CAPÍTULO 37
Adeus Milena. Adeus Henrique
As buscas por Samantha e Juliano chegaram ao final do segundo dia sem nenhum resultado positivo e Milena e Margie estavam desesperadas e suas preocupações não eram apenas sobre a sobrevivência deles, mas também em como eles estariam enfrentando o frio e a fome. Esses dois dias foram gastos no deslocamento das duas que se dirigiram à Enseada.
Deixando as crianças aos cuidados de Ângela e Marta, as filhas mais velhas de Milena que já contavam com dezenove anos e tinham seus próprios filhos, pois Ângela se uniu ao Al e Marta ao Bonifácio que passou a morar no Lago da Noiva em companhia delas, as duas mães se dividiram e uma seguir pela praia e a outra pela estrada que atravessava a montanha, combinando em se encontrarem na Enseada.
Quando lá chegaram, todos já estavam prontos para ajudá-las na busca. Diana tinha usado a visão de Áquila e o simples fato de Margie e Milena terem se separado, além dos constantes desvios do caminho que usavam para vasculhar a floresta, só podia significar que elas estavam procurando por alguém.
Ninguém ficou surpreso quando receberam a informação de que Samantha e Juliano tinham fugido.
A sugestão de Na-Hi foi para que a busca prosseguisse em direção ao sul da ilha, acreditando que os dois fujões já tinham passado pela Enseada e isso provocou uma discussão entre a coreana e Margie. A ruiva alegava que as duas crianças não teriam conseguido percorrer a distância de oitenta quilômetros que existia entre o Lago da Noiva e a Enseada. Foi quando Na-Hi usou um argumento que fez com que abalou um pouco as convicções das duas mães:
– Em se tratando daqueles dois, eu não duvido nada que eles tenham dado um jeito. Você verificou se todos os seus cavalos ainda estão lá?
Isso era uma realidade. Juliano e Samantha, quando isolados, eram crianças dóceis e calmas, porém, quando se uniam, demonstravam a sede que tinham por aventuras. Para eles, usar dois cavalos sem que suas mães soubessem era a menor das emoções que procuravam. E Milena foi obrigada a reconhecer que, diante da pressa em sair à procura dos dois, não se preocupara com esse detalhe.
Sem nenhum indício que pudesse determinar se Sam e Juliano tinham se dirigido ao Norte ou ao Sul, surgiu uma discussão entre todos e Diana sugeriu que, como sempre acontecia, que eles colocassem o assunto em votação. Margie, ao ouvir aquilo, explodiu e falou:
– Vá à merda com a sua votação, Diana. Não vou permitir que uma votação coloque ainda mais dificuldade na localização de meu filho. Foda-se a eleição e foda-se a opinião de todo mundo. Amanhã, assim que acordar, vou voltar para o Lago e começar a explorar a região norte dele. Vocês que façam o que quiserem. Eu vou sozinha.
– Sozinha não. Eu vou com você. – Informou Milena sem se alterar e depois trocou um olhar com Margie. Um olhar que elas costumavam usar quando queriam expressar o sentimento que nutriam uma pela outra sem precisar dizer nada.
– Bom. Eu acho Margie tem razão. Então eu sugiro que, em vez de irmos todos para o sul, formaremos dois grupos. Um vai para o Sul e o outro para o Norte. O que vocês acham?
Logo foi feita a divisão, com cada um dos grupos devendo procurar para um desses lados. O grupo que foi para o Norte foi composto por Milena e Margie, pois a ruiva afirmava com toda a certeza de que o lado para onde todos deveriam seguir era o norte. A elas se juntaram Henrique, Pâmela, Bo e Catarina. Margie alegou que o número seria o suficiente, pois quando passassem pelo Lago, levaria Al e Neto para ajudar na busca, justificando sua decisão no fato que não teria como evitar que eles se juntassem ao grupo de busca, pois estavam desesperados com o sumiço do irmão deles.
No fundo, não era apenas esse o motivo de Margie decidir levar seus dois filhos mais velhos com ela. Ambos, apesar de terem se transformado em adultos cooperativos e comportados, nunca deixaram de demonstrar aquele espírito de aventura e ousadia que tinham quando crianças, ela sabia que poderia precisar disso durante as buscas.
Catarina era filha de Milena e nascera de seu terceiro parto, quando pariu gêmeos pela segunda vez, dessa vez um casal e o menino recebeu o nome de Carlos. Cat, como era conhecida, vivia na Enseada depois de se casar com Pedro Augusto, filho mais velho de Cahya.
Para o sul foram Diana, Nestor e Na-Hi que capitaneava a expedição e levou com ela seu dois casal de filhos mais velhos, Dharma e Prajna e Kieza, filha de Diana. Essas duas eram as que se rivalizavam em beleza entre todos os filhos gerados na ilha. Com suas peles negras, o corpo esguio e os cabelos também negros e compridos elas eram realmente lindas. Kieza era um pouco mais alta e dona de um corpo exuberante enquanto Prajna, menor em tudo, mas com tudo proporcional, tinha a vantagem de possuir os olhos azuis. O que chamava mais a atenção é que, embora pertencendo à primeira geração de filhos da Ilha, elas ainda não tinham se casado. Outra curiosidade é que elas não demonstravam nenhum espírito de competição uma com a outra. Em vez disso, elas se davam muito bem e foram várias as vezes que alguém as comparou com Milena e Margie, dando a entender que existia um romance rolando entre elas.
