Apostei que Faria Aquela Médica Certinha Virar Minha Putinha - Parte 02

Um conto erótico de Lucério
Categoria: Heterossexual
Contém 6506 palavras
Data: 29/03/2025 12:05:50
Última revisão: 29/03/2025 23:01:50

Olá a todos. Meu nome é Lucério. Cinquenta e dois anos. Posso ser magricela, calvo nas laterais, uma curvinha desgraçada nas costas que me dá um ar de velho antes da hora. Mas nunca se engane: minha mente é afiada como uma navalha. Trabalho como analista de riscos em uma empresa de consultoria financeira. Passo meus dias dissecando contratos, avaliando transações suspeitas e descobrindo onde o dinheiro realmente está. Eu adoro meu emprego.

Desde jovem, aprendi que o mundo pertence a quem sabe mais. Cresci em uma família que mal tinha dinheiro para pagar o aluguel, e entendi cedo que ser esperto era mais valioso do que ser forte. Estudei, subi na vida, mas nunca esqueci a regra de ouro: tudo tem um preço, e tudo pode ser comprado. Meu salário é alto, minha posição me garante respeito, mas o que realmente me alimenta é a sensação de ter a peça que falta no quebra-cabeça da vida de cada um ao meu redor, seja no trabalho, seja onde moro.

Fiz um novo painel mental, organizando os eventos dos últimos dias. Se tem algo que aprendi na vida, é que um homem que não controla a própria narrativa acaba virando nota de rodapé na história dos outros.

Era Carnaval. A festa do condomínio estava cheia de foliões e tolos, dançando ao som de músicas que misturavam batidas ensurdecedoras com letras sem alma. Mas eu não estava lá para dançar. Estava lá para jogar o jogo.

A brincadeira da noite era simples. Se uma pessoa fantasiada de vampiro marcasse sua presa com um chupão no pescoço, essa pessoa teria que obedecer aos comandos da criatura da noite até o fim da festa. Mas os fantasiados de caçadores também rondavam — um toque com a estaca no peito e o vampiro estava expulso da festa. Era um jogo de dominação e, acima de tudo, estratégia.

Eu tinha um alvo em mente desde o início. Jéssica. A intocável, a incorruptível, a mulher que desafiava minhas táticas. Mas eu sabia que toda fortaleza tem uma brecha.

Esperei pelo momento certo. Cruzei o salão com a precisão de um predador. Me movia como um fantasma entre os convidados, atento a cada detalhe, cada expressão, cada migalha de informação que poderia me ser útil.

Então, vi minha chance. Peguei a Jéssica desprevenida. Os meus lábios no pescoço dela, rápidos e certeiros. A marca ficou ali. Ela era minha.

Era o meu objetivo naquela noite. Ela ser minha. Obediente e submissa. Como uma boa perdedora, ela seguiu as regras do jogo proposto naquela festa. Provei o sabor de seus lábios em dois selinhos. Fiz com que ela prometesse algo: um jantar. Um simples jantar, apenas nós dois. Claro, ela colocou suas condições. Seria como amigos. Eu teria que me comportar como um "ser humano".

Mas subestimei a velocidade dela. Antes que eu pudesse reivindicar o prêmio máximo de seu beijo, senti a ponta da estaca contra meu peito. Um golpe rápido e limpo. Fui eliminado da festa. Um deslize. Como um bom perdedor, a congratulei pela vitória e saí sem drama (para mais detalhes, ler “Eu, minha esposa e nossos vizinhos - Parte 06”).

Porém, a derrota tinha um prêmio de consolação. Eu tinha conseguido um jantar com ela.

Noite depois, descobri que o Rogério e a Jéssica tinham uma nova hóspede. Lorena.

Já tinha ouvido falar dela quando investigava o Rogério. Estava atrás de qualquer sujeira, algum desvio de caráter, alguma falha moral daquele sujeito. Nada. O homem era um certinho e limpo demais, sequer multa de trânsito tinha. Mas a Lorena poderia ser um novo fator na equação. Uma segunda mulher, ainda mais solteira, na mesma casa poderia levar a consequência inesperadas.

Puxei minha ficha sobre ela. Pequena, pois meu interesse nela era tão marginal quanto aos demais colegas do Rogério. Data de nascimento, onde estudou, onde trabalhou. Empresária, especializada na área de contabilidade, sócia do Rogério. Nenhum escândalo, nenhuma falha aparente. Apenas uma carreira impecável, uma reputação intocada. O tipo de pessoa que ou é boa demais para ser verdade ou apenas soube esconder bem suas pegadas.

Mas faltava o essencial: quem era ela de verdade? O que ela fazia quando ninguém estava olhando? Quais eram seus pecadilhos do passado? Porque todos têm seus pecados.

Olhei para a foto 3x4 que colocara na ficha dela. Ela era bonita. Muito bonita. Tanto quanto Jéssica. Talvez até mais, dependendo do ângulo e da luz certa. Como o Rogério era sortudo. Duas das mulheres mais lindas que eu já vi eram a sua esposa e a sua “melhor amiga”. E, agora, provavelmente se divertiam em farras e ménages. Mas ser bela não significava que não tinha fraquezas. E eu queria descobrir as dela.

Ninguém sobrevive incólume neste mundo. Sempre há algo enterrado embaixo da fachada de boas intenções. Meu trabalho era cavar até encontrar o que estava escondido.

Mas eu precisava de mais informações.

Dois dias depois, me infiltrei no restaurante onde eles costumavam almoçar. Um lugar movimentado, cheio de gente demais para alguém como eu se destacar. Encontrei um canto discreto, onde pudesse ver sem ser visto. Meu alvo estava lá. Rogério, Lorena e Rebecca. Três bons cidadãos aproveitando um almoço como se o mundo fosse um lugar justo.

