O Casamento Arranjado! Cap.20 Segunda Temporada

Um conto erótico de Alex Lima Silva
Categoria: Gay
Contém 2072 palavras
Data: 08/03/2025 14:51:15

Era por volta das 16:30 da tarde, quando o carro atravessou a porteira da fazenda, ainda cansado da viagem, tudo o que eu queria era minha cama e o silêncio da roça. Mas o que encontrei foi o inferno.

No horizonte, uma cortina grossa de fumaça subia, pintando o céu de cinza e laranja. Por um segundo, achei que meus olhos estavam pregando peça. Só pode ser coisa da minha cabeça. Eduardo pisou fundo no acelerador, e tudo em mim travou.

— Não... não pode ser... — murmurei, sentindo o peito afundar.

À medida que nos aproximávamos, o cheiro de queimado invadiu o carro. Cinzas voavam como neve suja. Meu coração batia tão forte que doía. Quando saltamos do carro, tudo o que vi foi destruição.

A casa principal já era só esqueleto de madeira carbonizada. A pastagem em volta virou terra preta e seca. E o pior... o silêncio. Cadê todo mundo? Cadê os animais?

Foi quando, entre a poeira e o fogo, vimos três figuras correndo em nossa direção: Túlio, Miguel e Ana. Estavam sujos, tossindo, os olhos vermelhos de chorar e de tanto respirar fumaça.

— Graças a Deus! — gritei, indo até eles. Abracei Ana com força, como se precisasse sentir alguém vivo para acreditar que não era um pesadelo.

— A gente tentou, André... meu Deus, a gente tentou! — Ana soluçava.

— O que aconteceu? Onde estão os outros? Os cavalos? As galinhas? Tudo... — minha voz saiu em desespero.

Foi Miguel quem respondeu, com o olhar mais vazio que já vi:

— Lucas... foi ele. E o namorado dele, Vinícius. Eles tocaram fogo em tudo - Senti o mundo girar ao meu redor - E dois capangas!

Eu precisei repetir as palavras na cabeça umas dez vezes para tentar entender. Lucas? Aquele desgraçado?

— Ele matou os animais, André... todos.Ate o pobre Tobias — Túlio completou, com a voz embargada e o olhar fixo em nada. — Fez questão. Disse que queria que vocês voltassem e não tivessem nada além de cinzas.

Eu senti minhas pernas fraquejarem. Eduardo me segurou antes que eu desabasse no chão.

— Não... — foi tudo o que consegui dizer. O ar não vinha. A cabeça rodava. Era como se tivessem arrancado tudo o que construímos com tanto esforço, tudo o que protegemos.

O lugar que um dia foi nosso refúgio agora era só morte.

— A gente precisa chamar a polícia — Eduardo disse, com o rosto rígido, mas eu vi que ele estava tão destruído quanto eu.

— E depois? — perguntei. — Depois que tudo acabar... o que sobra?

Ninguém respondeu.

A única coisa que restava ali era o barulho do fogo, devorando os últimos pedaços do que um dia foi nosso lar.

O fogo parecia ter diminuído, mas dentro de mim só aumentava. Eu andava em círculos, procurando um sinal de Lúcia, de Raul... de qualquer coisa que me fizesse acreditar que nem tudo tinha sido levado embora.

Foi Ana quem falou, com a voz fraca, sentada no chão, tremendo de frio e medo:

— Eles... eles não conseguiram fugir...

Meu coração parou.

— Quem, Ana?

Ela ergueu os olhos, as lágrimas cortando o rosto sujo de fuligem.

— Minha mãe... e meu pai. Lucas... ele... ele trancou os dois no quarto e... — ela desabou, soluçando alto, sem conseguir continuar.

Meu corpo gelou. Eu me ajoelhei diante dela, sentindo uma dor que não cabia em mim.

— Não... meu Deus, não... — sussurrei, tentando abraçá-la, mas parecia que não havia nada que pudesse fazer para aquecer aquela perda. Ana agora era órfã. Lucas tinha tirado tudo dela.

A fumaça ainda subia dos escombros da fazenda. O céu parecia pesado, carregado de cinzas e silêncio, como se até o tempo tivesse parado pra assistir ao que vinha pela frente.

Lucas surgiu, sujo, a roupa rasgada e o olhar de um louco que já não tem nada a perder. Ele segurava a arma com firmeza e apontava pra nós como se fôssemos peças de um jogo que ele controlava. Um sorriso cínico cortava seu rosto, e nos olhos... só ódio.

— Agora sim... todo mundo reunido — ele disse, girando a arma devagar, de um pra outro. — Melhor momento pra contar umas verdades que estavam entaladas.

