Paixão e sexo entre o bem e o mal

Um conto erótico de Kherr
Categoria: Gay
Contém 12739 palavras
Data: 28/03/2025 12:57:51

Dizem que foi no Carnaval. Ela havia ido passar o feriadão no Rio de Janeiro com umas amigas, conheceu o sujeito bonitão de palavras sedutoras e fala mansa, trepou com ele até ficar com a boceta esfolada e, na quarta-feira de cinzas não o viu mais. O número do celular que ele lhe havia dado não atendia mais as ligações. Ela retomou a rotina ao voltar para casa sem saber que as minhas primeiras células embrionárias estavam se multiplicando vertiginosamente em seu ventre. Só começou a suspeitar que algo estava errado quando, findo o terceiro mês de menstruações que nunca foram regulares, também começou a ter enjoos.

- Puta merda! Era só o que me faltava! – exclamou, assim que a médica do posto de saúde confirmou a gravidez adiantada.

O atual namorado, que conheceu há pouco mais de mês, sugeriu o aborto. Até lhe indicou uma senhora que, segundo ele, era craque no assunto e sabia arrancar esses problemas dos ventres da mulherada com muita expertise. No dia em que a foi consultar em companhia de uma amiga, a polícia invadiu a casa enquanto aguardavam, e prendeu a mulher sob acusação de homicídio doloso, pois a “paciente” da qual tinha arrancado o problema há dois dias foi a óbito. Apavorada, ela ainda foi levada, junto com a amiga, para a delegacia e precisou explicar o que fazia na casa da abortadeira.

- Agora fodeu de vez! Como vou me livrar disso agora? – reclamou com o namorado.

- Minha tia conhece uma espécie de rezadeira, ela sabe de umas ervas e chás que fazem a coisa sair. – sugeriu o sujeito.

- Deus me livre! Tinha uma colega na empresa que trabalhei que tomou alguns desses chás, a vagina da coitada sangrou feito cachoeira por quase uma semana quando precisaram levar a infeliz para um hospital. – devolveu ela. – O jeito vai ser deixar a coisa crescer, parir e depois ver o que fazer.

- Só não pense que vou sustentar cria de outro macho! Se for essa a solução que imaginou, pode esquecer! – afirmou o sujeito.

- Então vá para a puta que o pariu! Acha que é só chegar, se divertir enfiando esse bagulho na minha boceta, e achar que isso vai sair de graça? – revidou furiosa. Nunca mais viu o sujeito.

Também dizem que precisaram me tirar da barriga dela numa cesárea, mas as razões nunca ficaram muito esclarecidas. No dia do meu sexto aniversário ela me levou para a casa da minha avó viúva com uma sacolinha de roupas que era para eu ficar com ela até o fim de semana quando ficou de me buscar. Tal qual o sujeito que ela havia mandado a puta que o pariu e que desapareceu, ela se escafedeu e nunca mais ninguém soube dela. Depois de muito resmungar e reclamar tendo corrido atrás da filha por tudo que é canto, minha avó se convenceu que a mala sem alça havia sobrado para ela.

- Pois é, Julinho, agora somos só eu e você! Que Deus nos ajude! – exclamou passando a mão nos meus cabelos, quando sua última busca deu em nada.

- Eu amo você, vovó! – afirmei sincero, uma vez que havia me afeiçoado muito a ela.

- Esse mundo é mesmo irônico, entregam um anjinho nas mãos de uma diaba pensando que isso tem chance de dar certo. – retrucou minha avó. Nunca entendi o que ela quis dizer com aquilo, mas recebi com grata satisfação o beijo que colocou na minha testa.

Foram anos bons que passei sob a tutela dela, até o início da puberdade, diria até que foram os melhores de toda a minha vida. Depois de haver parido onze filhos dos quais apenas oito estavam vivos e, de uma saúde que se deteriorou rapidamente depois de ela completar 65 anos, vendo-se obrigada a ter que procurar asilo na casa de um dos filhos, uma vez que não dava mais conta de cuidar de si própria, ela se despediu de mim, deixando-me aos cuidados da filha mais velha, tia Francisca.

Tia Francisca morava numa das maiores favelas de São Paulo com o segundo parceiro, os dois filhos do primeiro parceiro e o casal de filhos do atual. E não me venham com essa história de politicamente correto, pois o casebre mal ajambrado ficava é mesmo numa porra de uma favela e não na “comunidade” como querem alguns imbecis influenciados pela mídia.

- E quem é que vai sustentar mais uma boca? A puta da sua irmã some no mundo e joga a responsabilidade nas costas dos outros. Já somos em seis, onde esse moleque vai dormir, pode me dizer? – reclamou o José, parceiro da minha tia, quando ela se viu obrigada a ficar comigo, pois o conselho tutelar não permitiu que me despejassem num orfanato com tantos parentes vivos.

- Se você não fosse esse imprestável que é, e arrumasse um emprego descente, não estaríamos nessa penúria. Portanto, não reclame! Eu faço minhas costuras para fora para te ajudar, os pais do Jonas e do Carlos pagam a pensão deles, e minha mãe disse que me daria parte da aposentadoria que recebe para ajudar com as despesas dele. – garantiu minha tia. – E você vai deixar essa moleza de lado e vai construir mais dois cômodos para não termos que ficar amontoados feito galinhas no poleiro dentro desse barraco. – exigiu, pois só assim para o José se mexer.

- Pensa que é fácil arrumar emprego? Faço o que posso, não tenho culpa se não aparece nada que preste! – devolveu ele

- Não aparece porque ninguém vai empregar um molenga preguiçoso feito você! Estou te avisando José, trate de construir esses dois cômodos ou dou um pé nessa sua bunda! – ameaçou ela. O sujeito era malandro, mas não tão burro, e não ia encontrar outro lugar tão facilmente para se encostar.

O Jonas e o Carlos, filhos do primeiro parceiro da tia Francisca, meus primos mais velhos tinham, respectivamente sete e cinco anos a mais que eu. Enquanto o Luiz e a Maria Clara, filhos do atual, tinham respectivamente quatro e três anos a mais quando fui morar com eles ainda adolescente. Diariamente eu era metralhado com alguma insinuação, direta ou indireta, de que era um estorvo e, por isso, procurava ajudar no que fosse possível para amenizar essa situação. O que minha avó repassava para a tia Francisca para custear as minhas despesas, com parte da aposentadoria que recebia do meu avô militar, era bem mais do que as pensões que recebia do primeiro parceiro. Eu nunca soube desse detalhe que me era escondido propositalmente. Nem tão pouco o José sabia do montante, por razões óbvias. Ele vivia choramingando que não tinha grana, mas de tempos em tempos fazia extravagâncias comprando itens caros para a casa, trocando de carro, comprando motocicletas de alta potência, enchendo os dois filhos de presentes, o que deixava a tia Francisca cabreira com a origem desse dinheiro que da mesma maneira fácil que vinha, sumia. Não precisei estar morando mais do que alguns meses com eles para perceber que essa abundância repentina coincidia com notícias nos noticiários da TV de algum roubo a caminhões de carga, assaltos a agências bancárias de pequenas cidades do interior de outros Estados, explosões de caixas eletrônicos e crimes do gênero. E ainda, que coincidentemente, dias antes o José precisava fazer uma viagem cujo destino nunca era revelado, e voltava dois ou três dias depois da notícia dos crimes aparecer nos telejornais. Que José fazia parte de uma quadrilha ninguém me tirava da cabeça.

- Só quero ver no dia em que essa velha morrer e a fonte secar, quem é que vai pagar as contas desse moleque! – questionou o José, inconformado de ter um hóspede indesejado sob seu teto.

- Vai me aporrinhar com essa conversa de novo, seu traste? Faz dois meses que começou a construir esses cômodos e ainda não terminou. Vou estar morta antes de os ver concluídos! – revidou a tia Francisca, naquelas discussões infindáveis onde um descarregava suas frustrações sobre o outro. Não havia amor naquela parceria, continuavam juntos para ele ter uma boceta onde enfiar a pica e para ela ter um macho dentro de casa para não parecer uma mulher sem atrativos.

Me matricularam num colégio público próximo à favela onde cursei o ensino fundamental e, atualmente o primeiro ano do ensino médio. Era uma escola fraca, com professores desanimados que faltavam muito, dependências precárias que viviam em obras de reformas intermináveis e frequentemente depredada pelos vândalos que moravam na favela. O colégio de nome pomposo também era um dos pontos de drogas da favela e o turno da noite tinha o ar empesteado pelo cheiro dos baseados que os maconheiros fumavam pelos corredores. Por sorte, eu frequentava o turno da manhã e era um dos poucos alunos que assistia as aulas acordado, pois a maioria dos meus colegas ia reparar o sono atrasado nas carteiras das salas de aula. Eu gostava de estudar, talvez devido aos genes do sujeito das trepadas do Carnaval, pois nenhum outro membro da família se interessava pelos estudos.

O dia-a-dia na favela era cheio de ocorrências, ruídos, gritarias, baixarias e tudo o mais que uma plebe consegue fazer de suas vidas. Ora era um marido chegando bêbado em casa e distribuindo porrada por tudo que é lado; ora era uma mulher traída que, munida de uma faca ameaçava aos berros cortar a pica do marido; ora eram duas putas se engalfinhando pelos cabelos por uma estar fodendo com o macho da outra; ora estourava uma briga entre os frequentadores dos bares espalhados pelas vielas estreitas distribuindo tiros a torto e direito, e no final, algum corpo tendo que ser retirado pela morgue; ora era um corre-corre dos criminosos atirando e se escondendo dos policiais que invadiam a favela atrás de drogas, armas e produtos de roubo. Ninguém ali era santo, de alguma forma todos tinham sua parcela na criminalidade que corria solta; aqueles que efetivamente a praticavam, e aqueles nos quais eu me incluía, que sabiam de tudo o que acontecia e se calavam dando guarida aos bandidos espalhados pelas ruelas estreitas. Que ninguém venha me acusar de preconceituoso, de que há muita gente boa nas favelas por alguma contingência da vida, pois sei que apesar de haver alguma verdade nisso, a conivência passiva e fruição das benesses que os criminosos dão a essa “gente boa” os torna cúmplices dos crimes cometidos e não menos culpados pelas mortes que esses criminosos praticam. Já diz o antigo ditado – Quem cala, consente!

