O Casamento Arranjado! Cap. 8

Um conto erótico de Alex Lima Silva
Categoria: Gay
Contém 4134 palavras
Data: 01/03/2025 14:14:32

Depois da nossa pequena "discussãozinha" no carro, nenhum de nós dois falou mais nada, o que, pessoalmente, foi um alívio. Essa atitude idiota do Eduardo está começando a me tirar do sério de verdade e eu estou torcendo para não precisar explodir, porque se eu fizer isso, as coisas vão ficar muito complicadas para ele.

Após comprar tudo o que precisava, com ele só me seguindo feito um bobão, finalmente saímos do supermercado e estávamos carregados de sacolas, já que comprei muitas coisas, afinal pretendo passar um tempo sem precisar fazer compras.

— Não entendo por que comprar tanto. — Eduardo fala enquanto entra no carro, parecendo mais irritado do que o habitual hoje.

— Se não tivesse um cavalo morando em casa, eu não precisaria comprar tudo isso, mas como tenho um de estimação, então...

— É, muito engraçado! Se eu sou o cavalo, você é a égua, e se essa égua fosse um pouco mais agradável, talvez o cavalo não ficasse tão irritado e não precisasse relaxar comendo.

— Então quer dizer que você tem compulsão alimentar?! — o encaro sério, mas ele apenas continua olhando para frente — Você realmente come tudo o que vê pela frente quando está com algum problema?! — ele suspira, mas depois acena com a cabeça.

— É, pois é, desculpa te decepcionar, mas sou só um ser humano comum, também tenho meus problemas, okay?! — ele me encara desafiador, mas eu não respondo nada, apenas faço um gesto irônico com a cabeça — De qualquer maneira, você acha que eu malho tanto por quê?! Preciso manter a forma e compensar a quantidade de comida que ingiro, malhando.

— Mas é uma surpresa saber que você não tem controle sobre algo assim... — mordo os lábios sem perceber; na verdade, falo isso mais para mim do que para ele.

— Falando em forma... — ele me observa de cima a baixo, me deixando desconfortável — Você precisa malhar também, né?! — fuzilo ele com o olhar — Seu corpo está muito flácido... Aparentemente, a única coisa ainda firme nesse corpo aí é a bunda, mas tenho quase certeza que não vai demorar muito para ela cair se você continuar sedentário desse jeito.

— Deixa eu te lembrar de uma coisa, seu idiota... O corpo é meu, então se ele está feio, o problema também é meu! — o interrompo, me sentindo ainda mais irritado — Pelo menos tenho certeza que sou melhor que você, que parece um monstro de tão musculoso! Se continuar malhando desse jeito, vou começar a achar que estou vivendo com um bicho.

— Você acha mesmo que "um bicho" seria...

— Tsk, só cala a boca, Eduardo... Chega dessa conversa ridícula; já esgotei minha paciência com você hoje.

— Até parecia...

— Você por acaso é surdo?! Não ouviu o que eu acabei de dizer?!

— Mas eu...

— Eduardo, é sério...!

— Mas eu tô precisando da sua ajuda... Será que você pode me ouvir só por um minuto, droga?! — o encaro franzindo a testa.

— Como assim?

— Bom, acho que é óbvio, mas... É que já estou há quase um mês sem transar...!

— E eu com isso?! — respondo secamente, afinal também estou na mesma situação que ele, mas ninguém me vê reclamando — Por acaso eu sou dono de algum bordel ou algo assim?!

— Escuta, tem uma vizinha que me cantou, sabe?!

— Cantou?! — Isso é sério?! Quem ainda usa esse termo hoje em dia?!

— Tsk, deu em cima de mim... Será que dá para facilitar a conversa?! Ou eu tô falando latim?!

— Tá bom... e?! — finjo interesse só para ele parar de me atormentar com isso.

— O nome dela é Patrícia, e eu quero transar com ela amanhã, mas tem o contrato... — ele faz uma pausa, me observando, mas eu não digo nada, deixando-o continuar — Então chega a parte onde você me ajuda... Eu quero que você me cubra.

— Claro! — ele me encara incrédulo.

— Sério?!

