Nossa conversa com a assistente social foi tranquila e bem animada. O problema é que já era a terceira profissional que nos entrevistava, e os primeiros papos eram sempre positivos. Porém, quando começavam a entender nosso histórico e nossos anseios, o tom mudava, e éramos transferidas.
Na minha visão, estava estranho, mas, como Júlia achou que poderia ter acontecido alguma mudança em relação ao tempo em que entramos no processo de adoção de Kaique, sosseguei mais.
— O que acha da gente fazer algo diferente hoje? — Juh propôs.
Resolvi brincar para ver a reação dela.
— Queria correr hoje novamente, gatinha — falei.
— Aaaah, tudo bem então — ela me respondeu, murchando.
A puxei pela cintura, dando risada, e dei vários beijos no pescoço dela.
— Brincadeira, amooooor! Que mundo é esse que eu não aceito fazer o que minha mulher quer?! — disse-lhe, e Juh sorriu, me dando um beijinho na boca.
— O que você quer fazer? — ela questionou.
— Quer jantar fora? — perguntei, mas não era algo que eu sentisse vontade, não naquele dia, e acho que Júlia percebeu.
— Huuuum, a gente pode sair sem destino e resolver na rua — ela sugeriu, e eu curti a ideia.
— Mas amanhã cedo a gente dá uma corridinha, certo? — propus.
— Mas não muito longe, tá? — Juh pediu, e eu concordei.
Na maioria das vezes, quando nossos filhos não estão em casa, ficamos tentando inventar atividades para preencher o tempo. O silêncio que fica no ambiente chega a ser incomodativo. Parece que a casa perde um pouco da energia, da vida, e acabamos nos dando conta de como eles fazem falta.
Eles são extremamente ativos, sempre com alguma brincadeira ou ideia nova para explorar, o que nos mantém em constante movimento o tempo inteiro. São também muito carinhosos, sempre expressando seu afeto com ações, gestos, abraços e palavras que nos surpreendem e enchem o nosso coração de amor. A curiosidade deles é um dos maiores encantos; estão sempre perguntando sobre tudo e querendo entender como as coisas funcionam. Além disso, são muito atenciosos, cuidando um do outro e até de nós duas.
Apesar de todas as vezes que nos vemos tentando encontrar um tempo a sós como casal, a falta deles, quando não estão por perto, nos lembra o quanto é precioso cada momento com nossos filhos. Eles são realmente a alma da casa.
Assistindo a um filme bem divertido para passar o tempo, e Juh foi se arrumar, fiquei deitada no sofá e bati o olho no notebook. Pensei em pegar para tentar pensar em coisas novas, mas só essa ideia me estressou. Eu estava me sentindo tão leve e não queria estragar nada com minha gatinha.
Quando fui para o quarto, ela seguia se ajeitando. Antes de entrar no banho, brinquei:
— Três horas se arrumando para eu bagunçar em três minutos — disse-lhe, rindo.
Quando saí do banho, pude sentir um perfume familiar no ar. O cheiro dela, aquele que sempre me enfeitiça e me deixa louca. Ainda com a toalha enrolada no corpo, a encontrei sentada na cama, já pronta, radiante. Ela usava um vestido preto, soltinho, que caía perfeitamente sobre seu corpo. O tecido leve acompanhava seus movimentos com uma sutileza encantadora.
Mas o que realmente me deixou feliz foi o sorriso. Não era apenas qualquer sorriso; era o sorriso dela. Cheio de alegria, de uma felicidade genuína, que iluminava o ambiente. Era como se o brilho nos olhos dela fosse a peça final, algo que transformava tudo ao redor em algo ainda mais belo.
Eu a observava, completamente encantada, e percebia o quanto ela estava feliz por uma simples saidinha comigo. Esse brilho, essa energia, me fazia sentir mais feliz também. Não precisava de mais nada para tornar a noite perfeita; estar com ela já deixava tudo perfeito. O fato de ver minha mulher tão maravilhosa, com aquele sorrisão que me cativa sempre, me fez sentir uma grande sortuda.
Enquanto não parava de admirá-la, pensei: "Putz, eu preciso jogar toda a insatisfação e toda preocupação para o alto mesmo, olha a fortuna que eu tenho em casa. Uma mulher maravilhosa e filhos incríveis. Não posso reclamar de nada."
— Que foi, amor? — Júlia me perguntou, rindo, porque eu ainda estava fitando-a.
Não disse nada, abri um sorriso e me aproximei dela para um beijo.
