Me leva com você 19

Um conto erótico de R. Valentim
Categoria: Gay
Contém 2041 palavras
Data: 04/03/2025 00:27:30
Assuntos: Gay

Dessa vez nem o Gean consegue acordar o Ciço, Ramon e ele estão dormindo, então faço as tarefas com meu pai sozinho mesmo, a Bisa fez uma vitamina de abacate que me deu a disposição que precisava para voltar a rotina. Quando eles acordam já estou quase no fim, já terminei com os porcos e estou quase acabando no galinheiro.

— Você é um monstro, como consegue não dormir a noite toda e já acordar tá eletrabalhando? — Ciço não parece estar de ressaca, mas ainda está sonolento.

— Costume.

— Sobre ontem quero deixar claro que não foi o álcool falando, realmente te considero meu melhor amigo — Ciço fez questão de dizer.

— Digo o mesmo, agora senhor Cícero vá tomar um banho e se preparar para o almoço, hoje temos um encontro marcado com o rio — ele começa a rir.

— Sim senhor Seu Ricardo — não sei porque começamos com isso, mais do nada passamos a nos referir um ao outro pelos nossos nomes sem apelidos, e usando o respeito de quando se fala com idosos.

Descansamos depois do almoço e nós aprontamos para ir ao rio, Ciço tá muito animado e é bom vê-lo mais tranquilo assim. Ramon vai o caminho todo contando histórias de nossas aventuras de bebedeira para o Ciço.

— Não consigo acreditar que o Seu Ricardo é iodo santinho com um passado desse, eu mal o vi bebendo desde que o conheci — Ciço está descrente com meu histórico de cachaceiro.

— Esse aí só não bebe água quando estamos nos bares daqui — Ramon diz com orgulho.

— Eu evitei um pouco a bebida por lá por não conhecer muitas bem a cidade e as pessoas, mas até que depois de passar um tempo sem beber acabei pegando gosto por ficar sóbrio mas festas — acho que a bebedeira era uma forma de me parecer com meu pai, ou de pelo menos tentar está em sua cabeça para entender o por que dele ter feito o que fez, só que nunca consegui então depois de um tempo a bebida passou a ser só um refúgio.

Parando para pensar um pouco acho até a bebida era a fuga dele também, quer dizer a vida não estava da forma que ele planejava e meu pai não soube lidar com a pressão de ser adulto, com filho e esposa, o problema era que a bebida o fazia depositar seu ódio e suas frustrações na gente.

— Você parou mesmo Rick — Ramon me encara buscando verdade em minhas palavras.

— Sim, não faz mais tanto sentido, mas relaxa que você não vai perder seu parceiro de copo, só que vou me divertir de outras maneiras.

O rio Coreaú banha o município de Granja, e tem uma parte que é rasa, em dias quentes e com o rio cheio é ótimo pra se refrescar, sou suspeito de falar já que adoro tomar banho de rio, tem outros bem legais também no interior, mas acho que não Ciço vai curtir esse e também normalmente depois do banho os moleques se juntam pra tomar umas pela beira rio mesmo — tanto onde bebemos ontem quanto em outros barzinhos que tem nessa parte da cidade.

Na Beira Rio onde fica a parte do banho tem um pier, na noite passada Ciço nem chegou a ver então levo ele até lá antes de entrarmos na água, ele também fica impressionado com a ponte metálica. Ele me lembra a mim mesmo quando vim aqui pela primeira vez, bem as coisas mudaram um pouco desde que cheguei, mas lembro de ter ficado encantado com o rio e com a ponte.

— Caramba esse lugar é muito massa velho, vem aqui vamos tirar uma foto — Ciço tira selfies nossas no píer e na ponte.

— Já que você quer tanto tirar foto vem comigo, vou tirar uma foto sua no letreiro de eu amo Granja — guio ele até o letreiro, mas algo que ganha sua atenção é a barragem do rio onde tem um monumento.

— Podemos ir até ali?

— Claro — respondo.

