Eu, minha esposa e nossos vizinhos – Parte 07

Um conto erótico de Rogério
Categoria: Heterossexual
Contém 7697 palavras
Data: 09/03/2025 13:24:00
Última revisão: 09/03/2025 18:50:09

Olá, leitores. Eu me chamo Rogério, atualmente tenho 28 anos e sou casado há quatro anos com a Jéssica. Esta série conta nossas desventuras no prédio onde moramos, onde alguns vizinhos e vizinhas (e os nossos melhores amigos) parecem querer testar nosso amor. Quem puder ler os cinco primeiros capítulos, só procurar pela série. Temos alguns spin-offs focados em outros personagens.

A Jéssica tem 26 anos, é médica e tem o corpo esculpido por horas de academia e uma disciplina invejável. Ela tem 1,71, pele amendoada e lindos cabelos castanho-claro. Barriga tanquinho, seios e bundinha pequenos, mas bem proporcionais ao seu corpo escultural. Não temos filhos ainda, mas isso está no nosso radar depois que os dois trintarem.

Os eventos deste capítulo começam assim que o Carnaval acabou.

Antes do carnaval, eu tinha convidado a Lorena para se mudar para o apartamento ao lado do nosso. A Lorena tinha 27 anos e era minha amiga desde o primeiro período da faculdade. Éramos tão próximos que ela havia sido madrinha do meu casamento com a Jéssica. Ela tinha se tornado sócia da empresa da minha família depois de formada e, com isso, trabalhávamos juntos no mesmo ambiente. Ela era morena de praia, magra, seios pequenos e bundinha redondinha e empinadinha, além de um belo par de coxas. Estava solteira e, segundo ela, muito bem assim.

Nossa história começa na sexta seguinte à Quarta-Feira de Cinzas. Aquela era a noite das garotas no nosso apartamento. Como eu adorava cozinhar e a Jéssica adorava se gabar do marido que fazia pratos dignos de restaurante, elas meio que pediram para eu ficar lá um tempinho antes de sair para dar privacidade a elas.

Mas como não gosto (muito) de ouvir as conversas alheias (talvez eu goste um pouco mais do que gostaria de admitir), coloquei um fone de ouvido Bluetooth para ouvir músicas Spotify. Enquanto mexia nas panelas, o cheiro do alho dourando se misturava com o aroma do vinho que reduzia em fogo baixo. O cardápio da noite era risoto de funghi, um dos meus favoritos, e uma salada caprichada para acompanhar.

Na sala, a Jéssica já estava cercada por suas amigas. A Carolina, a intelectual e ponderada do grupo, sempre gesticulava enquanto falava como se tivesse numa aula. A Eliana, mais contida, ria das piadas com um sorriso malicioso. Por fim, também estava lá a Sarah, a prima mais nova da Carolina e esposa do Érico. Ela era nova no grupo da academia, mas já parecia completamente à vontade. As taças de vinho tilintavam conforme a conversa fluía. Eu mantinha meus fones de ouvido, apenas captando murmúrios enquanto trabalhava. Aí, a bateria acabou do nada. O silêncio veio como um estalo, e então as vozes da Jéssica e suas amigas na sala começaram a tomar conta da minha audição.

— Mas então, vocês acham que conta? — perguntou Sarah.

— Conta o quê? — a voz da Jéssica.

— Se uma única metida conta como sexo. Tipo, uma só. Meteu, tirou e foi embora. Sem orgasmo, sem nada — explicou Sarah, e eu congelei na frente da panela.

Mantive a mão no cabo da colher de pau, fingindo estar concentrado no jantar, mas a verdade era que meus sentidos estavam completamente voltados para aquela conversa. O quê? Do que diabos elas estavam falando?

Não que eu seja (muito) fofoqueiro, mas uma pergunta dessas com certeza chama a atenção.

— Isso é tipo discutir o sexo dos anjos — brincou Eliana. — Mas pensando bem... acho que depende.

— Depende do quê? — perguntou Jéssica.

— Sei lá, da intenção! — explicou Eliana, entre risinhos. — Se foi um acidente, tipo "ops, escorreguei", talvez não conte.

— Pelo amor de Deus, ninguém "escorrega" assim — retrucou Jéssica.

Acho que, nessa altura do campeonato, a Jéssica era a única que não estava se indagando se o Érico escorregou assim sem querer.

— Eu acho que conta — interveio Carolina. — É igual aquele papo de "meti só a cabecinha". Se entrou, entrou.

Segurei o riso. Meu Deus, que tipo de conversa era essa?

Sarah pareceu pensativa.

— Mas e se foi algo tão rápido que nem pareceu que aconteceu? Tipo, não deu tempo de sentir nada, sabe?

— Sem sentir nada? Nadica de nada? — estranhou Jéssica.

— Qual era o tamanho desse bilau? 5 cm? — brincou Carolina.

— Está bem... Vamos supor que você sentiu o suficiente para que, caso você estivesse vendada e ele metesse uma segunda vez, você reconheceria que foi ele.

— O nome disso aí, minha amiga, é amor de pica — brincou Carolina. — Que bate e fica.

— Eu diria que foi um sexo ruim, mas ainda assim foi sexo — disse Jéssica, categórica. — Acontece nas melhores famílias. O Rogério, por exemplo, tem umas noites que ele está tão cansado ou sem criatividade que eu preferia que ele tivesse brochado a fazer daquele jeito e...

— Amiga, tem certeza de que aquele fone abafa mesmo? — Eliana deve ter apontado para mim porque elas pararam na hora.

Com meu ego destroçado, comecei a cantar alto para parecer que estava entretido no mundo da música.

Alguns segundos depois, elas voltaram.

— Eu acho que o sexo precisa ter pelo menos um certo envolvimento — avaliou Eliana. — Se foi só uma metida e acabou, sei lá... talvez não tenha sido.

— Gente, e se a pessoa estivesse bêbada e nem lembra direito? — perguntou Carolina. — Conta?

— Óbvio que conta! — respondeu Jéssica. — Você pode não lembrar, mas seu corpo lembra.

— Ai, que profundo. — Eliana riu. — Mas e se foi uma situação tipo "mal começou, já acabou"? Conta?

— Se for assim, então muito homem por aí nunca transou na vida — soltou Carolina, e todas caíram na risada.

Minha mente estava a mil. Todo mundo devia estar querendo saber de que a Sarah estava falando. Será que era do Érico? Mas por que ela discutiria se uma metida única do Érico contava como transa?

