O calor me acordou primeiro. Meu corpo estava febril. Pisquei os olhos, ainda meio grogue, e levei alguns segundos para perceber o que estava acontecendo. Tentava abrir os olhos, mas eles estavam pesados, como se meu corpo não quisesse deixar a visão do sonho ir embora. Tentei me mover, mas meu corpo parecia relutante em se afastar daquele estado quase onírico.
Meus sonhos haviam sido caóticos e vívidos. Fragmentos de imagens que se misturavam. César me olhando do jeito que só ele sabe, me tocando com força, sussurrando coisas no meu ouvido que eu não conseguia decifrar. Cada toque parecia tão real. Em um momento, me vi no lugar da mulher que havia estado com ele na noite anterior. Durante o sonho eu estava novamente na cama escondida, mas dessa vez estava me assistindo chupar César e recebendo seu esperma no meu rosto.
Sempre que os pensamentos ficavam intensos minha mente trazia Saul. Meu marido estava em casa, sozinho, talvez preocupado em como eu estava lidando com tudo aquilo. Ele saber do que estava acontecendo me tirava um pouco da culpa mas não me trazia paz.
Então minha reflexão foi interrompida por um cheiro. Familiar e inebriante, como um fantasma do que eu tinha visto e sentido durante a noite. Quando olhei para o lado, vi a cueca de César repousando perto do meu rosto no travesseiro.
Olhei para minha frente, para a cama do outro lado e vi César, já acordado, sentado e mexendo no celular. Antes que eu pudesse me mover, ele me olhou e com sua voz baixa e rouca perguntou:
- Dormiu bem?
Ele tinha um sorriso enviesado brincando nos lábios. Seus olhos passaram rapidamente por mim, e só então percebi o resto: meu short de algodão havia subido nas coxas, deixando parte da minha buceta visível. Minha camisa de pijama estava enrolada, expondo minha barriga e parte de um dos seios. Eu devia ter me movido muito durante a noite para acabar naquele estado.
- Pijamas bonito. - César comentou
A forma como ele olhava para mim não era como alguém que faz um comentário qualquer, havia um peso diferente, uma intensidade no olhar dele que me fez sentir nua.
Instintivamente, tentei me ajeitar, puxando a barra do short para baixo e alisando a camisa para cobrir mais minha barriga, mas os movimentos apressados só fizeram a camisa deslizar ainda mais, revelando por um segundo meu outro seio quase completo.
Os olhos de César acompanharam cada detalhe com uma naturalidade descarada. Ele não desviou o olhar nem tentou disfarçar. Pelo contrário, o sorriso enviesado se alargou.
- Obrigada… — Murmurei, minha voz saindo mais hesitante do que eu queria.
Usar aquele pijama havia sido uma péssima ideia. Sabe se lá há quanto tempo César havia acordado e me visto daquele jeito. Teve todo o tempo do mundo para olhar, se quisesse, todos os detalhes que o pijama deixa visível, além dos que eu expus sem querer enquanto dormia. E agora eu estava ali, me debatendo entre a vergonha de ser vista tão exposta e um calor estranho que crescia dentro de mim.
César ergueu uma sobrancelha, como se se divertisse com a minha reação.
- Não imaginava que você usava esse tipo de roupa para dormir. - Ele comentou casualmente, mas o olhar dele dizia outra coisa.
Engoli em seco. Eu não usava. Não até Saul me convencer. Não até a confusão dentro de mim me fazer experimentar.
- Suas roupas são tão conservadoras no trabalho que a única coisa que eu podia fazer era imaginar o que você escondia por baixo de tanto tecido. Ainda assim é bem surpreendente que você é tão...
Ele fez uma pausa e passeou com o olhar vagarosamente pelo meu corpo.
- Com todo respeito, claro, porque sei que você é casada. Mas tenho inveja dele já que ele pode fazer mais do que olhar.
Me arrepiei dos pés a cabeça. Eu não conseguia acreditar nos meus ouvidos. Aquilo era um sonho? Tinha que ser porque eu não conseguia reagir, não conseguia me mexer.
Ele riu baixinho ao perceber meu desconforto e passou a língua nos lábios.
- Você sempre costuma fazer barulhos quando dorme? - Perguntou.
- Que barulhos? - Questionei, assustada.
- No começo achei que podia ser algum pesadelo mas seu tom não parecia de medo, então preferi não atrapalhar.
