Um mês depois de ter voltado pra casa estou de volta em Fortaleza, mas dessa vez não vim morar, estou só de passagem, pois é, resolvi dar uma chance pro meu pai e vou morar com ele por seis meses, vai ser um teste. Ele está muito feliz, acho que ainda tenho um pé atrás, mas se tem uma coisa que aprendi é que é mais fácil se arrepender de algo que fez do que viver com a dúvida de como poderia ter sido caso tivesse feito.
Estou começando a gostar desse negócio de viajar de carro, é um pouco cansativo, só que libertador ao mesmo tempo, me sinto adulto viajando de carro sozinho — o rádio é minha única companhia — mas enfim, estou fazendo uma parada em Fortaleza porque meu melhor amigo vai viajar de férias pros Estados Unidos com o namorado, eles marcaram em um bar com karaokê.
Juro que tentei chegar antes mais não deu, agora estou colocando o bar no GPS e o Raylan já me mandou umas quatro mensagens perguntando por mim, até o Cícero quis confirmar mais cedo que viria para sua despedida. Não perderia essa chance de ver meus amigos, ainda mais em uma ocasião tão feliz, Dan e Cícero finalmente se acertaram, Dan parece ter finalmente seguido em frente o que é muito bom, ele deu uma chance para o Cícero o fazer feliz, isso fez do meu melhor amigo o bobo mais feliz do mundo, isso é realmente bom, torço pra que eles superem todos os obstáculos que possam aparecer e continuem a crescer como um casal.
Quanto o carro para em frente ao bar vejo a moto do Cícero na entrada — devo está no lugar certo então — pego minha carteira e me dirijo até meus amigos que estão dentro do bar, logo de cara vejo Cícero em pé entregando uma bebida para o namorado, Raylan está sentado de frente para o Dan com Guigo do seu lado, fico surpreso ao ver a Bia também — sozinha — eles devem ter feito as pazes. Assim que Cícero me ver ele corre em minha direção e me dar um abraço bem apertado — esse é meu segundo abraço favorito — até me tira do chão, ele parece ter sentido minha falta tanto quanto senti a sua.
— Finalmente você chegou Seu Ricardo, já estava pra ir te buscar — ele diz sorrindo depois de me soltar.
— Tive que pôr no GPS Seu Cícero, esse lugar que vocês escolheram eu não conhecia.
— Verdade, você não chegou a vir com nenhuma vez.
— Não chamou o pessoal do racha? — Pergunto.
— O Romeu diz que vem, mas ele está fazendo uma prova, falou que vem assim que acabar e o resto dos caras não é muito amigo do Dan então achei melhor não chamar — ele vai me explicando ao mesmo tempo em que me leva até a mesa.
— Pensei que você não ia vir — Raylan diz ao levantar pra me dar um abraço.
— Vim de longe moleque, foi meio difícil chegar aqui também — não sei rodar tão tem na cidade.
— O importante é que você conseguiu vir, não liga pro Ray, ele só está pentelhando — Guigo é o segundo a levantar pra me abraçar.
— Oi Rick — Dan me cumprimenta sentado mesmo com um leve aceno de mão, mas pelo menos ele me olhou nos olhos dessa vez. Deve mesmo ter superado afinal.
— Que saudades Rick, como vão as coisas? — Bia começa uma tentativa de reaproximação comigo.
— Você parece bem Bia — digo depois de abraçá-la.
Como estou dirigindo aceito uma lata de coca cola que Cícero pegou pra mim, parece que faz mais tempo desde que me despedi dele na rodoviária, seu cabelo está um pouco maior e sua pele bronzeada, não sei como, mas meu amigo conseguiu ficar ainda mais gato, deve ter um dom natural seu. Dan também parece meio diferente, mas confiante, um pouco mais magro, imagino que deva está nervoso por conta da viagem também, ele vai sair do país e conhecer o parente de quem Cícero mais fala e ama — isso dá um pouco de pressão pra qualquer um.
— Como tá a Bisa? — É engraçado ouvir ele a chamar assim.
— Rapaz ela mandou um queijo pra você que ela mesma fez — digo.
— Não acredito que ela lembrou — seus olhos se iluminam — falei pro Dan sobre esse queijo desde quando voltei, a Bisa é a melhor cozinheira do mundo gente.
— Pensei que a Cláudia fosse sua cozinheira favorita — Dan o questiona.
— Eu amo a Cláudia, mas nada nesse mundo supera comida de vó né gente — Cícero e a Bisa tiveram uma conexão de neto e avó mesmo.