— Agora, eu queria saber o que a Odete diria disso — imaginou Carolina.

— Ela provavelmente diria que sexo é só quando rola prazer — supôs Jéssica. — Se não teve, então não foi.

Eliana estalou os dedos.

— Rebecca! Quero ver a opinião dela!

Todas caíram na risada.

— Ela ia dizer que foi fornicação e que o inferno aguarda — brincou Carolina.

— E a Andréia? — perguntou Carolina.

— Ia dizer que se não foi bom, então nem valeu a pena lembrar — Sarah deu de ombros.

— Mas ainda estou com uma dúvida. — Jéssica estreitou os olhos. — De onde veio essa dúvida tão específica mesmo, Sarah?

Sarah piscou rápido demais.

— Ah, sei lá, vi num podcast. Aquelas discussões malucas que o povo tem.

— Sei não, hein. — Eliana cruzou os braços. — Tá com cheiro de experiência pessoal.

— Que absurdo! — Sarah riu, mas o vinho em sua mão balançou ligeiramente.

— Depois dessa, preciso de mais uma taça. — Carolina levantou e foi até a cozinha, me dando um susto.

Virei rapidamente para o fogão, fingindo que não estava prestando atenção em nada. O cheiro do alho começava a dourar na panela, mas eu mal prestava atenção. A verdadeira questão era de que a Sarah estava falando. Eu não devia ser tão fofoqueiro assim...

Ajeitei a comida na panela, fingindo que estava completamente absorto no risoto, mas minha atenção permanecia na conversa da sala. Logo, a Carolina saiu sem nada desconfiar.

— Mas e quanto a negócios inacabados? — perguntou Sarah, de um jeito tão casual e despreocupado que parecia falso. — Digamos que, hipoteticamente falando, claro, você estivesse no meio de uma transa e tivesse que parar por algum motivo. Você deixaria assim ou voltaria pra terminar?

Minha mão apertou a colher. Isso era coisa com o Érico. Certeza!

— Depende do motivo — respondeu Jéssica, tomando um gole de vinho. — Se foi uma emergência médica, azar. Se foi porque alguém bateu na porta… talvez.

— E se fosse uma coisa besta? Tipo, você esqueceu as roupas no varal e saiu correndo. Enquanto isso, dizia para ele “Calma aí que eu volto pra gente terminar. Prometo. Te dou minha palavra que volto. Fica esperando aí”. Mas você não tava com vontade de voltar e não voltou, mas aí ficou com peso na consciência? — Sarah teorizou de forma incrivelmente específica. — Claro, tudo isso hipotético.

— Ah, isso aí é golpe baixo! — Eliana riu. — Pior que já fiz isso com série. Disse que ia voltar pra assistir e nunca mais vi o final. Será que tem gente que faz isso com sexo também?

— Com certeza tem! — respondeu Carolina. — Mas aí depende, né? Se foi ruim, a pessoa finge que esqueceu. Agora, se tava bom, aí a dúvida fica roendo.

— E se a pessoa ficou lá? — conjecturou Jéssica. — Imagina o sofrimento! A cada barulho de porta se abrindo, um fiozinho de esperança…

— Ai, que horror! — Eliana fez uma careta. — Será que tem alguém no mundo ainda esperando alguém voltar de um banho que nunca aconteceu?

— Trágico — concordou Carolina, dramática. — A pessoa jurando que foi só uma pausa, enquanto o outro já casou, teve filhos e tá planejando a aposentadoria.

— Tá vendo? — disse Jéssica. — É esse o ponto! A pessoa fica lá, esperando, na esperança. Tem que ter um código de ética pra essas coisas!

— Código de ética pra sexo interrompido? — gargalhou Eliana. — Tipo, um aviso prévio? "Olha, eu vou pegar um copo d'água e nunca mais volto."

— Exatamente! — confirmou Jéssica. — Transparência é tudo!

— Então e se o outro ficou lá esperando? — provocou Eliana. —E aí, você tem obrigação de voltar?

— Essa é a questão! — apontou Sarah. — Se você prometeu voltar. Deu sua palavra que voltaria. O que seria pior: não voltar e quebrar a palavra ou só voltar para uma bimbada rápida por ter dado sua palavra?

— Depende do nível da promessa — conjecturou Carolina. — Se foi um "segura aí que eu já volto", talvez.

— E se você disse algo como “A gente termina outro dia. Te dou a minha palavra”? — sugeriu Sarah. — Só como exemplo.

— Aí, você tem que chamar a Rebecca para achar a brecha jurídica.

As mulheres caíram na gargalhada enquanto eu mexia meu risoto, tentando não rir junto. Meu Deus, onde essa conversa ia parar?

— Mas e se não foi bom? — Jéssica levantou a questão, trazendo um pouco de sanidade ao debate. — Tipo, se não estava fluindo e a interrupção foi um alívio, precisa mesmo voltar?

— Dá para saber se não está fluindo depois de uma única metida? — perguntou Sarah.

— Minha amiga, dá para notar que está fluindo desde antes das preliminares, né? — respondeu Carolina.

— Se foi ruim porque não rolou química, então que se dane — avaliou Eliana. — Mas se estava bom e só foi interrompido, aí dá um nervoso, né?

— A Odete, com certeza, voltaria pra terminar — provocou Carolina.

— Ela ia encarar como um desafio pessoal — Jéssica riu.

Eu ficava meio ressabiado com a naturalidade que todo mundo aceitava que a Odete traía o Carlos com deus e o mundo. Era como se a piada fosse “o Carlos é corno, pessoal!”.

— E a Rebecca? — perguntou Eliana, rindo. — Se fosse com o Maurício?

Todas caíram na gargalhada.

— A Rebecca ia argumentar com o Maurício que não tem nada inacabado quando tudo é feito com a bênção de Deus — debochou Sarah.

Eu segurei o riso e mexi a panela, me esforçando para parecer distraído. Mas agora a discussão estava se expandindo para cenários ainda mais hipotéticos.

— E se fosse um cara do Tinder? — lançou Sarah. — Tipo, você conhece um cara, combina de sair, as coisas começam a esquentar e aí, por algum motivo, vocês têm que parar no meio. Vocês voltariam outro dia pra resolver?

— Depende — respondeu Eliana. — Se fosse só atração física, acho que não. Mas se o cara fosse interessante, talvez.

— Então, foi assim que você acabou se casando com o Érico? — Jéssica brincou com Sarah.

