficamos no alpendre, olhando as estrelas. A escuridão trouxe uma proximidade que o dia não permitia.
— Caralho, é tão quieto aqui. Faz você pensar em coisas... sei lá, malucas.
— Tipo o quê? — ele perguntou, com um sorriso meio malicioso.
Eu sabia que deveria parar por ali, mas algo me empurrou pra frente.
— Tipo quanto eu senti falta desse ar, dessas pessoas, sua mãe, e também um pouquinho da sua falta... e talvez outras coisas.
Gabriel se virou pra mim, seus olhos brilhando, dando uma risadinha sincera, numa mistura de desejo e dúvida. Ele se aproximou, e eu, em vez de me afastar, eu esperei pra ver o que ele diria ou faria
— Michelle... isso é loucura, eu estar excitado por alguém que eu acabei de rever após muitos anos? E ainda assim parecer que eu podia ou não podia fazer algo que eticamente é errado, mas parece algo certo, que não faria mal a ninguém.
Eu sussurrei, meio perdida no momento, quase que tentando engolir aquelas palavras e aquela coragem por alguém ser tão direto aquele ponto.
— Talvez, mas só por um momento...
E então, nesse momento ele bruscamente me beijou. Foi um beijo cheio de desejo e culpa, de poucos segundos, nossos corpos se aproximaram mais do que deveria.
Nos separamos também bruscamente e, Gabriel, com a voz trêmula, disse:
— Michelle, eu... eu quero perder a virgindade com você, eu sou virgem okay, vinte anos e nunca tive nada com ninguém, eu me acho esquisito, às pessoas me acham esquisito. Sei que é errado, mas eu quero... com você.
Eu senti um turbilhão de emoções, o desejo misturado com a consciência do que estava em jogo. Conseguia sentir o coração dele batendo rápido.
— Gabriel, isso mudaria tudo... entre nós, pra sempre.
Ele apenas assentiu, seus olhos implorando por algo que sabia que não deveria querer.
A realidade caiu sobre nós como um balde de água fria. Nós nos afastamos, respirando fundo, olhando um para o outro com um novo entendimento.
— Isso não pode ser, Gabriel. Não podemos.
— Eu sei, desculpa por pedir.
O silêncio que se seguiu foi pesado, carregado de desejos não realizados e de uma mudança irreversível na nossa relação.
Fui para o quarto que eu dividia com ele, na cama da parede. Deitada na cama, a mente cheia de "e se". A relação entre nós havia mudado para sempre, com um segredo que só nós dois compartilharíamos, um desejo proibido que nunca poderia ser completamente esquecido.