Eduardo se colocou na frente de Ana, protegendo-a instintivamente. Miguel e Túlio ficaram imóveis, trocando olhares tensos. E eu... eu só sentia o coração martelando, esperando o próximo golpe.

Lucas deu uma risada seca.

— Charlotte... aquela traíra desgraçada. Vocês acham mesmo que ela morreu por acaso na prisão? Aquilo foi presente meu. — Ele bateu no peito com orgulho. — Fui eu que mandei acabar com a raça dela. Não merecia viver depois do que fez com meu pai.

Túlio franziu a testa, confuso.

— O que tá falando? — ele perguntou, irritado.

Lucas ergueu a arma na direção dele e sorriu, como quem saboreia a desgraça alheia.

— Ah, Túlio... A Charlotte era sua mãe, e trabalhava pro meu pai,eles estavam juntos tentando recuperar o que Gustavo havia roubado!— Ele gargalhou. — Você é mais burro do que parece! Charlotte era fiel ao meu pai... até se deitar com o inimigo dele. E adivinha o que nasceu disso?

O silêncio foi cortado pelo baque da revelação antes mesmo que ele terminasse.

Lucas apontou a arma direto pro peito de Túlio e disse com veneno:

— Você, moleque. Você é filho do cara que Vicente mais odiava. Charlotte traiu meu pai... deu à luz você, um verme do sangue errado. E ainda teve a cara de pau de tentar proteger essa sua nova vidinha aqui.

Túlio deu um passo atrás, atordoado.

— Tá mentindo... — murmurou.

Lucas abriu os braços, debochado:

— Mentindo? Pra quê? Eu já ganhei o que queria! Queimei essa fazenda, matei quem precisava e, de bônus, trouxe a verdade à tona. Charlotte morreu porque merecia. Traiu meu pai... e o pior castigo foi dar à luz um erro como você.

Ana chorava baixinho. Miguel apertou os punhos, mas Lucas não parava.

— Vocês acham que isso aqui é só sobre terra, gado e briga de família? Isso é sangue. É dívida antiga. Meu pai queria vingança... e eu sou o cobrador.

Olhei pra Eduardo, e ele pra mim. Já não tinha mais volta. Lucas estava além de qualquer redenção.

Foi então que Eduardo deu um passo à frente e falou firme:

— Acabou, Lucas. Larga essa arma. Ou não vai sair daqui com vida.

Lucas só riu, como se aquilo fosse a melhor piada do mundo.

— Vida? Eu não tô mais jogando pra viver, meu caro. Eu vim pra arrastar vocês todos comigo!

Lucas girou a arma lentamente, como se estivesse se divertindo com o medo estampado nos nossos rostos. A fumaça do incêndio ainda nos envolvia, e o cheiro de madeira queimada misturava com o gosto amargo da verdade que ele despejava sem dó.

— E quer saber o melhor de tudo? — Lucas falou, passando a língua nos lábios ressecados, encarando cada um de nós como se fôssemos presas encurraladas. — Eu nunca estive machucado de verdade. Aquele teatrinho todo... aquela cara de coitado... só pra me infiltrar aqui dentro, conhecer cada canto dessa fazenda e ganhar a confiança de vocês. E vocês... ah, vocês acreditaram feito uns idiotas.

Miguel cerrou os punhos e deu um passo, mas Eduardo esticou o braço impedindo.

Lucas gargalhou, satisfeito com o próprio veneno.

— Eu andava por aqui como se fosse um de vocês... ouvindo tudo, observando cada detalhe. Até dormindo sob o mesmo teto. Enquanto vocês pensavam que eu tava me recuperando, eu já planejava exatamente como faria isso aqui virar cinzas.

Ele se virou lentamente pra mim, e o sorriso debochado cresceu ainda mais.

— E você, André... — disse meu nome como se saboreasse. — Até tentei te envolver, sabe? Achei que podia te dobrar. Te seduzir. Não seria ruim ter você como parte do meu joguinho.

Senti o estômago revirar com aquela confissão nojenta, mas fiquei firme.

Lucas balançou a cabeça, como quem finge decepção.

— Mas não... você resistiu, se fez de difícil. Achou mesmo que ia escapar barato? Que ia negar alguém como eu e sair ileso? — Ele inclinou a cabeça, o olhar flamejante. — Pode ter certeza, meu caro... você vai se arrepender amargamente de não ter me dado atenção. E eu vou ter o maior prazer em assistir isso acontecer.

Eduardo deu um passo à frente, furioso:

— Cala essa boca, seu desgraçado!

Lucas ergueu a arma em direção a ele.