— Ah, claro. Ele me deixou na vontade e eu tive que caçar ele depois.

As risadas ecoaram. Eu fingi que estava concentrado no risoto, mas por dentro estava tentando entender se o Érico tinha brochado, tinha ejaculação precoce ou só era só desastrado. Aliás, era bizarro ficar pensando no desempenho sexual do amigo.

Na manhã seguinte, eu estava de boas no escritório, ajeitando a papelada, quando ouvi a campainha, o clique da fechadura e passos decididos entrando na casa. Como eu já sabia quem era, mas não queria que ela me visse tão cedo, me levantei e caminhei até a porta do escritório, abrindo uma pequena fresta.

A Lisandra tinha chegado e sido recebida pela Jéssica. Era a primeira vez que as duas se encontravam desde a festa de carnaval, onde a nossa diarista loirinha e gostosa tinha me rendido conforme as regras da festa e trocado vários selinhos e beijos sentada no meu colo. Bem, pelo menos, até a Jéssica usar o regulamento da festa para dar um jeito de “eliminá-la” de lá.

Minha esposa estava em trajes caseiros: um short folgado que deixava à mostra boa parte de suas coxas e uma regata fina que marcava seus seios pequenos, mas bem desenhados. Seu cabelo castanho-claro estava preso em um coque malfeito, com algumas mechas caindo pelo rosto.

Lisandra, por sua vez, usava uma A blusinha justa e surrada abraçava seus seios de maneira sutil, enquanto a calça legging acentuava suas curvas naturais. Os cabelos estavam presos, mas algumas mechas insistiam em escapar, emoldurando seu rosto de maneira provocante. A expressão dela era de alguém que vinha preparada para levar um sermão, mas não ia abaixar a cabeça facilmente.

— Podemos conversar? — disse Jéssica, com um tom de autoridade casual. Ela não estava irritada, apenas firme.

A Lisandra atravessou a sala e a encarou de frente.

— Se for pra me demitir, pode falar logo. Mas não precisa fazer discursinho ou me humilhar. Você já venceu!

A Jéssica riu de leve, balançando a cabeça.

— Não vou te demitir. Você é uma diarista excelente.

Lisandra piscou algumas vezes, confusa.

— Ué… pensei que você fosse me cortar. Achei que ia se doer porque eu quero dar pro seu marido. — disse com um sorriso presunçoso.

— Confio no meu taco. Mas, principalmente, confio no Rogério. — Jéssica sorriu de lado. — Inclusive, sinta-se à vontade para tentar de novo sempre que quiser. Uma hora, você vai perceber que sempre vai falhar.

Lisandra riu pelo nariz, os olhos brilhando de malícia.

— É mesmo? Você fala com tanta certeza... Será que ele nunca teve curiosidade? Nem uma vez?

Jéssica não hesitou.

— Se teve, não me contou. E se contasse, a gente conversaria. Isso é casamento, Lisandra. Comunicação.

— Ah, que lindo — ironizou Lisandra, mordendo de leve o lábio inferior. — Mas deve ser uma tentação diária, né? Ele chega todo suado da academia, aquele corpo marcado... Dá até vontade de cuidar dele. Aposto que ele gosta de massagem nas costas...

Jéssica soltou um suspiro paciente, mas não recuou.

— É, ele gosta. E eu sou muito boa nisso. Mas pode perguntar pra ele, se quiser. Eu até falo para ele te deixe tentar... Só pra te mostrar a diferença.

O sorriso da Lisandra vacilou por um segundo, mas logo ela recuperou a pose.

— Sabe… parece que vocês gostam de testar a fidelidade um do outro. Sempre deixam terceiros cercarem sem interferir. Como se tivessem certeza de que nunca vão cair em tentação.

Era perceptível um brilho de desafio nos olhos da Jéssica.

— E se for isso?

— Então, vocês são doidos. — Lisandra deu de ombros, mas o olhar dela parecia mais curioso do que cético. — Mas quem sou eu pra julgar?

Jéssica sorriu de canto, como se estudasse a diarista.

— Opa, sem julgamentos, dona Jéssica. Quem tá na chuva é pra se molhar. E, pra ser sincera, seu marido é gostoso.

— Nisso, posso dizer que nós duas concordamos. Afinal, me casei com ele.

— E ele é bom de cama como aparenta?

— Eu diria que ele é o homem que melhor transou comigo — respondeu Jéssica, brincando. — Até porque ele foi o único.

— O único? — Lisandra parecia sinceramente surpresa. — Mulher, tu casou com o primeiro cara que te levou para cama. Isso ou é muito romântico ou muito patético, sem meios-termos.

— Eu diria “muito romântico”.

— Eu te aconselharia a experimentar outro pau só uma vezinha, só pelo desencargo de consciência de dizer que tem um parâmetro para elogiar ele.

— Aí, para “compensar a puladinha fora da cerca”, eu deixaria você dar para o Rogério, né? — Jéssica riu. — Obrigada, mas não.

— Vai dizer que não gosta de ver as mulheres babando por ele?

— Eu gosto. Mas gosto mais ainda porque ele sempre escolhe a mim. — respondeu Jéssica, com um olhar afiado.

Lisandra encarou Jéssica por alguns segundos, então riu baixo, balançando a cabeça.

— Tá bom, tá bom. Peguei a mensagem. Mas olha, um dia você pode se surpreender.

— Aí eu lido com isso. Mas esse dia não vai chegar. — Jéssica rebateu, confiante.

Elas continuaram conversando, mas eu tive a certeza de que as coisas tinham normalizado pós-carnaval e a paz voltara ao apartamento. Tirando, claro, o jantar que ela ainda estava devendo ao Lucério...

Na manhã seguinte, me encontrei com a minha melhor amiga, Lorena, na portaria do condomínio, onde aguardávamos o representante da imobiliária destrancar a porta do apartamento ao lado do meu. Ela estava animada, e eu podia ver aquele brilho travesso nos olhos dela.

A Lorena era bronzeada de praia, com cabelos escuros, magra, rosto ovalado, seios pequenos e bundinha redondinha e empinadinha, além de um belo par de coxas. Usava uma combinação de saia lápis, camisa de botão e um blazer por cima.

— Você sabe que, se esse apartamento for um lixo, eu vou te culpar pra sempre, né? — brincou ela, cutucando meu ombro.

— Você já me culpa por tudo mesmo — respondi, fingindo resignação. — O que é mais uma coisa na lista?