— Sim, quero dizer... Vai ser um sonho ficar com a herança toda para mim! — ele bate no volante com raiva e para no sinal, então me encara como se quisesse me matar — Eduardo, não viaja... Eu não vou te cobrir, afinal estou no mesmo barco que você, ou você acha que eu também não tenho minhas necessidades?

— É diferente, e além do mais, você acha que eu não sei que aquele seu "amiguinho" de merda anda te fodendo?!

— O quê?! Que amiguinho?! Você pirou de vez?!

— Não pense que eu sou burro, André... Até um cego conseguiria ver os olhares que vocês trocaram naquele dia que ele foi à mansão levar os pedaços de torta! Ou você acha que só porque eu não sou gay não consigo perceber esse tipo de coisa?! Eu consigo até imaginar o que vocês fazem só pelo jeito que ele te olha...

— Você está falando do Edward?! — pergunto rindo, porque é muito ridículo; quero dizer, quem me dera, mas é meio impossível agora.

— Não, estou falando do príncipe Harry.

— Vem cá, você é idiota assim mesmo ou só se faz?! — digo rindo — Ou... não me diga que está com ciúmes?!

— Vai sonhando, princesa... Eu tô é muito puto, isso sim! Porque você fica por aí deixando os outros te comerem enquanto eu fico em casa, só na vontade!

— Acho melhor você parar de fantasiar coisas que não existem, antes que se espalhem boatos e eu acabe perdendo minha parte por alguma bobagem que você disse... E pro seu governo, a monitoria me segue onde quer que eu vá, então, a não ser que eu transe com ele por telepatia, você pode ir se aquietando aí e começar a usar essa sua mão para se consolar, porque-não-vai-rolar, fui claro?!

— Até parece que você me engana... Sai por aí com qualquer um e agora quer pagar de santo comigo?! Faça-me um favor, né?! Quem é que ia acreditar nisso?! Cê acha que eu sou otário?! — antes de conseguir me controlar, dou uma tapa bem forte no lado direito do rosto dele, a marca dos meus dedos fica estampada na pele; ele me encara com os olhos arregalados em surpresa — Você está louco?!

— Eu só vou falar isso uma vez, então espero que você me escute com atenção... — digo soltando fumaça pelo nariz, estou com tanta raiva que minha voz está tremendo — Eu não sou como as vadias com quem você sai, Eduardo... não sou qualquer um para você falar assim comigo, e você me conhece muito pouco para dizer que eu durmo com todo mundo. Eu escolho meus parceiros a dedo e não o primeiro que me "canta", como você faz! E outra, com quem eu transo ou deixo de transar é problema meu e de mais ninguém, então você não tem que ficar resmungando como uma criança fazendo birra por causa disso... O corpo é meu e eu deixo quem eu quiser fodê-lo, entendeu?! Isso não me faz pior que você em nada, afinal sexo é sexo, não importa se é entre dois homens ou entre uma mulher e um homem.

Chegamos à mansão e ele para o carro, eu desço e dou a volta no carro abrindo o porta-malas, ele vem logo atrás de mim, com a cara emburrada e o rosto ainda vermelho pelo tapa. Pego algumas sacolas e começo a dar as costas pra ele, mas sinto meu pulso sendo segurado com força e sou forçado a voltar; minhas costas batem no carro e eu olho pra cima sem entender o que está acontecendo, mas assim que faço isso, prendo a respiração. O rosto do Eduardo está a apenas alguns centímetros do meu, ele parece perigosamente irritado e me encara com olhos tingidos de vermelho pela raiva, quando ele fala, sua voz sai baixa e calma, cortante e fria, quase como um aviso silencioso, e isso quase me faz sair correndo dali para fugir dele; sinto minhas pernas tremerem, mas me mantenho firme e seguro seu olhar.

— Certo, agora que você deixou de falar, é minha vez de falar... — ele sorri, mas o sorriso é frio e não atinge seus olhos — Quem "você" pensa que é para falar comigo assim?! Se eu não te conheço, você tão pouco me conhece também, então não julgue que, porque estamos atados a esse contrato ridículo, eu vou mudar meu jeito de ser ou começar a aceitar você... A próxima vez que você me bater, essa será a última vez que você terá uma mão para bater em alguém, entendeu?! — ele solta meu pulso e me dá as costas, pegando o restante das sacolas; meu pulso agora está dormente pelo aperto forte demais.