Minha respiração ficou presa na garganta. A que tom ele se referia?
- Deve ter sido algum pesadelo, não lembro. - Gaguejei.
- Pesadelo não era, disso tenho certeza.
Fiquei sem saber como rebater.
- Não te acordei ontem quando cheguei, acordei? Acabei passando da conta na bebida e fazendo coisas que não queria ter feito.
- Não, dormi a noite inteira e não vi quando você chegou. - O interrompi desesperada.
- Eu deveria ter vindo para o quarto mais cedo, aproveitado que você estava aqui. Faz tempo que a gente não se vê, não bate um papo.
Seguia sem saber como reagir nem o que falar. Era muita informação e meu corpo queria agir por conta própria, me fazendo suar, me dando um calor e me fazendo pensar que a única coisa que eu deveria fazer era começar a tirar minha roupa.
- Quando vi seu nome na planilha sem dupla quase não acreditei, não pude deixar a oportunidade de te conhecer melhor passar.
Então ele levantou da sua cama e sentou na minha, perto das minhas pernas.
- Você não respondeu, dormiu bem?
Mesmo por cima do lençol, o peso do seu corpo se encostando nas minhas pernas era um toque que me fez suar em dobro. Meu corpo reagia e se pudesse escrever algo na minha testa estaria em letras garrafais a frase: ME COME.
- Dormi. - Respondi, gaguejando.
O sorriso que ele dava ao me ver constrangida era sempre o mesmo. Ele colocou a mão em cima de mim, por cima do lençol, tocando minha cintura. Era impossível aquilo tudo ser acidental. A frase que expressei ontem antes de gozar veio com todas as forças na minha mente: "César, se você quiser me comer agora você me come. Quero fazer tudo que você quiser!". Segurei as palavras que estavam na ponta da minha língua. Ele me olhava nos olhos, em silêncio, como se soubesse que eu queria dizer algo a mais.
- Hoje o dia é cheio, não é? - Ele disse e interrompeu minha batalha interna. Talvez se tivesse ficado em silêncio por mais meio segundo eu teria dito minha frase.
- Oi? - Perguntei, sem ter entendido direito porque minha mente e meu corpo estava completamente focada no peso da sua mão me tocando.
- As palestras obrigatórias que precisamos comparecer.
- Ah, é...
- Alguém já disse que você fica linda quando acorda?
- Alguém? Não. - Respondi, pega de surpresa pela pergunta.
Ele seguiu sorrindo e me olhando. Eu estava me segurando como podia para não soltar um "me come agora, por favor". Então senti um odor familiar e instintivamente olhei para o lado, fugindo do olhar de César e indo verificar de onde vinha o cheiro. A cueca dele seguia do meu lado, evidente, exposta, e César a tinha visto durante todos esses momentos. Olhei de volta para ele e seu sorriso agora era de satisfação. Como eu poderia justificar aquilo?
- O que é isso? - Perguntei.
- Parece uma das minhas cuecas, mas é obvio que não é.
- É. - Concordei rápido.
- Parece muito. Se por acaso for e ela tenha caído e se perdido, você devolve quando puder?
Aquilo parecia um jogo. E eu estava de alguma forma perdendo de lavada. Me sentia a garota boba na frente de um homem e que não adiantava eu me esconder.
- Não é. - Tentei, em vão, seguir negando.
- Tudo bem. - Ele disse e levantou. - Preciso tomar banho, está tarde e vamos nos atrasar.
César seguiu até o banheiro mas parou na porta.
- Acho que pode ser mais rápido se tomarmos banho juntos, o que acha?
Fiquei imóvel na cama, eu tinha ouvido direito?
- Brincadeira. - Ele disse rindo, após uns segundos desconfortáveis. - Mas vou deixar a porta aberta caso você esteja com pressa.
Como eu poderia acreditar nos meus ouvidos? A porta do banheiro seguiu escancarada enquanto eu podia ver claramente César se despindo. Com a luz do banheiro ligada e a luz do sol entrando pela janela seus traços, seus músculos e seu corpo forte era ainda mais nítido que antes. Vi suas costas largas caminhando até o chuveiro e em seguida se virando pra mim. Podia, mesmo a distância, ver seu pau se destacando. Seu corpo era liso e sem pelos. O sorriso de satisfação não saia do seu rosto provavelmente ao perceber que eu não conseguia ficar sem olhar.