O representante, um sujeito magro de terno barato chamado Cláudio, chegou. Então, subimos até o meu andar, onde ele abriu a porta do apartamento ao lado meu. O cheiro de ambiente fechado há semanas nos atingiu de leve.

— Bem, aqui está — disse Cláudio, tentando soar entusiasmado. — Espaçoso, boa localização, e o aluguel está ótimo pelo tamanho.

A Lorena entrou primeiro, observando tudo com olhos críticos. O lugar realmente tinha potencial, mas também problemas visíveis. Havia uma mancha escura de mofo em uma parte do teto, algumas tomadas estavam quebradas e a pintura precisava de um retoque.

— Tá meio acabado, hein? — comentou Lorena, passando a mão na parede descascada.

— Nada que uma boa reforma não resolva — retrucou Cláudio.

— Reforma que vocês vão bancar, né? — rebateu Lorena.

O homem riu sem graça.

— Podemos discutir alguns reparos essenciais, sim. Mas depende do que for.

— Mofo no teto, tomadas quebradas e essa pintura desgastada — enumerei para ajudar minha amiga. — Isso não são luxos, são necessidades.

— E também quero que revisem o encanamento — emendou Lorena. — Se tiver vazamento, não quero descobrir depois de assinar contrato.

Enquanto eles discutiam, dei mais uma olhada no ambiente. O Cláudio estava na defensiva. Aparentemente, ele cometera o erro de não saber o estado atual do apartamento. Ele suspirou.

— Podemos garantir os reparos básicos, mas o encanamento…

— Sem essa, amigo. — Lorena cruzou os braços. — Eu trabalho o dia todo, não tenho tempo pra ficar correndo atrás de pedreiro depois. Ou o apartamento fica em ordem ou não fecho.

A Lorena era uma negociadora nata e, quando queria algo, ia até o fim. O Cláudio hesitou, olhou para mim e depois de volta para ela.

— Está bem. Podemos nos comprometer com as reformas. Mas vai levar algumas semanas.

— Uma semana e meia. — Ela disse, sem piscar.

— Três semanas. — Ele rebateu.

— Duas semanas, e eu assino agora.

Cláudio bufou, derrotado.

— Fechado.

Depois que ele saiu para buscar alguns documentos no carro, eu e Lorena ficamos sozinhos no novo apartamento dela. Ela passou a mão pelo batente da porta, olhando ao redor.

— Vai ser bom morar aqui. — Ela murmurou. — Meio esquisito, mas bom.

— Esquisito por quê? Vai ser ótimo. Dá até pra te vigiar melhor. — Provoquei.

Ela me deu um tapa leve no braço.

— Você quer dizer "eu que vou ter que te vigiar", né? Porque, convenhamos, você não tem moral pra ser meu guardião.

Ri e encostei na parede.

— Bom, enquanto eles arrumam esse lugar, você pode ficar no meu apartamento. Temos um quarto de hóspedes sobrando.

Ela me olhou com ceticismo.

— E a Jéssica? Ela não vai arrancar seu fígado?

— Não exagera. Ela não vai se incomodar. — As palavras saíram com mais confiança do que eu realmente sentia.

— Jura?

— Juro. E se incomodar, eu dou um jeito.

— Isso não é nenhum plano maluco seu para formarmos um trisal não, né?

— Oh! Você descobriu meu plano: na primeira semana, fazer se apaixonar por mim. Na segunda semana, fazer vocês duas se apaixonarem uma pela outra. E, então, vivermos felizes para sempre.

— Até eu te capar por ser obrigada a pagar a multa pela rescisão deste apartamento porque você vai querer que eu more com vocês.

— Ou a gente reforma esse daqui para ser nosso dormitório. Cada um tendo seu quarto individual, além de um maior para nós três dormimos juntos e...

— Tarado.

Caímos na risada.

— Então, topa?

— O trisal?

— Não. Passar as duas semanas lá. Sem trisal.

— Tá bom, mas se eu acordar com um travesseiro na cara, vou te assombrar pelo resto da vida.

— Eu aceito esse risco. — Brinquei.

E assim, sem perceber, eu tinha acabado de arranjar uma confusão em casa.

A Lorena já tinha voltado para o Airbnb em que ela estava temporariamente enquanto resolvia as últimas pendências do antigo apartamento. Eu fiquei de falar para a Jéssica sobre a nossa futura hóspede. Passou o almoço e o começo da tarde e nada de eu tocar nesse assunto.

Então, por volta das três da tarde, enquanto eu assistia Netflix no sofá da sala, a Jéssica apareceu, vestida apenas com uma camisola bem curta e uma calcinha de cor combinando, se sentou ao meu lado no sofá.

Claro que a minha atenção ficou dividida entre assistir o filme e olhar para aquela gostosa em trajes sumários ao meu lado. Principalmente, depois que a Jéssica passou a acariciar um dos seios por cima da camisola. Meu cacete já estava despertando por dentro da calça. Respirei fundo, estava louco para comer ela, mas não queria parecer um tarado.

Eis que ela começou a tirar a calcinha sem nada dizer. Pirei. Meu pau já estava dando solavancos quando, olhando para ela, puxei a calça com cueca e tudo e deixei ele para fora.

— Onde? — perguntei, porque se dependesse de mim, ia comer ela pela casa toda.

A Jéssica respondeu com gestos, já estendendo a mão, segurando o meu cacete e o masturbando de forma suave.

— Eu pensei em chupar um pouco... Brincar um pouco... — sussurrava ela no meu ouvido, fazendo os meus pelos eriçarem. — Mas acho que nosso amigo já desperto o suficiente.

— Para você, ele sempre está desperto.

Recostei-me no sofá, quando a Jéssica se levantou em um salto e, segurando o meu cacete, se ajoelhou de pernas abertas no meu colo, procurando encaixar o meu caralho na entrada da sua bucetinha, que ele conhecia tão bem.

Não foi preciso muito esforço para fazê-lo encaixar num caminho que trilhava três ou quatro vezes por semana. Aos poucos, o meu caralho foi sentindo o corpo dela se encaixando e deslizando para baixo. Foi entrando pouco a pouco, cm a cm. Ela gostava dessa primeira penetração mais lenta, sentir cada detalhe.

Quando a entradinha da buceta dela alcançou o meu colo, marcando que eu tinha metido todo o meu cacete, a Jéssica colou os lábios na minha boca. Achei estranho que ela pressionava os meus braços contra o sofá, enquanto nos beijávamos, como se quisesse me impedir de abraça-la.