— Não dá ordens pra mim, não, queridinho. Hoje quem decide quem vive ou morre sou eu.

O silêncio foi sufocante. O fogo atrás dele ainda crepitava, como se a própria fazenda estivesse ouvindo aquelas palavras de horror.

Lucas sorriu com ainda mais desprezo, aproveitando cada segundo da nossa angústia. Ele ergueu a arma, apontando primeiro para Eduardo, depois para mim, como se estivesse decidindo em quem atiraria primeiro.

— Ah, e antes que eu esqueça... vocês realmente achavam que foi coincidência aquela invasão na mansão onde vocês moravam? — Ele deu uma risada seca, os olhos brilhando de pura maldade. — Fui eu quem mandou. Aquilo foi só um aviso. Um teste... pra ver até onde eu podia ir.

Meu coração disparou. O ataque que quase acabou com a nossa vida tinha sido organizado por ele.

— E agora — continuou Lucas, dando um passo à frente, a fumaça girando ao redor dele como se fosse parte do próprio demônio que nos assombrava — eu vim terminar o serviço. Destruir tudo o que vocês construíram. Cada canto, cada lembrança, cada um de vocês.

Eduardo rangeu os dentes, o olhar em chamas.

— Covarde. Você nunca teve coragem de encarar ninguém de frente, por isso se esconde atrás de arma e fogo.

Lucas riu.

— Ah, meu amor... coragem é o que não me falta. E hoje vai ser o último capítulo da história patética de vocês dois. Quero ver se esse teu discursinho ainda vai prestar quando estiver se debatendo no chão.

Olhei ao redor. Ana chorava baixinho atrás de Miguel, que não tirava os olhos de Lucas. Túlio segurava o ombro dela, pálido, tentando manter a garota em pé.

Eu sabia que a chance de sairmos vivos dali era quase zero... mas também sabia que se fosse pra acabar, eu não ia deixar Lucas rir por último.

— Então termina, Lucas — falei, com a voz firme, mesmo com o medo queimando dentro do peito. — Mas saiba que você pode até conseguir destruir a fazenda... mas nunca vai apagar quem a gente é.

Ele riu, debochado, e passou a arma para Eduardo outra vez.

— Que lindo. Agora vai virar poeta antes de morrer. Pena que ninguém vai estar vivo pra aplaudir.

Quando percebi, Vinícius surgiu no meio da fumaça, com aquele sorriso sujo no rosto e dois capangas armados ao lado dele.

— Espero que não estejam se divertindo sem mim — debochou Vinícius, levantando a arma sem hesitar.

Sem aviso, ele atirou contra Túlio.

— Eu nunca suportei esse idiota! — gritou, vendo Túlio cair no chão segurando a perna, gritando de dor. Ana se jogou ao lado dele, desesperada.

— TÚLIO! — berrou Miguel, o olhar virando pura fúria.

Lucas gargalhou alto.

— Agora sim a festa começou!

Foi nesse momento que Eduardo avançou contra Lucas. Não pensou, não hesitou. Se jogou em cima dele, derrubando-o no chão com força.

A arma de Lucas voou longe. Os dois começaram a trocar socos, rosnando como dois animais selvagens, cada golpe cheio de raiva acumulada.

— Covarde desgraçado! — gritou Eduardo, acertando Lucas no rosto. — Isso é por tudo o que você fez!

Lucas revidou, puxando Eduardo pelos cabelos e socando seu estômago.

— Eu avisei que você ia se arrepender, idiota!

Enquanto isso, eu e Miguel nos posicionamos. Vinícius levantou a arma de novo, mirando em mim, mas fui mais rápide me joguei contra ele, empurrando ele pro chão e jogando arma no chão!

— VEM PRA CIMA, DESGRAÇADO! — rugiu Miguel, lutando com os capangas no chão, os três rolando entre a terra e o fogo que começava a se alastrar novamente.

A gente não tinha tempo, nem escolha. Ou era a gente... ou eles.

O barulho das pancadas, dos gritos que ecoavam, do fogo estalando ao redor... tudo parecia um pesadelo sem fim.

Mas naquele momento, eu só pensava em proteger quem ainda restava.

Túlio gemia no chão, tentando manter a calma enquanto Ana pressionava a perna dele com as mãos tremendo.

E Eduardo, meu Deus... ele e Lucas se batiam como se o mundo fosse acabar ali mesmo.

E talvez fosse.

Mas se fosse pra acabar, pelo menos eu ia lutar até o último segundo.

— VEM, VINÍCIUS! — gritei, sentindo a adrenalina queimando no peito. — HOJE É VOCÊ OU EU!

Continua...

SÓ FALTAM DOIS CAPÍTULOS!

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