Obsidian: A Primeira Escrava - Parte 20

Da série Obsidian
Um conto erótico de Fabio N.M
Categoria: Heterossexual
Contém 4641 palavras
Data: 29/03/2025 13:28:39

A terra recém-revolvida ainda exalava um cheiro úmido e terroso quando Vincent Weiser deu as costas à sepultura de Clara. O murmúrio abafado das últimas preces ainda pairava no ar, misturado ao vento frio que atravessava o cemitério. O peso do passado e do presente misturava-se em seu peito como uma âncora impossível de arrancar.

Ele caminhava em passos lentos, mãos nos bolsos do sobretudo escuro, sentindo o toque frio da obsidiana em sua palma fechada. O único resquício tangível do vazio que sua mãe havia deixado. Agora, ele carregava outra perda, mas essa, diferente da primeira, não causava apenas dor. Causava também repulsa.

Antes de alcançar os portões de ferro do cemitério, uma movimentação à sua direita chamou sua atenção.

A alguns metros dali, outro cortejo fúnebre ocorria, mais numeroso, e carregado de pesar. Um grupo de rostos conhecidos se reunia ao redor de um caixão decorado. Vincent não precisou de muito tempo para reconhecer a figura ao centro, ajoelhada sobre a cova ainda aberta.

Dr. Paulo Queiroz. Ele tremia, soluçava convulsivamente, os dedos apertando o rosário que balançava entre suas mãos trêmulas.

Vincent sentiu um estranho desconforto no estômago.

O destino, impiedoso, tinha um senso de ironia cruel. Dois homens, duas perdas irreparáveis. Mas a dele, ao contrário da de Dr. Paulo, não carregava inocência. Clara havia escolhido seu próprio caminho, e esse caminho a levou à destruição.

Otávio Queiroz, o homem por quem ela arriscou tudo, agora estava debaixo da terra. E, por mais que Vincent não sentisse compaixão pelo homem que dormira com sua esposa, não pôde deixar de sentir certa resignação.

O destino cobrava seu preço de todos.

Vincent não se aproximou. Não havia o que dizer. Não havia empatia. Apenas um reconhecimento silencioso de que aquele sofrimento, ao menos, era honesto.

Seus olhos percorreram o velório por alguns instantes antes de se afastar. Wagner e Ellen o esperavam do lado de fora do cemitério. Ele podia sentir o olhar do filho sobre si quando se aproximou, mas não fez questão de corresponder.

— Podemos ir — Sua voz saiu baixa, quase rouca pelo vento seco.

Wagner assentiu e abriu a porta do carro. Ellen, ao seu lado, segurou a mão dele por um breve instante, um gesto mudo de apoio.

O silêncio durante o trajeto de volta foi esmagador.

Vincent mantinha os olhos fixos na estrada, sentindo o ar carregado entre ele e Wagner. A mágoa ainda pairava entre os dois, um abismo que nenhum deles parecia disposto a atravessar.

Meses se passaram, mas a sensação de um nó apertado em seu peito não se desfez.

A rotina da casa havia mudado drasticamente. Os jantares em silêncio, os espaços vazios deixados por Clara, os olhares que Wagner lançava de tempos em tempos, como se esperasse que Vincent finalmente explodisse, mas ele não explodia. Ele se tornava ainda mais silencioso.

Foi apenas quando o envelope chegou em suas mãos que algo dentro dele se reconfigurou.

O teste de DNA.

As palavras no papel eram definitivas. O filho que Clara carregava não era seu.

Ele soltou um riso curto e seco, sem humor algum. Claro que não era. Por que sequer houve uma dúvida? Ele amassou o papel na palma da mão, os nós dos dedos ficando brancos.

A confirmação do que já sabia trouxe um gosto amargo à boca.

Ele jogou o envelope sobre a mesa e se recostou na poltrona de couro, passando as mãos pelo rosto.

Estava livre, não estava? Livre de Clara. Livre das mentiras. Então por que não sentia paz?