— Ave Maria, a Bisa gosta mais do Seu Cícero do que de mim e olhe que fui seu favorito por anos — não consigo segurar a risada enquanto digo isso, mas nem é meme, ela realmente gosta mais dele agora — inclusive ela lhe intimou a ir lá quando voltar.
— A gente bem que podia combinar de irmos todos juntos né? — Bia lança a ideia — Claro se não tiver problema de receber a gente Ricardo.
— Rapaz tem bastante espaço pra rede no sítio.
— E a barragem do Rio é meu lugar favorito, tenho certeza que vocês vão amar — Cícero já está a mil com a ideia da visita.
— Quando voltarmos podemos ver isso — até Dan parece disposto a fazer essa viagem, isso é um grande avanço em nossa nova relação.
— Vocês vão cantar hoje? — Guigo muda o assunto perguntando para turma.
— Eu vou com certeza — Seu Cícero adora um palco.
— Hoje você vai só amor, minha cota de mico com você já foi preenchida — Dan diz se divertindo com a reação do namorado.
— Eu canto com você pode deixar — Raylan se prontifica.
Cícero canta bem, mas com Raylan não existe talento que se salve, minha nossa como meu amigo de infância canta mal, progre Guigo que tem que ouvir até o final, mas diferente dele eu posso fugir. Vou até o banheiro e depois até o bar pra pegar algo pra tomar — ainda não alcoólico, mesmo com a performance de Raylan me dando vontade de beber.
— Conheço você? — O barman me pergunta ao me entregar uma lata de coca cola.
— Acho que não, eu tenho um rosto familiar — lhe lanço uma boa olhada para tentar lembrar, mas não vem à mente de onde posso conhecê-lo.
— Um cara bonito assim não tem muitos, devo lembrar em algum momento de onde te conheço — ele insiste.
— Bem, para o caso de você não lembrar meu nome é Ricardo — o cara é lindo, magrinho e muito menor que eu, ele é muito fofo e bonito também.
— Francisco — ele estica a mão e a aperto, sua mão pequena se perde dentro da minha e isso me faz ter pensamentos não muito decentes com suas mãos pequenas e macias tocando meu membro duro, faz um tem tempinho que não transo, porém não estava pensando muito sobre isso até agora.
— Você trabalha só aqui? Pode ser que tenha me visto em outro bar — ainda não estou pronto pra voltar pra mesa então puxo conversa com o Francisco o bartender lindo e pequeno.
— Já trabalhei em outro bar, mas esse aqui é meu mesmo — ele diz cheio de orgulho, gosto desse brilho nos olhos que ele possui.
— Tão jovem e já tem um bar que interessante — digo com uma verdadeira admiração.
— Dois, tenho um no caminho do centro e esse que comprei recentemente, no Boteco do Chico servimos almoço também, você pode ter almoçado lá em algum momento talvez — ele continua tentando lembrar de onde me conhece — e a propósito não sou tão novo.
— Com certeza lembraria de você se tivesse entrado no seu bar, até porque teria vindo lhe pedir algo pra beber — o encaro nos olhos para deixar claro minha intenção de flerte.
— Você é um galanteador, gosto do seu cortejo — ele brinca — me deixa te fazer uma bebida por conta da casa.
— Iria adorar, mas estou dirigindo e não estou consumindo bebidas alcoólicas — lamento ter que dispensar, pois ele me despertou uma curiosidade pelo inesperado.
— Para sua sorte sou especialista em drinks, modéstia parte sou muito bom nisso e em outras coisas também — Ele deixa um tom sugestivo no ar, claramente se divertindo com nosso flerte.
— Vai me surpreender com algo sem álcool então? — Ergo a sobrancelha o desafiando.
— Sou capaz de saber do que você gosta só com poucas perguntas na verdade.
— Duvido que aceite meu pedido sem eu te dizer — gosto do jogo.
— Muito bem, vamos lá então, que comece o jogo — Francisco tem uma risada tão gostosa de ouvir, estou me perguntando agora como será que é seu gemido enquanto o penetro devagar, esse moleque está me atraindo e nem se deu conta disso.
— Pode começar.
— Você está solteiro? — Sua primeira pergunta me pega de surpresa, mas até que gosto da forma como ele é direto, mas mantendo a proposta do nosso jogo.
— Sim, estou solteiro há muito tempo inclusive — ele sorri um pouco mais agora, esse moleque tem a maior pinta de devasso, quero fazer muitas coisas sujas com esse moleque com carinha de santo, desde que conheci o Mauro não ficaram tão afim de alguém assim.
— Interessante — Francisco começa a preparar meu drink com os olhos presos nos meus, ele sabe exatamente onde está cada garrafa de que precisa, tenho que admitir que ele é realmente bom.
— E você tem namorado? — Pergunto.