César começou a se molhar. A água escorrendo pelo seu corpo. Sem vergonha nenhuma, vi quando ele começou a se tocar. Seu pau ficou duro, imponente, pronto para ser usado.
- Vem, Angélica! Aqui pode ficar apertado mas tenho certeza que cabe nós dois, não acha?
O convite não poderia ser mais explícito. Aquela era a tentação máxima. Meu corpo queria levantar sozinho e entrar naquele banheiro, descobrir o que César queria tomando banho comigo. Colar seu corpo no meu. Me penetrar, centímetro por centímetro, com aquele pau perfeito. Me fazer de sua. Derramar todo aquele esperma, a quantidade que eu sabia que ele sabia produzir, dentro de mim.
Até aquele momento eu nunca havia sentido na minha vida a vontade, a necessidade, de ter outro homem gozando dentro de mim. Tentei lembrar de Saul mas naquele momento minha mente não abria espaço para nada. Minhas pernas se moveram e em minha consciência era travada a grande guerra. Poderia dar aquele passo e me entregar a tentação mestre, era o nível máximo. Atravessaria aquele portal de pecado e mergulharia no poço de coisas proibidas, coisas inimagináveis, coisas que nunca achei que pensaria em fazer, mas e depois? Como seria o depois? Valeria a pena entrar naquele terreno desconhecido em troca de ter a experiência mais gostosa da minha vida?
Levantei da cama e César sorriu. Estava a poucos passos da entrada do banheiro onde saberia que César faria de tudo comigo. Ele era um deus grego que faria coisas que eu sabia que minha imaginação nem tinha a ousadia de criar. Eu necessitava daquilo.
No caminho consegui lembrar de Saul, não podia fazer aquilo com ele. Corri para pegar meu celular que estava carregando na cabeceira da cama e mandei uma mensagem. Como era sábado, ele ainda devia estar dormindo. Mandei mais uma. Nada. Então resolvi ligar. Precisava ouvir sua voz. Precisava ouvi-lo me proibir de fazer aquilo, de lembrar do nosso casamento, de como era resistir as tentações.
Olhei para o banheiro e César seguia tomando banho, me seduzindo a distância. O telefone seguia chamando... Saul precisava me dizer o que fazer. Olhei de novo para César. Saul não atendia. Comecei a imaginar o que ele poderia me dizer. Talvez falasse que eu precisasse ceder a tentação, que precisasse aprender algo daquilo. Que nossa relação sairia fortalecida. É, talvez ele me falasse tudo isso. Afinal, em nenhum momento ali eu pensei em abandonar meu marido. Era como se eu fosse duas Angélicas diferentes. A esposa que põe o marido acima de tudo, que é fiel e resiste a qualquer desejo para cumprir sua missão de mulher. E outra, que nasceu do toque de César, que tem uma sede de um prazer desconhecido, que quer explorar e abrir portas, que quer matar a curiosidade e sentir coisas que nunca teve a coragem de sonhar.
Que quer o pau de César dentro dela mais do que tudo no mundo.
Me virei para a parede porque César sem roupa na minha visão periférica era demais. Fechei os olhos, tentando com a força do pensamento trazer Saul ao telefone. Nada. Liguei novamente. Nada. Mais uma vez...
Por um momento pareceu que tudo sumiu ao meu redor e meus pensamentos ficaram claros. O que era aquela situação? César queria transar comigo. E o que aconteceria depois? Precisaria que Saul entendesse que eu cai na tentação e eu sentia que ele entenderia, afinal, foi ele que insistiu que eu viesse e enfrentasse isso. A única certeza que eu sentia no meu coração era que, poderia cair em qualquer tentação e isso não me mudaria. Eu continuaria sendo a esposa fiel a meu marido. As tentações da carne seriam apenas isso, tentações. Eu não sentia que estava falhando com Saul, pelo contrário, cair na tentação ao mesmo tempo que saio dela firme, com nosso relacionamento sólido como uma montanha, só provava a força que tínhamos.
Eu havia decidido fazer amor com César.
Quando olhei para trás e ele já estava vestido, pegando suas coisas para sair.
- A água está ótima! Pena que você perdeu a chance de dividir comigo. - Ele disse e saiu apressado.