Ele soltou o papel sobre a mesa, recostando-se na poltrona. A luz do final da tarde filtrava-se pela janela de seu escritório, tingindo o ambiente com um brilho alaranjado.

Luna e Sofia estavam ali, observando-o.

Luna foi a primeira a se mover. Pegou o papel, passou os olhos por ele e soltou um suspiro curto.

— Bom… ao menos não há mais dúvidas.

Vincent apenas assentiu.

Sofia, de pé ao lado da janela, cruzou os braços, seus olhos afiados pousando sobre ele.

— E agora?

Vincent inclinou a cabeça para trás, fechando os olhos por um momento.

— Agora, seguimos em frente.

Luna trocou um olhar com Sofia.

Wagner estava sentado na varanda dos fundos da casa de Ellen, observando as folhas secas se acumulando no quintal. As mudanças da estação refletiam bem o que acontecia dentro dele.

A voz de Ellen soou baixa ao seu lado.

— Em que está pensando?

Ele desviou o olhar para ela e, por um momento, se permitiu relaxar.

Ela era sua âncora. O único pedaço de estabilidade em meio ao caos que sua vida havia se tornado.

Ele pegou a mão dela, girando levemente o anel prateado que havia escolhido para ela dias antes.

— Em nós.

Os olhos dela se iluminaram.

Ele respirou fundo, antes de finalmente dizer:

— Quero oficializar o que temos.

O ar ao redor deles pareceu suspender-se por um instante.

Então, Ellen sorriu. Uma nova fase se iniciava.

**********

O céu ainda era uma mancha escura, as ruas de Blumenau envoltas em um silêncio gelado que precedia o amanhecer, quando carro preto deslizou sem pressa pelo estacionamento vazio da sede da Charcutarias Weiser. A cidade dormia. Vincent Weiser, não.

Nenhuma luz nas janelas do edifício imponente, nenhum movimento além do segurança sonolento na guarita, que apenas assentiu quando Vincent passou direto pela cancela. Desceu do carro e trancou as portas com um clique. O som ecoou na vastidão do estacionamento vazio, um reflexo exato do que havia dentro dele. Vazio.

As portas automáticas se abriram, e a primeira coisa que o recebeu foi o cheiro de limpeza fria do saguão. O prédio estava morto àquela hora, sem a energia sufocante dos funcionários que chegariam só dali a algumas horas. Ele gostava assim.

Seguiu direto para o elevador, a luz azulada refletindo-se nos olhos claros e insondáveis. Seu reflexo no espelho do painel digital revelava as olheiras fundas, a pele esticada sobre os ossos da face, um sinal da privação de sono e da rotina severa que impusera a si mesmo. Ele ignorava.

O baque surdo do saco de pancadas reverberava pelo espaço vazio da academia privativa no último andar do prédio, um espaço recém construído mais com a finalidade de ocupar o tempo do que a busca pelo corpo perfeito.

Direto. Esquerda. Gancho. O impacto reverberava pelos braços, pelos ombros, pela respiração pesada. Cada golpe era um esforço brutal para exorcizar algo que teimava em não sair.

A dor nos nós dos dedos não era suficiente. Ele continuou. Mais forte. Mais rápido. Como se fosse possível socar a própria sombra.

O suor escorria pela nuca, a camisa cinza colada ao peito definido. Os músculos retesados, os pensamentos um borrão indistinto de lembranças e raiva. Raiva da traição. Raiva do passado. Raiva de si mesmo por ainda sentir qualquer coisa.

De repente, um erro. O corpo falhou por uma fração de segundo, um cruzado mal posicionado, o peso mal distribuído. A dor irradiou pelo pulso. Ele rosnou, chutando o saco de pancadas com força suficiente para fazê-lo balançar violentamente.

Respira. Recomeça. Continua.

Não havia espaço para fragilidade. Nunca houve.

No andar da empresa, o silêncio ainda dominava os corredores quando Vincent entrou no escritório. Primeiro a chegar, último a sair.