Cahya, que a princípio tinha sido convocada para participar das buscas, foi dispensada quando Kieza se apresentou como voluntária quando soube que Prajna fazia parte da expedição. Na-Hi explicou a ela que sua presença na Enseada seria de melhor utilidade, pois manteria a cozinha em funcionamento, mas o argumento que realmente convenceu a indonésia foi quando a coreana lhe disse que, se a busca fosse no mar, ou nas proximidades dele, ela seria indispensável por causa de sua relação com os golfinhos. Ela não só aceitou, como ordenou aos golfinhos que explorassem toda a costa leste da ilha e a avisassem se vissem algum sinal das crianças desaparecidas. Mas eles nada encontraram.
Quanto às águias, ficou combinado que Áquila seguiria para o sul, pois quase a totalidade da região norte era coberta por florestas, o que impedia que ele pudesse ter uma visão do solo. Ficou combinado que pelo menos uma vez por dia, Áquila sobrevoaria o norte e alguns sinais foram convencionados para que Diana recebesse informações sobre o andamento das buscas para aquele lado e que, se Áquila começasse a fazer voos rasantes sobre eles e insistisse nisso, era porque as crianças tinham sido localizadas pelo grupo que ia ao sul.
A viagem do grupo que se dirigia ao norte foi feita de forma acelerada. Depois de deixarem a Enseada ainda de madrugada, chegaram ao Lago quando começava a escurecer. Margie não descansou. Logo que chegou, convocou Al e Neto e ordenou que eles preparassem os cavalos para partirem no dia seguinte. Seus dois filhos ficaram satisfeitos em poder participar das buscas.
Com tudo pronto, partiram antes do nascer do sol e no primeiro dia pouco avançaram. Uma floresta fechada impedia que eles avançassem com a rapidez desejada. Margie dividiu o pessoal em dois grupos criando uma linha imaginária na floresta. Um grupo procuraria daquele ponto até a praia e o outro dali até o sopé da montanha que avançava naquela direção.
Quando o sol a pino indicava que já estavam próximos do meio dia, o grupo que estava encarregado de procurar pelos fugitivos do lado da montanha encontrou o primeiro vestígio deles. Em uma pequena clareira havia indícios de restos de uma fogueira e uma cama feita com capim e folhas. Não restava dúvida de que Samantha e Juliano tinham passado uma noite ali.
O problema a seguir foi que Henrique e Milena, que integravam aquele grupo, não conseguiram entrar em contato com o outro, que era liderado por Margie. Diante dessa dificuldade, Henrique encarregou Neto de permanecer naquele local e o orientou que naquela tarde, caso eles ainda não tivessem se encontrado, subisse na árvore mais alta que encontrasse e procurasse por sinais de fumaça ao norte. Entretanto, surgiu a primeira dificuldade, pois Al se recusou a se separar do irmão e a única solução foi permitir que ambos ficassem para trás.
Enquanto avançavam, Henrique percebeu que Margie estava certa em seu raciocínio. Vários indícios da passagem de Samantha e Juliano foram encontrados durante aquela tarde. O que os animou a seguirem em frente. A distância entre um local e outro em que havia essas pistas, indicavam que os dois adolescentes estavam avançando lentamente.
Seguindo as pistas encontradas, chegaram à margem de um pequeno rio cuja água descia da montanha e formava uma correnteza que tornava quase impossível sua travessia, o que deu a Henrique a informação de que ele tinha se aproximado da montanha e, naquele momento, se encontrava ao lado dela.
Preocupado com a correnteza e torcendo para que os fugitivos tivessem tido o bom senso de não cruzá-lo, pediu para Milena retornar até onde deixaram Neto e dar um jeito de encontrar Margie e Pâmela. Ele tinha alimento para aquela noite, porém, não ia se arriscar a seguir em frente antes de se reabastecer.
Milena chegou ao local onde os filhos e Margie estavam quando já era noite. Margie e Pâmela já se encontravam lá e a ruiva estava furiosa porque seus filhos subiram na árvore e não viram nenhum sinal de fumaça, mas Milena a acalmou contando sobre as pistas que encontraram. Foram dormir e ainda estava escuro quando partiram ao encontro de Henrique.
Quando se reagruparam, Henrique já tinha chegado à conclusão de que Samantha e Juliano tinham tomado o rumo da montanha. As pistas que provavam isso estavam muito claras. Essa era a boa notícia. A má era que não havia qualquer caminho de subir a montanha que não fosse escalado e os cavalos teriam que ser deixados para trás Os mantimentos foram distribuídos, com cada um levando um pouco e eles seguiram em frente e logo se viram diante do primeiro verdadeiro. Um trecho íngreme e só seria ultrapassado com o auxílio de cordas que, por sorte, Milena tinha levado, pois os sinais de que os dois fujões tinham passados por ali eram visíveis e eles não podiam perder tempo procurando por um local onde o progresso da marcha poderia ser mais fácil.
