O auditório do hotel era imponente, um espaço luxuoso e bem iluminado, com poltronas confortáveis dispostas em fileiras simétricas. O palco principal se destacava pelo grande telão ao fundo, onde o logotipo do Conselho Federal de Odontologia (CFO) reluzia em tons de vermelho e prata. O som ambiente era preenchido por conversas formais entre profissionais renomados, cumprimentos, risadas discretas e o amassar de copos descartáveis sendo levados às bocas ansiosas por café.
Clara entrou ao lado do Dr. Paulo Queiroz e de seu filho, Otávio. A presença do respeitado cirurgião-dentista atraía olhares e acenos respeitosos. Muitos dos presentes o reconheciam imediatamente e faziam questão de cumprimentá-lo, reverenciando sua trajetória e influência na área odontológica.
— Paulo Queiroz! Que honra tê-lo aqui novamente! — um dos organizadores do evento se aproximou, um sorriso entusiasmado no rosto — Fizemos questão de reservar um lugar especial para você. Venham comigo.
Os três foram conduzidos até a primeira fileira, onde poltronas acolchoadas aguardavam. Clara sentiu o coração acelerar quando percebeu que Otávio fez questão de sentar-se ao seu lado, deixando seu pai do outro lado.
Ela sabia que não deveria se incomodar com isso, afinal, era apenas um gesto natural. Mas o problema era que seu corpo reagia antes que sua mente pudesse racionalizar.
Otávio estava próximo o suficiente para que ela sentisse seu perfume amadeirado, uma fragrância discreta, mas marcante. Ele se acomodou com a postura relaxada de quem sabia exatamente o impacto que causava ao seu redor.
O evento teve início pontualmente às 8h. As luzes se apagaram levemente, e o palco ganhou vida com a presença do presidente do CFO, que iniciou as boas-vindas aos profissionais ali reunidos. A primeira hora foi dedicada à apresentação dos avanços do último ano e à agenda de discussões que ocorreriam naqueles dois dias de evento.
Clara tentou manter a concentração, mas a mente insistia em vagar. Estava ali como convidada, sentindo-se pequena diante da grandiosidade do evento e da presença ilustre dos especialistas que a cercavam.
Além disso, havia o desconforto crescente causado pela proximidade de Otávio. Sentada ao lado dele, sentia a energia que emanava de sua presença, algo sutil, mas impossível de ignorar. Ele estava relaxado, mas atento, segurando o programa do evento com uma mão enquanto a outra descansava sobre a coxa.
Em determinado momento, Otávio se inclinou um pouco para o lado dela, reduzindo a distância entre eles.
— Tu está gostando? — ele sussurrou, a voz baixa, arrastada, quebrando o silêncio respeitoso da plateia.
Clara se virou ligeiramente, os olhos encontrando os dele por breves segundos. Otávio sorriu de leve, como se notasse sua hesitação.
— Sim, está bem interessante — respondeu, mantendo o tom formal, tentando ignorar a forma como a simples presença dele a fazia se sentir diferente.
Mas ele não desviou o olhar, e Clara sentiu um frio na espinha, como se estivesse sendo analisada além do que era visível.
O evento seguiu com a palestra e apresentação técnica, e Clara agradeceu a distração dos slides projetados no telão.
Contudo, seu corpo parecia ter adquirido uma consciência própria.
Ela percebeu que Otávio mantinha a perna próxima à sua, quase imperceptivelmente. O calor discreto daquele contato mínimo a deixava inquieta, e ela não sabia dizer se era intencional ou apenas fruto de sua própria imaginação.
A manhã transcorreu sem imprevistos, até que os organizadores anunciaram o primeiro intervalo do evento. O café da manhã foi servido no salão anexo ao auditório, onde mesas elegantemente postas aguardavam os participantes.
Clara acompanhou Paulo e Otávio, tentando ignorar os pensamentos que insistiam em rondar sua mente.
A mesa de café estava impecável, repleta de opções refinadas, desde pães recém saídos do forno a frutas selecionadas, bolos e torradas. O aroma do café forte preenchia o ambiente, criando uma atmosfera acolhedora em meio à formalidade do evento.