Então, a Jéssica parou. Do nada. Literalmente parou. Depois da primeira metida, ela simplesmente se levantou, sentou do meu lado no sofá, cruzou as pernas, pegou o controle remoto, mudou o filme e ficou ali, assistindo um desenho animado como se nada tivesse acontecido.

Fiquei ali, meio atordoado. Os dois pelados da cintura para baixo no sofá assistindo um dos desenhos animados mais brochantes que ela poderia encontrar na pressa.

— Amor?

Ela permaneceu em silêncio por alguns instantes, os olhos fixos na tela. Então, do nada, perguntou:

— Você considera que isso que a gente acabou de fazer conta como sexo?

Pisquei algumas vezes, tentando entender se ela estava brincando.

— Bom… Eu cheguei a meter dentro, mesmo que por pouco tempo. Então, tecnicamente sim.

Ela franziu a testa, pensativa.

— Você coloca um bolo no forno, acende o fogo, para com dez segundos e tira o bolo. Ainda é um bolo, mas não é um bolo pronto.

— Do mesmo jeito que isto foi sexo, mas não foi sexo completo.

— Então, para você considerar como sexo completo, precisa terminar o que já iniciou?

— Sim.

— Você quer terminar o que começamos?

— Sim!

— Você vai considerar que transamos duas vezes ou uma só.

Minha cabeça deu um nó.

— Uma só!

Ela me olhou com aquele olhar profundo e curioso, como se estivesse me sondando, analisando cada milímetro do que eu dizia e da minha postura.

— Bem. Eu também quero terminar e também só consideraria só uma.

Só nessa hora, lembrei da discussão que ela teve com a Sarah e as outras amigas dias antes.

— Você fez tudo isso para provar algum ponto?

— Tipo isso. — Ela sorriu, mordendo os lábios. — For Science.

Depois de alguns segundos de silêncio, ela desligou a televisão, se inclinou para mim, sentando no meu colo mais uma vez.

Desta vez, ela não queria mais jogos lentos e sedutores. Vários beijos, abraços, línguas enroscadas e seios chupados serviram de uma rápida preliminar até o meu pau ressuscitar e logo a levantei um pouco para que ela voltasse a engolir o meu cacete.

Segurei a sua bunda com as duas mãos, enquanto dava estocadas fortes naquela bucetinha. Eu queria compensar a não-transa anterior e, pelos gemidos, ela também.

A Jéssica continuou quicando no meu cacete. Os dois competindo para ver que imprimia o ritmo mais forte. Mas eu sabia que não duraria muito tempo assim. E logo o meu orgasmo explodiu, como um vulcão em erupção dentro da bucetinha apertadinha da Jéssica. Ela rebolava e me abraçava com força, sentindo as jatadas dentro de si.

Após o orgasmo, permanecemos juntos e abraçados. O meu cacete ainda enfiado nela, a porra escorrendo aos poucos. Os dois sabiam que tínhamos que nos levantar logo ou teríamos que limpar o sofá. Mas ela me abraçou forte. Só queria curtir aquele momento. E eu também.

A calmaria antes da tempestade.

Eu precisava contar para a Jéssica sobre a vinda da Lorena. E não consegui durante toda a tarde. Sobrou para a noite, quando iríamos comemorar nosso tradicional mêsversário de namoro (sim, fazemos ainda vez por mês todos esses anos).

Naquela vez, a Jéssica e eu fomos jantar no Il Vecchio Sapore, um restaurante italiano aconchegante, famoso pelo seu nhoque artesanal e pelo ambiente romântico à luz de velas. A Jéssica vestia um vestido vermelho justo, que destacava sua silhueta, e usava um batom da mesma cor, que a fazia parecer ainda mais irresistível. Eu optei por uma camisa social azul-escura e uma calça jeans bem cortada. Olhando para ela, eu sabia que qualquer cara no restaurante olharia duas vezes. E isso me dava certo orgulho de mim mesmo por ser sido quem ela escolheu.

A comida estava excelente, e o clima, leve. Conversamos sobre coisas banais, rimos, trocamos olhares cúmplices. Em um momento, Jéssica pegou minha mão sobre a mesa e a acariciou com o polegar, um gesto simples, mas que sempre me fazia sentir que ela estava ali, comigo, por inteiro.

— Você se lembra daquela tarde em que nos pegamos desprevenidos pela chuva no parque? — Ela disse baixinho, seus olhos castanhos brilhando sob a luz das velas.

Sorri, levando sua mão aos lábios e beijando seus dedos.

— Como esquecer aquele dia... — Sorri, revivendo a cena. — Nosso aniversário de um ano de namoro.

Ela suspirou, mas havia um brilho emocionado nos olhos dela. Ficamos um tempo em silêncio, apenas apreciando a presença um do outro. Mas eu sabia que tinha um elefante na sala — ou melhor, na mesa — e decidi soltá-lo de forma casual.

— Ah, esqueci de te contar. A Lorena vai ficar lá em casa por duas semanas enquanto reformam o apartamento novo dela — comentei como se fosse a coisa mais normal do mundo.

Jéssica pousou lentamente a taça de vinho na mesa. Seus olhos se fixaram em mim por um instante antes de ela sorrir, aquele sorriso que eu conhecia bem demais.

— Ah, que bacana. — Sua voz saiu com doçura ensaiada. — Mas... duas semanas? Tudo isso?

— É, o pessoal da imobiliária disse que ia levar esse tempo pra resolver os reparos. E como a gente tem um quarto de hóspedes sobrando, achei que não teria problema. — Dei uma garfada no meu prato, como se aquilo fosse só um detalhe sem importância.

— Claro, claro... — Ela mexeu no próprio prato, sem realmente comer. — Super normal. Afinal, você e a Lorena sempre tão próximos...

Ela sorriu, colocando um pouco do noque na boca, mastigando devagar. Depois de engolir, voltou a me olhar.

— Então, quer dizer que você já decidiu isso? Nem achou que seria importante me perguntar antes, né?

— Eu... — Parei por um momento. Ela estava certa. — Bom, achei que não precisaria. É só por duas semanas.

— Uhum. — Ela pegou a taça e tomou mais um gole de vinho. — E você chegou a pensar no meu conforto nisso tudo? Porque, veja bem, agora vou chegar em casa depois de um plantão e vou encontrar a sua melhor amiguinha espalhada pelo sofá, talvez de pijama, mexendo na minha Netflix...