A criminalidade começava cedo entre os jovens que estavam mais interessados em aprender as lições dela do que as que eram ensinadas nas escolas. Nem dava para encontrar desculpas pela precariedade do ensino, pois eles enveredavam pelo caminho do crime cientes do que estavam fazendo por escolha própria. Essas justificativas proclamadas pelas ONGs, pelos assistentes sociais e pelas instituições públicas geridas sob ideais socialistas não passam de mentiras para o direcionamento de verbas públicas sob a alegação de corrigir problemas sociais que não têm solução enquanto a mentalidade do povo não mudar.

Nem mesmo nós, moradores da favela, estávamos a salvo dos crimes que eram praticados sem nenhum receio de punição. Muitas vezes, as pessoas eram vítimas dentro do próprio barraco, acometidas de algum crime pelos parentes. Estupros de vulneráveis cometidos por tios, meio-irmãos, padrastos e amaciados podiam ser contados às centenas. Foi assim que me vi assediado sexualmente pelos meus primos Jonas e Carlos ao dividir o minúsculo cubículo abafado com eles, tão logo a puberdade começou a moldar meu corpo. Fugir daquelas mãos assanhadas e daqueles dois caralhões nas noites quentes de ar estagnado se tornou um hábito para preservar a minha virgindade. Algumas vezes cheguei a apanhar por não permitir que me enfiassem as picas no cuzinho virgem, enquanto berrava para não me estuprarem, o que sempre acabava numa briga generalizada que ia parar na tia Francisca e no José.

No entanto, o episódio mais marcante e que teve seu desfecho anos mais tarde quando já era um adulto jovem, aconteceu numa tarde de domingo quando estava entrando nas ruas da favela de regresso da casa de um colega de escola que havia dado uma festa por seu aniversário. Era a primeira vez que eu estava usando o tênis novo que minha avó havia me dado de presente, e que ostentei para não fazer feio na festa. Eu tinha percorrido apenas algumas ruelas a caminho de casa quando os três me abordaram, eu conhecia todos eles e sabia que não valiam a merda que cagavam. Não eram muito mais velhos do que eu, mas tinham um currículo criminal invejável para a idade. Um deles inclusive tinha voltado há pouco de uma estadia de quase um ano na Fundação CASA, e foi ele quem me prensou contra a parede de um barraco e exigiu que lhe entregasse o tênis. Implorei que não o levasse, que era um presente da minha avó, que era o único novinho que tinha, mas no meio do pedido levei uma bofetada tão forte que cheguei a ficar zonzo.

- Anda seu merdinha, me dá a porra desse tênis! Quero que se foda quem te deu, agora é meu! – exclamou furioso por eu estar empatando seu tempo.

Caí na besteira de gritar por ajuda, o que me rendeu uma bela surra, os tênis arrancados a força dos meus pés, a camiseta rasgada e tingida de sangue que pingava do meu nariz. Largado sentado ali no chão, com as pessoas do outro lado das paredes dos barracos ao redor tendo ouvido tudo e ninguém se disposto a me acudir, comecei a chorar. Duas garotas que moravam mais para o centro da favela passaram por mim voltando da rua e me lançaram um olhar de comiseração sem interromper os passos. O espírito de solidariedade dessa gente é algo espantoso e, certamente, digno de estudos antropológicos.

- O que aconteceu? Quem fez isso com você? – a voz de que estava me ajudando a levantar não me era totalmente estranha e, quando encarei o sujeito o reconheci de imediato, Lucas.

Lucas era um cara parrudo que talvez estivesse com uns vinte anos na ocasião. Eu o conhecia por se encontrar com o Jonas e Carlos numa academia fuleira que havia na entrada da favela. Era lá que ele passava horas construindo aquele tanto de músculos que gostava de exibir usando camisetas regata. A relação dele com o chefe da criminalidade na favela era bem estreito, podia-se dizer que era uma amizade se fosse fora daquele ambiente onde amizades não existem; existem conchavos que só perduram enquanto houver interesses em comum e, que são mais frágeis do que uma linha de costura e se rompem com facilidade.

- Você está bem? – não respondi, uma vez que o nariz sangrando e as marcas arroxeadas pelo rosto e corpo indicavam que não. – Vem, vou te levar para casa! – emendou, quando constatou que sua pergunta havia se respondido sozinha.

Achei que ele fosse me levar para a casa da minha tia Francisca, mas numa das quebradas ele enveredou por uma viela pela qual eu nunca havia passado.

- Onde está me levando? – perguntei amedrontado

- Calma! Não vai te acontecer nada, prometo!

Entramos numa construção rodeada por um muro alto num trecho da favela pelo qual eu nunca havia circulado. Ao contrário dos demais barracos colados uns nos outros, ela estava cercada pelas ruelas e se destacava por estar numa elevação do terreno. Ele abriu um portão de ferro automático pelo qual até um carro poderia entrar, a rua que dava acesso a ele era bem mais larga que as vielas e desembocava numa avenida. O que vi lá dentro me impressionou, um sobrado grande com varandas do tipo que se encontra em bairros nobres que destoava completamente dos casebres simples e mal acabados do entorno. Tinha até uma piscina com borda infinita e um deque com espreguiçadeiras de onde se podia avistar boa parte da favela e as avenidas que a cercavam. No interior luxuoso e moderno havia de tudo que se podia imaginar para o conforto dos moradores.

- Quem mora aqui? – perguntei, ainda desconfiado

- Eu!

- Você e que mais?

- Isso importa?

- Não sei, acho que sim!

- É sempre tão curioso assim?

- Não sou curioso, só fiz uma pergunta!

- É bisbilhoteiro então! – retrucou com um sorriso

- Claro que não! Não sou bisbilhoteiro! Eu vou embora!

- Senta aí, moleque e fica quieto! Vou buscar algumas coisas para fazermos uns curativos e fazer esse nariz parar de sangrar. – resolvi obedecer, aquele tom de voz não dava margem para questionamentos. Ele voltou com uma caixa de primeiros socorros e foi tirando o que precisava de dentro dela, sob meu olhar atento. – Quem fez isso com você?

- Não sei! – essa era resposta clássica que todos favelados tinham na ponta da língua, servia tanto para responder aos questionamentos da polícia, para as perguntas dos repórteres e para qualquer um que não morasse naquelas vielas, pois garantia a sobrevivência.

- Não minta! Você sabe quem foi e vai me dizer! – exigiu

- Juro que não sei! – insisti, antes de ele esmagar meu queixo com apenas uma das mãos.

- Quem foi, moleque? Abre o bico! – citei o nome de cada um deles, temendo apanhar novamente, e não disposto a sentir a força daqueles músculos sobre meu corpo. – Viu, melhor assim! – exclamou com um sorriso que, até então eu não sabia se era espontâneo ou se havia alguma intenção por trás dele. – Tire a camiseta!

- Não!

- Moleque você é teimoso para caralho! Tire a camiseta, está toda rasgada e cheia de sangue!

- E vou vestir o quê?

- Nada! Está um puta calor, qual é o problema de ficar sem camiseta? Tem medo de mostrar os peitinhos? – permaneci mudo, mas era exatamente essa razão de eu não querer tirar a camiseta, uma vez que os meus eram um pouco mais salientes do que os de qualquer outro garoto na minha idade e mais se pareciam com os de uma menina moça.

- Estou bem assim!

- Cacete! Não te ensinaram a obedecer, foi? Tira a porra da camiseta antes que eu mesmo a arranque!

- Você é muito grosso, sabia?

- Você ainda não viu nada! Quando eu te mostrar o que é ser grosso vai saber do que estou falando. - por via das dúvidas tirei a camiseta e cruzei os braços sobre o peito. Ele riu. – Não devia ter vergonha desses peitinhos, são lindos! – corei feito um pimentão e queria sumir dali feito fumaça.

Ele limpou o sangue do meu rosto, grudou alguns curativos adesivos sobre os locais do tronco, braços e pernas onde havia lacerações, passou um antisséptico sobre a ferida do lábio inferior e ficou me encarando como se houvesse terminado de esculpir uma obra de arte.

- Pronto! Assim está bem melhor! – afirmou. – Quer uma água, um refri?

- Quero ir embora! Obrigado!

- Por acaso está com fogo no rabo, moleque?

- Claro que não!

- Então fica quietinho aí, vou buscar um refri gelado para você se acalmar, parece que o coração quer saltar pela boca!

- Eu preciso ir, sério!

- Você vai quando estiver mais calmo e eu te acompanhar até em casa! Não vai começar a discutir comigo de novo, vai?

- Não, não vou!

- Melhor assim! Não tenho muita paciência!

- Obrigado! – agradeci num balbucio que o desconcertou e o fez sorrir novamente.

- Sabe quem eu sou, não sabe? – perguntou, me deixando apreensivo. O que eu ia responder, que sim, que sabia que ele era unha e carne com o chefão do crime, que sabia qual era sua “profissão”, que sabia que comandava uma gangue com a qual era bom evitar até de olhar na cara deles? Ele pareceu ler meus pensamentos e se adiantou na resposta.

- Faço academia com o Jonas e o Carlos! São seus irmãos, não são?

- Primos! – esclareci.

- Ah, pensei que fossem irmãos!

- Tive que vir morar com a minha tia Francisca quando minha avó adoeceu, eles são filhos do primeiro marido dela.

- O que aconteceu com seus pais? – quis saber.