Enquanto serviam seus pratos, Paulo e Otávio começaram a discutir os temas abordados na palestra, especialmente os desafios enfrentados pelos profissionais da odontologia em diferentes partes do país.
Otávio, no entanto, parecia dividir sua atenção entre a conversa com o pai e os pequenos detalhes de Clara. Sempre que havia uma pausa, ele fazia questão de incluir Clara no diálogo, lançando-lhe perguntas sutis para garantir que ela se sentisse parte do momento.
— E tu, Clara? O que achou da abordagem deles sobre os avanços na implantodontia?
Clara piscou, sendo trazida de volta à conversa de forma inesperada. Ela não esperava que alguém como Otávio, com toda sua presença marcante, estivesse tão atento a ela.
— Achei interessante. Alguns dos procedimentos são bem diferentes do que eu via na clínica… — respondeu, escolhendo bem as palavras.
Otávio assentiu, os olhos cravados nos dela, como se esperasse que dissesse mais.
— E o que te surpreendeu mais? — ele insistiu, a voz suave, mas cheia de curiosidade.
Paulo apenas observava a interação entre os dois, sem interferir.
Clara hesitou por um instante. Não era exatamente a conversa em si que a deixava nervosa, mas a forma como Otávio a fazia se sentir presente, como se cada palavra dela realmente importasse.
— Acho que a questão dos novos materiais e técnicas de regeneração óssea… parece algo revolucionário.
— Sim, é um campo promissor — Otávio sorriu, e Clara sentiu uma estranha satisfação ao perceber que ele aprovara sua resposta.
Os minutos seguintes transcorreram assim, com Otávio conduzindo o diálogo de maneira quase imperceptível, mas sempre mantendo Clara envolvida e, de alguma forma, isso fez com que ela relaxasse, ou, pelo menos, quase relaxasse. Pois, enquanto ele falava, seus olhos permaneciam intensos, atentos, observando-a com uma profundidade que a fazia sentir um calor crescente sob a pele.
**********
As plenárias da manhã finalmente chegaram ao fim, e um burburinho tomou conta do auditório conforme os participantes começaram a se levantar, ajeitando seus pertences e comentando sobre os temas abordados. Clara respirou fundo, sentindo um leve cansaço após horas de apresentações intensas. Apesar disso, o dia estava longe de terminar.
O Dr. Paulo guardava algumas anotações em sua pasta quando um dos organizadores do evento, o mesmo que os recepcionara na chegada, se aproximou com um sorriso cordial.
— Dr. Paulo, o presidente do CFO gostaria de convidá-lo para um almoço com a delegação de Brasília — Ele fez uma pausa, lançando um olhar respeitoso — Será uma honra tê-lo à mesa conosco.
Paulo, acostumado a esse tipo de tratamento, apenas assentiu, fechando a pasta com calma antes de responder.
— Fico honrado pelo convite. Será um prazer.
Clara sentiu um súbito orgulho pelo patrão e mentor. Trabalhar com ele por tantos anos a fez se acostumar com seu profissionalismo e dedicação, mas ver o quanto ele era respeitado e admirado pela alta cúpula da odontologia era algo impressionante.
Otávio, que até então ouvia a conversa em silêncio, colocou o braço ao redor dos ombros de Clara de forma descontraída, inclinando-se para murmurar algo em seu ouvido.
— Nada mal, hein? Um almoço com os figurões do CFO… Tu vai conhecer a nata da odontologia brasileira.
A proximidade de Otávio foi um choque inesperado para Clara. O toque dele, a respiração próxima, o timbre rouco da voz ressoando como um convite velado. Era um gesto amigável, talvez até casual, mas para Clara, algo mais profundo se agitava dentro dela. Ela se virou para responder, mas Otávio já sorria para ela, os olhos escuros e intensos prendendo os dela por um momento longo demais.
— Sim… — Clara conseguiu responder, sentindo um leve calor subir pelo rosto — Vai ser interessante.