Não dava para ouvir o que diziam, mas eu via. E ver era suficiente.

A Lorena sorria como alguém que contava uma história que julgava engraçada. O Rogério correspondia, relaxado, confortável demais. Duvido que a Jéssica aprovasse esses almoços com duas beldades. A Rebecca era um mistério. Para uma evangélica supostamente tão conservadora, ela parecia se divertir com aquela pequena interação com pecadores.

Continuei a observar. A Lorena riu, com o Rogério sorrindo junto. Não podia não ouvir, mas entendia linguagem corporal. E a química entre eles era evidente. A Rebecca disse algo e apontou para Lorena. O Rogério cutucou o braço dela de leve, provocando uma reação rápida. Brincadeira íntima.

Peguei meu celular e fiz uma foto discreta. Apenas para os arquivos.

Continuei observando até o almoço acabar. Eles saíram juntos, ainda conversando. Eu ficaria mais um tempo, anotaria mentalmente os detalhes, para analisar o que poderia inferir daquilo.

Domingo de manhã. Desci para observar o mundo sob a luz do dia. A piscina do condomínio fervia sob o sol, lotada de pessoas. E apenas observava. Amava a arte de notar o que os outros fingiam não existir.

O Antônio. Universitário. Músculos definidos. Pouca discrição. Ele passava protetor na namorada, Letícia, mas não de forma inocente. Suas mãos deslizavam nas costas delas, traçando o caminho sinuoso das coxas até pousarem na bunda. Um aperto sutil. As pontas dos dedos brincavam na pele dela, explorando o terreno.

A Letícia não recuava. Pelo contrário. Soltou um risinho preguiçoso, a cabeça tombando de lado, deixando claro que apreciava cada movimento. Quando o Antônio decidiu testar os limites e deslizou os dedos entre as coxas volumosas da garota, ela suspirou. Um som que só podia ser descrito como satisfação pública. Dois exibicionistas sem o menor pudor.

Mais adiante, uma cena ainda mais interessante se desenrolava. A Odete, a dona de casa com faro para a devassidão, aplicava protetor solar nas costas da Rebecca, a crente que jurava fidelidade ao Senhor, mas cujo corpo respondia a outras tentações. Os dedos de Odete cobriam cada pedaço de pele exposta com um toque cuidadoso. A crente mantinha a postura rígida, mas seu corpo a traía. Cada respiração entrecortada, cada leve inclinação indicava que, por mais que tentasse, estava gostando. Uma guerra interna sendo travada ali mesmo, sob o sol implacável.

Minha boca se curvou em um sorriso cínico.

Na espreguiçadeira, a Carolina lia em um Kindle e conversava com Carlos. Era evidente que o Carlos não estava interessado na literatura. O olhar dele ia e vinha, oscilando entre os olhos dela e o decote generoso. A cada respiração, os seios subiam e desciam, um espetáculo hipnótico. Ela deslizou os dedos pelo pescoço, afastando os cabelos, oferecendo um vislumbre de sua clavícula e do início da curva dos seios. Carlos engoliu em seco. A Carolina, esperta como sempre, fingia não perceber. Mas eu sabia que ela sabia.

Era assim que funcionava. Um jogo constante de olhares, toques e segredos mal escondidos.

E foi aí que vi as duas. Jéssica e Lorena, caminhando juntas de volta para o prédio. Dois tesouros do condomínio, cada uma brilhando à sua maneira. A Jéssica, com sua pele amendoada, corpo esculpido e olhar firme de quem sabia exatamente o que queria. A Lorena, uma morena de pele quente, curvas que desafiavam a gravidade e um sorriso que poderia levar qualquer homem à ruína. Ambas de biquíni, mas cobertas por cangas esvoaçantes, como se soubessem que revelar demais de uma vez estragaria o mistério. Ambas eram um estudo fascinante de contrastes e semelhanças.

— Ora, ora, se não são as duas mais ilustres damas do condomínio — soltei, parando diante delas com um sorriso afiado.

A Jéssica me olhou como a um velho amigo. Um joguinho dela. Provavelmente achava que, se fosse gentil comigo em público, isso me irritaria. Já Lorena, ela simplesmente me olhava. Mas não era um olhar qualquer. Era um olhar de quem tentava reconhecer alguma coisa que não se encaixava.

— Bom dia, querido Lucério — disse Jéssica, com um tom de falsa camaradagem. — O sol não está incomodando sua pele? Recomendo que volte para as sombras antes que seja tarde demais.

— Sempre aprecio um pouco de sol, Jéssica. Além do mais, as sombras sempre vêm até mim quando precisam.

A Lorena continuava calada, mas seus olhos ainda estavam em mim. Avaliando, pesando. Curiosa demais para o meu gosto.

— O condomínio está mais movimentado do que de costume. Muitas caras novas e algumas antigas se despediram — comentei, deixando meu olhar deslizar lentamente por cada uma, sem pressa, como um homem que aprecia um vinho raro.

— Pois é. Ouvi dizer que, daqui a uns meses, vai ser a sua vez de ter que se despedir de nós.

Concentrei minha atenção toda nela, estudando-a.

— Você fala como se minha partida já fosse uma certeza. Reviravoltas acontecem.

Ela riu baixinho, ajeitando os óculos escuros sobre o nariz.

— Ah, Lucério… E quem disse que eu quero que você parta? O que seria do prédio sem você, nosso malvado favorito?

— Apenas um lugar mais entediante, imagino.

Ajeitei meus óculos de sol. Então, sem aviso, levantei as mãos e passei os dedos pelos cabelos delas ao mesmo tempo, uma mão para cada uma. Elas não recuaram. Interessante. Os cabelos da Jéssica eram macios, bem cuidados, como seda entre os dedos. Já os da Lorena tinham um peso diferente, sedosos, mas com um toque levemente mais espesso, como se carregassem personalidade própria. Um detalhe pequeno, mas que dizia muito.