- Não sei! Me disseram que minha mãe me abandonou, e ninguém sabe quem é meu pai. – eu nunca tinha dito isso para ninguém antes, constatei naquele instante e, por alguma razão tive vontade de chorar. Contudo, engoli o choro, mas não consegui evitar que as lágrimas aflorassem nos cantos dos olhos, e afundei a cara no peito para que ele não notasse.

Naquele dia percebi que eu era um enjeitado, uma coisa que ninguém quis, um traste do qual ninguém conseguiu se livrar, e isso doeu fundo na alma. O Lucas se aproximou de mim, amparou as lágrimas com os polegares e abriu um sorriso como ninguém antes havia me dirigido.

- Você é lindo para caralho, moleque!

- Não, não sou!

- Êita porra de moleque teimoso! Não sabe receber um elogio? – questionou, ficando carrancudo. Eu ia responder que não, mas achei melhor ficar de bico calado.

Estava escuro quando ele me deixou na porta de casa, tendo me acompanhado através das ruelas praticamente calado.

- Julinho! É você? Onde se meteu todo esse tempo? – berrou a tia Francisca de dentro do barraco quando percebeu que havia alguém na porta e veio abri-la.

- Sou eu tia, não quis te deixar preocupada, me desculpe!

- Minha nossa, o que fizeram com a sua cara? E suas roupas, onde foram parar? – questionou aos berros. – José, vem aqui José! Olha o que fizeram com esse menino! – exclamou, antes do parceiro surgir com cara de sono.

- Lucas! – foi tudo que escapou da boca dele num tom respeitoso quando identificou meu acompanhante.

- Dona Francisca, Seu José! O Julinho esteve comigo, fiz o que pude com os machucados, mas ele ainda vai precisar de mais cuidados. – disse o Lucas.

- Sim, claro que sim! Eu vou cuidar disso agora mesmo. – respondeu minha tia, querendo me arrastar para dentro.

- Obrigado! Obrigado por tudo! Me desculpe ter dado todo esse trabalho! – agradeci, encarando o rosto dele.

- Se cuide! Sabe onde me encontrar se precisar! Boa noite, durma bem!

- Você também! – devolvi

Assim que a porta foi fechada passei por um interrogatório escrupuloso, a família se reuniu a minha volta e precisei ouvir de tudo.

- O que andou aprontando moleque? Não vai você também começar a me trazer problemas, já basta os que tenho que enfrentar com os meus filhos! – despejou tia Francisca.

- Na companhia de um marginal, o que você acha que ele aprontou? – questionou o José. – Dentro em breve é a polícia que vai bater na nossa porta! Veja se se livra desse encosto, entrega para um dos teus irmãos, eles também são responsáveis pelo que aquela puta da sua irmã fez.

- Cala essa boca, seu merda! Você precisa esfregar sabão nessa sua boca antes de falar da minha família, ou já se esqueceu de onde você vem! – revidou minha tia.

- E aí priminho, andou aprontando o quê? Conta aí para nós! – indagou sarcástico o Jonas.

- Eu fui assaltado quando estava chegando em casa, foi logo nas primeiras vielas. Três caras lá dos lados da entrada dos fundos da favela me cercaram e mandaram eu entregar o tênis que a vovó me deu. – revelei. – Depois me deram uma surra.

- E por que está quase pelado, cadê a sua camiseta? – perguntou minha prima

- Estava toda rasgada e cheia de sangue, ficou lá na casa do Lucas.

- Na casa do Lucas! Você entrou na casa dele? Está vendo Chica onde esse moleque anda se enfiando, na casa de um dos sujeitos mais perigosos da favela. Sabe o que isso significa? Vão dizer por aí que somos cúmplices do sujeito! E sabe como isso acaba, não sabe? Na cadeia! É para lá que vão nos arrastar quando pegarem esse sujeito. – continuou a reclamar o José.

- E você é o que, um santo por acaso? É mais fácil a polícia pegar um ladrãozinho de merda feito você do que o Lucas. Ou você acha que eu não sei de onde vem boa parte da grana que você coloca aqui em casa? – questionou minha tia.

- Eu vou para o meu quarto, estou cansado e tenho aula amanhã cedo. – avisei.

- Tenha bons sonhos, priminho! – tripudiou o Carlos.

Na manhã seguinte quase tropecei na caixa que estava diante da porta antes de ir para o colégio. Ao abri-la encontrei o par de tênis que haviam roubado e, imediatamente o guardei no quarto.

- Você não disse que tinham roubado o tênis? O que é esse aí? – perguntou o José ao me ver com eles nas mãos.

- Sim, foram roubados conforme eu falei! Não sei como apareceram, estavam na frente da porta quando a abri. – respondi.

- Você engoliu essa, Chica? O tênis roubado reaparece feito mágica! Ouça o que eu digo, mulher, esse moleque ainda vai nos causar problemas!

Apesar de surpreso e feliz por ter recuperado os tênis, me questionei quanto a volta deles de maneira tão inusitada e, durante as aulas, não consegui tirar da cabeça que o Lucas tinha algo a ver com isso. Na mesma tarde num matagal que percorria as margens de um córrego que cortava a favela, encontraram os corpos dos dois sujeitos que colaboraram no assalto, dentro de tambores enferrujados, com as mãos decepadas. Um arrepio percorreu minha coluna quando a notícia chegou e a perícia técnica da polícia cercava a área. Do fulano que começou o assalto e me deu a surra nunca mais se ouviu falar. Alguns disseram que ele conseguiu fugir na calada da noite quando invadiram o barraco onde morava com a mãe e duas irmãs, mas ninguém ousava citar isso na frente do delegado ou onde quer que fosse.

Bati na porta da casa dele ao entardecer, sabia que estava sendo muito ousado e que essa atitude podia me colocar em maus lençóis; mas achei que era minha obrigação agradecer o que o Lucas tinha feito por mim. Ele atendeu a porta de cueca, uma boxer ajustada às grossas e peludas coxas, sob a qual se distinguia nitidamente o contorno de caralhão gigantesco, até a cabeçorra podia ser identificada. Paralisei ante a imagem que meus olhos presenciavam e, de repente, não sabia mais o que estava fazendo ali.

- Oi! – disse ele, vendo que eu estava paralisado.

- Oi! Isto é, ... eu, ... eu, ... é, Oi! – não saía mais que isso da minha boca.

- Vai ficar aí gaguejando feito uma galinha chocadeira, ou vai me dizer a que veio?

- Eu é ... eu ... eu vim dizer obrigado por ontem! É, é isso que eu vim fazer! – continuei cada vez mais atabalhoado, o que o fez rir.

- Entra aí, moleque! Quer um refri, uma cerveja, uma água?

- Quero, isto é, não quero não! Nada, não!

- O que se passa com você? Tem algum problema? Toma, pega esse refri, você tem cara de quem nunca botou um gole de cerveja na boca, se quiser mais vai ter que pegar sozinho na geladeira. Chega mais, eu estava resolvendo uns lances, mas já termino e podemos conversar à vontade.

- Não! Eu, ... eu, ... eu preciso ir embora! Tchau! – exclamei, ao mesmo tempo em que procurava correr até a porta.

- Mandei vir comigo! Qual é a sua dificuldade de obedecer a uma ordem?

- Nenhuma! Quer dizer, eu acho!

- Você é uma figura, moleque! Gosto de você! – afirmou, me agarrando pelo braço e me conduzindo até um terraço do qual se podia ver boa parte da favela abaixo. – Vai me contar o que veio fazer aqui, ou terei que arrancar essa informação à força? – diante da pergunta, meus lábios começaram a tremer e não havia meio de obrigá-los a parar.

- Estou brincando com você! Não precisa ficar todo apavorado! – como ele sabia que eu estava apavorado e, profundamente arrependido de ter vindo procurá-lo? – Se bem que esses lábios carnudos e úmidos sejam um tesão da porra! – emendou, me encarando.

- Eu vim te agradecer por ter me ajudado ontem! – consegui finalmente dizer

- Você já me agradeceu o bastante! Mas estou contente que tenha vindo me procurar! Como estão os machucados? O lábio continua bem inchado e roxo, senão daria um beijo neles. – eu estava suando frio, nunca antes alguém me disse tais coisas e, claro, não com essa desfaçatez e muito menos com um caralhão feito aquele preenchendo a cueca.

Obviamente o Jonas e o Carlos já tinham me dito coisas piores quando tentaram fazer sexo comigo, mas não do jeito que o Lucas estava fazendo agora, onde suas palavras mais pareciam um elogio do que uma proposta indecente e vulgar.

- Gostou? – indagou, dando por terminado algo que estava fazendo no notebook.

- Como?

- Perguntei se gostou?

- Ah, claro, o refri está bem legal! – de repente ele desatou a rir, e eu fiquei sem entender nada.

- Fala sério, moleque! Do refri? Você não existe!

- O que foi que eu fiz?

- Perguntei se você gostou da minha pica, porque desde que entrou aqui não tira os olhos dela! -exclamou caçoando. Eu teria me enfiado no olho de uma agulha se houvesse uma onde pudesse me esconder.

- Não! Eu, .... eu, não! Não estou não! Eu juro, juro que não .... eu não estava .... eu só ... é, é isso, eu só ... – recomecei a gaguejar

- Você só estava admirando a minha rola e gostando do que viu! – exclamou

- Sim, foi isso! – soltei sem pensar. – Não! Quer dizer, eu não estava fazendo isso! – aquela tortura parecia não ter fim, eu estava corado, suando frio, tremendo da cabeça aos pés e não encontrava uma desculpa para sair correndo dali.

- Eu sabia que estava gostando! – retrucou zombando do meu constrangimento. – Sabe que não consegui tirar a imagem da sua bundinha dos meus pensamentos? É a primeira vez que vejo uma bunda tão gostosa assim num homem. Fico imaginando como deve ser gostoso enterrar um pau dentro dela. – afirmou sem meias palavras.

- É sério, eu preciso ir agora! Agora mesmo! – retruquei aflito

- Vai sem me dizer se gostou do elogio que te fiz?