Quanto mais subiam em direção ao topo da montanha, mais perigosa ficava a escalada. Milena, preocupada com o perigo que corriam, ordenou que seus filhos voltassem e os aguardassem no sopé da montanha. Só foi obedecida quando Henrique interviu e explicou para eles que era necessário que alguém ficasse para trás para o caso de os outros habitantes da Enseada viessem procurar por eles. Não houve como convencer Neto e Al a ficarem para trás e Bonifácio nem deu tempo, pois enquanto discutiam ele começou a escalar a montanha.
Meia hora depois, Pâmela já estava esgotada e aceitou o conselho de Henrique de que devia voltar. Para que ela não ficasse sozinha, Catarina a acompanhou e apenas seis continuaram a subir.
Com muita dificuldade chegaram a um planalto e olharam desanimados para a paisagem que existia diante deles. Era um terreno acidentado e, para seguir em frente, eles teriam que descer pelas encostas para atingir um vale, o que representava um perigo imenso e depois escalar as próximas encostas. Entretanto, vestígios da passagem de Sam e Juliano foram encontrados logo a seguir. Então resolveram seguir pelo planalto que se estendia por quilômetros sobre a montanha em que estavam.
Quando anoiteceu, uma garoa fina fez com que eles tivessem que improvisar uma cobertura o que os obrigou a dormir amontoados. Como tinham deixado os colchões na margem do rio em virtude da dificuldade de carregá-los, escolheram um local coberto de folhas secas e se deitaram com Henrique de um lado, Al do outro e as duas mulheres no meio.
Logo o frio fez com que Milena se abraçasse ao Henrique e o contato de seus corpos fez com que ambos ficassem excitados e a loira, sem conseguir se conter, canalizou toda a ansiedade e preocupação para o tesão e logo eles estavam se esfregando. Preocupado com a presença de Margie e Bonifácio ali perto, o homem tentou evitar aquele contato, porém, logo percebeu que só conseguiria isso se fosse se deitar junto com Al e Neto que tinham encontrado um lugar para se protegerem da chuva um pouco longe dali. Uma proteção que já estava ali antes e eles só tiveram que dar uma melhorada. Um claro indício da passagem de Sam e Juliano naquele local.
Estava pensando em fazer isso quando sentiu a mão de Milena pressionar a sua barriga puxando o de volta para a proteção que eles tinham armado e seu instinto fez com que ele recuasse, trocando a água gelada da chuva pelo calor que o corpo da mulher oferecia.
Entretanto, isso não satisfez Milena que, deslizando sua mão pela barriga dele, forçou corda que eles usavam para prender a roupa na cintura e continuou explorando seu corpo, tocando de leve seus pelos púbicos e logo fechando a mão macia em torno de seu pau que, a essa altura, já estava completamente duro. Henrique virou seu corpo para ela com a intenção de pedir para que ela parasse, pois não faria aquilo perto de Margie. Na verdade, sua preocupação não era Margie, mas sim o Al.
Ao completar o movimento Henrique ficou estarrecido. Olhando por cima do corpo de Milena viu os ruivos de Margie sendo agitados de um lado para o outro enquanto ela subia e descia e subia seu corpo, cavalgando o gigante que se transformara Bonifácio. Ao ver que era observada, a ruivinha tirou a mão da boca e permitiu que seus gemidos fossem ouvidos pelo casal que estava deitado ao seu lado. Voltou a olhar para Milena e viu o sorriso que ela lhe dirigia. Aquele sorriso safado que ela sempre usava quando queria vencer a resistência de um homem. Mesmo assim, ainda tentou se safar, pois não queria que o filho de Pâmela visse que ele estava transando e falou:
– Não faça isso, Milena. O Bo está aí do seu lado e o Al e o Neto estão por perto.
– Qual o problema? Al e Neto já estão dormindo e o Bo não está em condições de ver nada. Dê uma olhada para eles.
Henrique nem olhou, pois não precisavam. Os gemidos de Margie, embora baixos, entrava por seus ouvidos e contribuía para que o tesão que sentia ficasse ainda maior. Bo já não era mais nenhuma criança e provava isso segurando os dois seios de Margie enquanto forçava seu corpo para que seu pau atingisse o fundo da buceta dela e o Henrique ficou olhando para o casal que foda a sua frente com admiração e não pode esboçar qualquer reação, quando Milena escorregou seu corpo baixo, arrancou a calça que ele usava e começou a chupar seu pau. Sem se importar que com a presença de Bo e Margie, a loira usou toda a sua habilidade para sugar de dentro de Henrique toda a porra ali armazenada, engolido tudo.
Depois, imitando Margie, subiu sobre o homem, segurou o pau dele e direcionou para a sua xoxota, engolindo aos poucos cada centímetro daquele feixe de nervos. Bo, ao ouvir os gritinhos que Milena dava ao seu lado, olhou para ela e ficou admirado com a expressão de puro tesão que viu no rosto dela. Porém, em vez de ficar inibido com o que via, seu tesão cresceu ainda mais e, resolvendo tomar a iniciativa, girou seu corpo e ficou sobre Margie que passou a mover o corpo na mesma sintonia que ele usava para socar o pau na sua bucetinha.