A Jéssica apenas sorriu de leve. A Lorena, no entanto, inclinou a cabeça, como se aquele toque tivesse disparado um gatilho em sua memória.

Foi aí que os olhos dela se estreitaram.

— Espera aí… — disse Lorena, de repente. — Eu te conheço de algum lugar.

— Conhece?

Ela me olhou com mais atenção.

— Você é o senhorzinho esquisito que estava almoçando no mesmo restaurante que eu e o Rogério. Não tirava o olho da gente.

Meu sorriso não vacilou, mas senti um aperto no estômago. Ela era boa. Boa até demais.

— Restaurante? Deve estar me confundindo, Lorena. Eu sempre almoço em casa.

— Não. Era você mesmo. O senhorzinho esquisito que nunca tinha vindo lá aqui e, do nada, apareceu pelo menos três vezes esta semana. Sempre sentado no canto, sempre de olho na nossa mesa.

Mantive a expressão neutra, mas por dentro minha mente trabalhava rápido.

— Deve ter sido outra pessoa — insisti, soltando uma risada leve, como se achasse a ideia absurda. — Muita gente parecida por aí. Mas acho curioso você reparar tanto assim num desconhecido.

A Jéssica sorria, claramente se divertindo com aquilo. Ela adorava ver alguém me encurralando.

— Bom, foi ótimo falar com vocês, mas preciso subir. Tenho coisas a fazer. Até mais, minhas queridas.

Virei e segui para o elevador, mantendo o passo calmo, sem pressa. Nunca se deve parecer apressado quando se está fugindo.

Quando entrei no elevador e as portas começaram a se fechar, vi pelo canto do olho as duas vindo na minha direção. O estômago retesou. Mas elas caminhavam devagar. De propósito? Seja como for, a porta se fechou antes que elas pudessem entrar.

Respirei fundo. Não bastasse uma bela mulher bastante esperta, agora tinham duas. E ainda eram amigas.

Naquela noite, recebi uma mensagem de WhatsApp da Jéssica avisando que estava livre na sexta-feira de noite e gostaria que apressássemos nosso jantar “de amigos”. Ela insistia em enfatizar a última parte enquanto eu adorava colocar aspas nela.

A partir daí, passei alguns dias analisando opções. O local tinha que ser perfeito. Clima intimista, discreto, sem olhares curiosos de vizinhos inconvenientes. E, claro, um gerente que me devesse favores. Sempre bom ter alguém que pode "ajustar" a noite para que ela corra exatamente como eu quero.

A escolha foi óbvia: La Notte. Um restaurante italiano de luz baixa e mesas bem separadas. Vinhos caros, pratos refinados e um clima que convidava à conversa. O gerente, um certo Alessandro, me devia algumas gentilezas. Nada que precisasse ser mencionado em voz alta. Apenas o suficiente para garantir que nossa mesa fosse a melhor da casa, em um canto estratégico.

Ela aceitou o lugar e, assim, o tabuleiro estava montado. O jantar seria na sexta à noite, mas eu já estava preparado.

Na sexta, já por volta das 17h30, me preparei para sair. Atravessei o estacionamento do condomínio rumo ao meu veículo. O som abafado dos meus sapatos ecoava entre os carros estacionados. Eu gostava daquilo. O som de passos bem marcados. Uma presença que se anunciava antes mesmo de chegar.

Na minha frente, dois homens conversavam de braços cruzados. Seu Geraldo e Zé Maria. Dois funcionários antigos do prédio, daqueles que sabiam mais da vida alheia do que qualquer síndico. Eles pararam o papo ao me ver chegar. Nada de novo nisso. As pessoas sempre ficavam alertas quando eu aparecia.

— Boa tarde, senhor Lucério.

— Boa tarde, senhores — cumprimentei com um breve aceno de cabeça.

Antes que perguntassem, notei uma grande mancha úmida na parede. Água descendo como um segredo mal contado.

— Isso parece grave. Já estava assim ou é recente?

Os dois trocaram olhares. Eu conhecia aquele tipo de olhar. Era a troca silenciosa de quem já sabia a resposta, mas esperava que o outro confirmasse.

— É o segundo vazamento que aparece nos últimos dias. E, pelo estado da parede, também tem infiltração — seu Geraldo explicou, sem rodeios.

Eu toquei a parede, sentindo a umidade fria sob os dedos. Cocei o queixo.

— Deve ser encanamento velho — comentei, sem pressa.

Os dois assentiram. Claro que já tinham chegado a essa conclusão antes de mim. Eu só oficializava o óbvio. Suspirei e ajeitei a gola do meu terno.

— Se a gente fizer manutenção preventiva, paga a mais agora, mas evita um prejuízo cinco vezes maior depois. Vou levar isso pra próxima reunião do condomínio. Melhor prevenir do que remediar.

Os dois concordaram com a cabeça. O problema estava encaminhado. Hora de seguir o plano da noite.

Foi então que o seu Geraldo lançou:

— Mudando de assunto, senhor Lucério… O senhor está muito elegante hoje. Alguma ocasião especial?

Sorri de um jeito que raramente me permitia. Endireitei a gravata e deixei minha voz vir com um toque quase descontraído.

— Vou jantar com a mulher mais linda dessa cidade. Espero que seja uma noite memorável.

Os dois se entreolharam, e percebi a faísca de curiosidade neles.

— Mulher mais linda da cidade? — repetiu seu Geraldo.

Ajeitei a manga do paletó, pronto para seguir meu caminho. Mas senti os olhares deles me acompanhando. Não precisei olhar para saber que estavam trocando conclusões entre si.

