Um mês havia se passado. Meu contato com Lucas era breve, quase inexistente. Às vezes, ele ia até minha casa para ver o Bruninho, mas eu o evitava. Ver Lucas ainda era doloroso demais. Eu o amava, e qualquer vestígio da presença dele parecia reabrir feridas que mal haviam começado a cicatrizar.
As notícias sobre ele continuavam a chegar até mim, mesmo sem que eu quisesse. Descobri que agora ele frequentava as baladas gays da cidade, se jogava em festas, conhecia novas pessoas. Ele estava aproveitando a vida. E, de certa forma, eu já tinha vivido isso, já tinha tido essa fase. Mas saber que ele estava se permitindo ser feliz sem mim doía. Seguir em frente não era fácil.
Alguns dias eram piores que outros. Em algumas noites, eu chorava, pensava nele, me deixava consumir pela saudade, mas tentava não me prender a isso. A faculdade exigia muito de mim, e eu precisava me manter ocupado. O curso estava mais intenso do que nunca, e JP se tornou meu porto seguro. Bernardo estava morando em São Paulo, então, sem ele por perto, eu e JP nos aproximamos ainda mais. Mas entre nós não acontecia nada além de uma amizade genuína. Ele era o amigo que segurava minha mão quando eu precisava, mas nada além disso.
Numa tarde de domingo, enquanto eu estava no quarto estudando, ouvi batidas na porta.
— Posso entrar? — a voz dele ecoou pelo cômodo.
Era Lucas. Ele acabara de voltar de um passeio no shopping com Bruninho. Meu coração disparou.
Ele entrou. E, naquele momento, eu soube que, por mais que tentasse evitar, ainda não estava pronto para encará-lo sem sentir a dor de tudo o que fomos e tudo o que nunca mais seríamos.
— Oi, Rafa. Boa noite, tudo bem? — perguntou timidamente.
Levantei os olhos dos livros, tentando manter a frieza na voz.
— Oi, Lucas. Já voltou do shopping?
Ele suspirou.
— O Bruninho tá no quarto. Passei só pra dar um alô… Sempre que venho aqui, você está ocupado ou não tá em casa.
— Estou com uma rotina puxada na faculdade, Lucas — respondi, voltando a encarar minhas anotações, fingindo estar mais concentrado do que realmente estava.
— Tá fazendo o quê agora?
— Estudando. Tenho prova de ortopedia na terça, e é bem complexa.
Houve um silêncio. Então, baixinho, quase como se não quisesse que eu escutasse, ele disse:
— Saudades de você.
Senti meu coração falhar um compasso. Meus dedos apertaram a caneta com mais força.
Lucas deu um passo à frente, quebrando a distância entre nós. Sua voz saiu baixa, carregada de um peso que me desarmava.
— Me dá um abraço?
Eu deveria ter recusado. Deveria ter dito que não. Mas não consegui. Nunca consegui. Lucas tinha um poder sobre mim que eu não sabia explicar. Bastava um gesto, um olhar, e eu estava entregue, sem resistência.
Quando seus braços me envolveram, um arrepio percorreu minha espinha. Eu fechei os olhos e afundei o rosto em seu ombro, inalando aquele cheiro familiar. Sentir seu calor de novo me desmoronava por dentro.
Ficamos assim por um tempo, e então ele se afastou levemente, me encarando com aquele olhar que sempre me desarmava.
— Acho que vou indo… Foi bom te ver.
— Fica um pouco — as palavras escaparam da minha boca antes que eu pudesse contê-las.
Lucas sorriu. Aquele sorriso. Aquele maldito sorriso que só ele sabia dar, e que sempre me fazia esquecer qualquer dor.
— Tem certeza? — perguntou, a voz carregada de algo mais profundo.
Olhei para ele, sentindo meu peito apertar, minha respiração falhar. Então, baixei a cabeça, me aproximei e sussurrei, perto de seu ouvido:
— Tô com saudades de você também.
Então nos beijamos.