Sua mesa estava impecável, como sempre. Pilhas de contratos aguardavam sua assinatura, relatórios minuciosos de cada filial da empresa espalhados em ordem meticulosa. Nada ali escapava ao seu olhar clínico. Trabalho. Controle. Disciplina.

Vincent desabotoou o paletó e o pendurou no encosto da cadeira de couro, sentindo os músculos ainda tensos do treino. Pegou a xícara de café da máquina, e tomou um gole, sem notar o calor ou o gosto. A cafeína era apenas mais um combustível.

Minutos depois, o som de saltos no mármore do corredor anunciou o início do dia para os outros. Ele já estava ali há horas.

A porta se abriu com uma batida suave. Vincent sequer ergueu os olhos do relatório que revisava.

— Senhor Weiser?

A voz feminina era hesitante, e isso já foi o suficiente para irritá-lo. Ele não tinha tempo para hesitações.

— O que foi? — Sua resposta saiu baixa e afiada, um aço frio no ar.

A jovem secretária engoliu em seco antes de se aproximar com um tablet nas mãos. O cabelo bem preso, os óculos modernos, a postura forçada de confiança que se desfazia sob o peso do olhar dele.

— E-eu trouxe a agenda do dia. Também preparei os documentos para a reunião com os fornecedores alemães às dez… e marquei uma pausa para o almoço às treze horas, caso o senhor queira…

Vincent finalmente levantou os olhos, e o silêncio que se seguiu foi tão esmagador que ela quase recuou.

— Cancele.

— O almoço?

— Todas as pausas.

Ela piscou, claramente desconcertada. Era nova. Ainda não aprendera que ele não aceitava distrações.

— Mas, senhor…

Vincent inclinou-se ligeiramente para a frente, os dedos entrelaçados sobre a mesa.

— Você acha que eu preciso de uma pausa?

A mulher hesitou. Ele não desviou o olhar. Ela o segurou por alguns segundos, mas no fim, perdeu a batalha invisível. Baixou a cabeça e assentiu rapidamente.

— Entendido.

Ele voltou ao relatório.

— Feche a porta ao sair.

Ouviu o som da madeira se fechando com suavidade. E então o silêncio voltou. O único companheiro que nunca o traía.

O relógio digital na tela do computador marcava 12h50, mas Vincent não se deu ao trabalho de olhá-lo. Ele sabia exatamente a hora sem precisar conferir.

Soltou um suspiro pesado, inclinando-se para trás na cadeira. A dor de cabeça começava a se instalar, o cansaço tentando se infiltrar por entre as barreiras que ele mantinha erguidas. Mas ele não dormia. Não podia.

Abriu a gaveta e puxou um copo de cristal. Serviu um gole generoso do whisky caro que mantinha ali, o único luxo que se permitia durante o expediente. O líquido âmbar deslizou pela garganta, queimando de maneira reconfortante.

Por um instante, fechou os olhos.

E ela estava lá. Clara.

O riso abafado. O cheiro doce do perfume. O olhar brilhante que, por anos, ele acreditou ser apenas dele.

Até não ser mais.

Vincent abriu os olhos de súbito e tomou outro gole, maior que o primeiro.

O passado podia tentar assombrá-lo o quanto quisesse. Ele não se renderia.

A noite já engolira Blumenau quando Vincent finalmente deixou o prédio. O dia inteiro sem pausa, sem descanso, sem distrações. O mundo lá fora seguia em movimento. Ele permanecia estático, imóvel em sua própria escuridão.

Pisou no acelerador, desaparecendo na estrada. Mais um dia enterrado. Mais um dia vencido, mas nunca superado.

**********

O som dos saltos de Sofia ecoava pelo corredor impecavelmente iluminado da Charcutarias Weiser, marcando seu ritmo confiante. Ela não precisava apressar-se. Cada passo era um lembrete de que agora estava exatamente onde queria estar.