Tomamos um certo cuidado ao caminhar pela barragem até o monumento, ele tirar umas selfies nossas todo animado, não o julgo o lugar é mesmo bonito e de certa forma reconfortante, passei muitos momentos da minha juventude vindo aqui e já fiz umas loucuras aqui de madrugada — mas que não vem ao caso agora.

Já estamos de roupa de banho mesmo, então aproveitamos para dar um mergulho, colocamos os celulares e carteiras na mochila e a deixo no monumento para que não se molhe. Ciço nada muito bem, até melhor do que eu, ficamos curtindo a água por um bom tempo, Ramon e nossos amigos mais acima, então acabamos ficando só nós dois.

— Agora entendo sua pressa pra voltar pra cá, esse lugar é mágico — ele gostou para caramba do inteiro até da parte de trabalhar no sítio.

— Sim eu amo esse lugar, foi aqui que tive meus momentos mais felizes — me vem um sorriso genuíno só pelas lembranças que tenho daqui.

Me senti na barragem um pouco e ele vem e senta ao meu lado, Ciço joga um pouco de água em mim, mas logo pára e fica reflexivo, nem preciso perguntar pra saber que está pensando no Dan, mesmo esse paraíso não é o bastante para lhe fazer desviar sua atenção e aliviar a saudade que ele sente do namorado.

— Ele irá amar esse lugar — ele diz por fim.

— Na próxima você pode trazê-lo — lhe dou a ideia.

— Dan não curti muito a ideia de viajar, pelo menos não pra interior, de qualquer forma já foi um parto convencê-lo a visitar meu avô.

— Não precisa de um visto pra isso? — Pergunto.

— Sim, o dele saiu até rápido.

— Que bom, acho que essa viagem vai ser muito boa pra vocês — digo com sinceridade.

— Só espero que ele não mude de ideia de novo sobre ir, tipo com essa história do tempo fiquei com muito dele de ele não ir mais comigo — Ciço mostra um lado dele inseguro e vulnerável para mim o que me faz querer ampará-lo ainda mais.

— Já te falei Seu Cícero o Dan te ama.

— O problema é que ele te ama também — não estava esperando por essa resposta, tento analisar o que o virá a seguir, mas ele apenas sentado ao meu lado deita sua cabeça no meu ombro.

— Cícero eu não tenho nada com Dan — me adianto em dizer.

— Eu sei — levanta a cabeça e em seguida me lança um dos seus sorrisos mais gentil e bonito — não tem problema, porque independente de qualquer coisa eu vou lutar para ser o único amor da vida dele de hoje até o dia em que ele não me permitir mais fazer isso.

— Você é um cara incrível Cícero, vou sentir sua falta, mas acho que já é hora de você ir buscar seu homem — digo sendo bem honesto.

— Acho que você tem razão, mas independente da distância saiba que ainda vai continuar sendo meu melhor amigo — ele riu — depois do Dan é claro, mas você entendeu.

— Relaxa, eu tô sabendo e só pra você saber também estou na torcida para que vocês morem juntos logo.

— Feliz e casado não tem como desejar outra coisa — ele brinca, mas com um leve fundo de verdade.

Cícero foi uma das melhores coisas que me aconteceu nesse viagem, tipo passar um tempo em Fortaleza me permitiu resolver muitas pendências, mas com certeza teria sido mais difícil sem sua ajuda, não fui justo com Dan, eu sei das minhas falhas, mas fico muito mais aliviado de que ele tenha encontrado alguém que pode dar a ele o que não posso.