Cheguei ao restaurante meia hora antes do horário combinado. Sempre gostei de estar no controle, e isso começava com a preparação. Vestia um terno preto impecável, de corte italiano, justo nos ombros e no peito. A gravata, vinho escuro, contrastava com a camisa cinza-chumbo. O relógio no pulso, discreto e caro. Passei a mão pelos cabelos, ajeitando-os com um movimento estudado. Olhei meu reflexo em uma das janelas do restaurante. Estava pronto.

O maître, um homem de meia-idade chamado Alessandro, me recebeu com polidez.

— Sua mesa está reservada, senhor Lucério. Um dos melhores lugares da casa, como pediu.

— Obrigado, Alessandro. Por favor, nada de interrupções desnecessárias. Quero a melhor experiência possível para esta noite. E, claro, um vinho que a impressione sem parecer que estou tentando impressionar.

Ele assentiu, compreendendo as entrelinhas.

Minutos depois, a Jéssica chegou. Pontual. Como sempre. E espetacular. Como sempre.

O vestido dela era de um vermelho intenso, um tecido que abraçava suas curvas como um amante ciumento. O decote insinuava sem revelar demais, e a fenda lateral era um convite perigoso para quem ousasse olhar. Seus cabelos estavam soltos, ondulados, deslizando pelos ombros como um quadro pintado com a intenção de provocar. Os lábios tinham um brilho sutil, e o perfume que usava era uma emboscada meticulosamente planejada.

Ela me abraçou com a firmeza e um beijo no rosto selou a saudação. Preferia um na boca, mas a noite estava apenas começando e ambos eram jogadores pacientes.

— Boa noite, Lucério — disse ela, o tom de voz equilibrando simpatia e desafio. — Há quantas décadas não se veste de forma tão elegante?

— Boa noite, Jéssica. — Me afastei um passo para observá-la melhor. — Se sua intenção era tornar a tarefa de jantar com você um teste de resistência, parabéns. Você conseguiu.

Ela riu, mas os olhos não vacilaram.

Sentamos. Antes que pudéssemos dizer algo, o garçom se aproximou com os menus. Jéssica pegou o dela, mas antes que o abrisse, me olhou com um meio sorriso.

— Antes de qualquer coisa, quero deixar claro de novo. Esse jantar é entre amigos.

Cruzei as mãos sobre a mesa, observando-a por um segundo antes de responder.

— Amigos. Claro. Só um detalhe pequeno: você tem problema em jantar com alguém que apenas quer comer você?

Ela não piscou, apenas sorriu de lado, divertida.

— O meu segundo melhor amigo, com quem eu trabalho diariamente, quer me comer desde, sei lá, a primeira vez que comeu uma mulher. Ele nunca desistiu, mesmo sabendo que sou casada e feliz, e ainda tenta quase todos os dias. Se eu consigo relevar isso e me focar no lado bom que ele tem para manter nossa amizade, acha mesmo que você seria algum desafio para mim?

Gargalhei baixo.

— Você não finge que não perceber — comentei, analisando-a.

— Não quero perder a esperança.

— Não quer que ele perca as esperanças de, um dia, te conquistar? — supus. — O mantém como um estepe caso seu casamento fracasse?

— Não quero perder a esperança de que ele desista um dia, siga em frente, amadureça e volte a ser o rapaz que eu via como o meu melhor amigo.

— No fundo, você não tem ciúmes do Rogério com a Lorena. Você tem inveja da amizade deles.

Ela titubeou. Acertei um nervo. Ela olhou para o menu, buscando refúgio. Demorou-se um pouco, olhando as opções.

— Por esta noite, quero que esqueça o dossiê que eu sei que você tem sobre mim — exigiu. — Finja que não sabe absolutamente nada da minha vida e aja como um ser humano normal. Eu quero que nos conheçamos como duas pessoas normais se conhecem. Conversando.

Parecia justo. Se ela sabia sobre o dossiê, também saberia que eu identificaria suas mentiras.

— Está bem. Apenas um jantar. — Peguei o menu. — Vamos ver o que essa noite nos reserva.

Analisamos o menu em silêncio por um momento. Eu já sabia exatamente o que pedir, mas deixei os olhos deslizarem sobre a carta dos pratos, fingindo considerar opções.

— Você já deve conhecer bem este restaurante para o ter escolhido — comentou Jéssica, sem tirar os olhos do cardápio. — Você não escolheria um lugar onde não se sentisse "jogando em casa".

Sorri. Ela não estava errada.

— Gosto de lugares onde sei o que esperar — respondi, cortês.

— Então, me diga, o que recomenda? — perguntou, finalmente me encarando.

— Se quiser algo leve, o risoto de funghi com trufas negras é uma escolha clássica. Se preferir massa, o ravioli de ricota e espinafre ao molho de manteiga e sálvia é divino. Agora, se quiser algo mais sofisticado, recomendo o ossobuco alla milanese com polenta cremosa.

— Você descreveu os pratos como se estivesse vendendo um sonho gastronômico.

— A comida, assim como outras coisas na vida, deve ser apreciada com paixão. — Inclinei-me ligeiramente para frente. — Você prefere segurança ou surpresa?

— Depende da situação — disse, voltando os olhos para o menu. — Mas hoje vou optar pela sofisticação. Vou de ossobuco alla milanese.

— Excelente escolha. — Fechei o cardápio. — Eu fico com o ravioli de ricota e espinafre.

O garçom se aproximou, e fizemos os pedidos. Assim que ele se afastou, a Jéssica recostou-se na cadeira, cruzando as pernas.

— Vamos começar colocando todas as cartas na mesa — eu disse. — Este é um jantar de amigos, certo? Mas o meu objetivo aqui é te convencer a ir para um motel comigo. Na melhor das hipóteses. Na pior, garantir que você aceite um próximo jantar. Qual é o seu objetivo?