Não consegui reagir. O som da porta se fechando era um anti-clímax horrível. Larguei o celular na escrivaninha ao lado da cama e me joguei na cama.
Encarei a parede do quarto do hotel e, antes que pudesse refletir, vi os ponteiros do relógio gritando que eu estava atrasada. César não estava mentindo, eu precisava me arrumar para participar das palestras que iam se iniciar em menos de cinco minutos.
Durante as palestras Saul me mandou mensagem ao acordar perguntando se estava tudo bem. Ainda me sentia meio zonza por toda a situação. Meu olhar procurava César e eu não conseguia encontra-lo em meio a multidão.
Comecei a contando a Saul sobre ter sido acordada e não conseguir parar de olhar a garota fazendo sexo oral em César.
- Eu não sabia o que esperar, mas sabia que a tentação poderia ser forte. - Ele respondeu. - Você apenas olhou e não sentiu mais nada?
Ele sabia que tinha que haver algo a mais e eu precisei confessar que desejei e me imaginei no lugar da garota.
- Eu desconfiava mas não é bom ouvir que sua esposa sente algo tão forte por outro homem dessa forma.
Aquela mensagem me preocupou, eu ainda não havia contado as piores partes do que fiz.
- Me dá alguns minutos para pensar melhor? - Ele completou.
Fiquei apreensiva imaginando como meu marido estava. Senti vontade de voltar para casa, olhar em seus olhos, dizer que o amava.
- Saul? - Mandei uma mensagem preocupada com a demora.
Mais uns cinco minutos se passaram.
- Estou aqui. Fico feliz que você esteja me contando tudo, só fortalece a nossa relação de confiança. Aconteceu mais alguma coisa? Você pode me contar. Até os detalhes.
Falei da cueca, de como fiquei curiosa e a acabei pegando. Antes de contar que senti seu cheiro e até seu sabor, tentei analisar a reação de Saul.
- Ela ainda estava molhada quando você a pegou?
Achei a pergunta peculiar, mas respondi que sim. Saul demorou mais uns minutos e perguntou.
- E como você se sentiu? Foi a primeira vez que tocou no líquido de um homem diferente.
Ele tinha razão. Confessei que me senti suja, como se fizesse algo extremamente proibido. Que de um lado, havia um julgamento mortal pelo que eu havia acabado de fazer, e de outro uma curiosidade pelo desconhecido e todas aquelas sensações novas.
- Não seja dura consigo. As tentações são como um rio represado - quanto mais você tenta segurá-lo, mais forte ele se torna. Deixar fluir não significa ser arrastada, mas entender a correnteza. E o que você fez depois?
Mesmo com vergonha, falei que havia sentido o cheiro e o sabor. Saul me deixou sem resposta por mais um tempo e em seguida disse:
- E gostou?
Era uma boa pergunta. O cheiro de homem na cueca era parecido com o que eu sentia nas de Saul. E o sabor de esperma também era quase o mesmo. E, quando isso vinha do meu marido, não era uma das minhas coisas favoritas. Era o cheiro que Saul deixava nas fronhas dos travesseiros do sofá, nos lençóis da cama e em outros cantos da casa depois que se masturbava e se limpava. Ele achava que eu não percebia mas o odor era característico e me obrigava a de vez em quando estar trocando lençóis e fronhas.
Falei para ele que o que mais me excitou era a situação, a sensação de estar cometendo aquele ato era indescritível.
- O proibido sempre teve esse poder sobre nós. O desejo por aquilo que não podemos ter nos provoca e, às vezes, até nos consome. Não quero te ver sofrendo por isso, Angélica. Talvez isso seja parte de uma provação. Um teste da carne, não só para você, mas para nós dois.
Então contei dos sonhos intensos. Saul outra vez demorou a responder.
- Desde o início, o casamento é sobre resistir juntos. Mas também acredito que certas tentações nos moldam. Estou feliz que estamos passando por isso juntos.
Comecei a ficar mais otimista e menos culpada graças as reações de Saul. Ele parecia sóbrio, não me julgava e parecia até compreender a razão de eu estar passando por aquilo e tendo tanta dificuldade para resistir.
- Também estou muito feliz de ter você ao meu lado em um momento como esse. - Falei.
Aí comecei a falar da manhã. Descrevi a cena e falei do convite de César para o banho.
- Foi por isso que você mandou mensagem e me ligou logo cedo? - Ele interrompeu a história.