— A próxima vez que você me ameaçar, eu vou denunciar! — digo lhe encarando com tom de desafio, mas ele apenas me olha de lado.

— É mesmo?! Então a próxima vez que você me agredir, eu farei a mesma coisa. Agora vê se cala a boca e traz logo essas malditas sacolas para dentro.

— Você não passa de um bicho! — digo passando por ele e indo para a cozinha.

— E você de uma bicha, que ironia! É por isso que muitas morrem por aí, você mesmo merece!

Fico nervoso ao ouvir isso, pois já havia escutado de um colega de escola e foi tão doloroso quanto agora. Sinto as lágrimas ardendo na minha garganta e não consigo engoli-las de volta. Baixo rapidamente a cabeça quando a primeira delas escorre pela minha bochecha. Coloco as sacolas na cozinha e saio porta afora, indo direto para o jardim, aos prantos; estava tentando ser forte, mas Eduardo me desarmou com aquelas palavras... Era como se eu estivesse revivendo aquele pesadelo novamente.

— Algum problema? — olho para cima rapidamente e encaro um rapaz de cerca de vinte anos, que me observa com um semblante preocupado. — Você está bem?

— Se eu estou chorando, claro que não estou bem!

— Nossa, foi mal!

— Por que você está aqui?!

— Eu sou o jardineiro, seria estranho se eu não estivesse aqui, você não acha?! — limpo algumas lágrimas insistentes e me recomponho.

— Como é que eu nunca te vi?!

— Tive uns problemas de família... Meu irmão faleceu.

— Nossa, eu sinto muito, de verdade!

— Mas vim cuidar dessas belezuras hoje! — ele sorri de maneira gentil e eu o acompanho com um sorriso tímido.

— Eu sei como é... Amo esse jardim!

— E então... — ele parece um pouco cauteloso — por que você estava chorando?

— Porque, aparentemente, algumas pessoas não sabem o quanto certas palavras ferem.

— Você é empregado daqui?

— Na verdade, sou meio que o dono!

— Ah, então você deve ser o André?!

— Como sabe meu nome?

— A equipe de monitoramento me avisou, mas confesso que esperava alguém mais... presunçoso?!

— E então, a monitoria te contou o porquê de eu estar aqui?

— Sim!

— Ah, tá... Isso me poupa o trabalho de explicar, não é?! — dou uma risada sem graça — Mas, como você se chama?

— Leonardo!

— Prazer, Léo! — sorrio para ele, mas ainda penso nas palavras de Eduardo.

— Bom, acho que vou voltar ao trabalho.

— E eu vou dar uma volta de patins.

— Foi um prazer te conhecer!

— Igualmente!

****

A brisa fria toca minhas bochechas enquanto patino calmamente pela praça, o fone de ouvido faz seu papel enquanto “Sua cara” toca alto; o horizonte já começa a assumir os tons alaranjados do pôr do sol e os últimos vestígios de luz natural tingem de dourado os telhados e as árvores ao redor, isso me faz me sentir um pouco melhor e mais tranquilo, até me ajudando a esquecer, por um tempo, o motivo de estar tão irritado.

Estou meio perdido em meus pensamentos, ultimamente ando muito distraído e talvez seja porque minha vida está um verdadeiro caos, e o pior de tudo é que eu não posso fazer nada para mudar essa situação ridícula... Me sinto impotente e inútil. Claro, eu poderia simplesmente começar a ignorar o Eduardo, mas talvez isso só piore ainda mais nossa convivência e, sinceramente, não quero sofrer e me estressar ainda mais.

Solto um suspiro, me sentindo exausto psicologicamente, e decido que já é hora de voltar para casa. Sento em um banco e retiro meus patins, colocando minhas chinelas; caminho calmamente pelas calçadas observando meu novo bairro; é um lugar bem agradável, eu realmente gostaria de estar casado com alguém de minha escolha para poder ser feliz aqui.