Como se movidos por uma força que não conhecia, seu corpo ágil se movia fazendo com que seu quadril levantasse cerca de vinte centímetros e depois todo seu peso era usado para penetrar cada vez mais fundo dentro de Margie, deixando claro que seu pau era enorme. A ruivinha voltou a morder sua mão para impedir que os gritos que nasciam em sua garganta acordassem seus filhos. Milena, como se quisesse transformar aquela foda em uma competição, saltivava sobre Henrique engolindo o pau dele com sua buceta e movimentava a cabeça de um lado para outro fazendo com que seus cabelos se agitassem na mesma sintonia. O gozo dos quatros aconteceu como se houvesse um elo invisível os ligando e explodiram em um prazer incontido ao mesmo tempo e depois ficaram deitados. Milena sobre o corpo de Henrique e o Bo ao lado de Margie, pois sabendo da enorme diferença de peso, ele ficou receoso de esmagar aquele diminuto corpo.
Acordaram antes do nascer do sol e se depararam com um novo problema. Uma névoa cerrada cobria todo o planalto que eles estavam impedindo-os de seguir adiante. Não que a decisão de aguardar tenha sido fácil, pois Margie e Milena insistiam que deviam seguir em frente mesmo com a dificuldade provocada pela névoa. Henrique, que preferia aguardar, saiu vencedor da discussão ao dizer:
– Melhor aguardarmos. Eu sei, dá para a gente avançar se formos cuidadosos, mas não é esse o motivo de eu achar que devemos esperar. O problema é que, sem uma boa visibilidade, não termos como encontrar os sinais e descobrir para que lado estamos indo e, se formos na direção errada, o tempo que vamos perder vai ser muito maior que aquele gasto nessa espera..
A névoa se dissipou quando o sol já estava alto no céu e os seis se puseram em marcha, porém, não andaram duzentos metros e tiveram que parar. Ali, bem próximo deles, havia cinzas de uma fogueira. Margie comentou:
– Não estou entendendo. Eles dormiram ali, andaram poucos metros e já pararam para se alimentar.
Henrique, que examinava tudo ao seu redor, falou segurando um pequeno pedaço de osso:
– Eles deviam estar com fome e conseguiram caçar algo, então pararam para comer.
O osso que ele segurava era o de uma coxa de alguma ave. O fato de saber que seus filhos foram capazes de caçar, a princípio, deixou Milena e Margie tranquilas. Mas logo outra descoberta fez com que essa tranquilidade acabasse. Foi Margie que, examinando os arredores de onde estava a fogueira, encontrou algo que deixou a todos intrigados. Olhando para um terreno arenoso, ela falou:
– Não foram eles que caçaram. Foram ajudados por algum animal. Olhem essas pegadas,
– São de lobos? – Perguntou Henrique ao olhar para onde Margie apontava.
– São sim. Mas apenas um lobo andou por aqui. – Afirmou categórica Margie depois de examinar as pegadas.
– Como você sabe? – Perguntou Al que até aquele momento apenas observava tudo com atenção.
– Os tamanhos das pegadas indicam que é um lobo enorme. Acredito que seja um lobo macho. Além disso, uma de suas patas tem uma cicatriz que… – De repente Margie olhou para todos com uma expressão de esperança e falou quase gritando: – Meu Deus. É do Wolf.
Wolf era o lobo que foi entregue à Margie como refém depois dela ter vencido a luta contra Sétan. Ela o levou até a Enseada, porém, logo depois de chegar entrou em crise por causa do comportamento de Milena. Durante um ano, Wolf cresceu sendo cuidado pelos outros moradores, pois se dependesse de Margie ele teria morrido de fome. A cicatriz que ele tinha na pata dianteira direita foi adquirida quando ele se feriu com um pedaço de ferro ao ficar muito perto de Na-Hi quando ela estava fundindo o minério para fabricar pontas de flecha. Uma das formas se partiu e o ferro líquido escorreu e ele pisou em cima queimando a pata. Foi Cahya que cuidou dele até que pudesse voltar a andar e depois, como ele já estava se tornando adulto, começou a treiná-lo para sobreviver na selva. Para Margie, na época, não fazia diferença se Wolf vivesse ou não e esse foi o motivo de Cahya fazer de tudo para que ele voltasse à vida selvagem.
Todos concordaram, pois era muito triste ver o lobo andar atrás de Margie por todos os lados e ela agir como se ele não existisse. Agora, arrependida por ter menosprezado a afeição do animal, não sabia se o lobo estava junto com seu filho e Sam para ajudá-los ou se era um ato de vingança.
A descoberta de que havia um lobo rondando os dois adolescentes, ou talvez até estivesse junto com eles foi muito útil, pois a partir dali, eles não precisavam mais ficar procurando por sinais que os dois tivessem deixado, pois as pistas deixadas pelo animal estavam por toda parte e bastava segui-las. Além disso, seguir aquela pista foi de grande ajuda para acelerar a marcha, pois os levavam por caminhos mais fáceis de percorrer e eles não tiveram nenhum problema em descer uma encosta e chegar ao vale.