— Jéssica, ela vai ficar no quarto de hóspedes. Não vai estar espalhada em lugar nenhum. E, se estiver vendo Netflix, vai ser na conta de visitante. — Tentei brincar, mas o olhar dela ficou um pouco mais afiado.

— Engraçado, né? — Ela cutucou o risoto de novo. — Porque eu não lembro de você ficar tão empolgado assim quando minha prima precisou de um lugar pra ficar.

Suspirei. Eu sabia onde isso ia parar.

— Amor, sua prima queria ficar três meses, e o problema era que ela trazia aquele namorado dela junto...

— Ah, claro. Três meses é muito. Duas semanas com a Lorena, tranquilo. — O sorriso dela era de comercial de margarina, mas o tom de voz estava frio como gelo.

Respirei fundo.

— Você tá com ciúmes, né? — Perguntei diretamente.

Ela soltou uma risada curta e irônica.

— Eu? Com ciúmes? Imagina! — Ela balançou a cabeça. — Só tô tentando entender as prioridades aqui.

— Jéssica, eu e a Lorena somos só amigos. Você sabe disso.

— Sei, sei... — Ela recostou-se na cadeira, cruzando os braços. — Amigos que têm tanta química que até um cego percebe. Amigos que não se desgrudam nem no trabalho. Amigos que a amiga deu uma bela tossida na hora que o padre disse “Se alguém for contra esse casamento, que fale agora ou cale-se para sempre” mesmo sendo madrinha de casório do amigo. Amigos que vão morar juntos por duas semanas sem nem me consultar antes. Sim, super amigos.

Suspirei.

— Você sabe que não é assim. Eu amo você. E a Lorena é minha amiga há anos. Não existe nada além disso.

— Uhum. E eu também vou jantar com o meu novo amigo Lucério este mês. Só um jantar de amigos. Como você mesmo disse: não existe nada além disso. — Ela sorriu de novo e tomou outro gole de vinho.

Minha mandíbula ficou tensa. Só de ouvir aquele nome, já sentia meu estômago revirar.

— Você sabe que o Lucério tem segundas intenções com você. Não é a mesma coisa.

— Ah, mas que coisa, né? Porque eu podia jurar que você tinha acabado de me dizer que não existia nada além de amizade entre você e a Lorena. Então qual o problema de eu jantar com o Lucério? Só amigos. — Ela abriu os braços, fingindo inocência.

— Ele quer te comer. Nós dois sabemos disso.

— E por que eu tenho que confiar plenamente que você não sai comendo a Lorena na hora do almoço todo dia, mas você não pode confiar em mim que eu não vou dar para o Lucério por causa do um único jantar?

— Você quer mesmo comparar a Lorena com o Lucério? — perguntei, olhando diretamente nos olhos dela.

— Não tô comparando ninguém. Só estou aplicando sua lógica na minha vida também. Afinal, se não tem nada demais nas suas amizades, então não tem nada demais nas minhas, certo?

A essa altura, meu prato já estava esquecido.

— Jéssica, eu não quero brigar.

— Eu também não! — Ela riu, como se estivesse surpresa. — Eu só estou tentando entender as regras do jogo aqui. Parece que algumas coisas são normais quando vêm de você, mas se eu fizesse a mesma coisa, nossa...

Fiquei em silêncio por um momento. A garçonete passou por nós, perguntando se gostaríamos de mais alguma coisa. Jéssica, com seu sorriso impecável, pediu outra taça de vinho. Eu recusei.

— Olha, eu não vou voltar atrás nisso. — Falei firme. — A Lorena vai ficar lá em casa, e isso não muda nada entre a gente.

Ela bebeu um gole do vinho recém-chegado, depois sorriu para mim.

— Claro. Não muda nada. — Mas o olhar dela dizia o contrário. — Assim como não mudaria nada se, sei lá, eu resolvesse convidar o Enéias para vir morar com a gente, né? Só por duas semanas.

Minha mão apertou o garfo com força antes que eu percebesse. O nome do Enéias já era suficiente pra me irritar.

— Você tá exagerando. — Tentei manter a calma.

— Eu? Imagina! Só tô seguindo sua lógica. Afinal, eu confio em você. E você confia em mim, né? — Ela piscou, com um sorriso doce demais pra ser sincero.

Soltei um suspiro, já sentindo a armadilha se fechar.

— Jéssica, você não faria isso.

Ela inclinou a cabeça e sorriu ainda mais.

— Ah, amor, você me conhece tão bem assim? Porque, olha, se eu quisesse... — Ela girou a taça de vinho lentamente. — Se eu quisesse mesmo, eu poderia aproveitar o meu jantar de amigos e perguntar para o Lucério se ele topava que eu morasse com ele por duas semanas. E vai que ele tem uns argumentos muito bons... Por que, né? É aquela coisa, para eu saber se você é bom mesmo de cama, preciso experimentar outros para ter um parâmetro...

Antes que eu pudesse pensar, soltei sem querer:

— Antes o Lucério que o Enéias.

Jéssica arqueou a sobrancelha, surpresa por um segundo, mas logo abriu um sorriso de canto.

— Interessante. Quer dizer que você já cogitou as opções, então? Quer me explicar melhor essa escala de preferências? Porque agora fiquei curiosa.

Antes que eu pudesse responder, recebemos uma mensagem de WhatsApp do grupo que eu e a Jéssica tínhamos com a Odete e o Carlos:

Carlos: "Socorro. Meu carro morreu, o guincho morreu, a luz morreu e agora tô aqui no meio da chuva parecendo um frango molhado."

Suspirei. Só o Carlos para se meter em uma dessas. Antes que eu pudesse responder, a Jéssica se adiantou:

Jéssica: "Tô de plantão. Mas o Rogério tá em casa e pode ir te buscar. Passa o endereço."

— Por que você mentiu para ele?

— Olha... Eu vou para casa. Acho que nós precisamos de um momento a sós para nos acalmarmos. — Ela respirou fundo. — Vamos pagar a conta. Você vai lá resolver o problema do Carlos. Quando você tiver em casa, os ânimos terão baixado.

Talvez, de certa forma, eu tenha sido salvo involuntariamente salvo pelo Carlos. Vai saber onde aquele papo iria parar.