- Gostei! É eu gostei, gostei sim! Foi tudo muito bom! – lá estava eu novamente deixando as palavras escaparem sem nenhum crivo.

- O que foi bom, ver o meu pau ou ouvir meu elogio quanto a sua bunda deliciosa? – questionou, me encurralando no desespero.

- Já nem sei mais, você me deixa tonto com essas afirmações desbocadas! – consegui finalmente dizer, pois a pressão havia chegado ao limite.

- Seria bom você ir começando a pensar numa maneira do meu pau, que você tanto gostou, se aproximar dessa bundona linda que está me dando um tesão da porra. Os dois fazem uma combinação perfeita! – não consegui segurar o sorriso tímido, esse sujeito não ia mais parar de me aporrinhar com suas sacanagens. – Foi difícil, mas consegui fazer você sorrir! Um a zero para mim! – emendou.

Apesar de tudo saí dali ainda com a questão do assassinato dos dois sujeitos que colaboraram no assalto me dizendo que o Lucas estava envolvido nisso até o pescoço. A cantada que ele me passou não me fez esquecer quem ele era e o que era capaz de fazer. Sua fama era temida por todas aquelas ruelas desordenadas e barracos colados uns nos outros. Eu que não me iludisse com a mansidão de suas palavras nem com aquele olhar doce com o qual me encarava.

Na mesma semana o Lucas me esperava na saída do colégio, encostado numa Ducati Streetfighter de carenagem vermelha, calça e jaqueta de couro, óculos de sol e uma indefectível cara de pilantra acentuada pela barba por fazer. A garotada pobre que se aglomerava na entrada do colégio público admirava estarrecida o brinquedo de luxo que nem em seus sonhos cabia. Até ele acenar na minha direção achei que só estava ali para tratar de “negócios” com os sujeitos que vendiam as drogas na porta da escola. Contudo, ao notar que estava me chamado, meu primeiro instinto foi correr na direção contrária e fingir que não o tinha visto, pois a galera ia ficar curiosa em saber que tipo de relação eu podia ter com uns dos chefões da favela.

- Ei moleque! Chega aqui! – não, não dava mais para sair correndo, o jeito era encarar o desafio e depois sofrer as consequências. A muito custo meus passos me levaram até ele, eu já estava tremendo novamente da cabeça aos pés. – Não me viu acenando? Por que fingiu não me ver e tentar correr? – qual é a desse cara, só porque me ajudou agora vai querer me envolver em suas falcatruas?

- Eu ... eu .... isto é, .... eu ia .... quer dizer ..... eu não estava ..... – Será que havia uma maneira de eu não começar a gaguejar feito uma galinha quando na presença dele? – O que quer comigo?

- Vai começar a gaguejar outra vez? Precisa me explicar qual é o seu problema comigo! Anda, põe esse capacete e sobe na garupa! – eu parecia uma estátua, nenhum dos meus músculos queria se mexer. – Pega logo esse capacete, moleque! Está esperando o quê? – continuou quando me viu parado encarando-o petrificado.

- Não posso! Tenho que voltar para casa! – as palavras saíram tão rápido que nem deu tempo de assimilar a ordem dele.

- Depois, moleque! Agora você vai fazer o que eu mandei e vai subir na garupa, antes que eu te coloque nela à força!

- Você é muito mandão! Tenho que estudar, não posso ficar saracoteando por aí se quiser entrar na faculdade. – retruquei, num ímpeto do qual até eu me espantei.

- Sou sim! E é por isso que você vai fazer o que eu mandei.

- Não quero!

- Senta nessa porra dessa garupa, moleque! Caralho! Tudo com você precisa ser tão difícil? – minhas mãos trêmulas pegaram o capacete da mão dele e desajeitadamente coloquei-o na cabeça. Era melhor fazer o que ele mandava, pois ficou puto e eu não estava a fim de descobrir o que ele fazia nessas situações.

- Não gosto quando você me chama de moleque! Eu tenho nome, é Júlio! – devolvi, quando me acomodei na garupa. – Pode ser Julinho também, é assim que geralmente que as pessoas me chamam!

- Não sou como essas pessoas! Vou te chamar de moleque até encontrar o meu jeito de te chamar. – revidou de pronto.

- Para onde está me levando? Tenho que voltar para casa!

- Segura firme em mim e inclina o corpo para o mesmo lado em que eu inclinar a moto! E fica de boca fechada! – ele me dava nos nervos, mas cadê coragem para me opor a ele? Até porque, não seria nada mal me segurar naquelas costas largas, deixar o vento bater no rosto e esquecer por uns minutos as mazelas da vida.

Paramos num restaurante pequeno com mesas ao ar livre numa espécie de quintal num bairro nobre da cidade. Me senti um espantalho juvenil dentro do uniforme da escola, mas aparentemente ninguém ligou para esse detalhe quando nos conduzimos a uma mesa que ficava sob os galhos de uma pitangueira, pois os olhares se concentraram na minha bunda grande redonda apertada dentro da calça.

- O que estamos fazendo aqui? Quando vai me levar para casa?

- Ainda perco a paciência com você, moleque! Não abuse! O que se faz num restaurante? – bufou o Lucas que, apesar de estar puto comigo, tinha um olhar de satisfação por notar como as pessoas estavam me admirando.

- Você é muito bravo!

- Sou sim! Sou grosso, sou mandão, sou bravo e tudo o mais que você quiser! Mesmo assim sei que está gostando de mim, e aposto que até já andou sonhando comigo e com o que viu dentro da minha cueca. – sentenciou zombando.

- Eu não ... claro que eu não ... eu ... eu ... nem me lembro mais ... quer dizer, eu lembro, mas .... – ele começou a rir do meu embaraço. – Também é muito abusado!

- Sabe que fico excitado quando você começa a gaguejar? Se der uma olhada por baixo da mesa agora vai ver que estou de pau duro, e a responsabilidade é toda sua!

- Pare de falar essas coisas!

- Moleque tesudo! – exclamou sorrindo. Precisei rir, na voz grave dele e saída daquela boca sensual a afirmação fazia meu cuzinho piscar. – Já sei! Encontrei uma maneira de te chamar – Vida – é assim que vou te chamar! Vida!

- Nada a ver! Você também deve ser meio maluco!

- Por você! Vida! – exclamou rindo. Eu desisti, nunca chegaríamos a um acordo.

Até consegui relaxar um pouco durante o almoço que, por sinal, estava delicioso. Ao invés de me levar para casa, o Lucas me levou para a casa dele e a inquietação voltou a me atormentar. Eu sabia que não devia estar ali, que precisava me afastar dele, mas a cada minuto que passava isso se tornava mais difícil. Eu começava a gostar dele, uma imprudência que podia ter sérias consequências.

A casa me pareceu estar vazia até eu avistar duas mulheres fazendo faxina num ambiente no qual não entramos. Ele, depois de tirar a calça de couro e a camiseta que estava usando, ficou só de cueca e me levou para o deque da piscina. Não era um dia ensolarado ou quente, mas eu estava suando de tanto calor, especialmente depois do meu olhar não conseguir se desviar daquele caralhão acintoso.

- Calor? – perguntou ele com uma expressão cínica, se aproximando de mim.

- Um pouco!

- Precisamos dar um jeito nisso! – exclamou me devorando com os olhos.

- Que jeito! É melhor eu voltar para casa!

- Você vai ficar exatamente onde está! – afirmou, apertando o dedo indicador sobre meu manúbrio esternal parecendo como se alguém estivesse apontando uma espada sobre o osso.

Gelei, mas não tive coragem para mandá-lo tirar o dedo dali. Lentamente, ele desabotoou os primeiros botões da minha camisa e deslizou o dedo impudico sobre meu peito até encontrar o biquinho enrijecido do mamilo, quando o sorriso com o qual me encarava se tornou libidinoso.

- É melhor você tirar o dedo daí! – soltei num balbucio.

- Por quê? Do que tem medo? De que eu note o biquinho excitado do seu mamilo? O que acontece se eu não tirar meu dedo, mas começar a brincar com seu peitinho?

- Por favor não faça isso! – respondi arfando.

- É um peitinho lindo, Vida! Estou louco de vontade de lamber esse mamilo! – continuou, dessa vez sussurrando, o que me deixou ainda mais petrificado. – Me diz quanto tesão está sentido, pois eu consigo sentir que está morrendo de tesão.

- Sádico! Você gosta de me torturar! – devolvi excitado

- Gosto de ver o tesão no seu olhar, gosto de saber o quanto eu te excito, gosto de cada pedacinho desse corpo que você vai me entregar. – a segurança de suas palavras era assustadora.

Enquanto lambia meu mamilo quase me fazendo desmaiar, foi tirando a minha camisa, desabotoando a minha calça e enfiando as mãos possessivas sobre as minhas nádegas polpudas. Minhas pernas pareciam gelatina e, por precaução, me apoiei no ombro largo dele e num dos bíceps volumoso.

- Não põe a mão aí, Lucas, por favor! – supliquei, sentindo os espasmos anais me torturando.

- Dá muito tesão, não dá? Você está tremendo! Me pede para colocar o pau aqui dentro, pede, Vida! – ronronava ele, chupando e mordiscando meu mamilo, enquanto uma das mãos entrava no meio do reguinho estreito e quente, movendo-se suavemente de cima para baixo sobre o meu cuzinho, até dois dedos entrarem lentamente dentro dele. Um gemido longo aflorou nos meus lábios quando senti o dedo dele cutucando a intimidade úmida do cu.

– Está na última hora de promovermos o encontro do meu pau com essa bundinha gostosa!

- Eu sou virgem! Nunca fiz isso! – não sei porque raios falei essa besteira, mas ela o fez sorrir.

- Eu sei, e é por isso que quero ser o primeiro! Aliás, não só o primeiro, o único! Porque quando eu colocar o meu pau dentro de você, nenhum outro cara poderá te tocar. Você será meu, Vida!