Dan era um moleque pequeno e frágil, eu o ajudei, o protegi e ele se apaixonou por mim, em um mundo ideal essa seria o começo de linda história de amor, mas na dura realidade eu me apaixonei por sua irmã, mesmo assim piorei as coisas o beijando, não sei o que tinha na cabeça naquela época, mas hoje eu sei que fui covarde, beijei ele porque não tive coragem de dizer que não correspondia seus sentimentos, a culpa foi minha de ter deixado ele alimentando esse sentimento por tanto tempo. Guigo disse uma vez que Raylan e Dan me enxergavam como um ser perfeito, alguém incrível e sem defeitos, porém a verdade é que era tão ferrado quanto eles, os protegia para não ter tempo de lidar com meus próprios problemas, priorizei os outros para não pensar em mim e ainda sim cometi inúmeros erros, agora só quero levar minha vida com mais leveza e deixar tudo isso pra trás.

— Cícero você é mais que bem vindo aqui, volte quando quiser — a bisa já o considera um neto também.

— Volte mesmo, ainda tem muito lugar pra gente tomar umas — completa Ramon.

No último dia do Cícero com a gente tomamos nosso café, todos se despedem dele e depois o levo até a rodoviária, ele está todo animado pra ver o Dan e é bom vê ele assim, muito melhor do que estava antes quando achou que perderia o namorado, estamos esperando seu ônibus em silêncio, ele está sentado do meu lado no banco conferindo suas mensagens.

— Cícero não precisa ser forte o tempo todo, deixa ele ver você.

— Vou fazer isso — ele me encara, seus olhos são tão doces e iluminados, ele é um cara lindo e muito sensível, não sei exatamente como foi sua vida até aqui, mas reconheço o cansaço de carregar o mundo nas costas que ele tem no seu olhar.

— Você é lindo e um cara muito bacana, mas pode ser só um cara também de vez em quando, um cara que erra, que age sem pensar, às vezes você tem que se permitir.

— É tão difícil, ainda tenho um pouco de medo as pessoas saírem da minha vida — Ele se abre comigo com muita facilidade e acaba me causando o mesmo efeito — Raylan é amigo do Dan, Guigo é meio distante, César era um babaca, tem os caras do racha, mas nenhum deles entende sabe.

— Você está cercado de pessoas, mas sente que tem que ser o que esperam de você, daí você quer ajudar e agradar a todos para ter na rua o que seu pai não te dá em casa, admiração, aceitação — me vejo nele perfeitamente.

— Cara é uma merda — Cícero sorri então continua — me senti assim e ainda me sinto um pouco, só que cada dia que passa o Dan torna minha vida mais leve, quase o perder me tirou o chão, preciso pegar essa segunda chance e usá-la bem.

— Só não vai priorizar ninguém a mais do que si mesmos o Dan te ama e ele vai continuar amando mesmo com defeitos — ele me lança mais um sorriso desses de bobo.

— Falou Ricardo, até mais.

— Tchau Cícero, até.

Seu ônibus chega e ele embarca, estou torcendo para que as coisas dêem certo para eles, pelo menos é tudo que posso fazer. Já que estou na cidade com sinal de telefone ligo pro meu pai para conversar um pouco com ele antes de voltar pro sítio, ele ficou muito feliz com a ligação, não conversamos sobre nada específico apenas coisas comuns, mesmo assim essa foi a melhor e maior conversa que já tive com ele, meio surreal, estou achando que essa sua versão sem bebida é bem interessante de se conhecer.

Com o passar dos dias a vida vai voltando ao normal, Cícero e Dan finalmente se acertaram e foram morar juntos, Raylan e Guigo também estão bens, Toe simplesmente noivou com um Italiano que conheceu numa balada — só pra constar esse é o normal do Téo não meu — também tenho conversado mais com meu pai sobre passar um tempo em Natal no Rio Grande do Norte, mas ainda não sei muito bem o que fazer. Mauro não quer falar comigo, depois do noivado relâmpago do Téo perdi qualquer chance de conseguir informações sobre o Mauro, já que o Tales agora também bloqueou Téo em tudo que foi canto.

Nem sei se ainda sinto algo pelo Mauro, está mais para preocupação, sabia que isso irá acontecer em algum momento, porém admito que não esperava essa reação dele de fugir de mim dessa forma, ainda sim espero que esteja bem e que seu filho Júnior também esteja lidando com isso da melhor forma possível

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