Meia hora depois, eu encontrei o meu amigo encharcado e desolado, parecendo um cachorro sem dono. Ele entrou no carro, aliviado, e seguimos viagem de volta para o condomínio. No começo, ficamos em silêncio, o barulho da chuva preenchendo o espaço entre nós. Mas Carlos nunca foi de ficar quieto por muito tempo.

— Rogério, me diga uma coisa, com sinceridade — começou Carlos, me olhando de soslaio. — Você nunca pensou em experimentar algo fora do casamento?

Lorena.

Maldita seja a minha mente por trazer esse nome por causa de toda a confusão no jantar. Me forcei a ignorar isso, revirei os olhos e respondi sem hesitar:

— Claro que não. Eu amo a Jéssica.

Ele sorriu, como se já esperasse essa resposta.

— Mas uma coisa não anula a outra. Eu também... — Ele parou no meio da frase, hesitante. Isso me intrigou. O Carlos não era do tipo que hesitava. Ele sempre tinha algo a dizer, sempre pronto para argumentar. Mas, por algum motivo, algo ali o fez repensar as palavras.

Mantive minha posição.

— Isso não é pra mim. Não vejo sentido em trair. Se estou com a Jéssica, é porque escolhi estar com ela.

Carlos refletiu por um instante.

— Certo, então vamos reformular. Em que condições você pensaria em outra mulher que não a Jéssica? O que teria que acontecer para isso ser possível?

Suspirei, ponderando a questão. Não pensei nela. Não pensei nela. Não pensei nela. Não pensei nela. Mas decidi responder com honestidade.

— Eu não transaria por transar. Se um dia acontecesse, teria que ser algo envolvendo sentimento. Algo plenamente acordado com a Jéssica e com a permissão dela. Algo mais sério, entende? Nada de aventura ou traição.

Ele riu.

— Meu Deus, Rogério! Você não teria uma amante ou um ménage, você teria um trisal! Você teria duas esposas!

Trisal.

Essa palavra justo hoje!

Por que diabos a minha melhor amiga foi inventar de falar de trisal entre eu, ela e a Jéssica justo hoje? Novamente, afastei esse pensamento. Eu não era assim. Não queria isso para mim.

— Não foi isso que eu quis dizer — tentei me corrigir.

Mas Carlos já tinha pegado o ponto.

— Foi exatamente isso que você disse — riu. — Se é pra ter outra, tem que ser um relacionamento de verdade, tudo às claras, com sentimento, parceria...

Seria a única opção minimamente aceitável.

— Você está exagerando.

— Não estou, não. Você é um homem sério demais pra se envolver com qualquer uma só pelo prazer momentâneo. Você levaria a coisa toda a sério. Só conseguiria dividir sua atenção se fosse pra valer. — Ele fez uma pausa e lançou outra provocação: — Mas e se fosse o contrário?

— O contrário?

— E se a Jéssica quisesse dois maridos? Alguém pra amar por igual, compartilhar a vida e dividir o dia a dia? Você aceitaria?

Enéias. A minha mente foi direto para o Enéias. O melhor amiguinho dela e seu colega no hospital, que claramente estava apaixonado por ele desde sempre.

— Eu... eu não sei. É difícil pensar nisso. Acho que eu teria dificuldade. Mas se fosse algo que a fizesse feliz e se eu tivesse tempo pra processar... talvez, só talvez, eu considerasse. Não sei se conseguiria lidar com o ciúme.

Carlos sorriu como se tivesse vencido um debate.

— Mas percebe o que você está dizendo? Você não está descartando a ideia de imediato. Você só precisaria de tempo para aceitar.

— Talvez. Ou talvez eu nunca aceitasse. Mas o que eu sei é que não conseguiria fingir que nada está acontecendo. Se fosse pra ser algo assim, teria que ser aberto, transparente. Teria que ser alguém que eu respeitasse muito, alguém que eu não visse como um rival. — Uma forma educada de dizer “Nunca aceitaria o Enéias, nem se o Sol congelasse!” — Mas, sinceramente, não acho que isso seja algo que a Jéssica gostaria. Ela nunca demonstrou interesse em nada do tipo.

Carlos assentiu, parecendo satisfeito com a conversa. Mas eu estava desconfortável. Minha mente insistia em voltar para Lorena e Enéias. Dois cenários que eu não queria considerar.

Ele tocou no meu ombro e sorriu.

— Você realmente é um homem de princípios. Mas eu ainda acho que você não se daria bem com amantes. Você precisa de compromisso, de laços. Por isso, eu brinco que você só conseguiria viver algo assim se fosse um trisal de verdade.

Tentei rir, mas minha mente ainda estava inquieta.

— Você não está tentando me convencer de nada, está? — perguntei.

— Eu? Não! — Ele riu, balançando a cabeça. — Só gosto de entender como as pessoas pensam. E, sinceramente, você me ajudou muito. Me ajudou de verdade. Acho que você achou a resposta para o meu problema.

Olhei para ele, curioso, mas não perguntei mais nada.

O resto da viagem seguiu em silêncio. Mas minha mente não. Lorena. Enéias. Trisal. Palavras que eu queria esquecer.

Quando chegamos em casa, os ânimos estavam amainados. A Jéssica tinha aceitado momentaneamente a ideia da Lorena passar uns dias conosco. Bastava a minha amiga não aprontar nada.

Infelizmente, era pedir para a criatura mais zoeira e bem-humorada da cidade segurar a língua...

Na noite seguinte, segunda, eu abri a porta e lá estava a Lorena, com aquele sorriso travesso de sempre, encostada no batente com uma mala em cada lado e uma terceira apoiada no pé. Seus cabelos presos em um coque meio desfeito, deixando algumas mechas soltas ao redor do rosto, e o vestido justo que usava delineava cada curva do seu corpo.

Atrás de mim, a Jéssica observava tudo, controlada, mas com os olhos afiados. A minha esposa estava impecável, como sempre, com um short jeans curto que destacava suas coxas firmes e uma blusa de alcinhas branca, que revelava os contornos dos seios pequenos e perfeitos. Ela mantinha um sorriso educado, mas eu a conhecia bem o suficiente para perceber a tensão sutil nos ombros.

— Finalmente! — exclamou Lorena, empurrando as malas para dentro sem cerimônia. — Meu herói, me resgatando da tragédia imobiliária!

— Eu devia te cobrar aluguel só por esse drama — brinquei, pegando uma das malas e carregando para dentro.

— Bem-vinda, Lorena. Espero que se sinta em casa. — A voz da Jéssica era doce, mas eu sabia que, por dentro, era travada uma batalha interna.