Desde sua chegada à sede, havia notado o clima mais pesado do que em sua última visita. Não era apenas a rigidez do ambiente corporativo de Vincent Weiser, era algo além, algo mais profundo.

Ela sentiu isso no olhar dos funcionários, na tensão nos ombros dos gerentes, na forma como a secretária do próprio Vincent hesitava antes de chamá-lo pelo interfone.

E agora, ao dobrar o corredor que dava para a ampla parede de vidro do prédio, encontrou a origem da atmosfera carregada. Luna.

A gerente comercial estava parada junto à vidraça, braços cruzados, expressão distante enquanto observava a cidade abaixo. O reflexo do sol da manhã tingia seus cabelos castanhos com tons dourados, mas o queixo levemente franzido entregava a preocupação que tentava mascarar.

Sofia sorriu de canto, reduzindo o ritmo dos passos.

— Tão cedo e já com essa cara fechada, Luna?

Luna piscou lentamente, saindo de seus pensamentos. Quando se virou para Sofia, seus olhos avaliavam, não apenas observavam.

— Bom dia pra ti também, Sofia — A voz saiu calma, mas sem esforço para parecer amigável.

Sofia parou ao lado dela, seguindo seu olhar pela vidraça. Lá embaixo, a cidade começava a ganhar vida, mas dentro daquela empresa, havia algo se apagando.

— Interessante — Sofia disse, como se apenas comentasse o clima — Você também percebeu, né?

Luna franziu ligeiramente as sobrancelhas, mas não desviou o olhar.

— Se tu tá falando do Vincent, então sim.

Sofia respirou fundo, mantendo o tom leve.

— Ele tá se matando de tanto trabalhar. Não sei quanto tempo vai aguentar nesse ritmo.

Luna soltou um suspiro curto, balançando a cabeça.

— Eu sei que não vai acabar bem.

Sofia virou-se um pouco, cruzando os braços.

— E o que você pretende fazer sobre isso?

Luna enfim desviou o olhar da janela, focando-se nela.

— Ajudar.

Sofia sorriu.

— E se ele não quiser ser ajudado?

Luna não hesitou.

— Aí eu insisto.

Sofia soltou um riso baixo e balançou a cabeça, como se achasse engraçada aquela ingenuidade.

— Pois eu te digo, Luna, ele não vai parar porque tu quer. Ele não sabe nem como parar.

Luna cruzou os braços, o olhar ficando mais duro.

— E o que tu sugere, então?

Sofia inclinou a cabeça levemente, estudando-a.

— Talvez o que ele precise não seja descanso. Mas sim algo… ou alguém pra tirar ele dessa espiral.

Luna apertou os lábios. Ela sabia exatamente o que Sofia queria insinuar.

— Distração não é solução.

Sofia arqueou as sobrancelhas, divertida.

— Quem disse que não?

O silêncio que se seguiu foi afiado como uma lâmina invisível.

Luna segurou a expressão neutra, mas Sofia percebeu a tensão em seu maxilar.

— Ele precisa de apoio, não de joguinhos, Sofia.

Sofia manteve o sorriso, mas havia um brilho diferente nos olhos.

— E você acha que eu não posso ser apoio pra ele?

Luna riu sem humor.

— Não. Acho que tu quer outra coisa.

Sofia não confirmou, mas também não negou. Afinal, Luna não estava errada.

Luna estreitou os olhos, como se pesasse suas próximas palavras.

— Se tu acha que pode simplesmente entrar no espaço dele e ocupar o que bem entender… tá enganada.

Sofia inclinou-se levemente para frente, seu tom quase doce.

— Se eu acho que posso, Luna? — O sorriso dela se alargou, mas o olhar era calculado como um xadrez bem jogado — Se eu acho… é porque eu já posso.

A tensão entre as duas se tornou palpável. Não havia necessidade de mais palavras. As intenções estavam claras.

Sofia ajeitou o blazer, ajeitando as mangas sem pressa.