Percorrendo o vale, notaram outro detalhe que deixou a todos mais animados. Os fujões não estavam com pressa e detinham sua marcha a todo instante. Bastava chegarem até uma árvore frutífera e lá estava o sinal de que eles tinham feito uma parada ali e, pela quantidade de sementes e cascas das frutas, tinham permanecido bastante tempo em cada local. Gastaram a metade de um dia para cruzar o vale e, quando chegaram ao ponto em que teriam que escalar novamente, foram surpreendidos pela facilidade que encontraram. Agora estava claro que o lobo estava junto com os dois adolescentes e tudo indicava que era ele que encontrou aquela espécie de trilha que serpenteava a encosta da montanha.
Mal atingiram o topo, outro planalto, esse coberto por uma relva de capim que encobria Margie, Al e Neto, quase todo o corpo de Milena e apenas Henrique e Bo tinham uma visão do entorno. Mas havia também algumas árvores frutíferas e, sob elas, não havia grama e isso permitiu que eles examinassem as cascas e sementes de frutas que, devido ao estado que se encontravam, indicavam que aqueles frutos tinham sido consumidos naquele mesmo dia.
Henrique queria pernoitar ali, mas Margie e Milena, com a recente descoberta que indicava que seus filhos estavam por perto, insistiram em continuar. Elas argumentaram que aquele era o sexto dia a contar da fuga de Sam e Juliano, mas foi ele que venceu aquela disputa porque, segundo ele, era perigoso seguirem adiante no escuro, principalmente se levando em conta que havia um lobo por perto. Então pernoitaram ali.
Com o resto da claridade que ainda restava do dia, examinaram o lugar e foi nessa tarefa que uma descoberta feita por Margie provocou um problema sério. Em uma cama improvisada com folhas, Eça encontrou algumas folhas manchadas e não havia dúvidas que essas manchas eram de sangue. Mostrou para Milena que, ao constatar que realmente era sangue, ficou desesperada:
– Ai meu Deus! Um dos dois está ferido. Isso é sangue.
Henrique, ao ouvir aquilo, se juntou a eles, pegou a folha da mão de Milena e a examinou. Depois se abaixou e começou a examinar outras folhas e, quando se levantou, segurava outra em sua mão e a levou até o nariz. Depois de fazer isso, sorriu e se aproximou de Milena que chorava sendo consolada por Margie e falou para que as duas ouvissem:
– Pode ficar tranquila, Milena. Aquele sangue não é proveniente de um ferimento problemático. Aliás, eu nem diria que é ferimento.
– Como assim? Não estou entendendo.
Milena disse isso sem notar que Henrique estendia a folha que trouxe com ele na direção dela, mas Margie notou, pegou a folha e, assim como ele, aproximou do nariz e cheirou. Então falou com voz desanimada:
– Não acredito. Agora aqueles dois foram longe demais.
– Como assim? – Perguntou Milena que, em seu desespero, não conseguia raciocinar direito.
– Esse sangue que está te deixando tão preocupada realmente não é de ferimento. É apenas a prova do crime que aqueles dois cometeram. Prova que a Samantha perdeu a virgindade e…
– Eu não acredito que o Juliano fez isso com a Samantha. Eu vou matar aquele garoto. – Disse Milena com raiva.
– Ah! Vai mesmo é? E por acaso você acha que o Juliano pegou sua filhinha pura e casta na marra? Para Milena. Tenho certeza de que isso foi de comum acordo. Talvez até mais da parte dela, que é muito mais atirada que o Juliano.
– Mas eles ainda não completaram quinze anos, Margie. O que vai ser deles agora?
– Não vai ser nada. O que aconteceu aqui é algo que já estava previsto antes mesmo de completarem o primeiro ano de vida. A única questão que existia era saber quando, onde e como. O quando e o onde nós já sabemos. E, se quer saber, não estou nem um pouco interessada no como. Isso é coisa deles.
– Ouvindo você falar desse jeito eu até entendo que você tem razão. Mas eu ainda estou pensando em matar o Juliano.
– Aproveita e mata a Sam também. Afinal, eles fizeram isso juntos. – Falou Margie que não levou a sério as ameaças de Milena.
Milena endereçou à Margie um olhar de reprovação e se afastou sem falar nada. Ela foi juntar folhas para aumentar o tamanho da cama para que Henrique, Margie, Milena e Bo dormissem àquela noite. Pedindo para que Al e Neto improvisassem uma em outra árvore que ficava próxima de onde estavam, mas não tão próxima que impedisse que ela realizasse os seus desejos durante aquela noite. Mas quando a loira começou a colocar as folhas perto de onde já existia uma cama, Margie sugeriu:
– Querida. Por que você não faz outra cama afastada dessa? Assim você e o Bo podem ficar mais à vontade. Você é muito barulhenta quando está fodendo.
– Você acha que eu estou com espírito para fazer isso, Margie? Ainda mais com o Bo. Acho que nem vou conseguir dormir essa noite.
– Eu sei que você não está no espírito, querida. Mas isso não vai impedir que, quando você começar a ouvir o barulho que eu e o Henrique vamos fazer, vai atacar aquele garoto. E olhe. Vai logo que vale a pena. Que pau enorme tem aquele rapaz.
– Mas você é muito devassa mesmo, hem Margie.
– Eu? Foi você que começou tudo. Ou se esqueceu de que…
– Nem vem. – Milena interrompeu a frase de Margie por já saber o que ela ia dizer: – Foi você que fez questão que eu me deitasse perto do Henrique. Eu não estava pensando em nada. Você é que estava cheia de más intenções.