Chego em casa por volta das quatro e meia da tarde e o Gustavo ainda está largado no sofá. Reviro os olhos e vou para o quarto, mas não vejo nem sinal do idiota número 1. Dou de ombros, não me importando muito com sua ausência e até agradecendo por isso. Então, tomo um banho e me troco; desço para a cozinha, já que preciso preparar o jantar, e enquanto misturo alguns temperos, Gustavo entra no cômodo, como se não fosse nada demais, senta em um banco e me observa por alguns minutos. Me sinto realmente desconfortável, pois consigo perceber que ele está me encarando, mas finjo não me importar. Então, ele se levanta e começa a procurar algo.

— Tem algo para comer aqui?

— Tem bolo... e mousse no congelador. — depois de uma pausa onde repenso o que disse, me corrijo — Quer dizer, tinha... Mas não sei se ainda tem, pode já ter sido devorado, sabe?!

— Obaaa! — uno as sobrancelhas, desgostoso; tem algo realmente irritante nesse cara — O bolo ainda tá quase inteiro... — ele diz, abrindo a geladeira, pega refrigerante e volta a se sentar — E então, o que você está fazendo?

— O jantar!

— Hum... Posso te fazer uma pergunta?

— Pode! — como se já não bastasse tudo o que tenho que aguentar do Eduardo, ainda tenho que lidar com os idiotas que ele chama de “amigos”.

— Você transa com o Eduardo?! — imediatamente, congelo, largo o que estou fazendo e viro lentamente para encará-lo, mas ele parece bem despreocupado enquanto come um pedaço de bolo.

— Por que você pergunta?!

— Curiosidade?!

— Não, nós não transamos! — respondo secamente.

— E eu posso saber o por quê? Afinal, vocês são casados, não é?! — volto a dar as costas a ele e engulo em seco; se ele está perguntando isso, é porque o Eduardo não contou a ele sobre o contrato — De qualquer forma, o Eduardo me disse que vocês transavam, por isso fiquei curioso... Sabe como é, né?! Ele era hétero e agora está casado e até transa com outro cara, isso é no mínimo estranho! Então, eu só queria saber se o sexo é tão bom ao ponto de o gênero não importar, sabe?! Tipo, é tão bom que dá pra ignorar o fato de ser um cara...?! — o encaro com nojo, afinal, quem pergunta isso assim?! E se ele quer saber esse tipo de coisa, deveria perguntar diretamente ao Eduardo, não a mim.

— É, pois é, foi mal, eu só não gosto de falar sobre nossa intimidade com estranhos, mas sim, nós transamos... Isso não quer dizer que eu goste de ficar espalhando isso por aí, é algo pessoal! — tento disfarçar, afinal, nem todo mundo pode saber sobre o testamento e essa história louca e quase solto o que não deveria... Preciso me controlar.

— Ah, tá, foi mal, eu não sabia que você era tímido. — ele sorri de maneira maliciosa e eu uno as sobrancelhas tentando controlar o meu nível de irritabilidade — É só que o Eduardo falou pra gente que você é insano na cama, que deixa ele maluco, então não imaginei toda essa timidez... Mas deve ser porque você guarda tudo pra ele, né?! Maldito sortudo... — ele me olha de cima a baixo enquanto engasgo com minha saliva diante daquela conversa absurda — Acho que eu também não me importaria se fosse com você.

— Ele disse que transava comigo?!

— Pois é! Tenho certeza que ele estava até de pau duro na hora. — Gustavo ri, aparentemente se lembrando do momento, mas eu permaneço totalmente confuso — Olha, pra ser sincero, sempre pensei que ele fosse realmente gay, mas não diz isso pra ele! Mas, no fundo, até entendo ele.

— Hum... — dou um sorriso amarelo tentando disfarçar meu desconforto.

— Acho que ele tem razão...!

— “Razão” sobre o quê? — pergunto, sem muito interesse, afinal, não é como se a conversa estivesse boa.

— Sobre você ter uma bunda delic... — ele para e repensa as palavras — Quero dizer, sua bunda é realmente bonita, grande... redondinha! — arregalo os olhos, encarando-o; aquele maldito disse o quê sobre a minha bunda para aqueles amigos tarados dele?! — Acho que tô começando a entender ele...! Você malha muito para manter ela assim? — respiro fundo tentando organizar meus pensamentos que estão a mil.

— Não, comecei a malhar há poucos dias!

— É silicone?