— Bom, já conversamos o suficiente. Tenho trabalho a fazer.

Virou-se e saiu pelo corredor, deixando o eco de seus passos preencher o silêncio que ficou.

Luna ficou parada por alguns segundos, observando-a partir.

**********

O relógio digital sobre a mesa marcava 20h47. O prédio da Charcutarias Weiser estava praticamente deserto. Os corredores antes movimentados agora estavam imersos em um silêncio absoluto, interrompido apenas pelo zumbido baixo do ar-condicionado e pelos passos espaçados de Luna.

Ela havia ficado até mais tarde. Não porque precisasse, mas porque Vincent precisava.

Encostada na porta de seu próprio escritório, braços cruzados sobre a cintura, observava pela divisória de vidro o homem ainda sentado atrás da mesa imponente. A penumbra da sala de Vincent criava sombras angulosas em seu rosto, destacando os sulcos da exaustão e a linha tensa do maxilar.

Acreditava que trabalho e disciplina eram um escudo contra tudo aquilo que não conseguia controlar. E Sofia? A pobrezinha achava que poderia simplesmente seduzir Vincent para fora do abismo.

Luna sorriu de canto, lembrando-se do encontro mais cedo. Sofia era jovem, ambiciosa e cheia de confiança, mas não fazia ideia do que estava lidando.

Sofia via um homem poderoso e quebrado. Luna via um mestre que precisava se lembrar de quem era. E ela o lembraria.

Ajeitando o blazer nos ombros, empurrou a porta sem cerimônia e entrou.

Vincent segurava um copo de whisky na mão, girando o líquido âmbar como se as espirais lentas da bebida pudessem dar a ele alguma resposta.

A voz de Luna cortou o silêncio:

— Já passa das oito e meia, Vincent.

Ele não ergueu os olhos.

— Eu sei.

Luna fechou a porta atrás de si e caminhou lentamente até a mesa.

— Então por que ainda tá aqui?

Vincent soltou um suspiro baixo. O whisky no copo diminuiu um pouco mais.

— Não tenho motivos pra ir pra casa.

Luna parou ao lado da mesa, pegando o copo da mão dele sem pedir permissão. Levou-o aos lábios e tomou um gole, sentindo a queimação familiar deslizar por sua garganta.

Seus olhos escuros brilhavam com algo mais do que mero divertimento. Ela devolveu o copo à mesa e se inclinou sobre a superfície lisa, ficando a poucos centímetros dele.

— Já teve um tempo em que tu sabia exatamente o que fazer quando se sentia assim.

Vincent finalmente ergueu o olhar. A intensidade nos olhos azuis frios traía o impacto das palavras.

Luna inclinou-se um pouco mais.

— Tu lembra, né?

Vincent se lembrava de cada detalhe. As noites de treinamento. O som do couro contra a pele. O modo como ela tremia sob seu comando, sua respiração falhando com cada ordem que ele dava.

O silêncio na sala se tornou mais pesado.

Luna segurou o olhar dele, sem piscar. Sabia que o tinha onde queria.

Vincent recostou-se na cadeira, a mandíbula travada. O ar ao redor deles mudou.

— E o que exatamente tu quer me dizer com isso, Luna?

Ela sorriu, lenta e preguiçosamente.

— Que tu esqueceu quem é.

Vincent apertou o braço da cadeira.

Luna não se intimidou, pelo contrário, ela avançou. Virou-se lentamente, caminhando ao redor da mesa, seus saltos abafados contra o tapete macio. Suas mãos deslizaram pela madeira polida da mesa de Vincent, como se cada centímetro daquele espaço ainda pertencesse a ela.

— Eu lembro de tudo, Vincent. Lançou um olhar para ele sobre o ombro — Do que tu gostava, do que tu queria e principalmente… — girou levemente o corpo para encará-lo — de como tu me fazia pedir por mais.

A respiração dele ficou um pouco mais pesada, e Luna percebeu o primeiro sinal de hesitação.