A Jéssica me olhou sem pressa, como se estivesse avaliando a melhor forma de me dar um tapa sem usar as mãos.

— Tenho pena de você, Lucério.

— Pena? De mim? Eu achava que me desprezar era o suficiente.

— Eu não te desprezo. Acho que você precisa de uma amizade. Parece que eu sou a única pessoa que entendeu o seu problema. — Ela se inclinou ligeiramente para frente. — Eu quero tentar te ajudar a se tornar uma pessoa menos cínica e escrota.

Eu ri. Um riso baixo, cínico, do tipo que se solta quando se ouve uma crédula falar em destino ou em almas gêmeas.

— Então é isso? Você acha que eu tenho salvação?

Ela manteve o olhar firme.

— Eu sei que tem — ela disse, convicta. — Se não tivesse, você teria tentado forjar algo para ganhar a aposta. Teria armado uma situação, inventado um golpe qualquer. Mas você joga dentro das regras. Mesmo perdendo, aceita. No carnaval, foi o único com um elogio em fez reclamação. Você pode ser um manipulador tremendo, mas tem algum tipo de código de honra que respeita.

Encostei-me na cadeira.

— E você não é tão imbatível quanto pensa. Já nos beijamos, lembra?

— Foi selinhos numa brincadeira de carnaval.

— Foram beijos — provoquei. — Eu disse que queria saber o sabor dos seus lábios e os tive. Disse que queria leva-la para um jantar e, agora você está aqui, jantando comigo.

— Um jantar de amigos — ela corrigiu, saboreando as palavras como se estivesse me ensinando a diferença entre um veneno e um antídoto.

O jogo era claro. Ela queria me “trazer para a luz”. Eu queria corrompê-la. Cada um puxando para o seu lado. Nossos olhares se encontraram. Esta seria batalha de palavras. Ela com a convicção teimosa de que eu podia mudar. Eu com a certeza absoluta de que ela não era tão inatingível quanto acreditava.

— Aposto que você gosta desse jogo tanto quanto eu — provoquei, inclinando-me ligeiramente para frente. — A linha tão tênue entre provocação e rendição. A dança entre ceder e resistir. Já se perguntou o que aconteceria se você deixasse de resistir?

— Não. Porque isso provavelmente só aconteceria em um mundo que não conhecesse o Rogério.

Ri baixo. Os pratos chegaram e ela aproveitou a interrupção para tomar a iniciativa.

— Me conte mais sobre você.

— O que exatamente quer saber?

— Algo além do óbvio. Algo que me mostre quem você realmente é. — Seu olhar era avaliador, desafiador.

— Justo. Mas só se for uma troca justa. Para cada coisa que eu contar sobre mim, você me conta algo sobre você. O que acha?

— Tudo bem. Comece.

— Eu gosto de jogar xadrez. — Apoiei os cotovelos na mesa, observando sua reação. — Sempre gostei. Estratégia, antecipação, controle. Tudo depende do movimento certo na hora certa.

— Você gosta de controle. — Ela tamborilou os dedos na mesa. — Não é surpresa.

— Talvez. — Dei de ombros. — Sua vez.

— Eu já quis ser bailarina.

Sorri.

— Imagino que tenha sido boa nisso.

— Por quê?

— Porque você tem disciplina. Bailarinas precisam disso. Além de equilíbrio, precisão... e um certo talento para prender a atenção dos outros.

Ela inclinou a cabeça, avaliando meu comentário. Não confirmou nem negou.

— Sua vez — disse apenas.

Continuamos a troca, mantendo a tensão no ar. Para cada fato que ela compartilhava, sem ter certeza de que seria algo que já sabia, eu devolvia algo que me permitia aproximar mais dela.

— Você conhece a dialética de Hegel? — perguntei, mudando o assunto.

— Claro. Tese, antítese e síntese.

— Exato. Duas forças opostas colidindo, se misturando e gerando algo novo. — Pausei por um instante, apenas para medir sua expressão. — E se aplicássemos isso ao nosso relacionamento?

Ela estranhou, estava para morder a isca.

— Como assim?

Inclinei-me ligeiramente para frente, deixando minha voz cair para um tom mais baixo, confidente.

— Seu objetivo é se manter fiel ao Rogério. O meu é te conquistar. Tese e antítese. O que eu proponho é a síntese: algo que mescle ambos.

— E que ideia brilhante você teria para isso? — perguntou, deixando a taça na mesa com um leve tilintar.

— Um trisal — disse, direto ao ponto. — Eu, você e o Rogério. Consensual. Todos saberíamos onde estamos pisando. Sem traição, sem joguinhos escondidos. Apenas três adultos compartilhando a vida juntos.

Seu rosto permaneceu impassível. Nada de revirar de olhos ou risada irônica.

— E você acha que isso funcionaria?

— Funcionaria se todos quisessem. Não estou falando de posse ou conquista. Estou falando de algo novo. Algo que faria sentido para nós três.

Ela tamborilou os dedos na borda do copo antes de responder.

— E você realmente acha que o Rogério aceitaria dividir a esposa com você?

Sorri.

— Eu acho que você subestima a capacidade humana de adaptação.

Ela sorriu, mas não respondeu de imediato. Apenas me observou, como se tentasse enxergar onde o quão sério eu falava.

— Quer sobremesa? — perguntei, oferecendo um pequeno intervalo na batalha.

— Vai me recomendar um, dizendo que tem o gosto de beijos roubados?

Apoiei o cotovelo na mesa, sustentando o olhar.

— Eu não roubo beijos, Jéssica. Eu apenas crio o cenário para que sejam oferecidos de bom grado.

Ela inclinou-se para frente, baixando a voz como se fosse confidenciar um segredo.

