Sou uma mulher casada e bem casada. Durante vários dias rezei pedindo perdão pelo que havia feito e pelo que havia sentido. Estava arrependida de ter tido todos aqueles pensamentos com César. Não era justo fazer isso com meu marido Saul. Por isso que, no trabalho, me mantive afastada do departamento que César era supervisor.
Em casa tentei me reconectar com meu marido. Buscava seus braços e carinhos todas as vezes que chegava do trabalho a noite. Comecei a procura-lo para sexo com mais frequência na esperança que a lembrança do cheiro e do calor do corpo de César fosse apagada da minha memória.
- Aconteceu alguma coisa, Angélica? Nunca te vi assim - Saul perguntou ao me ver, pela terceira vez na semana, me insinuando.
Em todos esses anos que estivemos juntos, ele sempre era a pessoa que iniciava o sexo. Nunca era algo que passava pela minha mente, mas eu me orgulhava de nunca negar os convites do meu marido e de satisfaze-lo como uma boa esposa.
- Só estou me sentindo mais conectada a você, Saul. Talvez tenha percebido que não damos tanto tempo um para o outro como deveríamos.
- Hm. Pode ser. E está tudo bem no trabalho? Você pareceu mais estressada esses dias.
- Nada demais, só alguns dias mais corridos. Sabe como fico quando os usuários inventam problema onde não tem.
- Entendi. Só queria ter certeza de que não estava guardando nada para si.
Respirei aliviada, não saberia o que fazer se Saul desconfiasse do que passava na minha mente em certos momentos.
- Estou participando de um novo grupo na igreja. É apenas para maridos, fiquei muito feliz ao receber o convite.
Eu tinha percebido que Saul estava se ausentando e passando mais tempo na igreja mas não sabia nada sobre esse novo grupo.
- Como ele se chama? - Perguntei.
- Caminho da entrega
- Nunca vi lá no quadro de avisos.
- Ele é um grupo de estudos mais focado, o pastor Adonias que escolhe, avalia e aceita os membros.
Meu marido adorava participar dessas atividades, e vê-lo tão dedicado à fé só fazia minha culpa pesar ainda mais.
No domingo, como de costume, me vesti com o que achava apropriado e me preparei para ir à igreja. Desde que nos casamos, Saul e eu nunca deixamos de ir aos cultos várias vezes durante a semana.
A igreja estava cheia. Pessoas conversavam em pequenos grupos enquanto esperavam o início da pregação.
O murmúrio foi diminuindo e uma quietude tomou conta do ambiente quando o pastor Adonias subiu ao púlpito. Ao meu lado, uma senhora da igreja me deu um sorriso gentil.
- Como vai, querida? - Perguntou.
- Bem. - Respondi de forma automática.
Ela se inclinou um pouco para frente e murmurou:
- Deus vê o seu coração, minha filha. Ele sabe o que você está passando.
Não sabia se aquilo me confortava ou me angustiava. Tinha medo de me perguntar o que Deus acharia se estivesse vendo o que minha imaginação criava.
O pastor então começou a falar e todos se calaram. Seu tom era grave mas acolhedor.
- Irmãos e irmãs, hoje falamos sobre um dos maiores desafios que enfrentamos como seres humanos: o peso do pecado. Cada um de nós carrega um fardo, algo que nos consome por dentro, algo que nos afasta de Deus. Mas há uma coisa que nos dá esperança: o perdão. O perdão que vem de um coração arrependido e sincero. Não importa o quanto nos afastamos ou erramos, o Senhor está sempre pronto para nos acolher de volta. O problema não é o pecado em si, mas a nossa recusa em admitir o erro e buscar o perdão.
Será que realmente mereço perdão? Como pedir perdão se essa necessidade ainda queima em mim? Como me arrepender e, ao mesmo tempo, desejar tanto o pecado?
- O Senhor nos ensinou: venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. O arrependimento é o caminho para a liberdade. Ele não apenas nos liberta da culpa, mas nos traz paz. Não carreguem mais esse peso, meus irmãos, entreguem a Deus o que está pesado em seus corações.