Foi como mergulhar em um mar revolto, onde a saudade e o desejo colidiam em ondas furiosas. O gosto dele, o calor do seu corpo, a maneira como seus lábios se moviam contra os meus… Tudo me puxava para aquele abismo do qual eu nunca realmente tinha saído.
O beijo era quente, desesperado. Meu corpo reagia à presença dele como se estivesse faminto, como se tivesse esperado por isso desde o dia em que nos separamos. A língua de Lucas explorava minha boca com uma intensidade que me fazia perder a noção do tempo, até que, de repente, ele se afastou, respirando ofegante.
— Melhor não, Rafa… Não quero te machucar.
Minha garganta se apertou. Meus olhos buscaram os dele.
— Eu já estou machucado, Lucas — sussurrei, sem hesitar. — Vem cá.
Puxei-o para a cama, e ele veio sem resistência. Nos beijamos com ainda mais intensidade, como se cada segundo longe tivesse sido um erro que precisávamos corrigir com urgência. Minhas mãos deslizaram pelo seu corpo, sentindo cada detalhe que eu já conhecia tão bem. As roupas foram desaparecendo, uma a uma, enquanto nossos corpos se encaixavam como sempre fizeram.
Mas então, ele parou.
— Vou fechar a porta — murmurou, a voz rouca. — Pro Bruninho ou qualquer outra pessoa não aparecer aqui.
Vi Lucas se levantar, caminhar até a porta e trancá-la. O olhar que ele me lançou ao voltar fez meu coração acelerar ainda mais. Em um segundo, ele se jogou sobre mim novamente, e o mundo lá fora deixou de existir.
Seus lábios voltaram a encontrar os meus, e seus toques me incendiaram. Entre beijos e mãos que exploravam cada centímetro de pele, ele sussurrou no meu ouvido:
— Estava com saudade do seu corpo… De você.
Sua língua deslizou pela minha orelha, e senti seu hálito quente contra minha pele. Ele mordeu meu pescoço de leve, arrancando um gemido baixo de mim.
Eu estava completamente alucinado, ambos já estávamos de pau duro, o Lucas me olhava com um desejo, e eu retribuía o olhar, ele então pegou meu pau e começou a chupa-lo, o Lucas me chupava com bastante intensidade, após alguns minutos ele me chupando, ficamos em um 69, então eu chupava ele e ele me chupava, logo depois ele me vira de costas, sarra seu pau no meu cú, e sussurra no meu ouvido que estava com saudades de transar comigo, e eu apesar respondo rebolando e sentindo seu pau duro atrás de mim, ele então cospe no pau, e começa a meter em mim devagar, e logo ele começou a meter muito forte e rápido, como só ele sabia fazer, de todos os homens que eu já havia transado o Lucas era o único que metia tá freneticamente, e quando eu comecei a rebolar, ele meteu mais rápido, e me dava uns tapas na bunda onde eu amava. Não demorou, e ele gozou dentro de mim, ele então me virou de frente vi meu pau duro, e então sentou no meu pau, foi sentando e gemendo, e logo ficou cavalgando no meu pau enquanto me olhava e me beijava, não demorou e eu gozei dentro dele. Era rara as vezes que o Lucas gostava de ser passivo, mas sempre era assim de forma intensa, e rápida.
Ficamos ali, deitados. Eu repousava sobre o peito dele, sentindo sua respiração lenta e profunda enquanto ele alisava meu cabelo. Era um gesto familiar, íntimo, o mesmo de sempre. O mesmo de quando a gente fazia amor e, depois, apenas existia no silêncio um do outro.
Mas, dessa vez, o silêncio carregava um peso diferente.
Eu não queria admitir, mas um nó começou a se formar na minha garganta. Porque, no fundo, eu sabia que, para ele, aquilo talvez fosse só mais uma transa, um momento qualquer. E para mim? Para mim era mais. Sempre foi mais. Uma recaída inevitável, mas que, no final, só me traria mais dor.
Então, o telefone dele tocou.
O aparelho estava ao meu lado, e, sem pensar, peguei e entreguei para ele. Foi impossível não ver o nome que brilhava na tela: Lucas Maia.
Senti meu estômago afundar.