Respondi que sim.
- Eu sabia que esse desejo poderia crescer dentro de você… mas não sei se devemos temê-lo ou aceitá-lo como parte do caminho que estamos trilhando. Não posso dizer que estou completamente tranquilo, mas também não posso negar que isso pode nos fortalecer. Você está se descobrindo, e a vontade de sentir, de experimentar, faz parte da natureza humana. O importante é que, mesmo quando se perde por um momento, sempre há um caminho de volta.
Eu franzi a testa. Ele achava que eu realmente tinha aceitado o convite e entrado no banho com César?
- A tentação não existe para nos afastar, mas para nos testar. Se fosse fácil ignorá-la, não precisaríamos de fé. E se você se entregou a isso… não é meu papel te julgar. O amor e o perdão são maiores do que qualquer erro, e o que importa agora é que ainda estamos aqui. Nosso relacionamento é forte, Angélica. Mas me diga… você ainda me vê ao seu lado? Ainda enxerga em mim o homem com quem quer continuar essa caminhada?
- Claro que te vejo ao meu lado, não existe tentação ou prazer de momento que não me faça querer estar ao seu lado. Eu te amo. - Respondi.
- E é só isso que eu precisava ouvir.
Então era assim que meu marido reagiria se naquela manhã eu não tivesse me segurado? Me senti mal quando me dei conta que meu primeiro pensamento era de que eu tinha perdido a chance. Mas ainda era errado assim ter ficado com César se Saul reagiria assim? Qual seria o peso do sexo que tínhamos feito? Talvez fosse até melhor e eu me curasse desse desejo proibido, dessa tentação profunda.
- Agora me conta como foi que aconteceu.
Eu queria poder contar para Saul em detalhes como César e eu tomamos um banho demorado onde ele me tocou em todas as partes do meu corpo, mas essa não era a verdade. Eu estava frustrada.
- Não aconteceu. Eu te liguei para ouvir sua opinião, não para contar que havia feito alguma coisa. - Falei.
- Sério? - Ele estava surpreso.
Sabendo que ele já havia me perdoado por algo que nem fiz, confessei sem pudores que estava indo quando no meio do caminho pensei nele e decidi que não podia fazer algo tão importante como aquilo sem ouvir sua opinião.
- Você teria me mandado ir se tivesse atendido minha ligação? - Perguntei.
Dessa vez Saul demorou mais um bocado para responder.
- É difícil dizer. Não sei o que faria se ouvisse sua voz me perguntando se poderia ficar íntima assim de outro homem. Mas se você me perguntasse agora... Principalmente depois de tudo que falamos... Eu não consigo responder.
Saul em alguns momentos parecia seguro, já em outros, parecia querer evitar a situação. Mas era compreensível, que marido teria aquela conversa e aceitaria sua esposa fazendo que eu estava fazendo?
- Você lembra do que sempre ouvimos sobre tentação? Que, quando fugimos dela, nos tornamos mais fortes? Mas e se, às vezes, fugir só faz ela crescer ainda mais? Se o medo de pecar nos faz pensar no pecado mais do que deveríamos?
Ele estava racionalizando algo que parecia impossível de racionalizar.
- Não sei. Mas sinto que essa situação não vai sumir só porque você não entrou naquele banheiro. Nós dois ainda estamos aqui, ainda estamos pensando nisso. E eu ainda estou tentando entender o que significa. - Ele continuou.
- Eu não quero que isso nos afaste, Saul. - Falei.
- Eu também não. Mas não podemos fingir que nada aconteceu. Você sentiu tudo isso. E eu senti tudo isso com você.
- O que você quer dizer?
Houve uma longa pausa antes da resposta dele.
- Só estou dizendo que estou aqui. E que eu quero que você continue sendo sincera comigo. Quero saber tudo. Quero que a gente passe por isso juntos, seja lá o que isso signifique. Você promete?
- Eu prometo. - Respondi.
Enviei a mensagem e olhei ao redor. As palestras continuavam e eu ainda não tinha visto César desde o ocorrido. Ainda não sabia como seria encará-lo depois de tudo. Ainda mais agora depois de conversar com Saul. Parte do meu corpo queria revê-lo, leva-lo para o banheiro e tomar um banho demorado. Me arrepiei ao ter esse pensamento e tentei afasta-lo, não era certo, eu não devia...