— Então talvez seu plano não esteja funcionando, porque a minha vontade de te beijar continua exatamente a mesma de antes.

Ela recostou-se na cadeira, cruzando as pernas devagar, sem pressa

— Por que tanto trabalho, Lucério? — perguntou Jéssica. — Se você quer tanto levar uma mulher para a cama, por que não chama a Odete? Aposto que ela toparia sem precisar de todo esse teatro.

Sorri. Pequeno acerto dela. Mas eu sempre jogava pelo longo prazo.

— Se eu quisesse apenas sexo, poderia contratar uma profissional. Uma bela, requintada, do tipo que faria qualquer homem esquecer do resto do mundo. Mas eu não quero qualquer mulher. Quero você, Jéssica. Especificamente você.

Ela segurou minha provocação nos olhos, sem recuar.

— E por que eu? — perguntou, com a voz firme, mas curiosa.

Dei um pequeno sorriso, inclinando-me para frente.

— Porque você é um desafio. Uma mulher que sabe exatamente quem é, o que quer e o que não quer. A maioria das pessoas cede diante da insistência, do desejo, da tentação. Mas você não. E isso me fascina.

Ela brincou com o caule da taça de vinho, refletindo. Já não havia pressa nos seus gestos.

— Ou seja, é apenas um jogo para você? — perguntou, sem tirar os olhos de mim.

Balancei a cabeça, um sorriso enviesado nos lábios.

— Digamos que eu nunca desisto daquilo que realmente quero.

Ela levou a taça aos lábios e tomou um pequeno gole. Seus olhos ainda estavam cravados nos meus quando ela disse:

— Você acha que sabe o que quer, mas provavelmente não teria do que fazer caso conseguisse. Eu não sou um enigma a ser resolvido. Eu sou apenas eu. E se você insiste em me querer, talvez esteja confundindo desejo com obstinação. É isso que o Rogério entendeu e você nunca entendeu.

— E se eu dissesse que conheço sobre você que o Rogério não conhece? Que eu entendi algo que ele nunca entendeu?

— Ele sabe tudo sobre mim.

— Tudo menos algo que você tenta esconder até de si mesma.

Ela não recuou.

— Você acha que sabe muita coisa, não?

— Eu sei, Jéssica. Sei que você tem um segredo. Algo que nem o Rogério sabe. Algo que você mesma se recusa a admitir.

Ela manteve a calma, mas eu vi a tensão no seu olhar. Ela não gostava de ser desvendada.

— E qual seria esse grande segredo?

Abaixei o tom, deixando minha voz deslizar como um sussurro venenoso.

— Você tem um fetiche, Jéssica. Você quer ser controlada. Quer ser a putinha obediente e submissa de alguém. Só que o Rogério é bonzinho demais para tomar tanto controle assim na cama, não é? E você nunca teve coragem de pedir.

O impacto foi imediato. O maxilar dela enrijeceu. Mas ela não me deu o prazer de ver um rubor subindo pelo pescoço. Não, a Jéssica era uma mulher treinada para esconder suas reações. Mas eu era um homem treinado para notá-las mesmo assim.

— Absurdo. — A voz dela era firme, mas eu percebi a hesitação.

— É mesmo? Então por que você aceitou a aposta na festa de carnaval? Você se deixou ser mordida. Você perdeu porque quis. Porque, no fundo, queria uma desculpa. Um escape. Algo que pudesse dizer a si mesma que foi algo fora do seu controle. Mas que te permitisse se entregar sem questionamentos.

Ela soltou uma risada curta, descrente, mas desviou os olhos por um segundo. Pequeno detalhe. Uma fenda na armadura.

— Na festa de carnaval, você me obedeceu com um sorriso no rosto. Eu só estava fazendo o que você sempre quis. Você sabia que eu sempre quis te beijar, e aceitou os meus selinhos quando podia ter acabado com aquilo a qualquer momento. Mas só o fez quando meus pedidos cruzaram determinada linha. No fundo, você queria a experiência. Queria sentir como pertencer a alguém.

Ela umedeceu os lábios. Pequeno gesto. Mas eu notei. Seus dedos deslizaram pelo vidro da taça, distraídos. Ela percebeu o que fazia e largou o copo abruptamente.

— Você quer um homem que a tome como sua putinha na cama. Que a permita extravasar.

— Você pode pensar o que quiser, Lucério.

Eu sorri devagar, inclinando-me um pouco mais para frente, deixando o peso da minha presença envolver a mesa.

— Claro, Jéssica. Mas me diga… e se, por um instante, eu tocasse sua perna agora? Você se afastaria? Ou deixaria?

Deslizei a minha mão pela mesa, parando a milímetros da coxa dela. Não a toquei. Ainda não. Apenas deixei a possibilidade no ar, como um convite silencioso, uma provocação. Ela congelou. O olhar dela prendeu-se ao meu, os lábios entreabertos. Um segundo. Dois.

— Não ouse. — Sua voz era baixa.

— Você quer que eu ouse. Nós dois sabemos. Sua respiração acelerou. Seus dedos se apertaram ao redor do garfo. E você ainda não se levantou e foi embora.

— Se encostar um dedo em mim, mesmo que por acidente, eu vou me levantar e ir embora — respondeu, sem tirar os olhos de mim. — A aposta vai ser cancelada, eu vou te bloquear do WhatsApp e nunca mais vou falar contigo ou sequer olhar para ti.

O silêncio entre nós ficou denso, carregado de eletricidade. O mundo ao redor pareceu desaparecer. Apenas o desafio pairava no ar entre nós. Os olhos dela ardiam em fúria e algo mais profundo. Ela abriu a boca, mas fechou novamente, os dentes cerrando o lábio inferior. Afastei a mão. Eu jogava a longo prazo.

— Você está brincando com fogo, Lucério.