– Não, né? O pobre do Henrique que te atacou.
– Acho que foi. Você sabe que o Henrique nunca nega fogo.
Como Milena começou a rir depois de dizer isso, Margie entendeu que ela estava apenas brincando e começou a rir junto.
Com as camas separadas, os dois casais, agora trocados, transaram até a exaustão e depois dormiram o sono dos justos.
Mais um dia teve início. O sétimo desde a fuga dos filhos de Margie e Milena. Todos acordaram cedo e, seguindo as pegadas de Wolf, seguiram por uma trilha que serpenteava em meio ao enorme capinzal que parecia nunca ter fim. Em menos de uma hora estavam admirando a paisagem que surgiu diante de seus olhos. A montanha em que estavam seguia para o norte. Era uma plataforma estreita ladeada por precipícios de ambos os lados e, do lado esquerdo deles, subia uma fumaça mal cheirosa, fazendo com que o Henrique se aproximasse da beira do barranco para examinar o que a provocava e, depois de olhar alguns minutos, informou:
– Isso é lava. Estamos na borda da cratera de um vulcão.
– E a Sam? E o Juliano? Será que eles desceram desse lado?
– Não acredito. Vamos seguir em frente. – Ordenou Henrique.
Meia hora depois Margie apontava para o lado direito enquanto falava:
– Aquela fumaça não parece ser de um vulcão. Parece mais com a fumaça de uma fogueira.
Henrique olhou naquela direção e falou exultante:
– Até que enfim. Vamos lá buscar aqueles dois pirralhos.
– Não tão pirralhos assim. Eles já estão fodendo. – Falou Margie sorrindo enquanto Milena a fuzilava com um olhar de reprovação.
– Para Margie. Você tem que ficar me lembrando disso? – Reclamou Milena enquanto Bo ria dela que, ao notar isso, ralhou com ele: – E você pode tirar esse riso dessa sua cara cínica. Fique aí rindo que você vai ver o que eu vou fazer com você.
– Não vai fazer nada não Bo. Quer dizer, nada que ela já não tenha feito antes. – Provocou Milena.
– Olha aqui Margie. Se você não parar de zoar comigo, eu juro que vou te deixar de castigo por três meses.
– Ops. Não está mais aqui quem falou.
Ao dizer isso, Margie se aproximou de Milena e deu um selinho em sua boca, porém, não resistiu e falou baixinho ao seu ouvido:
– Quem trepa melhor? O Henrique ou o Bo?
– PORRA MARGIE. JÁ FALEI PARA VOCÊ PARAR.
– Resposta errada. Se você me perguntasse isso, eu diria que é você. – Falou Margie e beijou Milena. Dessa vez, um beijo sugado.
– Vocês duas vão ficar aí brigando, ou melhor, namorando? Acho melhor irmos buscar aqueles dois fugitivos? – Falou Henrique em tom de provocação
As duas assentiram e começaram a caminhar em direção à fumaça que Margie lhes mostrara, com os três jovens indo atrás deles. Andaram trezentos metros e a trilha que caminhavam começou a ficar mais estreita, o que os obrigou a andar em fila indiana. Henrique ia à frente e impunha uma marcha forçada, o que obrigava Margie que vinha logo atrás a correr para poder acompanhá-lo e isso fez com que ela desse um encontrão em suas costas quando ele parou de repente.
Diante deles, como um passe de mágica, surgiu um enorme lobo cinzento mostrando seus caninos e pronto para atacar. Margie, sem pensar duas vezes, ultrapassou o Henrique e se colocou à frente dele enquanto falava:
– Wolf. Calma querido. Nós não vamos te fazer mal.
O lobo não atacou, porém, continuou mantendo a mesma postura e seus dentes brilhavam ao refletir o sol. Com a mão direita estendida para frente, Margie foi se aproximando dele lentamente, mas de repente ficou imóvel e falou sem se virar, mas com a voz alta o suficiente para que todos que estavam atrás dela ouvissem:
– Não se movam. Não pisquem e não olhem para os lados. Wolf não está sozinho e estamos cercados por lobos.
Dizendo isso, sem esperar para ver se estava sendo obedecida, ela baixou a cabeça e deu mais um passo em direção ao lobo cinzento. Um rosnado ameaçador foi ouvido do seu lado direito. Ela parou e falou:
– Você se lembra de mim, Wolf? Olha, a gente não veio aqui te fazer mal. Só queremos nossos filhos de volta.
Como se entendesse o que ela dizia, o lobo mudou sua postura, fechou a boca e moveu sua orelha a deixando rente a cabeça. Depois começou a caminhar em direção a ela. Quando ele estava a menos de um metro dela, rosnados foram ouvidos e vinham de todos os lados. Margie estava certa quando disse que estavam cercados. Mas a reação do lobo cinzento a deixou tranquila. Levantando a cabeça, ele emitiu um curto uivo e depois rosnou olhando para um lado e depois para o outro. Imediatamente se fez silêncio. Então ele voltou a caminhar e se aproximou de Margie que, diante da imobilidade que assumira, ainda tinha a mão direita estendida.