— Não começa, Luna — A voz de Vincent saiu arrastada, carregada de exaustão e algo mais profundo.

Mas Luna não planejava parar. Afastando-se da mesa, aproximou-se da cadeira onde ele estava sentado. Parou diante dele, as mãos na cintura, a postura de uma mulher que já esteve ajoelhada ali e não se envergonha disso.

— Tu acha que se enterrar no trabalho vai resolver alguma coisa? Tu acha que whisky e relatórios vão trazer de volta aquele controle que tu perdeu?

Vincent a odiava por dizer isso, porque era verdade. O controle que ele acreditava absoluto escapou por entre seus dedos nos últimos meses, mas Luna sabia como ajudá-lo a retomá-lo.

Vincent apertou os olhos, como se quisesse apagar os pensamentos que voltavam em flashes traiçoeiros. O cheiro de couro. O som de um gemido abafado. A marca vermelha na pele dela, onde sua mão havia deixado sua impressão.

Ele podia sentir aquilo tudo de novo.

Luna notou o jeito que a respiração dele havia mudado.

Satisfeita, afastou-se.

— Quando tu cansar de brincar de cadáver… tu sabe onde me achar.

O silêncio preencheu a sala assim que Luna terminou sua provocação, os ecos de suas palavras ainda pairando no ar.

Vincent não piscou, não se moveu, não disse nada, mas algo dentro dele despertou.

Por anos, ele se forçou a enterrar cada vestígio do homem que já foi. O Vincent Weiser de antes, aquele que comandava, que dobrava vontades, que tomava sem hesitação.

Agora, sentindo Luna prestes a sair, ele soube que não deixaria.

— Ajoelha.

A ordem veio baixa, firme, absoluta.

Luna parou na mesma hora.

Seu corpo reagiu antes da mente. O arrepio percorreu sua pele como fogo líquido, a pulsação acelerou, e o ar na sala tornou-se eletricidade pura. Ela se virou lentamente.

Vincent a encarava com um olhar que ela não via há anos, não pedia, não sugeria, não testava. Apenas exigia. Os lábios de Luna se curvaram.

Ah. Então ele ainda estava ali.

Seus olhos escuros mantiveram contato enquanto ela, sem pressa, deslizava as mãos pela lateral do próprio corpo e dobrava os joelhos diante dele.

O tapete macio sob suas pernas contrastava com o frio do ambiente. Mas a única coisa que importava era a presença dele acima dela.

Vincent observou cada movimento com olhos impiedosos.

— Chupe meu pau… e mantenha os olhos em mim.

Luna obedeceu sem hesitação.

Desafivelou o cinto, e começou a explorar com seus lábios todo o comprimento de Vincent. O ar fugia de seus pulmões, enquanto seus dedos cravavam nos braços da cadeira de couro.

O corpo de Luna já conhecia aquele ritual, o papel que sempre lhe coube quando estavam a sós. Ela não era um submissa qualquer, era sua serva, sua… escrava. Lembrava-se do peso invisível que sempre se instalava no ar quando ele tomava controle. Do calor diferente que se espalhava por sua pele.

A postura era perfeita, costas retas, joelhos ligeiramente afastados, mãos pousadas suavemente sobre as coxas. Exatamente como ele gostava. Exatamente como ele ensinou.

Seu peito subia e descia em um ritmo calculado, mas a pulsação no pescoço entregava mais do que deveria.

A língua dela serpenteava pela glande, úmida e quente. Seus olhos nunca deixando os dele. A expectativa pulsava dentro dela, viva, elétrica.

Vincent, ainda sentado, a observava com olhos cortantes. Ele não precisava dizer nada. O tesão falava por ele.

O queixo forte se mantinha erguido, mas seus dedos, apoiados no braço da cadeira, apertavam sutilmente o couro escuro. A respiração desacelerava, mas não de calma, de controle.