Inclinei-me também, nossos rostos a um fio de distância.

— E você está adorando cada segundo disso.

Ela pegou o guardanapo, passou pelos lábios suavemente e ergueu o queixo.

Foi nesse momento que engasguei.

A comida desceu errado, como um soco seco na garganta. Uma dor aguda subiu até meu ouvido. Tentei tossir, puxar o ar, mas nada. Um desespero primitivo tomou conta. Meu corpo inteiro entrou em alerta, implorando por oxigênio que não vinha. Meu coração disparou, os músculos enrijeceram.

— Lucério? — A voz dela veio, primeiro em tom de surpresa, depois de alerta. — Lucério, você está bem?

Minha visão ficou turva. O som ao redor abafado, como se eu estivesse debaixo d'água. Senti meu corpo fraquejar, as forças indo embora. O pânico se dissolveu no breu que me engoliu sem piedade.

*

Quando acordei, minha cabeça estava apoiada em algo macio.

Foquei a visão. A Jéssica estava acima de mim, preocupada. Meu corpo estava no chão, mas minha cabeça repousava em seu colo. Ela me segurava com delicadeza, mas firmeza.

— Bem-vindo de volta. — disse, a expressão séria.

— O que aconteceu? — Minha voz saiu rouca.

— Engasgou e desmaiou. — Ela ajeitou meu corpo, ajudando-me a sentar devagar. Parecia descabelada, o vestido amarrotado. Não sei quanto tempo passei nas trevas, mas não tinha perdido um segundo para agir. — Como você ainda respirava um pouco, significava que não estava totalmente bloqueado, então eu só precisei inclinar sua cabeça, abrir sua boca e dar um jeito de liberar sua garganta. Se tivesse piorado, eu ia ter que fazer outra coisa.

Massageei a garganta, sentindo uma dor leve.

— Você fez uma massagem boca a boca? — perguntei.

— Não é assim que se desobstrui uma garganta — respondeu ela, com um peteleco. Seu instinto de médica a fez me rebaixar ao status de café com leite em nosso jogo. Mas era aceitável. Afinal...

— Você salvou a minha vida.

— Não é o tipo de compromisso que nenhum de nós dois planejava com o outro — disse, brincando.

Sorri, apesar do incômodo. Aos poucos, a multidão se afastava e restavam apenas nós dois.

— Parece que agora estou em débito.

— Nem comece com isso, Lucério.

Ela pegou um guardanapo, limpando a mão.

— Não se preocupe. Pelo resto da noite, serei apenas um paciente grato.

Ela soltou um suspiro, avaliando-me, mas aceitou por ora.

Terminamos a refeição. O garçom se aproximou com a conta. Antes que pudéssemos debater sobre a divisão do pagamento, ele soltou um sorriso profissional.

— Senhores, foi por conta da casa.

— Como assim? — estranhou Jéssica.

— O senhor Lucério é um cliente antigo — explicou. — E, devido ao... inédito incidente desta noite, o jantar é uma cortesia a um cliente discreto e contumaz.

Observei a Jéssica. Ela percebeu que o jantar seria uma cortesia de qualquer maneira. Mas dado o incidente, em vez de protestar, apenas se despediu do garçom, pegou a bolsa e se levantou.

Quando saímos, encostei a porta do restaurante e a encarei.

— Foi um jantar agradável. Devemos repetir?

Ela prendeu a respiração por um instante, mas logo sorriu.

— Boa tentativa.

— Tentativa? Então isso significa que ainda posso melhorar?

Ela riu e pegou o celular para chamar um carro.

— Vai pegar um Uber sozinha a essa hora?

Ela hesitou por um segundo, o polegar pairando sobre a tela.

— Sim. Como sempre faço.

— Poderia aceitar uma carona. Evitar riscos desnecessários.

Ela me olhou nos olhos, avaliando a proposta.

— Você quer me levar para casa, Lucério?

— Quero prolongar uma noite agradável. Se eu puder te oferecer um caminho mais seguro até sua casa, por que não?

Ela suspirou e guardou o celular na bolsa.

— Tudo bem. Mas sem desvios.

Sorri e abri a porta do carro para ela. Ela entrou no carro sem hesitar. Liguei o motor e saímos pelas ruas, o silêncio confortável nos acompanhando por um tempo.

— Você sempre aceita caronas de homens suspeitos? — Quebrei o silêncio.

— Só quando já sei que posso derrubá-los se for necessário.

— Confesso que estou curioso. Qual seria o método? Golpe na traqueia? Torção no pulso?

— Depende. Se eu quiser que você desmaie rápido, um golpe no nervo vago funciona. Mas se eu quiser que você sinta dor, há lugares bem estratégicos para atingir.

— Fascinante — comentei. — E se eu dissesse que gosto de mulheres letais?

— Eu diria que isso faz sentido. Você vive nessa ilusão de ser o protagonista de uma trama noir. Só não de onde tirou que sou uma femme fatale.

Depois de alguns minutos, estacionei o carro no subsolo do condomínio. Eu ainda sentia o gosto metálico do desmaio, e o meu terno ainda guardava a sujeira do chão do restaurante. Olhei para Jéssica pelo canto do olho. Ela estava um pouco descabelada, os fios castanho-claros se desalinharam na correria e pelo esforço de me aplicar os primeiros-socorros rapidamente. Não que ela parecesse menos imponente por isso. Pelo contrário.

— Boa noite, Lucério. Obrigada pelo jantar. Foi agradável. — O tom dela era neutro, medido, profissional até. — Acho que esta noite deu empate, Você não conseguiu me levar para a cama e eu não te tornei menos babaca.

— Sempre soube que não transaria com você essa noite — respondi. — Eu gosto da conquista lenta, Jéssica. Da corrupção gradual de uma mulher fiel. Quanto mais tempo esse jogo durar… mais doce será a vitória.