— Deus me livre!

— Então, é tudo natural mesmo?!

— Sim! — respondo com grosseria; por que ele tem que ser tão idiota, meu Deus?!

— Posso pegar pra ter certeza?!

— Nunca! — ele ri, dando de ombros.

— Bom, bem que eu tentei. — ele me encara, ficando sério, e percebo um convite silencioso. Ele está quase dizendo com os olhos: "Se você quiser, eu quero" — De qualquer forma, eu só estava brincando, não pegaria na bunda do marido do meu amigo.

__________________________________________

Finalmente, após uma exaustiva tarde na cozinha, termino de me preparar. Depois de um longo banho e alguns minutos escolhendo minha roupa, estou pronto e, sem querer me vangloriar, mas me sinto deslumbrante, um verdadeiro espetáculo. Essa calça skinny preta que eu comprei destaca o que tenho de melhor e, combinada com essa camisa de gola V que revela um pouco mais minhas clavículas e deixa meu pescoço mais exposto que o normal, me sinto empoderado. Coloco um colar de prata discreto, mas que dá o toque final ao meu visual, junto com um relógio de pulso também prateado, então desço para a sala e encontro o Eduardo, que está conversando animadamente com o Gustavo; reviro os olhos e me sento em uma poltrona enquanto mexo no celular, ignorando-os completamente, pois já não aguento mais olhar para esses dois.

A campainha finalmente toca e eu corro para abrir a porta... Finalmente, chegou o momento mais aguardado da minha noite...

— Edward... oi. — sorrio de forma tímida — Entra, por favor.

— Hunf... Uau! — ele continua parado na porta e me examina de cima a baixo, mordendo o lábio inferior e apertando levemente os olhos.

— Algum problema?

— Não! Quer dizer, acho que pode-se dizer que é um problema, hum?! — ele diz depois de uma pausa.

— E qual seria?! Aconteceu alguma coisa?!

— É só que... você está impressionante, mas já é casado! — ele diz, fingindo tristeza, e eu sorrio, sentindo meu rosto esquentar.

— Bobo... eu diria o mesmo, você está muito atraente... — porra, ia falar besteira... Me recomponho e limpo a garganta, reformulando minha frase de uma forma mais apropriada para um “homem casado” — Muito... elegante! — ele ergue as sobrancelhas e me lança um sorriso de lado que vai direto ao meu coração.

— Bem, com licença. — ele se dirige ao sofá e se senta — Boa noite, rapazes!

— Boa! — Eduardo responde secamente, como o deserto do Saara, me deixando envergonhado com sua falta de educação.

— Boa noite! — Gustavo responde, mais amigável que o amigo... ainda bem.

— Edward, este é o Gustavo, um amigo do Eduardo. — me sento ao lado de Edward — Gustavo, este é o Edward, nosso vizinho e um... bom amigo meu! — eles acenam com a cabeça.

— Então, você também mora por aqui?!

— Pois é, mas só na casa da frente, não é nada demais!

— Nada demais para quem?! Afinal, não dá para competir com uma mansão, né?! — Gustavo ri de maneira amigável, o que deixa o clima mais leve — Mas, pelo que eu vi, todas as casas aqui têm essa vibe, mesmo não sendo mansões.

— É, pode ser. — Edward ri de volta e começo a me sentir mais à vontade.

— Quando nós vamos jantar? — Eduardo interrompe a conversa dos dois, e Gustavo o olha com as sobrancelhas erguidas, enquanto eu o fuzilo com o olhar.

— Bom, eu também estou ansioso por isso, estou morrendo de fome! — Gustavo fala ainda encarando o amigo de uma forma estranha.

— Assim o Edward vai pensar que nesta casa todo mundo passa fome! — digo, olhando para os dois com raiva, mas me levanto antes que eles me façam passar mais vergonha — Vamos, antes que vocês me envergonhem ainda mais, se é que isso é possível!

— Não vejo o porquê de toda essa frescura com o Edward, até parece que ele já não veio aqui... — o encaro sério, realmente começando a ficar com raiva.