Os movimentos de Luna tornaram-se mais rápidos e intensos, e o corpo de Vincent respondia sem reservas. Ele deixou escapar um gemido baixo, seus músculos tensionando enquanto o momento atingia o ápice.

Ele estava testando a própria vontade.

Vincent deslizou a língua pelos dentes antes de falar, o som rouco quebrando a imobilidade da sala.

— Luna.

O nome saiu como algo degustado na boca. Como uma memória, como um território reivindicado. O som enviou um arrepio imediato pelo corpo dela, espalhando-se da nuca até os ombros, descendo por sua espinha em um choque morno.

Ela não cessou os movimentos.

Vincent finalmente deixou-se jorrar, jatos profusos atingindo a garganta de Luna, que mantinha tudo bem seguro em sua boca. O membro pulsando à medida que descarregava até finalmente ficarem apenas os espasmos, resquícios um um clímax que ficara retido por tempo demais.

Os olhos de Luna, sempre tão firmes e calculistas, agora brilhavam de outro jeito.

Ele estava de volta.

O homem que ela conheceu anos atrás. O que ensinou seu corpo a responder a cada comando, que moldou sua obediência não por smiples submissão, mas por devoção.

O silêncio se estendeu. O calor dentro dela crescia, a pele ansiava e Vincent apenas olhava. Luna manteve o olhar erguido, fixa nele, como deveria, mas por dentro? Por dentro, ela já era dele outra vez.

O silêncio entre os dois era quente, espesso, sufocante.

Vincent moveu-se na cadeira, ajustando-se, testando a própria vontade, sentindo, pela primeira vez em muito tempo, que podia se permitir.

— Quanto tempo faz, Luna?

A voz saiu rouca, como se arranhasse sua garganta ao sair.

Luna umedeceu os lábios antes de responder.

— Tempo demais.

Vincent inclinou-se para frente, os olhos frios queimando sobre ela.

— E ainda assim, você lembra como se fosse ontem.

Ela sorriu devagar.

— E tu também.

Um músculo no maxilar dele se contraiu. O controle estava de volta, deslizando pelos seus dedos como um manto antigo.

Ele estendeu a mão, deslizando os dedos firmes pelo queixo dela, erguendo-lhe o rosto. Luna não recuou. Ele podia sentir a pulsação dela sob a pele quente, rápida, ansiosa, entregue. Ela sabia exatamente onde aquilo levaria. E Vincent também.

Seus dedos se moveram, chamando-a para perto, e Luna não hesitou. Sua respiração já estava entrecortada quando ele deslizou uma mão por sua cintura, puxando-a para seu colo sem cerimônia. O impacto a fez soltar um pequeno suspiro, os seios pressionados contra seu peito firme, os rostos separados apenas pelo calor do desejo crescente.

— Está com saudades de ser fodida? — murmurou Vincent, a boca perigosamente próxima da dela.

— Muita.

Os lábios de Luna roçaram nos dele, provocando, testando. Vincent segurou sua nuca, dedos se entrelaçando nos fios macios do cabelo dela, e puxou-a para um beijo que começou lento, mas rapidamente se tornou exigente. As línguas se entrelaçaram, os suspiros se fundiram, e as mãos exploraram como se já não houvesse mais tempo ou controle.

Luna arqueou o corpo quando Vincent deslizou as mãos por suas costas, sentindo o calor de seus toques queimando sua pele através do tecido fino. Ele desabotoou sua camisa lentamente, como um predador saboreando o momento antes do ataque. Cada botão aberto era uma promessa silenciosa, cada centímetro de pele exposto, um convite.

Ela gemeu baixo quando sentiu os lábios dele em seu pescoço, traçando um caminho perigoso para baixo. O arrepio que percorreu sua espinha foi instantâneo, e ela agarrou seus cabelos escuros, puxando-o para mais perto, para mais fundo.