Ele atendeu sem hesitar:
— Oi, Lu… Tô na casa do Rafa, vim trazer o Bruninho… Não, não… Acho que vou dormir aqui… Certo… Amanhã a gente se fala então. Beijo. Boa noite.
Desligou. Ficamos em silêncio. O quarto parecia menor, sufocante. Minha mente fervia, e antes que eu pudesse me segurar, as palavras saíram:
— Seu novo boy? — perguntei, tentando soar indiferente.
Lucas soltou um suspiro e virou o rosto para mim.
— Não é boy… Mas é alguém que eu tô ficando. Não tô namorando, nem quero.
Meu coração bateu forte, e ele continuou:
— Rafa, você é o único homem que eu vou amar. Mas o Lucas… Sim, ele é o cara que conheci quando ainda estava com você. Só fiquei com ele depois que terminamos. Eu quis fazer as coisas certas.
Fechei os olhos por um segundo, tentando processar.
— Ele sabe que você tá aqui? — perguntei, sentindo minha voz falhar.
Lucas assentiu.
— Sabe claro. E é isso que eu tô tentando te dizer… Eu não minto. Eu poderia não ter atendido na sua frente. Poderia ter mentido pra você. Mas eu não quero mais isso.
A cada palavra dele, eu sentia um buraco maior se abrir dentro de mim.
— Isso tá me fazendo bem — ele continuou, a voz carregada de sinceridade. — Eu gosto de você, te amo muito. Mas também tô amando essa fase que tô vivendo. Não tô preso a ninguém. Fiquei com alguns caras. Saí sem medo de ser julgado. Tô vivendo algo que nunca vivi antes.
Meu peito apertou.
— Hoje foi muito bom, Rafa — ele disse, olhando para mim com aquele olhar que eu conhecia tão bem. — Mas, como já falei mil vezes, eu não quero te machucar. Só quero ser sincero com você.
E ali estava a verdade. Crua. Dura.
E eu não sabia o que doía mais: o fato de ele ainda me amar ou o fato de que, apesar disso, ele não queria mais estar comigo.
Fiquei em silêncio, tentando digerir as palavras que Lucas havia acabado de me dizer. Eu entendia. De certa forma, entendia. Mas isso não tornava a dor menor. Porque, no fim, eu sabia que o amava mais do que ele me amava. E isso era um fato.
Para mim, aquilo não tinha sido só uma recaída. Tinha sido uma esperança. Um lampejo do que poderíamos ter de novo. Mas ele deixou claro que não havia volta. Ele estava feliz com essa nova vida, e aquele era o caminho que ele havia escolhido.
Senti um nó subir pela garganta, pesado, sufocante. E antes que pudesse me controlar, as lágrimas começaram a escorrer.
— Rafa, não chora, por favor… — a voz dele veio carregada de culpa. — Não gosto de te ver assim.
Eu soluçava. Meu peito queimava.
— Lucas, eu te amo muito… — minha voz saiu embargada, fraca.
Ele fechou os olhos por um instante e balançou a cabeça, como se aquilo o machucasse também.
— Eu também te amo, Rafa. Sempre vou te amar. Sempre serei seu.
Me agarrei a essas palavras como um náufrago se agarra a um pedaço de madeira no meio do oceano.
— Então volta… — pedi, quase implorando. — Eu já disse que aceito sua vida dupla.
Ele me olhou com uma mistura de dor e tristeza.
— Rafa, não é sobre isso… Não é questão de você aceitar ou não. Simplesmente não dá certo. Nós não estamos na mesma sintonia. Eu prefiro te machucar agora, com a verdade, do que te destruir com mentiras e atitudes que te fariam sofrer ainda mais. Um dia, você vai me agradecer por isso.
Meu coração se partiu em pedaços.
Lucas respirou fundo, como se reunisse coragem para o que estava prestes a fazer.
— Acho melhor eu ir embora… Foi um erro a gente ter ficado.
Dessa vez, eu não respondi.
Fiquei ali, parado, apenas observando enquanto ele se levantava e começava a se vestir. Cada peça de roupa que ele colocava era como um golpe no meu peito, um lembrete de que ele estava indo embora.