Eu estava preparado para deixar acontecer, suspirava nos braços dele, sentia o calor e o sabor de sua boca me devorando quando o Lucas levou minha mão para dentro da cueca e me fez tocar no cacetão melado. Ele me soltou assim que dois sujeitos com os braços tatuados surgiram do nada e me viram já praticamente nu nos braços dele.

- Vá para casa! Mais tarde eu te procuro! – ordenou num tom de voz seco, mudando radicalmente de atitude.

- Tchau! – ele me deixou parado e entrou na casa com os dois caras para algo que devia ser urgente, pois ambos estavam muito agitados.

Não vi ou tive notícias por três dias. Ele também não me procurou como havia prometido!

O José pediu, a caminho do colégio, que eu passasse na academia e mandasse o Jonas e o Carlos voltarem para casa, pois ele tinha um assunto a resolver com os enteados. Eu não gostava nem de passar diante da academia sempre cheia de marombeiros na calçada quanto mais adentrar naquele lugar onde a bandidagem se reunia e exercia os músculos para se manterem em forma para as missões que os chefões designavam. Os caras mexiam com quase todos que passavam diante da academia, garotas que eram assediadas se tivessem o corpo bonito, ou xingadas se fossem feias; rapazes com quem invocavam e tentavam chamar para a briga, algumas bichinhas mais assanhadas que gostavam de passar por lá só para serem notadas e poderem admirar os corpões sarados deles e que, geralmente acabavam levando umas bofetadas deles mandando-os virarem machos. Comigo nunca mexeram por eu não dar bandeira ou motivos para tanto. Olhavam para a minha bunda e faziam algum comentário entre eles, e a coisa parava por aí.

Encontrei o Carlos e o Jonas malhando nuns aparelhos e, a passos rápidos, fui até eles dar o recado. Ao longe, na outra ponta do salão, avistei o Lucas num short e camiseta regata fazendo flexões. Por instantes me esqueci até do que havia ido fazer ali. Ele erguia e descia o corpão apoiado naqueles braços musculosos como se estivesse fazendo sexo papai-mamãe. Nem saliva eu tinha mais na boca para engolir quando ele notou minha presença e veio ao meu encontro.

- Veio malhar essa bundinha de veado? – perguntou o Carlos enquanto eu estava distraído, enchendo a mãozona nas minhas nádegas diante de todos, no que foi imediatamente seguido pelo Jonas que quase me arranca as calças, tripudiando da vergonha que passei.

Não faço ideia de onde o Lucas tirou a pistola que enfiou ameaçadoramente na cara do Carlos que quase se mija todo ali mesmo ao começar a tremer feito uma vara verde.

- Tu é um cara morto, seu filho da puta, se tocar mais uma única vez do corpo dele, está me entendendo, meu irmão? E isso vale para você também, seu bosta do caralho, ou qualquer outro desgraçado que ousar mexer com ele. – ameaçou, apontando a arma para a cara do Jonas. Ambos estavam lívidos e só conseguiam acenar com a cabeça concordando. – Se eu souber que um de vocês tocou ele, podem encomendar a alma! Estão avisados! – emendou. Fiquei tão apavorado achando que ele ia atirar nos dois ali mesmo, pois era assim que as rixas costumavam ser resolvidas na favela, na base dos tiros, que toquei no braço dele suplicando que não disparasse a arma.

- E você, vem comigo! – ordenou, me puxando pelo braço para fora da academia.

- Está fazendo o que aqui? Todos sabem para que serve essa academia, e você não perdeu nada lá dentro, ou perdeu? – questionou ríspido.

- Só vim trazer um recado do José para os meus primos. – respondi. Ele afrouxou o aperto no meu braço, mas as marcas já estavam lá comprovando a brutalidade.

- Ah! Beleza! Não volte mais aqui, entendeu!

- Entendi, seu grosso ... bruto ... mandão! – ele imediatamente começou a rir. – Fiquei te esperando e você não apareceu! – acrescentei cobrando a promessa que havia me feito

- Sentiu saudades?

- O que foi aquilo lá dentro? Fiquei com medo que fosse atirar neles! Por que anda com essa arma? – questionei

- Fiquei puto por ele ter pego na sua bunda e te tratado daquela maneira! Não sou um cara bom, Vida! Fiz e faço muita coisa ruim! Não sou um sujeito do bem como você! Tenho que andar armado porque é assim que se sobrevive aqui. – respondeu.

- Você me assusta! Estou atrasado, vou perder a aula! Tchau!

- Vou te pegar na saída! Está zangado comigo?

O ocorrido na academia foi assunto dentro de casa por dois dias. O Jonas e o Carlos temiam que a vingança viesse mais tarde e se mudaram por algumas semanas para a casa de um amigo do José.

- A culpa é sua, Julinho! – acusou-me a tia Francisca. – Foi você quem trouxe esse marginal aqui para dentro, agora estamos na mira dele!

- Eu não disse que isso ia dar merda? – disse o José

- Não trouxe ele para cá, foi ele quem quis me acompanhar naquele dia do assalto. – recordei.

- Mas continuou se encontrando com ele, passeando de moto e indo fazer sabe-se lá o que na casa do sujeito! – exclamou o José.

Desde aquela tarde em que o Lucas tocou no meu ânus com aquela mão gulosa eu não conseguia parar de pensar nele, no cacetão molhado que senti pulsando na minha mão. Eu andava tão afogueado que só pensava em dar o cu para ele, deixando-o me desvirginar e me tornar um gay de verdade, pois até então minha sexualidade se restringia à minha cabeça, meus pensamentos e desejos.

Para se redimir o Lucas me aguardava na saída do colégio, dessa vez sem nenhuma ostentação, apenas de braços cruzados metido num jeans e numa camiseta que o deixavam muito sexy apesar da simplicidade. Era assim que eu gostava dele, despojado, com aquela cara máscula, os braços musculosos, o torso sólido, o sorriso contido e aquele olhar sobre mim que me desmontava.

- Vamos lá para casa, tenho uma surpresa para você! – disse, assim que me aproximei dele.

- Não posso, tenho que estudar! – eu precisava evitar de que me vissem na companhia dele em público e que soubessem que eu frequentava a casa dele, pois não faltavam especulações sobre a minha ligação com ele.

- Quer começar outra briga? Se precisa estudar, muito que bem, mas vai fazer isso na minha casa!

- Não posso! O José e a minha tia não querem que eu frequente a sua casa, e as pessoas estão comentando sobre nós dois. Dizem que você está me corrompendo para virar marginal. – devolvi, expondo a situação.

- E quem é o José, sua tia ou a porra dessa gente para dizer quem eu posso ou não levar para a minha casa? Vou levar um lero com esse José agora mesmo, vamos ver se a opinião dele vai continuar a mesma depois do nosso papo!

- Por favor, não faça isso! Minha situação naquela casa só vai piorar! Me promete, não vá tirar satisfações com ele, promete!

- O que você quer dizer com – sua situação naquela casa só vai piorar – estão te maltratando? Fala para mim, Vida! Fala! – exigiu, apertando meu braço.

- Foi só maneira de dizer, não estão fazendo nada comigo! É que eu sempre fui um estorvo naquela família.

- Você vai morar comigo de agora em diante! Pronto, está resolvido!

- Ficou doido? Não posso fazer isso!

- Quantos anos você tem?

- Vou fazer dezoito mês que vem! Por quê?

- Você é maior de idade, emancipado, dono do seu nariz, ninguém pode determinar o que você deve ou não fazer. – retrucou

- Tecnicamente não sou emancipado, dependo do sustento que minha avó dá para a tia Francisca para ficar comigo.

- Isso é um detalhe sem importância! Você vai se mudar para a minha casa hoje mesmo! Eu vou cuidar de você de agora em diante. – afirmou.

- Não posso fazer uma coisa dessas!

- Não discuta comigo, Vida! Vai me aborrecer e eu não quero ficar zangado com você!

- É assim que você me considera emancipado, dono do meu nariz, com ninguém me dizendo o que devo ou não fazer? – questionei, encurralando-o em suas próprias palavras. – Me dando ordens e determinando onde vou morar?

- Arre, caralho, que você me deixa maluco! Já estou enfezado!

- Você vive enfezado comigo!

- Porque gosto de você e você age e fala como se não soubesse!

- Também gosto de você! Mais do que deveria! – ele sorriu, passou o braço pela minha cintura e me trouxe para junto dele.

- Verdade? – eu balancei a cabeça confirmando. – Mais um motivo para vir para a minha casa!

Eu não sentia as horas passando quando estava na companhia dele. Apesar de saber que tipo de pessoa ele era e o que fazia, eu enxergava um Lucas que talvez ninguém mais soubesse que existe. Para a sociedade ele era um bandido, para mim era o macho mais sexy e carinhoso que podia existir. Havia anoitecido quando me lembrei que precisava voltar para casa e que provavelmente levaria outra bronca por ter sumido sem dar explicações e ter vindo ter com o Lucas.

- Preciso ir! Vão brigar comigo outra vez, não reparei que era tão tarde.

- Você não vai a lugar algum! Vai dormir aqui comigo! Eu não disse que tinha uma surpresa para você?

- Por favor, Lucas, me deixe voltar para casa! Não quero arrumar confusão!

- Sua casa agora é aqui! – exclamou, colocando uma caixinha revestida de veludo preto na minha mão. – Abra, é seu!

- O que significa isso, Lucas?

- Abre! Já vai entender! – dentro da caixinha havia uma correntinha de ouro com dois pingentes no formato de cabeças vistas de perfil, num deles estava inscrito – Lucas – no outro – Júlio. Ele tirou a correntinha da minha mão e a colocou no meu pescoço, juntamente com um beijo molhado na nuca.

- Quero você para mim, Vida! Quero que seja meu! – sussurrou, antes de pousar outro beijo na pele arrepiada do meu pescoço.

- Não sei o que dizer! Eu amei, é lindo! Nunca tive um presente como esse! Nem sei como agradecer, Lucas, você é tão carinhoso comigo.