Qual não foi a surpresa de todos quando Wolf, ao se aproximar, abaixou sua cabeça e a encostou na mão dela em um gesto que deixava claro que estava pedindo carinho. Margie afagou a enorme cabeça do animal que era tão grande, que sua cabeça ficava na altura de seus seios. Então falou procurando manter a calma:
– Eu não fui uma boa mãe para você. Me perdoe. Eu só estava…
De repente, os soluços começaram a sacudir o corpo de Margie e as lágrimas escorreram de seus olhos. Wolf, como se tentando comunicar que entendia, aproximou sua enorme boca dela e lambeu suas lágrimas. Sem se conter, ela abraçou o animal e deixou seu pranto fluir.
Como se isso fosse um sinal, a vegetação alta que havia em volta deles começou a se agitar e o barulho de corpos se movendo em meio ao capim foi ficando mais baixo, indicando que isso a alcateia estava se afastando deles. Logo a seguir, Wolf se afastou para um lado e deixou o caminho livre para que os quatro continuassem a seguir o caminho, mas eles não andaram cem metros e os dois adolescentes surgiram na trilha correndo ao encontro deles. Praticamente nus, mas sem se importarem com isso, foram ao encontro de suas respectivas mães e se atiraram nos braços delas.
A cena foi comovente. Lágrimas escorriam dos olhos das duas mães enquanto Sam e Juliano demonstravam estar felizes com a aventura que tiveram. Foi Sam que falou primeiro:
– Mamãe. Tem um logo enorme aqui. Ele ajudou a gente.
– Eu sei. Eu já vi. É o Wolf. – Respondeu Milena.
– Wolf? A gente chama ele de Lobo.
– O que dá no mesmo. – Comentou Henrique em voz baixa, mas não tão baixa o suficiente para que depois não tivesse que explicar para os garotos que Wolf em inglês quer dizer Lobo.
Quando foi cumprimentar o Henrique, Juliano viu Alban atrás dele e, demonstrando raiva, perguntou para Margie:
– O que esse cara está fazendo aqui, mamãe?
– Ele veio para ajudar a gente a encontrar vocês. – Respondeu Margie.
– Manda ele embora. Agora. Eu não quero que ele fique aqui.
– Por que eu faria isso? Ele só está ajudando? Para com isso Juliano. Ele é seu irmão.
– Eu não gosto dele. Manda ele embora, senão eu não vou voltar.
Sem entender o motivo daquela raiva que Juliano demonstrava ter de Al, Margie trocou olhares com Milena que, ainda abraçada com Sam, se aproximou dela. Respirando fundo, ela perguntou para a menina:
– Por que essa bronca do Juliano com o Al? O que ele te fez para você agir assim?
Foi Juliano que, em sua inocência, explicou:
– É que a Sam disse que, se eu não casar com ela, ela vai casar com o Al. Eu não vou deixar, mamãe. Eu mato ele se for preciso.
– Você disse isso Samantha? – Perguntou Milena encarando sua filha.
– Ah mamãe. O Juliano ficava me enrolando. Nunca fazia nada. Quer dizer, ele me beijava, passava a mão em todo o meu corpo, mas nunca passava disso.
Antes que Milena dissesse algo, Margie riu e depois falou baixinho para que só Milena ouvisse:
– E agora? Quem é que comeu quem aqui?
– Para Margie. Para senão eu vou brigar com você.
Margie não pode falar nada para Milena, pois Juliano já falava:
– Anda mamãe. Mande ele embora.
– Eu não vou mandar ninguém embora, Juliano. Agora nós vamos todos voltar para casa e, chegando lá, você, a Samantha, a Milena e eu vamos ter uma longa conversa sobre essa fuga de vocês.
– Não se esqueça de acrescentar nessa conversa sobre o que eles andaram fazendo durante essa fuga. – Falou Henrique por pura provocação, pois estava sorrindo.
Samantha, a mais esperta entre os dois adolescentes, entendeu logo que aquilo significava e sondou o rosto de sua mãe procurando algo que lhe desse a noção do quanto a Milena estava zangada pelo fato dela ter dado sua virgindade ao Juliano e de sua fuga. Vendo que era mais pelo primeiro motivo, e sendo muito atrevida, tentou se impor:
– Não vamos não, mamãe. O Juliano e eu agora estamos casados. Você não pode mais brigar com a gente por causa disso.
– Pois fique sabendo dona Samantha que brigar não é bem o que eu pretendo fazer com você.
A voz de Milena soou tão ameaçadora que assustou Samantha. A garota, depois de olhar a sua volta e perceber que ninguém parecia disposto a defendê-la, se soltou dos braços da mãe e saiu correndo.
Henrique e Milena saíram ao encalço dela apavorados porque ela tomou a direção do barranco ao lado esquerdo, que nada mais era do que parte da cratera do vulcão. Mas a garota era muito rápida para eles e ganhava distância cada vez maior, só parando quando chegou à borda do barranco e, sem saída, parou enquanto olhava a sua volta procurando por uma saída. Como não existia, ela foi dando passos para trás enquanto Henrique se aproximava lentamente dela até que, estando muito próximo da borda, o chão sob seus pés cedeu e seu corpo caiu para trás, enquanto Milena gritava.