Nunca pensei que um dia sentiria algo tão... errado. Será que Deus me rejeitaria por isso? Ou será que existe perdão que me libertaria dessa culpa? Isso me define? Seria possível para Deus me aceitar assim, suja e defeituosa?
- É difícil, eu sei. A tentação está sempre à nossa porta, e muitas vezes caímos. Mas, lembrem-se: não há pecado tão grande que não possa ser perdoado. Não há erro que Deus não possa redimir, se verdadeiramente nos arrependermos e buscarmos Seu perdão.
Senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto. Era uma mistura de alívio e medo. Queria tanto acreditar no perdão... Mas, e Saul? O peso da culpa estava se tornando insuportável. A palavra "perdão" ecoava em minha mente, mas... Será que ele poderia me perdoar?
Mesmo com o medo, mesmo com as dúvidas, sabia que não poderia mais viver assim. Eu tinha que contar, tinha que admitir o que fiz. A ideia de perdê-lo era aterradora, mas viver com a mentira me corroía.
Ainda na noite de domingo, assim que chegamos em casa, falei para Saul:
- Preciso te contar algo. Algo que tem me consumido.
Ele me olhou com um olhar preocupado, mas não disse nada, apenas ficou esperando.
- Eu... me senti confusa ultimamente. E sei que você pode não entender, mas eu preciso ser honesta. Lembra quando eu peguei aquela carona com o César? Não sabia o que fazer com os sentimentos que surgiram depois disso. Ele perguntou se eu era solteira e falou algumas coisas sedutoras. Comecei a pensar nele, e isso me fez me sentir...
Sentia o peso da culpa aumentar à medida que falava.
- Sei que não devia pensar nele assim, mas às vezes... durante o sexo com você, ele aparece na minha mente. E eu me sinto tão envergonhada de te contar isso, porque sei que você não merece.
Saul permaneceu em silêncio por um momento. Me preparei para ouvir sua reprovação, ou pior, seu afastamento.
- Angélica, eu não sei exatamente como lidar com isso, mas... Sabe o que eu sempre ouvi na igreja? Que Deus não nos ama menos por nossos pensamentos. É o que fazemos com esses pensamentos que importa. – Ele respirou fundo. – E eu não vou te rejeitar por isso. Prometi estar com você, na alegria e na tristeza. E, não sei por quê, mas talvez até isso faça parte do nosso caminho.
Vi uma luta interna nos seus olhos, uma misteriosa mistura de sentimentos que eu tentava, sem sucesso, ler.
- Me dá só um minuto. Preciso ir ao banheiro. - Ele disse.
O silêncio na sala era opressivo. Meu coração batia rápido e cada segundo parecia uma eternidade.
Quando ele voltou, seu olhar tinha uma suavidade diferente. Como se algo dentro dele tivesse sido resolvido.
- Angélica, se isso é um peso para você, então precisamos carregar juntos. Não quero que você sinta essa culpa sozinha.
Seus olhos encontraram os meus, e havia um entendimento mútuo, mesmo que confuso.
- Vamos passar por isso juntos, não importa o que aconteça. Não se guarde mais. Se sentir algo de novo, qualquer coisa, desejo, confusão, culpa... Quero que me conte. Não quero cortar o que você sente. E quero que você se sinta segura para dividir tudo comigo, sem medo. Sem segredos.
Saul nunca tinha me pedido para me abrir dessa forma. Mas ao mesmo tempo, havia um tom de seriedade e aceitação que me acalmou. Respirei e comecei a falar.
Contei tudo. Os toques "acidentais" de César, os olhares, a forma como ele me fazia sentir desejada. Falei sobre como meu corpo reagiu, sobre as fantasias que surgiram depois e até sobre as vezes em que pensei nele durante o sexo e me masturbei. Conforme as palavras saíam da minha boca, o peso dentro de mim parecia diminuir, mas o medo de ser julgada aumentava. Falar em voz alta era como confessar um crime capital.
Saul escutou em silêncio, os olhos fixos nos meus. Ele não desviava o olhar, não demonstrava raiva ou nojo, mas algum sentimento contido. Ele me observava, absorvendo cada palavra.