Ela me olhou com incômodo e se preparou para sair.

— Sabe, Jéssica, estou em dívida com você. Pelo incidente. E eu gosto de pagar meus débitos imediatamente.

Ela abriu a porta do carro, mas hesitou antes de sair. Seu olhar encontrou o meu, avaliando.

— Se é assim... Eu quero um mês.

— Como?

— Quero que passe um mês sem ser um escroto. Nem comigo, nem com ninguém. Nada de investigações, chantagens, joguinhos ou planos mirabolantes. Um mês sem dossiês e sem puxar tapete de ninguém.

A risada escapou antes que eu pudesse segurar.

— Um mês sendo um santinho como o Rogério?

— Não precisa ser uma pessoa boa. Só... um ser humano, sabe?

— Isso vai contra minha natureza — respondi, mas não podia negar meu débito. — Contudo, palavra é palavra. Um mês sem jogos.

Ela sorriu.

— Então, pelo menos, por esse mês, eu serei sua amiga.

— Para vigiar meu comportamento?

— Também. — Ela ajeitou a bolsa no ombro. — Boa noite, Lucério.

— Boa noite, Jéssica.

Ela saiu do carro sem olhar para trás. Fiquei a observando enquanto atravessava o estacionamento e sumia no elevador. Quando a porta fechou, pensei no que prometeram.

Um mês sem puxar fios, sem costurar armadilhas, sem observar as pessoas pelo ângulo certo para descobrir como desmontá-las? Seria um desafio. Mas, como todo bom jogador, eu sabia uma coisa: às vezes, a melhor jogada era se reinventar para vencer.

Pois bem, leitor. No próximo capítulo, teremos uma nova jogadora entrando nessa minha partida com a Jéssica.

AVISO AOS LEITORES: Este conto/capítulo faz parte do crossover da sexta-feira muito louca. Todos os contos abaixo se passam ou terminam na mesma sexta-feira e, embora possam ser lidos de forma independente, há encontros e desencontros entre os personagens e interações inesperadas.

Fazem parte deste crossover os seguintes contos:

* Quem vai Comer a Advogada Evangélica? - Capítulo 03

* Passando a Vara nas Vizinhas. Ou não. - Capítulo 06

* Eu e Minha Esposa Pulamos a Cerca... E o Caos Explodiu - Parte 04

* Minhas coleções de calcinhas, amantes e putinhas

* Eu, minha esposa e nossos vizinhos - Parte 09

* Apostei que Faria Aquela Médica Certinha Virar Minha Putinha - Parte 02

Coloquem nos comentários para o que vocês torcem que aconteçam nos próximos capítulos. Daqui a um tempo, vamos ter a continuação.

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Comentários

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Os seu contos são maravilhosos, fico sempre na expectativa dos próximos capítulos. O interessante é você manter o casal Rogério e Jéssica fiéis, não precisa fazer como os outros contos clichê em que toda esposa ou esposo devem trair, ela deve conversar com o esposo e falar do fetiche dela de ser dominada e uma ideia legal como em dois contos que ela mesmo surgeriu e que Lisandra assistisse uma trepada dela com Rogério onde a mesma se mastubaria até gostar. Meus parabéns.

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Sei que não vai acontecer na linha principal por causa dos comentários mas nossa sua escrita é tão interessante que me senti um pouco na cabeça dos dois e acharia interessante ver a Jéssica explorar esse lado e ver como tudo se desenvolveria a partir daí,muito bem escrito

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Ótimo como sempre, mais sei lá mesmo sabendo q infelizmente não vai nada,acho q seria legal se tivesse, acontecido algo, como uma permissão de toque,algo meio q nessa pegava,mesmo ele não ganhando,seria legal ter algo beirando a possibilidade.

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Alberto vc escreve muito bem. Foi cirúrgico, Jéssica quer ser dominado por um macho, ter um dominador, quer um descanso de sua atitude de autocontrole. Lucério muito perspicaz acertou, deu muita vontade dela se submetendo aos desejos dele, ao mesmo tempo dela continuar com sua árdua tarefa de manter a fidelidade com Rogério. Acho que um ponto que levaria ela a ceder é quebrar o encanto que tem por Rogério, ele a trair realmente com uma pessoa que a magoaria muito, não apenas o sexo, mas toda a entrega, como por exemplo com Rebeca, com paixão, intensidade, mas com amor e admiração isso a abalaria demais a despertaria sua necessidade de ter alguém do controle de suas emoções, ou ate mesmo Lorena depois de se tornarem amigas e se sentir duplamente traída, mas pelo perfil que traçou Lorena e Rogério não dispõem da química necessária para esse impacto. Lucério é inteligente, sabe que tem que mover o sentimentos e os desejos de Rogério, para conseguir chegar a tentativa de controle de Jéssica

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*ela precisa disso mesmo, um cara controlador, dominador??? Ele jogou bem...viu uma "fragilidade" no Rogério (pelo menos muitos podem ver isso como fragilidade) e TRUCOU*

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Muito bom!!!

O velhão é esperto, tentando entrar na cabeça dela!! Eu acho que essa mania de querer "salvar" todo mundo diz muito sobre ela... é um tipo de narcisismo controlado...uma arrogância que pode ser fatal!!

Mas agora fez sentido o modo como ela chegou em casa...será que ela precisa disso mesmo, um cara controlador, dominador???

Ele jogou bem...viu uma "fragilidade" no Rogério (pelo menos muitos podem ver isso como fragilidade) e trocou...ela hesitou...talvez sua mão não fosse tão boa ou caiu no xaveco (ou blefe) do velhão!!

Veremos o que vem a seguir!!

3 estrelas é pouco... parabéns!!

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Muito bom, mas muito curto esperando a continuação

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