Otávio sorriu de lado, como se tivesse percebido sua hesitação, mas não disse mais nada. Apenas retirou o braço de seus ombros com naturalidade e seguiu o pai até a saída do auditório.
Clara sentiu-se ridícula. O que foi isso? Desde quando seu corpo reagia dessa forma por um simples gesto? Ele era apenas o filho do Dr. Paulo, alguém educado e simpático, nada mais. Então por que aquele toque parecia estar marcado em sua pele?
O restaurante reservado para o almoço era ainda mais luxuoso do que o que haviam visitado na noite anterior. Clara se viu cercada por um ambiente opulento, onde lustres de cristal reluziam suavemente sob a luz natural que entrava pelos enormes janelões. As mesas estavam impecavelmente postas, com taças de vinho cristalinas e talheres de prata brilhando sobre a toalha fina.
O grupo foi recebido pelo presidente do CFO e outros membros da diretoria. Assim que Paulo entrou no salão, o clima se transformou.
— Senhoras e senhores, o grande Dr. Paulo Queiroz! — anunciou o presidente, abrindo um sorriso largo enquanto os demais presentes o cumprimentavam com entusiasmo — Não há ninguém mais qualificado para falar sobre excelência na odontologia do que este homem.
Paulo, sempre discreto, acenou educadamente antes de ser conduzido à mesa principal. Clara e Otávio o seguiram, e logo estavam acomodados entre os principais nomes do evento.
Enquanto os pratos começavam a ser servidos, a conversa fluía naturalmente sobre avanços na área, desafios da profissão e expectativas para o futuro da odontologia no país. Clara ouvia atentamente, absorvendo cada palavra, ainda impressionada com o prestígio que cercava o Dr. Paulo. Entretanto, outro detalhe começou a chamar sua atenção.
As mulheres da delegação lançavam olhares discretos, e algumas nem tão discretos assim, para Otávio. Sorrisos surgiam nos rostos delas sempre que ele falava, e algumas trocavam olhares cúmplices entre si. Uma delas, sentada ao lado dele, riu de algo que ele disse e tocou levemente seu antebraço, mantendo a mão ali um pouco além do necessário.
Otávio não parecia desconfortável com a atenção, e tampouco incentivava. Ele apenas retribuía os sorrisos com educação, mantendo-se cordial, mas sem alimentar flertes óbvios. Clara tentou ignorar aquilo, mas algo dentro dela se revirava.
Por que estava prestando atenção nisso? Por que o fato de outras mulheres estarem interessadas em Otávio lhe causava um incômodo estranho, quase irritante?
Ela apertou os lábios, voltando sua atenção para o prato à sua frente. Era ridículo. Ridículo! Ela era uma mulher casada, estava ali apenas como acompanhante do Dr. Paulo, e não havia absolutamente nada em sua relação com Otávio que justificasse qualquer tipo de reação emocional.
Ainda assim, o nó em seu peito não desaparecia. A cada riso feminino, a cada olhar discreto lançado na direção dele, Clara sentia algo que se recusava a admitir: ciúmes.
Não fazia sentido, mas era isso. Ela não queria que aquelas mulheres olhassem para ele daquela forma e, pior ainda, não queria que ele retribuísse, mesmo que de forma inocente.
Por um instante, Otávio percebeu o olhar perdido de Clara e ergueu a sobrancelha, como se perguntasse em silêncio o que se passava na cabeça dela.
Clara imediatamente desviou os olhos, ocupando-se em levar um gole de vinho aos lábios, tentando acalmar a confusão em sua mente.
Ela manteve o sorriso nos lábios, interagiu educadamente com os demais presentes e tentou parecer completamente à vontade, mas a verdade era que não conseguia se concentrar no que acontecia à sua volta.
A sensação incômoda dentro dela aumentava cada vez que seus olhos, mesmo sem querer, pousavam em Otávio. Ele estava descontraído e natural, participando da conversa com facilidade, mas havia algo na forma como ele a olhava ocasionalmente, como se estivesse consciente da luta interna que ela travava.
Clara sentiu o coração apertar. Precisava se recompor.
— Com licença, eu já volto.