- Eu sei como pode me agradecer! Sendo meu! – as mãos dele já estavam deslizando sobre meu tórax debaixo da camisa, rumando em direção aos mamilos que o aguardavam rijos e excitados.

Me virei de frente para ele e o beijei. Jamais havia me imaginado cometendo tal ousadia com outro homem, mas quando senti a língua dele esquadrinhando cada canto da minha boca e suas mãos amassando meus peitinhos, só quis sentir aquele macho dentro de mim. O Lucas me despiu ali mesmo, me ergueu pelas nádegas e caminhou comigo até o quarto dele, tirou o jeans debaixo do qual não usava nada e fez o caralhão saltar para fora. Foi a primeira vez que vislumbrei aquela maravilha colossal por inteiro; uma verga grande, cabeçuda, grossa e reta que dava os primeiros sinais de uma ereção, destacando o emaranhado de veias salientes que a contornava, emergindo da virilha forrada de pentelhos encarapinhados castanho-escuro. O cacetão pendia numa flacidez pesada sobre um sacão não menos avantajado no qual dava para distinguir perfeitamente os dois testículos enormes.

- Está gostando, não está? – perguntou imodesto. – Você não consegue esconder como fica excitado toda vez que olha para a minha pica! Adoro quando fica com esse olhar deslumbrado! Ela é toda sua, para fazer carinho nela, para cuidar dela, para sentir prazer nela! – murmurava ele, fazendo meu cuzinho piscar alucinadamente.

- Exibido! – exclamei enfeitiçado. – É lindo! ... Como você! – emendei, antes das nossas bocas se unirem.

- Já chupou uma rola? – perguntou ele, enquanto seus lábios devoravam os meus.

- Não, nunca! – fui me abaixando aos poucos, acariciando e beijando o peito dele em direção ao pauzão que crescia vertiginosamente a cada toque.

Quando meus lábios se fecharam ao redor na cabeçorra ela já estava melada de pré-gozo e comecei a lambê-lo para sentir seu sabor. O Lucas grunhiu, enfiou os dedos nos meus cabelos e se deixou chupar me oferecendo o pauzão latejante e quente. Me perdi no tesão que era explorar a virilha de um macho, lamber e mordiscar o caralhão, dedilhar entre os pentelhos grossos, acariciar o sacão e colocar cada uma daquelas bolas enormes na boca, massageando-as com a língua até o Lucas ensandecer.

- Caralho, Vida! Adoro sentir sua boca me mamando, meu bezerrinho virgem! Vou encher essa sua boquinha aveludada com meu leitinho fresco! – rugia ele em meio ao tesão incontrolado.

Eu estava tão embevecido com aqueles cheiros, texturas, o calor que aquelas formas sensuais tinham que me deixei levar pelo prazer, não tirando a boca daquela jeba que ele enfiava na minha garganta como se a estivesse fodendo. Minha mão segurava e punhetava o pauzão enquanto a outra acariciava o sacão quando senti a musculatura perineal dele se contraindo e um jato forte de esperma ser ejaculado na minha boca. O Lucas grunhiu alto e eu engoli os jatos de porra morna e leitosa que o caralhão ejaculava desenfreado.

- Gostou? – questionou, observando-me lamber a cabeçorra lambuzada de sêmen.

- Muito! Você é muito saboroso! – ele sorriu e tomou meu rosto entre as mãos

Ele encheu a jacuzzi do banheiro de água e lançou nela alguns sais de banho, entramos nela, eu sentado de costas entre as pernas abertas dele. Suas mãos acariciavam minhas costas, beijos e mordiscadas eram depositadas sobre os meus ombros enquanto ele me sussurrava sacanagens no ouvido e pegava no meu pau para ver minha excitação com seu assédio.

- Está de pauzinho duro, meu tesudinho? Gosta de sentir seu macho te abraçando, não é?

- Quero ser seu! – balbuciei, sentindo o corpo suplicando por ele.

- Você já é meu! E daqui a pouco meu pau vai entrar no seu cuzinho e então serei seu dono, seu macho! – ronronou. – Adivinhe a palavra que estou escrevendo nas suas costas. – indagou, enquanto eu sentia a ponta do dedo dele deslizando sobre a minha pele, escrevendo – Vida.

- Não sei!

- E essa? – perguntou, quando o dedo desenhava um L seguido de um U.

- Lucas! – exclamei, antes de ele terminar a palavra, o que o fez me agarrar e beijar a boca que virei na direção dele.

- Espertinho! Agora essa. – depois de sentir o dedo desenhando o A, o M, eu já sabia a palavra, mas esperei ele terminar de desenhar – AMOR – para me virar na banheira e sentar de frente no colo dele.

O pauzão estava tão duro quando prendi o rosto dele entre as mãos e afaguei aquela barba que espetava minha pele, que fui me sentando lentamente sobre ele. O Lucas não tirava os olhos do meu rosto, ansioso pela penetração. Ele segurava minhas nádegas abertas e procurava pelo buraquinho corrugado com a chapeleta deslizando pelo meu reguinho liso. Quando o encontrou eu suspirei indicando que ele havia chegado onde queria entrar, agarrei-me aos ombros dele e fui gradualmente soltando meu peso no colo dele. Uma estocada curta garantiu que a cabeçorra penetrasse no meu cuzinho me fazendo ganir. Antes de eu me erguer novamente tentando escapar da dor que senti ao ter as pregas rasgadas, ele me reteve e, erguendo a pelve, deu outra estocada enfiando mais um tanto do cacetão no meu rabo.

- Está doendo? – perguntou, ao cobrir meus lábios com os dele

- Sim! – respondi com a voz trêmula e me agarrando com mais força àqueles ombros firmes.

- Deixa o cuzinho bem relaxado e senta devagar, quando sentir que meu pau está entrando não trava o cuzinho, deixa ele afundar em você! – orientou ele, explodindo de tanto tesão.

Foi no olhar sereno e terno dele que encontrei a segurança que precisava para seguir sua orientação, e fui sentando cautelosamente no colo dele, enquanto o caralhão afundava no meu cu entre gemidos e ganidos de dor e prazer.

- Isso, bom menino! É assim mesmo, Vida! Não pare até minha pica estar todinha dentro desse cuzinho macio e delicioso. – sussurrou ele

- Também é amor que sinto por você! – exclamei, ao sentir os pentelhos dele no meu reguinho. Você desenhou a palavra – AMOR – nas minhas costas, e é isso que eu sinto por você! – asseverei.

- Estou tão apaixonado por você, Vida! Repete que me ama, diz que me quer, diz que sou seu macho! – eu o cobri de beijos por todo o rosto enquanto cavalgava sobre o colo dele, fazendo o caralhão entrar e sair do meu ânus num vaivém frenético.

Pouco depois, eu estava de quatro, parte do corpo submersa na água, enquanto o Lucas ajoelhado na banheira bombava meu cu socando profundamente o cacetão no meu cuzinho onde as pregas iam se rasgando na foda desenfreada, me obrigando a gemer perdido no tesão. Quando o orgasmo veio, comecei a gozar na água coberta por uma espuma perfumada, ganindo alto pois já não distinguia mais o que era dor e o que era prazer. Montado em mim, o Lucas metia fundo até todo caralhão desaparecer no meu ânus, agarrando-se a mim e bolinando com meus peitinhos enquanto grunhia na minha orelha o quanto eu era gostoso e que ia me inseminar. O que não demorou a acontecer, uma vez que minutos depois, ele liberava um urro rouco junto com os jatos de esperma que iam inundado meu cuzinho com sua virilidade cremosa. Aquela foi a primeira noite que passei na casa dele, e só voltei para a casa da tia Francisca para pegar alguns pertences.

Fizeram um teatrinho quando voltei para pegar minhas coisas. Tia Francisca até se esforçou para que algumas lágrimas de comoção umedecessem seus olhos, mas não conseguiu chegar a tanto. Meus primos fingiram surpresa com a minha decisão e até quiseram parecer consternados, mas o que havia no fundo deles prevaleceu e me fez notar a indiferença que minha presença ou ausência naquela casa significava. Talvez o mais sincero ali foi o José que não escondeu a satisfação de se livrar do peso que eu representava para a família dele. O – Seja feliz! – que me desejou à porta era, na verdade, um – Já vai tarde! – que ele não ousou pronunciar porque o Lucas estava me acompanhando.

Meus sentimentos eram ambíguos, se por um lado estava contente por ter saído daquela casa, pelo outro não sabia se tinha feito a coisa certa ao me deixar abrigar sob o teto de um notório e perigoso criminoso. Contudo, eu estava feliz quando fomos para a cama naquela noite. Pela primeira vez eu tinha com quem compartilhar meus sonhos, minhas expectativas, meus desejos, e aquele amor imenso que sentia pelo Lucas, sabendo que também era amado por ele na mesma proporção. Falávamos sobre a nossa infância relembrando fatos que nos trouxeram alguma alegria, e constatamos que ambos não tinham muito do que recordar. Ele me mostrou algumas fotos dele quando moleque como aluno no mesmo colégio em que eu havia estudado, já tinha um físico mais avantajado que os colegas e uma cara de invocado que chegava a ser engraçada. Eu segurava o celular onde as fotos estavam armazenadas quando entrou uma mensagem – Quero seu pau! – quem enviou foi uma tal de Gleidiciane, e eu imediatamente soltei o celular sobre a cama.

- O que foi? Por que jogou meu celular? – questionou ele

- Você acabou de receber uma mensagem da Gleidiciane, ela quer o seu pau! – respondi enfezado. – Vai lá dar o seu pau para ela, vai!

- Ciúmes? Não precisa ficar assim, Vida! Você não tem motivo algum para ter ciúme, juro. Eu só tenho olhos e coração para você! – quis me convencer.

- E um pau que essa tal de fulaninha também quer! – exclamei enciumado.