— Meu gloss... — ela tentou me avisar, mas eu não quis nem saber.
Segurei em sua cintura e me joguei por cima dela, ela ria baixinho e nossos lábios se tocaram. O beijo foi suave, ficamos apenas aproveitando o momento, saboreando a sensação dos nossos corpos um contra o outro e a leveza das nossas línguas se movimentando.
Juh envolveu suas mãos no meu pescoço, puxando-me mais perto, e a vontade do beijo aumentou. O único som dentro daquele quarto era o das nossas respirações se intensificando. Minha mão deslizou para a sua nuca, enquanto a dela subia para o meu cabelo, o toque de seus dedos me fizeram arrepiar.
Eu me perdi nos nossos movimentos, agora novamente sem pressa, sem querer que terminasse. Eu estava completamente envolvido nela, por mim, a gente se pegava gostoso ali mesmo e esquecia o passeio, porém sabia que ela precisava me dar aquele tempo com ela. Era algo importante para o meu amor.
Quando nos afastamos, nossos olhos se encontraram, e nós demos mais alguns selinhos antes de que eu levantasse. Percebi que tudo o que eu queria era mais daquele instante e teríamos a noite inteira para aproveitar.
Um novo sorriso se formou nos lábios do meu amor e ela segurou minha mão e pôs no seu coração.
— Tem três anos que eu sei o que é ter o coração acelerado por estar apaixonada pelo amor da minha vida — Ela disse.
Segurei o rosto dela e dei mais um beijinho e sussurrei no ouvido dizendo que a amava muito e que diariamente esse amor se multiplica.
Infelizmente, eu tenho o dom de brincar fora de hora e acabei quebrando o climinha romântico quando a minha mão que estava no coração se direcionou para o peito, que eu apertei delicadamente.
— Amoooor! — ela protestou, rindo, e me deu tapinha. Sorri de volta e finalmente me levantei para me arrumar.
— Deixa eu vestir alguma coisa à sua altura, môh — falei, ao me levantar.
Nós não tínhamos nem o lugar para ir ainda, porém não tínhamos pressa. Ficamos rodando com o carro, olhando para os locais movimentados e também os nomes que nos chamavam a atenção.
Resolvi estacionar, já que a gente não conseguiu se decidir. Os lugares aparentemente mais agitados eram os barzinhos GL's. Nós até já tínhamos ido em alguns. Não sei se é geral ou só aqui em Salvador, mas não são ambientes confortáveis para casais. O pessoal chega mesmo e não respeita relacionamento. Usam a justificativa de que não são ciumentas... Enfim, são lugares que nós evitamos.
Tinha uma casa de festas com um som bem agradável, bem grande, e parecia ser um lugar novo, pelo menos para nós duas, pois não conhecíamos. Resolvemos entrar.
O fluxo estava fraco, mas isso não nos incomodou. Bebemos um pouco e ficamos de papo. Tinha muitos casais, e a gente achou divertido ficar imaginando a vida deles, o que faziam, quanto tempo tinham juntos e o que fariam depois dali.
— Quero dizer uma coisa... — Juh falou, no meu ouvido.
— Diga, gatinha... — disse, enquanto passava o nariz em seu pescoço e dava alguns beijinhos.
— Tô feliz porque estou te sentindo bem. A gente sempre consegue vencer as preocupações, sejam elas quais forem. — Júlia proferiu essas palavras, e eu sentia a legitimidade delas.
A satisfação no olhar e o sorriso genuíno confirmavam o que saía de sua boca.
— Estávamos em casa ainda quando eu soube que essa noite seria incrível. Te ver feliz me deixa feliz, e eu adoro esse seu cuidado comigo. Você faz o que ninguém sequer tentou, e não tem preço renovar nosso amor nesses momentos... — falei isso com nossos rostos bem colados.
— Agora quero fazer uma coisa... — ela disse, sorrindo.
— O que, gatinha? — perguntei, mesmo já sabendo a resposta.
— Vamos para casa? — Juh me chamou, segurando a minha mão.
Imediatamente pedi a conta e partimos para o carro.
Ao mesmo tempo que eu tentava ir com cuidado, queria ser breve e ainda tinha uma mãozinha passeando pelo meu corpo e a dona dessa mão tinha um sorriso hipnotizante, era perigoso encarar por mais de um segundo, por mais tentador que fosse.