- Angélica - Ele finalmente disse, com a voz baixa. - O que você sente não é algo que eu possa entender. Apenas sei que os desejos da carne são parte de sermos humanos. Eles nos testam, nos desafiam, mas não definem quem somos. Seu coração continua fiel. Seu amor por mim não mudou, e isso é o que mais importa. - A convicção nas palavras dele que me surpreendeu.
Saul respirou fundo antes de continuar.
- Para ser honesto, o que você me contou não me afasta. De certa forma, me faz sentir mais próximo de você. Saber o que está dentro do seu coração me ajuda a entender quem você é. E, Angélica, o que você sente não é uma ameaça ao nosso amor. Eu te amo, e vou continuar te amando, mesmo que a carne nos traia às vezes. O importante é que estamos aqui, juntos, enfrentando tudo isso.
Ele segurou minhas mãos com força.
- Eu te perdoo, Angélica. Não por obrigação ou dever, mas porque eu quero. Porque te amo e te aceito exatamente como você é.
Lágrimas de alívio escorreram dos meus olhos. Era como se eu tivesse emergido do poço da culpa e enfim pudesse respirar.
- Obrigada, Saul. - Falei.
Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ele me puxou para perto. Sua boca encontrou a minha, e o beijo foi intenso, cheio de uma mistura de emoções.
Ele me levou até o quarto onde arrancou meu vestido e minha calcinha e em seguida me colocou de quatro na cama. Para minha surpresa, Saul começou a beijar e lamber minhas coxas. Avançou rápido no meio delas e estava passeando com a língua na minha buceta. Aquilo era surpreendente porque Saul não gostava de fazer sexo oral e isso era algo que eu já havia aceitado. Sentir sua língua quente passando por ali fazia com que me sentisse mais desejada, saborosa de certa forma. Fechei meus olhos e senti arrepios a cada investida que meu marido fazia com sua língua.
Quando julgou que eu estava molhada o suficiente, percebi ele se posicionando para me comer. Coloquei um travesseiro por baixo de mim para permitir que ele me penetrasse um pouco mais. Senti o peso do seu corpo e sua barriga me tocando primeiro que seu pau. Havia algo de vulnerável e real naquele contato, algo que me lembrava que éramos apenas dois corpos tentando se conectar.
Sua respiração pesada ecoava em meus ouvidos. Ele se movia com mais intensidade que o de costume, puxava meu corpo com força para encontrar o seu. Aumentou ainda mais a velocidade e foi o suficiente para que não conseguisse mais se controlar. Eu nunca havia visto ele ter um orgasmo tão rápido.
Depois que Saul terminou, ele saiu de cima de mim com um suspiro pesado. Deitei-me de lado, observando-o enquanto ele se sentava à beira da cama, os ombros curvados e os olhos fixos no chão.
- Angélica, - Ele começou, a voz baixa e hesitante. - Você me ama, né?
- Claro que sim, Saul. - Respondi prontamente, sentindo uma pontada de preocupação.
Ele balançou a cabeça, como se não soubesse se acreditava em mim.
- Eu sei que hoje foi... rápido. - Sua voz falhou. - E eu sei que você merece mais do que isso.
Fiquei em silêncio, tentando entender para onde ele estava indo com aquilo. Ele passou as mãos pelos cabelos.
- Só... não me troca, tá? - Ele pediu, quase como um apelo. - Não me deixa por... qualquer coisa que você possa sentir.
Aquelas palavras me atingiram como um soco no estômago. Eu sabia que Saul tinha suas inseguranças, mas nunca o tinha visto tão exposto.
- Saul, eu não quero te trocar por ninguém. - Respondi, sentando-me ao seu lado e tocando seu braço. - Eu errei em ter desejos que não consegui controlar, mas você é meu marido, e eu te amo.
Ele assentiu lentamente enquanto parecia ainda perdido em pensamentos.
- Se... algum dia sentir algo assim de novo - Ele disse, a voz quase sumindo - por favor, me conta. Não guarda para você.