O primeiro a chegar à borda foi o Henrique que suspirou com alívio quando viu que a garota tinha conseguido se agarrar a uma árvore raquítica que crescia na encosta e balançava perigosamente em meio a fumaça que a lava abaixo dela expelia. Em um rápido olhar ele calculou que ela estava a uns três metros abaixo da borda. Sem vacilar, começou a descer se agarrando nas pedras para chegar até onde estava Samantha estava e, enquanto descia, ouviu Milena ordenar para alguém:
– Vai buscar as cordas. Rápido.
Quando Margie voltou com as cordas que eles usaram quando precisaram escalar a montanha, Henrique já estava ao lado de Samantha. Ele analisou a situação e percebeu que o pequeno arbusto não aguentaria seu peso, pois já estava quase se partindo apenas com o peso da garota. Então falou para ela tentando manter a calma:
– Fique parada Sam. Não se mova. Eu vou te tirar daqui.
A garota obedeceu e logo uma corda foi atirada para ele. Com muita dificuldade e precisando da ajuda dela, ele conseguiu passar o laço que havia na ponta da corda através da cabeça dela e a ajudou a passar um braço de cada vez, até que a corda ficasse presa abaixo do seu peito. Em seguida pediu para que os quatro que permaneciam na borda da montanha segurassem firme a corda e puxassem quando ele mandasse. Testou a resistência da mesma dando um puxão firme e depois gritou:
– Podem puxar. – E falou para Samantha: – Agora segure na corda que eles vão te levar lá para cima.
Ao obedecer, o corpo de Samantha oscilou e desceu um metro até parar. Depois começou a ser içado e não demorou para que ela estivesse a salvo. Aliviado ao ver que a garota estava fora de perigo, Henrique se preparou para escalar, porém, quando fez o primeiro movimento, a pedra onde apoiava o pé se soltou e ele ficou pendurado, sentindo suas mãos escorregarem.
Milena foi a primeira a ver que Henrique corria perigo e mandou que Margie atirasse a corda para ele. Mas não havia como o Henrique segurá-la, pois se soltasse uma das mãos, fatalmente a outra escorregaria pela pedra lisa e ele estaria perdido. A loira, percebendo isso, gritou:
– Aguente firme aí. Já estou descendo para te ajudar.
– NÃO FAÇA ISSO. FIQUE AÍ. – Gritou Henrique.
– Não vá Milena. Deixe que eu vou. – Pediu Margie.
Mas antes que alguém pudesse fazer qualquer coisa, Milena já estava descendo pelo mesmo caminho que Henrique usou antes. Ela não parou de descer quando chegou até ele, continuando a descer até ficar em uma posição onde poderia passar o laço por suas pernas que balançavam no ar. Só então pediu para que Margie jogasse a corda novamente.
A corda foi atirada, mas em uma posição em que, para segurá-la, Milena tinha que esticar o braço para um lado e, ao fazer isso, a mão que sustentava seu corpo escorregou e ela soube na mesma hora que estava perdida. Porém, antes que seu corpo começasse a deslizar para baixo, sentiu uma pressão em seu pulso direito. Henrique estava se mantendo no ar, com apenas com uma mão agarrada a uma saliência, enquanto que, com a outra segurava Milena cujo corpo balançava ameaçadoramente no ar.
– Largue meu braço. Não tem jeito. Não vá morrer por mim.
– Não Milena. Vamos dar um jeito.
Nessa hora, Margie que estava segurando a corda na borda da montanha, gritou:
– Olhe gente. O que é aquilo?
Henrique olhou para baixo de onde estava e viu algo estranho. Parecia uma rede de fios e minúsculas luzes se movimentavam por toda a teia que ela formava. Imediatamente ele se lembrou de que, quando estavam em meio ao nevoeiro e as esperanças de encontrarem um local seguro já havia desaparecido, aquele mesmo objeto, se é que aquilo era um objeto, tinha surgido diante deles e, ao atravessá-la, como um passe de mágica, estavam diante da enseada. Isso aconteceu há vinte anos, mas era uma lembrança nítida em sua mente. Então ele falou para a Milena:
– Não se preocupe Milena. Eu vou me soltar e vamos cair, mas ficaremos bem, confie em mim.
Falando isso, ele se soltou e dois corpos caíram no vazio em direção à estranha formação de luzes que havia abaixo deles. Milena, enquanto caia, gritou para Margie:
– Cuide dos meus filhos. Eu amo você.
– NÃÃÃÃÕOOOOOO! - Gritou Margie com os olhos arregalados enquanto via os dois corpos atingirem aquele estranho objeto e, como num passe de mágica, desapareceram.
Margie se ajoelhou no chão, dobrou o corpo e começou a chorar, só saindo dali quando Bo a pegou no colo e, como se fosse uma criança, a levou até onde tinham encontrado os dois fugitivos e eram esperados por Al, Neto e Juliano que olhava carrancudo para seu irmão Alban.
Em sua mente, apenas a imagem de Milena caindo.
Ela tinha certeza de que sua amada não estava morta. Mas a dor por saber que jamais a veria fazia com que seu coração doesse demais.
Milena tinha sido a única pessoa que ela amou de verdade e agora estavam separadas para sempre.
FIM DO LIVRO 01