Ela se levantou, tentando soar despreocupada, e seguiu em direção ao banheiro feminino.
Assim que entrou, se apoiou na pia de mármore, respirando fundo.
A imagem refletida no espelho revelava a confusão em seus olhos. Seus dedos se fecharam em torno da bolsa, como se o simples contato com o couro fosse ajudá-la a recuperar o controle.
Ela precisava se acalmar.
Puxou o celular e desbloqueou a tela, abrindo a conversa com Vincent.
🗨CLARA: O evento está sendo incrível! Dr. Paulo foi convidado para almoçar com a delegação de Brasília e eu estou aqui, no meio de tudo isso. Nem acredito.
🗨VINCENT: Eu disse que você ia brilhar. Você merece estar aí, Clara. Tenho muito orgulho de você.
Os olhos dela suavizaram, sentindo um conforto imediato ao ler aquelas palavras.
🗨CLARA: Obrigada, meu amor. Estou com saudades.
🗨VINCENT: Eu também. Não vejo a hora de ter você de volta.
Clara sorriu de leve, os dedos pairando sobre o teclado. Ela queria responder algo à altura, dizer que também sentia falta dele, mas seu peito apertou com uma sensação de culpa súbita.
O que estava fazendo? Por que precisava se convencer de algo que sempre soube? Ela guardou o celular, respirou fundo e começou a retocar a maquiagem, tentando recuperar a compostura antes de sair, mas assim que empurrou a porta do banheiro, congelou no lugar. Otávio estava ali.
Encostado casualmente na parede do corredor, os braços cruzados sobre o peito e os olhos escuros fixos nela. Clara engoliu em seco, a mão ainda na maçaneta.
— Tu sumiu de repente — ele comentou, sua voz tranquila, mas com um tom de curiosidade velada — Fiquei preocupado.
Clara hesitou, sentindo o coração disparar.
— Eu só precisava… respirar um pouco.
Otávio assentiu devagar, descruzando os braços.
— É muita coisa para absorver de uma vez, não é?
Ela apenas assentiu, incapaz de responder imediatamente. Ele não deveria estar ali, não deveria tê-la seguido, não deveria estar tão perto, mas o pior era que ela também não deveria estar gostando daquilo.
Otávio deu um passo à frente, seu olhar intenso prendendo o dela.
— Tudo bem?
Clara se agarrou à alça da bolsa, como se aquilo pudesse impedir que suas mãos tremessem.
— Sim.
Mas sua voz não soou tão firme quanto gostaria.
Otávio franziu levemente a testa, como se não acreditasse. E então, fez algo que pegou Clara completamente de surpresa. Ele segurou as mãos dela. Foi um gesto simples. Gentil, mas firme. As mãos dele eram quentes e seguras, envolvendo as dela com um cuidado inquietante.
Clara sentiu o corpo estremecer. Seus olhos caíram automaticamente para o toque entre eles, e foi então que ela viu sua aliança.
O anel dourado brilhando em seu dedo, um lembrete da barreira que nunca deveria ser ultrapassada. Como se acordasse de um transe, Clara se afastou rapidamente, puxando as mãos para longe.
— Eu preciso voltar.
Ela passou por Otávio, caminhando apressadamente de volta ao salão do restaurante, sem olhar para trás, mas enquanto se afastava, podia sentir o olhar de Otávio queimando em suas costas e sentia que aquele momento não ficaria apenas ali.
**********
As horas seguintes transcorreram sem nenhum novo confronto entre Clara e Otávio. Após o momento no corredor do restaurante, ele havia mantido uma distância cuidadosa, não lhe dirigindo muitos olhares, e Clara tentava se convencer de que isso era o melhor.
As plenárias da tarde seguiam com apresentações técnicas e discussões sobre inovações no setor odontológico. Dr. Paulo, como sempre, ouvia tudo com atenção, fazendo anotações eventuais. Clara se forçava a focar no conteúdo das palestras, evitando se distrair com os próprios pensamentos, mas era inevitável notar a ausência de Otávio ao seu lado.
Ela olhou discretamente para os assentos da primeira fileira, esperando vê-lo concentrado ou acompanhando a apresentação, mas ele não estava lá.