Assim que entramos na garagem, Juh saltou para o meu colo e engatamos em um beijo delicioso. Minhas mãos agora invadiam sua bunda apertando, enquanto ela se esfregava em mim. Minha gatinha desceu a boca passeando a língua pelo meu colo e quando conseguiu libera meus seios da blusa, chupou de forma esplendorosa, intercalando entre um e outro.
Ela parou somente para pedir que entrássemos e só então eu lembrei que a gente ainda estava dentro do carro.
Juh abriu a porta e saltou primeiro, logo depois eu a acompanhei, sem conseguir manter a distância e apreciando aquele monumento de mulher a minha frente, a agarrei por trás pressionando nossos corpos e mordendo seu pescoço.
Passamos para a área extra casa, tinha começado a chover. Eu a virei de frente para mim e a beijei encostando na parede. Era algo urgente, desesperado. Eu me entreguei completamente, minhas mãos explorando sua pele, entrando por baixo de suas roupas, sentindo a intensidade do momento. Cada toque, cada movimento, parecia me arrastar para mais perto dele. O calor crescia entre nós, o som ofegante, a sensação de que tinha que ser naquele momento, naquele lugar.
Segurei em sua cintura e dois dos meus dedos deslizaram facilmente para dentro dela. Juh arfou em meio a um sorriso safado dentro da minha boca, uma de suas mãos buscou novamente o meu peito e a outra comandava a firmeza e intensidade do beijo, que estava cada vez mais quente. Aquele vai e vem gostoso, ela gemendo e voltando a tocar meus lábios, o sorriso em nossas bocas... Tudo isso fazia o meu tesão crescer.
— Vamos entrar, por favor... Minhas pernas... — Júlia praticamente implorou, e eu resolvi atender, eu também estava precisando de um apoio.
Fomos rindo, sem desgrudar uma da outra. Voltei a beijá-la na porta de casa, e meu celular, que estava preso no cós da minha saia, começou a vibrar insistentemente.
Sem pensar muito, coloquei no pequeno muro e imediatamente retornei de onde havíamos parado. Juh segurou meu queixo e foi me dando selinhos enquanto falava.
— É o pai de Mih, melhor atender, tá tarde... — ela me avisou.
Retornei para o muro brincando, chupando meus dedos ainda quentes e olhando para o rostinho risonho dela.
— Oi! — atendi e coloquei no alto-falante.
— Então, você sabe que eu sou desesperado, pode não ser nada... Mas Mih caiu hoje brincando com os primos e... Bom, na hora ela não sentiu nada, mas agora tá chorando, sentindo dor no braço. Não sei se levo agora no hospital ou espero amanhã de manhã. Também não sei se os daqui são adequados para atendê-la... — nem esperei ele terminar, o interrompi.
— Leva para um hospital e me passa o endereço — falei.
— Mas aqui mesmo? Aí em Salvador não é melhor? — ele perguntou.
— Leve para o mais próximo , a gente não sabe se só machucou ou aconteceu algo mais sério. Tá inchado? Ela mexe? — perguntei.
— É... Tô indo então para aquele perto de onde morávamos — ele informou, e nós desligamos.
Mandei mensagem no WhatsApp, mas ele não viu mais. Queria uma foto para ter noção de como estava minha filhinha.
Procurei Juh e percebi que ela já estava no banheiro. Fui me aproximando e ela já saía, me mostrou as peças que separou para que eu tomasse um banho também e subiu para o quarto. Joguei uma água bem rápido no corpo, e ela já estava me esperando com uma mochila nas costas. Perguntou se Mih ia precisar de algum outro documento, mas eu deduzi que não, os essenciais ficam na sacola dela.
Bateu aquela dúvida em quem ia dirigir, já que nós duas tínhamos bebido. Eu, um pouco mais, só que o álcool afeta mais a Júlia do que a mim, então fui no volante.
Meu ex me ligou novamente quando já estávamos chegando. Milena estava fazendo um Raio-X e ele queria saber o nome completo de Júlia para liberar a entrada para o quarto. Assim que chegamos, já pudemos entrar, e eu vi Mih toda aflita. Quando o olhar dela bateu em mim, a bichinha desceu da maca e veio segurando o choro em um biquinho. Quando chegou no meu colo, desmoronou. Sentei com ela para acalmá-la, o pai dela foi fazendo carinho nas costas e Juh conversando... Mas não adiantava, afinal o choro era por conta da dor.
Milena não aguentava nem o peso da bolsa de gelo, tinha um desvio visível e um leve inchaço ao redor. Infelizmente, parecia ter fraturado.
