Capítulo 11 – O Reino Contra Nós
O dia seguinte ao confronto com Morgana trouxe não apenas o silêncio, mas um peso opressor sobre o castelo. O noivado entre Adrian e a rainha-bruxa havia sido rompido, e os rumores corriam como fogo entre os corredores da escola e os salões reais.
Fabiano sabia que sua presença agora era um problema. Embora tivesse salvado Adrian, a verdade é que ninguém o via como um herói. Para os nobres, ele era um forasteiro sem título ou linhagem; para os magos, um estranho com poder demais para alguém sem um mestre oficial. E, para o rei… uma ameaça.
Adrian foi chamado imediatamente ao palácio. Ele sabia o que o esperava. Quando chegou à grande sala do trono, encontrou seu pai sentado majestosamente, a coroa brilhando sob a luz das tochas. Conselheiros murmuravam entre si, e a tensão no ar era sufocante.
— Meu filho — a voz do rei ecoou pela sala, fria e calculada. — Diga-me que tudo isso não passa de um engano.
Adrian respirou fundo.
— Não há engano, pai. Eu amo Fabiano. Não me casarei com Morgana.
Um murmúrio de choque percorreu o salão. O rei fechou a mão em punho sobre o braço do trono.
— Você não entende o que fez! — rugiu. — Rompeu um tratado que nos traria segurança contra os feitiços dela!
— E a troco de quê? — um dos conselheiros interveio, lançando um olhar duro para Adrian. — Por um aprendiz sem nome, sem passado, que pode muito bem ser um espião?
Adrian cerrou os punhos.
— Fabiano não é um espião. Ele salvou minha vida!
— Ou foi ele quem nos colocou em perigo desde o começo! — outro nobre acusou.
O rei ergueu a mão, silenciando a discussão. Seus olhos se voltaram para Adrian, mas sua voz veio direcionada a todos.
— Este reino não pode se dar ao luxo de fraquejar. Não podemos abrir mão de alianças valiosas por paixões tolas.
Adrian sentiu o coração apertar.
— Então… está me pedindo para abandonar quem eu amo?
O rei o encarou, impassível.
— Estou lhe dando uma escolha. Honre seu dever como príncipe… ou abandone seu título.
O peso das palavras caiu como uma lâmina sobre Adrian.
Longe dali, Fabiano, que aguardava ansioso, sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ele sabia que algo terrível estava para acontecer.
E talvez, dessa vez, nem mesmo sua magia pudesse evitar o destino que os separaria.
Capítulo 12 – O Exílio
Fabiano caminhava inquieto pelo pátio da Escola de Magia. Desde que Adrian fora chamado ao palácio, ele não tivera notícias. A incerteza era insuportável.
Então, passos apressados ecoaram atrás dele. Ao se virar, viu Adrian. Mas algo estava errado. Seu rosto estava tenso, e havia um brilho de desespero em seus olhos.
— O que aconteceu? — Fabiano perguntou, sentindo um frio no peito.
Adrian segurou seus ombros, apertando-os como se tivesse medo de soltá-lo.
— Meu pai… ele está me forçando a escolher entre você e o trono.
Fabiano engoliu em seco. Parte de si já esperava por isso.
— E o que você escolheu?
Adrian hesitou, o olhar vacilando entre amor e dever.
— Eu preciso de tempo. Mas… Fabiano, você está em perigo. Morgana envenenou a corte contra você. Estão dizendo que sua presença é uma ameaça, que sua magia é instável. Meu pai… decretou seu exílio.
O chão pareceu sumir sob os pés de Fabiano.
— Eu tenho que partir?
— Sim — Adrian sussurrou, seu rosto se contorcendo em dor. — Se não for, eles podem te caçar… ou pior.
A raiva cresceu no peito de Fabiano, mas foi rapidamente abafada pela tristeza. Ele sabia que Adrian estava sofrendo tanto quanto ele.
— Eu nunca quis te causar problemas — Fabiano disse, com a voz embargada.
Adrian segurou seu rosto com delicadeza.
— Você não causou. Mas se algo acontecer com você… eu não me perdoaria.