Curiosa, ela virou um pouco mais a cabeça e, então, o viu algumas fileiras atrás, conversando animadamente com uma das moças da delegação de Brasília.
Clara sentiu algo desconfortável revirar em seu estômago.
A jovem ria de algo que Otávio havia dito, inclinando o corpo de maneira sutil em sua direção. Ele, por sua vez, mantinha a expressão relaxada e o sorriso fácil, como se estivesse completamente à vontade naquela troca de olhares e sorrisos.
Clara forçou-se a desviar o olhar, mas a irritação já havia sido plantada.
Ela não tinha o direito de sentir ciúmes, mas então, por que aquela cena lhe causava tanto desconforto? Seu coração apertava de um jeito estranho, e quanto mais tentava ignorar, mais seu olhar insistia em voltar naquela direção.
Otávio não parecia preocupado com ela. Não a olhava, não tentava se aproximar, parecia completamente alheio ao que havia acontecido entre eles mais cedo. Era isso que a incomodava tanto.
Desde o momento no restaurante, Otávio havia se afastado, deixando-a sozinha com seus pensamentos confusos. E agora, ele sorria para outra pessoa, como se nada tivesse acontecido.
Clara tentou respirar fundo, mas a irritação crescia. O conflito interno entre racionalidade e desejo se intensificava. Precisava de uma desculpa para interromper aquela cena.
Quando as apresentações terminaram e todos começaram a se levantar, Clara tomou a iniciativa.
— Otávio! — chamou, adiantando-se pelo corredor entre as cadeiras.
Ele levantou o olhar, um pouco surpreso, mas logo sorriu ao vê-la se aproximar.
— Clara. Está tudo bem?
— Podemos ir? Eu… não estou me sentindo muito bem.
Ela forçou um tom de fragilidade, mas sem exageros. Otávio imediatamente ficou atento, como se tentasse avaliar se era algo sério.
— Claro, vamos procurar meu pai e sair daqui.
Clara sentiu uma pontada de satisfação ao perceber que a moça da delegação, até então envolvida na conversa, recuava discretamente. Mas a pequena vitória se dissipou num instante quando perceberam que Dr. Paulo não estava mais por perto.
— Onde ele foi? — Otávio perguntou, varrendo o salão com os olhos.
Ele, já tenso, olhava para todos os lados, a tensão tomando cada nervo do seu corpo.
— Ele estava aqui há pouco…
O coração de Clara acelerou com a preocupação crescente. Paulo não sairia sem avisá-los. Sem pensar duas vezes, eles se separaram, cada um indo para um lado do salão para procurá-lo, mas ele não estava lá.
A angústia se instalou no peito de Clara como um peso sufocante.
Na calçada movimentada, Dr. Paulo caminhava distraído, indo diretamente na direção da avenida. O sinal estava aberto para os carros.
Paulo não parava. Ele não parecia ouvir, não parecia ver os carros que se aproximavam.
E então, no último segundo, seu braço foi puxado para trás com força.
O barulho da buzina ensurdeceu Clara. Um carro passou a toda velocidade pelo exato ponto onde Paulo teria pisado se Otávio não tivesse agido a tempo.
A respiração de Clara veio em um sobressalto.
Por um instante, tudo pareceu em silêncio.
Dr. Paulo piscou várias vezes, parecendo atordoado, como se só então percebesse o que estava acontecendo.
Seus olhos se encontraram com os de Otávio, que ainda segurava firme seus braços, os dedos pressionando com força.
— Pai, o que tu tava fazendo?! — A voz de Otávio saiu trêmula, a preocupação cravada em cada palavra.
Paulo pareceu hesitar, franzindo a testa.
— Eu… não sei.
Clara sentiu um arrepio subir por sua espinha.
O olhar do médico parecia perdido, confuso, e a culpa atingiu Clara como um golpe no peito. Eles o haviam deixado sozinho. Ela não deveria ter se distraído com Otávio, não deveria ter se ocupado com pensamentos egoístas. Por um instante, a realidade caiu sobre ela como uma onda.