— Tá vendo essa bola aqui? — mostrei para ela. — Aqui foi onde machucou, o doutor vai olhar seu exame para saber o que aconteceu, tá? — expliquei, e ela assentiu.
Gosto de manter as crianças informadas sobre o que está acontecendo em situações críticas, acho que ameniza o desespero.
O médico chegou, mostrou o desvio e falou que não ia precisar de cirurgia, apenas uma redução manual.
O médico explicou passo a passo, e fui bem franca com Mih. Eu sabia que ia doer e não escondi isso dela, mas deixei claro que logo depois ia aliviar bastante.
A manobra foi TOR-TU-RAN-TE! Milena sentiu muito e não tinha o que fazer, era necessário para o braço voltar para o lugar. Pude acompanhar para confortá-la, porém não houve efeito. Já saímos daquela pequena sala com o bracinho dela imobilizado.
— Ainda tá doendo, mãe? — Mih falou, recostando no meu ombro.
— Mas agora tá melhor, não está? — perguntei, e ela confirmou.
Enquanto o pai dela conversava com o médico, Júlia perguntou se Mih voltaria com a gente, e eu realmente não sabia. Por mim, sim, porém acho que o mais importante era o que ela desejava.
— Quer ir com a mamãe ou ficar com o papai? — perguntei.
Ela olhou onde o pai estava, e eu entendi.
— O papai não vai ficar chateado, não... Ele vai entender — falei.
— Então quero ir — Mih confirmou.
Conversei com ele, que, graças a Deus, compreendeu e não se opôs. Assim que Mih foi liberada, pegamos a estrada de volta para Salvador.
Milena, no caminho de volta, ainda chorou um pouco. Ela veio no colo de Juh, mas eu conseguia ouvir, até que a bichinha dormiu, vencida pelo cansaço. Parei em uma farmácia 24h, comprei os medicamentos e partimos para casa.
— Imaginei essa noite terminando de várias formas, menos assim — disse para Juh, enquanto ela colocava Mih na cama.
— Muito menos eu... — respondeu, me abraçando.
— Obrigada, viu? Você foi bem ágil... — agradeci, e demos um beijinho.
Nós apagamos. Quando acordei, nenhuma das duas estava ao meu lado. Olhei o celular e tinha uma mensagem do meu sogro, falando que o carro tinha quebrado e que, se desse, para eu ir pegar Kaique. Tomei banho e desci. Minhas duas meninas estavam no sofá assistindo desenho, Mih por cima de Juh, e na mesinha de centro tinha um prato com um misto, cortado em diversos pedaços pequenos, que minha muié ia colocando na boca da nossa filha.
Que cena mais afetuosa, meu coração quase explodiu de fofura.
Dei um beijo em Juh e enchi o pescoço de Milena de beijinhos. Perguntei se ela estava melhor, e ela me respondeu que ainda estava bem dolorida, mesmo tomando o remédio. Falei que era normal e que, cada vez mais, ia aliviar, até que não sentisse mais.
Tooooda manhosa, contudo, passei pano. Nessa situação, tinha todo direito de receber todo o dengo do mundo e ser mimada ao extremo.
Mih contou como foi. Os primos e ela estavam treinando jiu-jitsu por conta própria, e em dado momento, ela caiu errado. Na hora, sentiu um pequeno incômodo, porém achou que não era nada demais e seguiu brincando. Somente depois doeu de verdade e ela comunicou ao pai.
Contei da mensagem do meu sogro e falei que ia buscar Kaká. Mih queria ligar para contar, porém não deixei. Ele ia ficar ansioso e não ia deixar meus sogros em paz.
Achei que ia ser rapidinho, um bate-volta, mas Kaique tinha ido ao haras buscar Brad, e minha sogra aproveitou para fazer um cafezinho especialmente para mim, não tinha como negar. Sentei, e ficamos conversando uns quinze minutos. Contei dos gêmeos e também sobre a fratura, mas deixei claro que já estava tudo bem.
Assim que Kaká me avistou, veio correndo me encontrar. O abracei, e viemos. Somente quando entramos no condomínio, contei tudo que havia acontecido para ele. Parei o carro na frente de casa e continuamos dialogando sobre o ocorrido, que era para ele tomar cuidado e ajudar a irmã, mas que o pior já tinha passado. De início, ele se assustou, mas foi bem solícito e amoroso com a irmãzinha, do jeito que eu imaginei que seria.