— Ah, eu já me sinto! Só faltava um mordomo servindo drinks na entrada, mas tudo bem, eu relevo.

— Se quiser um mordomo, pode contratar um— respondeu Jéssica, ainda sorrindo. — O Rogério está ocupado demais sendo o meu.

Senti a tensão flutuando entre as duas, mas preferi ignorar. Peguei a mala maior e a levei até o canto da sala.

Lorena se jogou no sofá, cruzando as pernas de forma descontraída.

— O Rogério te contou, não? Mudamos os planos. Vou ter que ficar aqui uns meses. Até eu decidir se fico com aquele apartamento ou se procuro um melhor. — Ela olhou para Jéssica. — Espero que não se incomode, Jéssica.

Jéssica manteve a compostura.

— De jeito nenhum. As amiguinhas do Rogério também são minhas amigas também.

— Adoro esse espírito comunitário! É o que eu sempre digo para o Rogério: o que é seu, é nosso! — Lorena disse, rindo. — Agora, vamos combinar as regras dessa casa. Eu prometo não andar pelada pela cozinha se você prometer que não vai me envenenar sorrateiramente.

Jéssica soltou uma risada leve, mas sem humor exagerado.

— Acho um ótimo acordo.

A Lorena não sabia o vespeiro que estava cutucando.

— Bom, deixa eu te mostrar seu novo quarto — falei, pegando a malaa novamente.

Jéssica assumiu a dianteira e começou o tour.

— Aqui é a sala, como você pode ver. Tem a varanda ali, uma vista decente para o condomínio. A cozinha fica à direita, e eu prefiro que mantenhamos a pia sem louça acumulada. — Jéssica lançou um olhar para Lorena, que apenas sorriu.

— Ah, pode deixar! Sou bem organizada…

Fomos até a cozinha, onde a Jéssica apontou os armários e eletrodomésticos.

— Sinta-se à vontade para usar o que precisar. Mas aviso logo que o café da manhã tem regras. O Rogério não sabe dividir pão de queijo. — brincou Jéssica.

— Isso é um exagero — murmurei.

— Pode deixar, eu obrigo ele a dividir com a gente — respondeu Lorena.

Passamos pelo banheiro e seguimos para o corredor dos quartos.

— Esse aqui é o nosso quarto. — Jéssica apontou para a porta fechada. — E esse aqui será o seu. — Abriu a porta do quarto de hóspedes.

O espaço era aconchegante, com uma cama de casal, uma escrivaninha e um armário embutido. Lorena entrou e girou no meio do cômodo, avaliando tudo.

— Melhor que muito hotel por aí. — Ela se jogou sobre o colchão e suspirou. — Estou oficialmente instalada.

Ela ergueu o rosto e lançou um olhar provocador.

— Confesso que achei que ficaria no mesmo quarto que vocês. Agora que somos um trisal e tudo mais…

A Lorena sempre fora zoeira assim comigo e aparentemente achava que teria a mesma liberdade com a Jéssica. Uma confiança quase suicida.

— Se somos um trio, por que não montar um quarteto logo? — Sua voz era doce, mas afiada.

— Quarteto? Curti. Podem ser dois homens. O Rogério é descoordenado demais para gerenciar três mu-

— Ela tá brincando, Jéssica — intervi, desesperado.

— Relaxa, só estou testando a temperatura da água — respondeu Lorena, depois de rir um pouco. — Já sei com o que posso ou não brincar contigo. Vou ser mais legal a partir de agora, tá?

— Ótima escolha. Agora só falta desfazer as malas.

A minha esposa colocou as malas no quarto e estava praticamente fechando a porta com a Lorena dentro quando a minha amiga chamou pelo seu nome.

— Sim?

— Só queria dizer que eu gosto muito de você — disse Lorena. — E que o Rogério é um bobão apaixonado sempre que fala de você... O que é todos os dias.

Claro que, conhecendo a Jéssica como conhecia, sabia que aquelas palavras não seriam o suficiente para selar a paz.

PRAZO PARA O FINAL DA APOSTA ENTRE JÉSSICA E LUCÉRIO: 4 meses e 1 semana.

Pois bem, leitor. No próximo capítulo, a situação no meu apartamento vai ficar ainda mais complicada quando o Enéias, a Lisandra e o Lucério conhecem a Lorena. Para deixar tudo mais complicado, o seu Geraldo vai se dar bem e comer uma mulher justo no meu apartamento.

AVISO AOS LEITORES: Esta série tem, atualmente, três spin-offs onde são desenvolvidos alguns coadjuvantes. “Passando a Vara nas Vizinhas. Ou Não.” é estrelada pelo Carlos. “Quem Vai Comer a Advogada Evangélica?” conta a história da Rebecca. E “Eu e Minha Esposa Pulamos a Cerca... E o Caos Explodiu” conta as desventuras de Érico e Sarah. A ordem de publicação delas as mantém no mesmo momento cronológico.

O dilema da Sarah se uma metida contava com sexo é explicado em “Eu e Minha Esposa Pulamos a Cerca... E o Caos Explodiu - Parte 02”.

O que o Carlos estava fazendo quando seu carro quebrou e como o Rogério o ajudou com aquele papo de trisal é explicado em “Passando a Vara nas Vizinhas. Ou Não. - Capítulo 04”.

Provavelmente, alguns outros personagens terão contos one-shot, em breve, o do porteiro seu Geraldo.

Coloquem nos comentários para o que vocês torcem que aconteçam nos próximos capítulos. Daqui a 15 dias, teremos a continuação.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 15 estrelas.
Incentive Alberto Roberto a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil genérica

Sabe o q não consigo entender nesses? O pq de tanta idiotice do Rogério, como convida uma amiga para morar na casa dele sem consultar a Jessica? Não toma atitude de alfa, sempre temendo aos amigos da esposa. Se não gosta das amizades da esposa então ele tb não tenha

0 0
Este comentário não está disponível
Foto de perfil genérica

Jessica com certeza tem que acabar dando pro Lucério pelo menos. Ele perde a questão do condomínio mas, no sigilo, vira o dono da Jéssica

0 0
Foto de perfil genérica

Muito bom seus contos, acho que Jéssica tem que ser putinha de todos no condomínio e principalmente dos mais safados, lucerio e seu Raimundo!!!

0 0
Foto de perfil genérica

Incrível cara,ansioso pela continuação

0 0