Vincent a ergueu pelas pernas, colocando-a sentada sobre a mesa agora, os papéis amassados sob eles. Seu olhar faiscava, as pupilas dilatadas, o autocontrole se esvaindo rapidamente. Suas mãos deslizaram pela cintura de Luna, puxando-a para a borda da mesa, e então ele se abaixou, os lábios e a língua explorando cada centímetro dela enquanto os suspiros entrecortados e o som da respiração pesada preenchiam o escritório vazio.

O desejo se acumulava, ardente e insaciável, até que cada toque, cada beijo, cada gemido se tornou um crescendo inevitável. Quando ela atingiu o ápice, o nome de Vincent escapou entre sussurros e gemidos abafados, seu corpo tremendo em espasmos involuntários.

Vincent a colocou de bruços sobre a mesa, as mãos grandes e quentes deslizando pela curva das costas de Luna, descendo, apertando, penetrando. A seda de sua blusa estava amassada, os cabelos caíam desordenados ao redor do rosto. A mesa gelada contra sua pele contrastava com o calor das palmas dele.

— Você gosta de brincar com fogo, Luna… — A voz de Vincent era um sussurro rouco contra sua orelha, o hálito quente fazendo-a arrepiar.

Ela sorriu, atirando-lhe um olhar desafiador por cima do ombro.

— E você gosta de me incendiar.

Ele riu baixo, um som carregado de promessas sujas. Os dedos deslizaram pelo seu quadril, subindo lentamente até envolver sua garganta, inclinando levemente sua cabeça para trás. Ele queria vê-la. Queria cada suspiro, cada mínima reação.

Luna prendeu a respiração, sentindo-se dividida entre o instinto de se afastar e o desejo de ceder completamente. Vincent era perigoso. E era exatamente isso que a deixava enlouquecida.

A risada baixa de Vincent reverberou contra a pele exposta de Luna, um som feito de provocação e posse. As mãos dele não tinham pressa, dedos firmes explorando cada curva, testando sua paciência, exigindo sua rendição.

O peso de Vincent era uma presença dominante, seu cheiro, o perfume amadeirado, whisky e algo puramente masculino, envolvendo Luna, nublando sua razão.

— Você é minha, Luna… — Ele murmurou, os lábios roçando a curva de seu pescoço, a ponta dos dentes arranhando a pele sensível.

— Sempre fui tua… meu dominador — A voz dela saiu rouca, entrecortada pelo desejo.

Ele riu de novo. As mãos deslizaram pelos braços dela, depois pelos pulsos, guiando suas mãos até a borda da mesa.

— Segure firme.

Era uma ordem, e Luna obedeceu sem hesitação.

Os dedos dele exploraram a curva de sua cintura, depois desceram, provocando-a. Lentos, deliberados. As estocadas cada vez mais rápidas e vigorosas.

— Você acha que pode me desafiar e sair impune? — Vincent sussurrou, mordiscando seu lóbulo.

Luna soltou um riso abafado, tentando manter o controle, mas sua respiração já denunciava o contrário.

— Me fode, alemão…

A resposta foi um aperto mais forte, um rosnado baixo de aprovação.

Ele se firmou sobre ela, o ritmo mais intenso, projetando-a sobre a mesa. Os movimentos eram brutais, cruéis na tortura, no incêndio em seu interior. Luna cravou as unhas na madeira, mordendo o lábio para conter um gemido, mas foi inevitável. Seu corpo estremeceu com violência e o grito escapou de sua garganta, enquanto sentia o orgasmos atingiam-na como ondas initerruptas.

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Foto de perfil de Fabio N.MFabio N.MContos: 135Seguidores: 159Seguindo: 51Mensagem Segredos para uma boa história: 1) Personagens bem construídos com papéis e personalidades bem definidas qualidades e defeitos (ninguém gosta de Mary Sue ou Gary Stu); 2) Conflitos: "A quer B, mas C o impede" sendo aplicado a conflitos internos e externos; 3) Ambientação sensorial, descrevendo onde estão seus personagens, o que estão vendo ou sentindo.

Comentários

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muito bom fábio. estou louco pra ver como será a sofia

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