O tempo parecia cruel naquele momento. Eles não podiam lutar contra um reino inteiro. Fabiano não tinha escolha.
— Para onde devo ir?
— Há um vilarejo ao sul, além da Floresta Negra. É perigoso, mas há magos lá que podem te ajudar a se esconder. Eu prometo que encontrarei uma maneira de te trazer de volta.
Fabiano assentiu, mesmo sabendo que a promessa de Adrian poderia nunca se concretizar.
Eles se abraçaram uma última vez. Nenhum deles quis soltar primeiro.
Mas então, Fabiano se afastou. Com um último olhar, virou-se e partiu, desaparecendo na noite.
Adrian ficou para trás, sentindo o peso de sua escolha esmagar seu coração.
E assim, o amor que desafiara o destino foi separado… pelo mesmo destino que tentavam mudar.
Capítulo 13 – A Jornada Solitária
O vento frio cortava a pele de Fabiano enquanto ele avançava pela Floresta Negra. O exílio não lhe dera tempo para se preparar. Sem cavalos ou provisões adequadas, tudo o que tinha era sua magia e a promessa silenciosa de Adrian.
As árvores eram retorcidas, e sombras dançavam ao seu redor. Monstros habitavam aquelas terras, e qualquer ruído poderia significar uma ameaça mortal.
Após horas caminhando, exausto e faminto, ele encontrou um pequeno riacho. Ajoelhando-se para beber, sentiu uma presença.
— Perdido, forasteiro?
Fabiano ergueu a cabeça de imediato.
Diante dele estava um velho mago, envolto em um manto escuro. Seus olhos brilhavam em um tom dourado, como se enxergassem além do presente.
— Quem é você? — Fabiano perguntou, levantando-se com cautela.
O velho sorriu, mas não havia hostilidade em seu olhar.
— Alguém que esperava por você.
Fabiano franziu a testa.
— Me esperava? Como?
O velho caminhou lentamente até ele.
— Você é mais do que aparenta ser, garoto. Sua magia… ela não pertence a este tempo.
Fabiano sentiu um arrepio. Como aquele homem sabia?
— O que quer dizer?
O mago suspirou.
— Você veio de um tempo distante, não veio? E ainda não descobriu sua verdadeira conexão com esta terra.
Fabiano ficou sem palavras. Ninguém sabia sua origem.
— Como você sabe disso?
O velho olhou para as estrelas acima.
— Porque você é a chave de um feitiço antigo. Algo que foi perdido há séculos… e que pode mudar o destino de tudo.
Fabiano sentiu seu coração acelerar.
— Está dizendo que eu… posso mudar o futuro?
O mago assentiu.
— Sim. Mas primeiro, precisa descobrir quem realmente é… antes que seja tarde demais.
Fabiano engoliu em seco. A verdade estava finalmente ao seu alcance.
Mas ele teria coragem para enfrentá-la?
Capítulo 14 – O Conselho Secreto
Enquanto Fabiano mergulhava nos mistérios de sua própria existência, Adrian enfrentava uma batalha diferente dentro do palácio. O rei estava irredutível, e a presença de Morgana na corte apenas tornava as coisas piores.
Ele sabia que não poderia desafiar seu pai de frente. Se tentasse, colocaria sua própria posição em risco e não teria meios para ajudar Fabiano.
Então, fez o que qualquer bom estrategista faria: reuniu aliados.
— Precisamos tirá-la daqui — sussurrou Adrian para Elian, seu melhor amigo e capitão da guarda real. Eles estavam em um salão discreto, longe dos ouvidos curiosos.
Elian cruzou os braços.
— Você sabe que isso não será fácil. Seu pai confia nela.
— Mas os outros nobres não — Adrian rebateu. — Alguns já desconfiam que Morgana tem seus próprios planos para o reino. Se conseguirmos apoio suficiente, podemos pressioná-la a sair.
Elian suspirou.
— E você acha que ela simplesmente aceitará isso?
Adrian cerrou os punhos.
— Não.
Capítulo 14 – O Conselho Secreto (Continuação)
— Não. — Adrian repetiu, sua voz carregada de convicção. — Morgana não vai desistir tão facilmente. Mas se conseguirmos expor suas intenções, poderemos forçá-la a recuar.
