“Como são sábios aqueles que se entregam às loucuras do amor!” - Jo. Cooke
Isabela tentou dar um passo atrás, tentando retomar a sua postura, mas era como se algo a tivesse fragilizado, quebrado a barreira que ela havia construído ao longo dos anos. Seus olhos brilharam com um misto de frustração e confusão.
Isabela: Eu... não posso continuar fingindo. - Ela olhou para Camila, sentindo a angústia tomar conta de si, e mais uma vez a verdade lhe escapava pelos lábios. - Mas preciso.
Camila não se moveu, apenas permaneceu onde estava, observando Isabela com um olhar mais suave agora. Não era apenas uma provocação ou uma crítica. Havia algo mais profundo ali, uma conexão inesperada entre as duas.
Camila: Você não precisa continuar fingindo.- Sua voz era calma, mas a intensidade que ela sentia por dentro estava transbordando. Não era sobre controlar ou dominar, mas sobre dar espaço para que a verdade de Isabela fosse ouvida. - Eu vejo você, Isabela.
Aquelas palavras pareciam ter um peso maior do que qualquer outra coisa que Camila tivesse dito até aquele momento. E, pela primeira vez, Isabela sentiu que, talvez, fosse possível se permitir ser quem realmente era, sem as máscaras ou as expectativas que sempre a prenderam.
O silêncio entre elas foi pesado, mas diferente. Era um silêncio de compreensão, de uma verdade que ainda não estava completamente clara, mas que já estava se formando entre elas, algo que não poderia ser desfeito.
Camila deu um passo à frente, mais uma vez, mas de maneira cuidadosa, como se não quisesse invadir o espaço de Isabela, mas também não soubesse como se afastar. Algo nela, algo que ela não queria reconhecer, a mantinha ali, perto de Isabela. Ela ainda estava tentando entender o que estava acontecendo, como uma simples provocação tinha levado as duas a esse ponto, puxou novamente Isabela pela cintura e repetiu o beijo, dessa vez mais carinhoso com um tom de cumplicidade.
Isabela se afastou, estava corada mas com um sorriso nos lábios.
Isabela: Como pode isso ter acontecido? Você totalmente fora do meu círculo de convivência me faz tão bem. E ter um beijo tão bom. - Levou seus lábios novamente ao encontro dos de Camila.
Camila: Obrigada pelo elogio, mas ainda não consegui te mostrar o melhor do meu beijo. - Falou entre beijos com aquele tom de provocação que sempre estava presente. - E eu também não entendo como acabamos aqui.
Isabela desviou o olhar, tentando controlar a respiração, mas foi impossível esconder o tumulto dentro de si. Um turbilhão de emoções que ela não conseguia controlar, ela tinha dado seu primeiro beijo em uma mulher e essa mulher era sua némesis. Ao mesmo tempo, todo o peso das expectativas de sua família, as responsabilidades que ela carregava há tanto tempo e a máscara que sempre usou para se proteger, tudo parecia estar desmoronando ao seu redor.
Camila a observou em silêncio por um momento com as testas coladas. Isabela estava ali, quebrada de uma maneira tão profunda, tão inesperada, que até mesmo Camila ficou sem palavras. Ela nunca imaginou que veria aquela faceta de Isabela, tão vulnerável, tão humana. Camila sempre a via como alguém distante, uma pessoa que não se importava com nada, alguém que parecia ser tão forte, tão inatingível. Mas ali, naquele jardim, com a lua iluminando as duas, Isabela era apenas uma jovem, perdida nas expectativas de todos ao seu redor.
Camila: Você não precisa ser perfeita. Eu sei que você tem mais do que isso. E eu... eu quero poder conhecer mais desse seu lado.
Isabela a encarou, com os olhos marejados, mas com uma intensidade que Camila jamais imaginara. Por um instante, tudo ao redor parecia desaparecer. Não havia mais a festa, nem a pressão dos pais, nem as máscaras que ambos usavam para sobreviver. Só havia o agora, e, talvez, algo mais. Algo que nem Isabela, nem Camila estavam dispostas a entender completamente.
Isabela: Eu não sei mais quem sou, Camila... - Sua voz estava quebrada, mas havia algo mais ali, algo de muito mais profundo. Ela se afastou e abaixou a cabeça, como se não quisesse que Camila visse a fragilidade que estava transbordando dela. - Eu só queria ser algo mais... algo que fosse apenas meu.
Camila, sem saber o que fazer, apenas ficou ali junto a ela oferecendo uma presença silenciosa. Ela não sabia como lidar com a dor que Isabela estava sentindo, mas também sabia que esse momento de vulnerabilidade compartilhada era mais importante do que qualquer coisa que elas já haviam vivido até então.
O tempo pareceu se arrastar entre elas, mas, em algum ponto, a proximidade se tornou algo inevitável. Sem mais palavras, sem mais defensivas, Isabela levantou a cabeça e, pela primeira vez, olhou para Camila sem o peso da perfeição, sem o medo de se mostrar fraca. Era uma troca silenciosa, mas poderosa, que só as duas poderiam entender.
Aquele momento não resolveria nada. Mas, talvez, fosse o início de algo novo, algo que ambas ainda precisariam enfrentar.