— Essa “frescura” que você fala, Eduardo, se chama “modos”, e se eu os tenho com o Edward, é porque ele foi a única coisa boa que aconteceu desde que vim morar aqui e o único que me trata com o devido respeito. — Edward sorri — Afinal, se não fosse por ele, eu teria gastado uma fortuna para ir à faculdade, já que meu “maridinho” só começou a me ajudar depois de uma série de ameaças e discussões. Você devia até agradecer a ele também.

— Escuta, eu estou cansado dessa sua língua maior que o corpo, tá ligado?! Tô cansado de viver com a sua audácia e todo esse moral infundado que você tem... Agradecer a ele?! Pelo quê?! Será mesmo que a “ajuda” dele foi de graça ou você “deu algo” a ele que não pode me contar?! Que respeito você está me cobrando se você mesmo, como alguém casado, não tem para com o seu marido, saindo com um e outro quando já é comprometido... Você quer me envergonhar, é isso?! Foi você que veio morar na porra da minha casa, e eu estava bem sem você, aí me obrigam a casar com um cara, mesmo sem eu ser gay, e eu ainda tenho que suportar você flertando com outro homem dentro da porra da minha casa, na frente do meu amigo, como se eu fosse um puto idiota?! Você está tentando testar minha paciência ou quer mesmo que eu te bata?! É masoquista também?! Só me faltava isso; é ainda mais pervertido do que eu imaginei, como se já não bastasse ser gay...!

— Quem está cansado dessa merda de atitude sou eu, seu filho da puta. Não suporto mais conviver com um garoto que tenta provar a si mesmo que é um homem, que me humilha só por causa da minha orientação sexual! Desde quando os gays são menos humanos que os héteros?! Acha mesmo que eu escolheria isso se tivesse outra opção?! Estar vinculado a um idiota de mente pequena e limitada, que ainda vive na Era Medieval e se recusa a evoluir e aceitar que o amor não tem gênero, era a última coisa que eu queria nesse mundo, mas aqui estou eu, exatamente onde eu menos queria estar. Você não passa de um pirralho mal amado que tenta se sentir melhor pisando nos outros. Você quer saber...?! Sim, eu transaria de boa com o Edward e não me arrependeria nem um pouco, e tenho certeza que ele me satisfaria de um jeito que você jamais faria, mesmo que tentasse por mil anos; é por isso que está com tanta raiva, porque seu orgulho de merda está ferido! — sinto minhas lágrimas ameaçarem cair e tento me manter firme — Mesmo que só existisse você no mundo, eu não te escolheria!

— Retire o que você disse, agora! — ele vem para cima de mim e segura meus pulsos, sua perna fica entre os meus me obrigando a me apoiar no corpo dele e sinto sua respiração descompassada bater contra o meu rosto, seus olhos brilham de raiva.

— Gente, calma!

— Cala a porra da boca, maldito ladrão de maridos. — ele fala com Edward, mas não deixa de me encarar como se quisesse me devorar.

— Como é?!

— O quê, é uma conspiração?! — ele finalmente me larga e vira para olhar para o Edward, rindo sem humor algum — Você também pensa que eu sou um idiota?! Acha que eu não vejo o modo como vocês se olham?! Precisam de um quarto ou o sofá serve?!

— O quê?! Não, Eduardo, olha...

— Se você olhar um pouquinho mais, talvez consiga fazer ele gozar já que ele diz que você é assim tão bom...

— Tudo o que eu quero no momento é a amizade do André, nada além disso, Eduardo, e o que ele disse foi apenas uma suposição... Eu conheço o meu lugar e não faria isso sabendo que ele é comprometido, porque não gostaria que fizessem isso comigo também.

— Eu não sou um maldito idiota, cara!

— Mas tá parecendo! Vê se cresce e para de choramingar como uma criança... O André merece um homem de verdade ao lado dele e não um pirralho idiota que não sabe o que quer. Se você está com ciúmes de mim, devia agir como marido dele e fazer o que não quer que eu faça...

Eu não tenho tempo nem de piscar antes de ver o Eduardo partir para cima do Edward e lhe dar um soco no nariz; ambos caem no chão agarrados enquanto o Gustavo tenta separá-los. Sinto minhas mãos tremerem e as lágrimas queimarem na garganta, minha noite está arruinada; o que era para ser uma noite perfeita acabou de virar o caos que eu temia.

Continua...

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