Antes de sair, ele se aproximou, passou a mão nos meus cabelos e depositou um beijo suave no topo da minha cabeça.
— Fica bem, tá? Eu te amo muito.
E então, ele saiu.
A porta se fechou atrás dele.
E junto com ela, meu mundo desabou.
Eu amava aquele homem de um jeito que nem eu entendia. Lucas sempre seria especial para mim. Essa era a verdade. Mas eu sabia que não podia me perder de novo. Não podia mergulhar na dor como antes.
Eu precisava aceitar.
Precisava seguir em frente.
Por mais impossível que parecesse. Algumas semanas se passaram e eu evitava Lucas, não era apenas uma escolha, era uma necessidade. Cada vez que ouvia o nome dele, cada vez que alguém mencionava alguma coisa sobre sua vida, meu peito apertava, o ar ficava mais difícil de puxar. E então, aprendi a fingir que ele não existia. Era a única forma de tentar me proteger.
Mas naquela noite, algo dentro de mim implorava para sair. Eu precisava dizer. Precisava colocar para fora antes que essa saudade me engolisse inteiro.
Foi então que ouvi uma música na rádio.
Cada verso parecia gritar tudo o que eu sentia, tudo o que eu tentava esconder debaixo da minha máscara de indiferença.
Peguei o celular sem pensar muito e deixei as palavras fluírem.
“Lucas,
Você pode ficar com quem quiser, e eu sei que não tenho o direito de interferir. Sei que não mando nos seus sentimentos, que você tem todo o direito de seguir em frente. Mas, toda vez que ouço alguma notícia sua, meu coração dispara, meu peito aperta, e eu fico sem chão.
Na maioria das vezes, prefiro nem saber. Fingir que você não existe foi a única forma que encontrei de tentar me proteger.
Mas, apesar de tudo, eu só quero te ver bem. Quero te ver feliz. Mesmo que isso custe a minha própria felicidade.
O problema é que, não importa o que eu faça, em qualquer relação que eu tente daqui para frente, vai ser impossível amar alguém da mesma forma. Porque o peso do meu amor por você sempre será maior que qualquer outra coisa.
Mesmo separados, ainda sinto que seu corpo é meu.
Eu finjo bem. Escondo de todo mundo essa dor absurda. Mas tem dias que simplesmente não consigo. Tem semanas que as recaídas vêm com tudo, e eu me perco nesse sentimento que nunca vai embora.
Se eu pudesse fazer um único pedido, seria apagar você da minha mente.
Mas só de pensar nisso, meu coração chora.
Porque, por mais que doa, por mais que me destrua, eu não sei quem sou sem esse amor.
E me pergunto… será que um dia vou conseguir seguir em frente sem cair, de novo e de novo, nessa saudade?”
Depois de enviar aquela mensagem, senti um alívio imediato. Como se, de alguma forma, eu tivesse tirado um peso enorme das costas.
Mas, ao mesmo tempo, algo dentro de mim despertou.
O mundo não girava em torno do meu amor pelo Lucas.
Eu tinha meus sonhos. Tinha meus planos. E, pela primeira vez em muito tempo, comecei a enxergar isso com clareza.
Lucas se manteve distante.
E era exatamente o que eu precisava.
Pedi esse espaço, e ele respeitou. Quando queria ver Bruninho, falava diretamente com minha mãe ou meu pai. Aos poucos, nosso contato se tornou inexistente.
Alguns meses depois...
Era final de fevereiro de 2019, e eu estava prestes a viver algo completamente novo.
Meu primeiro Carnaval em Salvador.
Viajei com alguns amigos da faculdade, pronto para aproveitar cada segundo daquela experiência. Estava feliz. Estava leve. E, o mais importante, havia finalmente esquecido Lucas por completo.
A distância entre nós continuava a mesma, e pela primeira vez isso não me machucava mais.
A energia da cidade pulsava, e eu estava pronto para viver tudo aquilo.
Sem amarras. Sem passado.
Apenas eu, meus amigos e um Carnaval que prometia ser inesquecível.