- Eu não entrei na sua vida virgem como você entrou na minha! Já fodi muitas bocetas e alguns cuzinhos gays, mas tudo isso ficou para trás depois que te conheci, acredita em mi, Vida! E essa aí foi uma delas. – explicou. – Agora me explica direitinho o que quis dizer com – Um pau que essa tal de fulaninha também quer – está me dizendo que quer o meu pau, Vida? – questionou lascivo com um sorriso ladino.

- É claro! Você não vive dizendo que me quer só para você, pois eu também te quero só para mim, e isso inclui esse bagulhão suculento e tudo que está em volta. – afirmei. Ele começou a rir, veio engatinhando na minha direção, me beijou e foi lentamente abrindo minhas pernas e se encaixando no meio delas, pronunciou meu apelido se empurrando duro e obstinado para dentro de mim, enquanto eu gemia e cravava os dedos em suas costas.

- Meu pau é todo seu! – ronronou ao terminar de enfiar o caralhão até o talo no meu cuzinho.

Me surpreendi ao ver meu nome na lista de aprovados de uma universidade pública concorrida. Quando se nasce por um infortúnio do destino, se é jogado de uma lado para o outro como se fosse uma bola, se é obrigado a conviver com pessoas que não veem a hora de se verem livres da sua presença e, tudo isso, numa classe social que foi instruída a não querer mais do que uma vidinha medíocre, sonhar com um futuro melhor e lutar por ele parece algo que apenas os loucos fazem. Esfreguei meus olhos umas três vezes para ter certeza de que era mesmo o meu nome naquela lista, e que tinha conseguido algo inimaginável.

- Sério? Parabéns! Meu geninho tesudo entrou na faculdade! Temos que comemorar, em grande estilo! – alegrou-se o Lucas quando lhe dei a notícia.

- Obrigado! Estou tão feliz, você nem calcula o quanto! – devolvi, quando ele me abraçou. – Amanhã mesmo vou procurar um emprego, qualquer coisa serve, para poder me sustentar e cobrir alguns eventuais custos com a faculdade. Não posso viver eternamente às custas da misericórdia dos outros.

- Quer me ofender, é isso? – perguntou indignado

- Como assim, por que eu haveria de querer te ofender? Só estou dizendo que não posso viver às tuas custas. Já fez muito em me abrigar em sua casa! – respondi

- E isso, por acaso, não é me ofender? Você está aqui, Vida, porque eu te quero! Ou não ficou claro que você agora é meu? Se ainda tem dúvidas, vem aqui que eu te mostro o quanto você é meu! – exclamou, pegando no cacetão.

- Você me trata como se eu fosse um cachorrinho de estimação! Vem cá, moleque! Faça isso, moleque! Não faça aquilo, moleque! Obedeça, moleque! – devolvi, fazendo-o rir. – Não tem graça! Do que está rindo?

- Desse seu jeitinho quando está zangado comigo! É tão sexy! Me deixa de pau duro! – respondeu. – Não estou mais te chamando de moleque, lembra que foi você quem me pediu para não o chamar assim? É vida! Eu te chamo de Vida porque desde que te conheci você é a minha vida, deu sentido a ela, me fez ter um objetivo que é fazer de você meu parceiro, marido, ou seja lá como os gays chamam seus machos. A única coisa boa na minha vida é você, seu putinho! Você não está na minha casa de favor, está aqui porque eu te amo, deu para entender? – completou.

- Você me ama? – perguntei abestalhado. Nunca alguém havia me dito que me amava com tanta ênfase e sinceridade. Sempre pensei que esse sentimento não se aplicaria a mim, um enjeitado fruto de um sexo sem precaução.

- Ainda duvida? Você é o que tenho de mais valioso nessa vida! – asseverou, quando me tomou nos braços e se deixou afagar no rosto hirsuto feito um garotinho. Pouco depois, estávamos transando no chão morno do terraço sob uma nesga de sol que o banhava.

O amor por aquele sujeito que a sociedade queria preso ou morto foi crescendo dentro de mim a cada dia compartilhado, sem nenhuma explicação, sem nenhuma lógica, só aconteceu. Existir sem ele já não fazia mais sentido e dediquei cada instante da minha vida aquele homem que se transformava em meu macho cada vez que me deitava na cama ao lado dele.

A dinâmica do crime está em constante mutação e, quando o chefão da favela foi assassinado numa emboscada por uma facção rival que disputava alguns pontos de droga da região numa guerra declarada, o Lucas assumiu a liderança da favela, tipo um príncipe que herda o reino de um rei morto. Eu estava sempre alheio ao que o Lucas fazia, pois ele não me deixava participar nem das mais insignificantes conversas que tinha com os comparsas. Também não me contava nada do que estava fazendo e, me mandava sumir de suas vistas quando estava tratando de “negócios” como ele chamava a atividade ilegal que praticava. Ele separava a vida comigo da vida de bandido, não permitindo que jamais uma interferisse na outra. Seus comparsas de crime me tratavam com cerimônia e respeito e nunca comentavam nada na minha presença, apenas me dirigiam um sorriso contido ou acenavam com a cabeça. Todos eles sabiam e fizeram com que toda a favela também soubesse que se engraçar para o meu lado ou mexer comigo era o mesmo que decretar a própria sentença de morte. Isso me afligia sobremaneira, me fazia sentir desconfortável e por inúmeras vezes tentei convencer o Lucas a sairmos da favela e procurar levar nossa vida noutro lugar longe de tudo aquilo.

- Vamos nos mudar daqui. Não vou questionar o que faz para ter a grana que tem porque sei que vai se zangar comigo. Mas, você tem condições de comprar um apartamento ou outro lugar que preferir para ficarmos apenas nós dois. Um lugar seguro onde possamos viver nosso amor sem todos esses sobressaltos. É só o que te peço, amor!

- Meu lugar é aqui, Vida! É aqui que estamos seguros. Fora daqui sou um alvo fácil, ainda mais agora que todos sabem que você é meu ponto fraco. Todos sabem que para me atingir basta fazerem qualquer coisa com você. Se me tirarem você, minha vida não tem mais sentido. – devolveu ele. – Eu tenho um papel nessa favela, tenho responsabilidades com essas pessoas e não posso simplesmente abandonar tudo. Quando se alcança o status que alcancei não dá para sair e virar as costas. Nesse negócio ninguém pula fora por vontade própria. Só existem dois caminhos, continuar fazendo parte ou morrer, não tem meio termo. – afirmou. – Posso até comprar um apartamento para você, se quiser, se isso te fizer sentir mais seguro.

- Fico com o coração na mão cada vez que esses caras vêm aqui, que você trama alguma coisa com eles, pois sei que nunca é coisa boa. Não quero te perder, Lucas! Não posso te perder! De que adiantaria você comprar um apartamento e eu não poder viver ao seu lado todos os dias?

- Você não vai me perder, juro! Mas precisa me obedecer, precisa ficar longe disso tudo!

- Como, se estamos envolvidos até o pescoço nessa merda toda?

- Se aquieta, Vida! Se não o fizer por bem, sabe que tenho meus métodos para domar essa sua rebeldia, não sabe?

- Enfiando esse cacetão no meu cuzinho?

- Exatamente, meu menino safado! Metendo minha pica até o talo nesse rabão até você criar juízo! – retrucou, bolinando minha bunda.

- Eu tenho juízo! Mais do que você! – devolvi, ao me pendurar em seu pescoço e mordiscar seus lábios até ele enfiar a mão dentro da minha calça e introduzir lentamente um dedo no meu cuzinho quente.

Para não criar atrito eu fingia não saber o que ele e os capangas faziam, embora alguns crimes aparecessem nos noticiários e eu logo associá-los a trechos de conversas que havia ouvido ou a presenciar movimentações que antecediam os crimes. Como novo chefão da favela, o Lucas estava sempre metido em coisas ruins, e nem mesmo minhas carícias, minha entrega irrestrita aos seus desejos sexuais o demovia das obrigações. Ele tentava articular tudo fora de casa para que eu não me chocasse com o que estavam tramando, mas isso nem sempre era possível.

E foi assim num início de tarde quando regressei da faculdade que o vi discutindo ferozmente com dois sujeitos que eu já tinha visto algumas vezes. Eles estavam cercados por mais quatro sujeitos que passaram a acompanhar cada passo do Lucas desde que se tornou o chefão e que até andavam na minha cola como uma espécie de guarda-costas se camuflando para que eu não os notasse, pois o Lucas sabia que eu detestava ser protegido por aqueles homens. Assim que ele me viu chegando, interrompeu a discussão disfarçando a raiva da qual estava acometido.

- O que foi, por que está tão furioso? – perguntei, uma vez que era um suplício vê-lo naquele estado.

- Vá para dentro e não saia de lá até eu te procurar! – ordenou

- O que está acontecendo, Lucas? Está me assustando!

- Caralho, Vida! Quando vai aprender a me obedecer? Vá para dentro e fique lá! É tão difícil me obedecer de vez em quando?

- Mandão, bruto! O que vai fazer se eu não for? – me arrependi da pergunta assim que ela escapou da minha boca.

- Não discuta comigo, Vida! Obedeça, caralho! – berrou espumando de raiva, enquanto sua mão esmagava meu braço.

Que alguma coisa tinha acontecido e fugido do controle dele, aquela discussão acirrada não negava. Tentei me manter alheio, mas com todos aqueles sujeitos armados boa coisa não podia acontecer e eu temi pela vida do Lucas, não conseguindo ficar muito distante de onde a discussão acontecia. De repente, os capangas que faziam a segurança dele, forçaram os dois sujeitos a ficar de joelhos num canto do gramado que cercava a piscina. Ambos suplicavam por clemência e foi quando caí na asneira de seguir na direção do grupo reunido numa rodinha. Vi quando o Lucas apontou a pistola que sempre carregava consigo para a cabeça de um deles e friamente disparar, fazendo ecoar o som surdo do disparo e a cabeça do sujeito explodir distribuindo pedaços do crânio para todos os lados. O sujeito ainda ficou na mesma posição por alguns segundos antes de despencar para o lado. O segundo disparo fez o mesmo com a cabeça do outro sujeito e, antes de ele despencar para o lado o som do tiro se misturou ao meu grito. Todos olharam na minha direção e, tomado de uma moleza inexplicável, desmoronei sobre o deque da piscina quando tudo escureceu diante dos meus olhos ao entrar em choque.