Elian trocou um olhar tenso com ele.
— Você está falando como se ela fosse uma mera nobre ambiciosa. Mas Morgana é uma bruxa, e não qualquer uma. Ela tem poder para transformar essa corte em cinzas se for contrariada.
— Então precisamos ser mais espertos que ela.
Elian suspirou profundamente antes de assentir.
— Certo. Então, por onde começamos?
Adrian abriu um pergaminho sobre a mesa.
— Os nobres mais influentes que ainda não estão completamente sob o domínio dela. Precisamos convencê-los de que Morgana não tem interesse em fortalecer o reino… mas sim em controlá-lo.
Elian analisou os nomes.
— Lorde Ravier sempre odiou a ideia de uma rainha com poderes mágicos. Ele pode ser um bom ponto de partida.
— Exato. Se conseguirmos o apoio dele, os outros seguirão. — Adrian olhou para a porta, certificando-se de que ninguém os escutava. — Mas precisamos agir rápido. Se Morgana descobrir, podemos não ter uma segunda chance.
Elian bateu de leve no ombro do príncipe.
— Você já quebrou uma promessa de casamento e desafiou seu pai. Agora está conspirando contra uma bruxa poderosa. — Ele sorriu de lado. — Você realmente está apaixonado por esse garoto, não está?
Adrian segurou o olhar dele, sua expressão determinada.
— Ele vale cada risco.
Elian suspirou.
— Então vamos garantir que ele tenha um reino para voltar.
A reunião secreta estava selada. E a guerra nas sombras contra Morgana estava prestes a começar.
Capítulo 15 – O Retorno da Rainha
Morgana observava seu reflexo no espelho de cristal negro de seus aposentos. Seu rosto continuava sereno, mas seus olhos brilhavam com fúria.
Adrian havia rompido o noivado. O rei ainda a apoiava, mas sua influência na corte enfraquecia. E agora, ela sentia algo… uma conspiração se formando contra ela.
— Humanos tolos… — murmurou, deslizando os dedos sobre a superfície fria do espelho.
A imagem no cristal se distorceu, revelando vilarejos em chamas e exércitos caindo de joelhos. Um futuro onde sua magia dominava o reino.
Ela sorriu.
Se Adrian e seus aliados queriam desafiá-la, então ela responderia à altura.
Na manhã seguinte, os primeiros sinais da guerra começaram.
Relatos de ataques surgiram por todo o reino. Vilarejos inteiros foram envolvidos por névoas negras, e os que saíam de dentro delas voltavam… diferentes. Olhos vazios, como marionetes sem vontade própria.
A corte entrou em alvoroço. Conselheiros correram ao rei, suplicando por uma resposta.
— Feitiçaria! Morgana está retaliando! — gritou um dos nobres.
Adrian sentiu um arrepio na espinha. Ele sabia que Morgana era poderosa, mas não esperava que ela atacasse tão rápido.
O rei, no entanto, permaneceu imóvel no trono.
— Não tomaremos nenhuma decisão precipitada — disse, sua voz firme. — Morgana ainda é nossa aliada.
Adrian avançou, indignado.
— Aliada? Você não vê o que está acontecendo? Ela está destruindo nosso povo!
O rei o fuzilou com o olhar.
— E se eu declará-la inimiga, o que acha que ela fará? Se já está assim agora, imagine quando for traída oficialmente.
A fúria de Adrian era intensa, mas ele sabia que discutir não resolveria nada. Precisava de um plano.
Naquela noite, em segredo, ele reuniu seus aliados.
— Não podemos esperar que meu pai tome uma decisão. Morgana não vai parar. — Ele apertou o punho. — Temos que agir antes que ela tome o reino para si.
Elian olhou para o mapa da região.
— Se for para a guerra, precisamos de um exército. E rápido.
Adrian respirou fundo.
— E eu sei exatamente onde encontrá-lo.
Os olhos de Elian se arregalaram ao entender.
— Você vai atrás dele, não vai?
Adrian apenas sorriu de lado.
— Está na hora de trazer Fabiano de volta.