- Caralho de moleque desobediente! – ainda consegui ouvir o Lucas pronunciar quando veio correndo na minha direção. Quando ficava muito bravo comigo ainda lhe escapava a palavra moleque da boca.

Acordei nem sei quanto tempo depois na nossa cama. Ele estava sentado ao meu lado e segurava a minha mão, forçou um sorriso quando me viu abrindo os olhos.

- O que aconteceu? Por que estou na cama?

- Porque é um putinho desobediente que merecia estar levando uma surra! – disse ele querendo parecer bravo. – Eu não mandei você ficar dentro de casa? O que foi procurar no quintal? Por que não me obedece, Vida? – questionou, apertando minha mão com força. – Você desmaiou, foi isso que aconteceu, seu putinho! – aos poucos a cena começou a voltar na minha memória.

- Aqueles caras .... os dois ... eles ... você atirou na cabeça deles! – comecei a balbuciar à medida que me recordava dos fatos.

- Ssssshhhh, quieto, quietinho! Acalme-se! – exclamou ao me puxar para junto do peito dele. – Viu no que dá não me obedecer? Da próxima vez não discuta comigo e faça o que eu mandar que nada disso vai acontecer! – completou

- Eles ... eles ... aqueles dois ... eles ... morreram? – pedaços das duas cabeças voando pelos ares e eu ainda perguntando se tinham morrido, a ficha não caía, eu não acreditava no que tinha visto.

- Olha para mim, Julinho! Olha! Você precisa esquecer o que viu, está me ouvindo? É para o seu bem! Seu moleque tonto do caralho, vai acabar traumatizado porque não consegue seguir uma simples ordem! – disse ele, me sacudindo para ver se afugentava o transe no qual me achava mergulhado. Comecei a chorar e me agarrei a ele.

Não ousei mais tocar no assunto, mas o assassinato frio não me saía da mente por mais que ele afirmasse que os dois sujeitos tinham traído a confiança do grupo, que haviam se mancomunado com uma facção rival, que tinham sido os responsáveis por desviar uma carga valiosa de armamento e a entregue a essa facção.

- Está fazendo de mim uma pessoa igual a esses sujeitos que o cercam, um bandido! – comecei dias depois quando havíamos acabado de transar numa manhã chuvosa que começava. – Sou seu cúmplice! Meu silêncio me faz tão criminoso quanto qualquer um de vocês. Estou me transformando nas mesmas pessoas que vivem a nossa volta, todos calados e coniventes com o que sabem que acontece nessas vielas. Eu não deveria ser assim! – argumentei.

- O que quer fazer, me denunciar, me entregar à polícia? Se é isso que vai tranquilizar sua consciência, pode me entregar. – retrucou ele.

- Você sabe que não posso fazer uma coisa dessas! Eu te amo, nunca vou poder denunciar o que você faz! Agora compreendo por que muitas dessas pessoas se calam, dizem que não sabem de nada, que não viram nada, que seus filhos e esposos são pessoas de bem, trabalhadoras, quando são questionadas. É o meu amor por você que me impede e me torna seu cúmplice!

- Eu não te mereço, Vida! Não é o que estou sempre repetindo? Você é a alma mais bondosa e pura que eu conheço, você é o meu lado bom, se é que tenho algum. Quando nossos destinos se cruzaram foi para me mostrar que sou uma pessoa má, que você nunca devia ter se apaixonado por mim. Eu lamento ser o responsável pelas suas crises de consciência. Sei que está certo, que deveria me entregar à justiça para que pague pelos meus crimes e, se o fizer, esteja certo que vou entender e continuar te amando como te amo.

- Nunca vou te entregar, Lucas! Seria o mesmo que tirar a minha própria vida! O que será de mim sem você? – questionei, aconchegando-me em seu torso sensual.

Dali em diante procurei viver cada dia me esforçando para não pensar naquilo tudo, pois comprometeria a nossa felicidade e eu não queria me privar dela, pois nunca havia sido tão feliz na vida. Enquanto os anos passavam eu amava aquele Lucas que só se mostrava para mim, carinhoso, protetor, que desfrutava a felicidade que talvez só tenha conseguido encontrar nos meus beijos, nos meus afagos, nos meus braços afetuosos, no meu cuzinho úmido, quente e receptivo.

Era madrugada do Ano Novo, tínhamos voltado de uma festa na casa de uns parentes do Lucas e ido diretamente para cama fazer amor. Ele estava há horas tendo ereções esperando o momento de ficarmos a sós e ele me penetrar. Toda vez que ele ficava me abraçando, me apertando contra o tórax, me cobrindo de beijos e bolinando insistentemente meu corpo eu sabia que o tesão o estava consumindo, o que parecia ser contagioso pois eu logo ficava acometido de calores que deixavam minha pele quente, meu cuzinho piscando desejando aninhar meu macho dentro dele. Nus entre os lençóis o Lucas tinha acabado de inundar minha ampola retal com seu sêmen denso e pegajoso, do qual eu já havia engolido uma boa porção de jatos durante a festa de Reveillon quando demos uma escapada ligeira para um dos cômodos da casa dos parentes dele e o presenteei com um boquete e uma carinhosa massagem no sacão. Ele puxou lentamente o caralhão para fora do meu cu uns cinco minutos depois de gozar, enquanto trocávamos beijos apaixonados e fazíamos planos para o ano que se iniciava, e ficou deitado ao meu lado com as pernas bem afastadas e os braços cruzados sob a cabeça, esperando eu recompensá-lo pelo desempenho viril cobrindo-o de beijos e fazendo carícias nos testículos drenados.

A porta do quarto foi aberta e quase arrancada do batente com um chute violento nos assustando. O sujeito, acompanhado de outro, um passo atrás de suas costas, apontou o fuzil automático em nossa direção enquanto o detrás fazia o mesmo com uma metralhadora em punho. Haviam se passado alguns anos, mas o reconheci imediatamente, foi ele o que roubou o tênis que minha avó me presenteou, auxiliado por aqueles dois que apareceram mortos no dia seguinte ao roubo. O Lucas se atirou rapidamente sobre mim formando um escudo no instante em que os disparos começaram, seu corpo estremecia a cada projétil que o atingia e eu me agarrava a ele encarando-o apavorado. Algo incandescente ia penetrando meu corpo no mesmo ritmo dos disparos, não doía, só queimava.

- Lucas! Lucas, paixão! – gritei desesperado enquanto nos encarávamos. Ele tentou sorrir, mas sua boca foi apresentando um contorno estranho.

Os olhos tão lindos continuavam fixos em mim e tinham aquela mesma expressão de quando ele fazia amor comigo e me dizia que me amava. Aos poucos eles foram se arregalando e paralisaram bem abertos, ao passo que os meus foram ficando pesados como se eu estivesse com sono. As imagens que eu via antes nítidas, agora começavam a embaçar e se tornar distantes a ponto de eu não as identificar mais. Dos sentidos que restaram, apenas o tato ainda identificava a pele do corpo que tantas vezes esteve deitado sobre o meu e alojado fundo no meu cuzinho, e a audição que me fazia ouvir uma canção de ninar com uma voz feminina muito suave. Eu havia completado recentemente 21 anos e nunca antes alguém cantou uma canção de ninar para mim, por isso sorri para aquela escuridão que ia tomando conta de toda a minha visão. Foi a última coisa que levei desse mundo terreno.

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Comentários

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Puxa merda. Sensacional. Chocante.......lindo. Final quase previsível. Impactante. Não me canso de dizer; tu é foda. Escrita impecável e irretocavel. Pode até não ser o final feliz dos contos de fada. Mas foi o final feliz para eles que se amavam e foram embora juntos. Forte abraço. Parabéns e obrigado.

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Sem dúvida, Roberto, para aqueles unidos por uma paixão desse quilate e um amor tão desigual, deixar esse mundo juntos é quase uma benção. Obrigado pelo comentário e meu mais sincero e carinhoso abraço!

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Kherr, que conto!! Nu e cru, com sua escrita foda de sempre!

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Valeu, meu querido Jota! cada comentário seu é um incentivo para me inspirar. Abração carinhoso!

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Kherr... Me faltam palavras para dizer o quão fã sou da sua literatura. Cada conto seu nos leva para o mundo onde ocorre a história e é muito mágico uma hora estar em uma aventura com um Pirata tarado e depois em uma favela de SP. Não parando por aí... Sou seu fã... de verdade sou muito seu fã. Amo seus contos, a forma como conduz, a gramática, os enredos, os desfechos. Porra não pare nunca!!!

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Muito obrigado Histórias do Lu! A vida e os relacionamentos são multifacetados e é isso que procuro trazer para as minhas histórias. Super abraço carinhoso!

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A história é muito boa mas o final me pegou demais… Não esperava um happy ending pelo contexto mas ser morto pelo cara que fez mal ao cara que ele ama? NÃO! Plmds, isso não existe, poderia ter sido morto pela polícia mas por esse cara não… Triste!!

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É o que sempre se acha nesse país, Cadu06 que a polícia mate os bandidos e isso até virou um mote comum, a polícia que é a malvada. No entanto, no mundo em que esses criminosos vivem a vingança se come fria como diz o ditado, e foi exatamente isso o que o conto mostrou. De qualquer maneira, é triste sim, especialmente quando algum inocente também é atingido pela violência. Obrigado pelo seu comentário, e um abração!

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Kherr que conto maravilhoso, fiquei triste com o final, mas condiz com o conto.

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Obrigado Koroagato! Infelizmente nem toda história de paixão acaba num Happy End e foram felizes para sempre, a realidade muitas vezes é cruel com os amantes. Abração!

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