— Sou eu quem faz as perguntas aqui, olha as regras — agora quem está rindo sou eu — muito bem Ricardo, você está só de passagem pela cidade ou mora aqui?
— Não sei o que suas perguntas podem dizer sobre meus gostos — questiono, mas estou gostando do rumo desse jogo.
— Não contexte meus métodos só meus resultados — ele responde fingindo uma seriedade que logo cede espaço para mais uma gargalhada sincera.
— De passagem, estou indo para Natal no Rio Grande do Norte.
— Legal, nunca fui, mas tenho um amigo que passou uns meses trabalhando lá e falou bem da cidade.
— Você só tem mais uma pergunta, melhor escolher com cuidado — brinco entrando em seu jogo totalmente, Francisco não para de misturar os ingredientes, sua habilidade é tanta que ele faz malabarismos com as garrafas como se fosse a coisa mais fácil do mundo.
— Seu ex está naquela mesa? — ele faz um gesto de cabeça indicando a mesa dos meus amigos.
— Não — ele sorri e me encara com suspeita — não é ex, mas demos um beijo uma vez, mas como você soube?
— Ele não tira os olhos da gente desde que você se sentou aqui, se não fosse ex com toda certeza seria alguém querendo virar atual — ele conseguiu me surpreender, nem percebi que ele estava tão atento assim — é meu trabalho notar essas coisas — ele completa como se pudesse ler minha mente.
— Então o que preparou para mim? — pergunto o encarando com expectativa.
Francisco serve a bebida em uma taça com guarda chuvinha e tudo, mas ele disse que me faria um drink sem alcool, porem vi ele batizando esse, mas antes que possa estampar meu sorriso de vitória ele chama um dos garçons entregando a taça e indicando de quem é o pedido, agora com minha atenção cem por cento voltada para ele o moleque me manda um sorriso cheio de malícia e provocação.
Sem dizer nada ele corta um limão em rodelas, algo em nele me prende a atenção, não dizemos nada apenas o vejo trabalhar. Em um copo ele coloca folhas de hortelã, açúcar e depois os pedaços de limão, ele bate bem sua mistura amassando o limão e as folhas de hortelã — o safado ainda morde o lábio de forma provocante, como alguém consegue ser tão sexy preparando um drink — em seguida enche o copo de gelo e por fim coloca soda, com uma colher grande ele mexe para dar o ponto, finaliza com uma rodela de limão presa à borda do copo para decora e está pronto meu drink.
— Virgen Mijito — ele pisca para mim e faz um gesto com a mãe para que eu prove.
É uma combinação de doce, azedo e refrescante. O limão e a hortelã dão um toque cítrico e aromático, enquanto a soda e o açúcar equilibram o sabor, nunca provei algo assim, é muito bom, nem consigo fazer mistério sobre o que achei, Francisco se ilumina ao perceber que acertou meus gostos, mas agora estou curioso para saber se foi pura sorte ou se ele de fato tem sua ciência para desvendar os gostos de seus clientes.
— Foi um golpe de sorte — digo para provocá-lo.
— É um clássico e agrada a quase todos, mas sabia que você iria gostar — Francisco parece muito confiante em seus argumentos.
— Como você pode ter tanta certeza assim? — me inclino apoiando meu cotovelos no balcão.
— Você gosta dos clássicos, não curte rodeios, o simples te agrada, mas não quer dizer que você não saiba aproveitar bem o que a vida lhe oferece — estou intrigado, ele parece me conhecer bem apenas de me observar — você sabe degustar bem.
— Não costumo beber drinks — digo o corrigindo.
— E quem disse que ainda estou falando de drinks? — É quase possível ver as faíscas entre nossos corpos, estou querendo muito beijar esse moleque provocador.
— Vai ficar no balcão a noite toda mesmo Rick — Raylan aparece do meu lado e me puxando de volta para mesa, bem a cara dele não perceber ou simplesmente não ser capaz de ler o momento.
Não quero ser babaca, vim para despedida dos meus amigos, então piscou para o Francisco que rir se divertindo com tudo isso, depois acompanho Raylan de volta para mesa, mesmo assim meus olhos ficam voltando para o pequeno Barman, com sua carinha de santo, mas atitude de devasso, quero despir esse moleque, quero vê-lo subir e descer no meu colo, devo está ficando maluco ou só a muito tempo na seca, porém é divertido pensar em perversões que quero fazer com ele, faz tempo que não sentia tesão por alguém, ainda mais desse tipo meio inexplicável.
— O que você tem? — Dan me pergunta ao perceber que minha mente está divagando.
— Nada — desvio o assunto.
— Não acredito que você ainda está pensando naquele PM — diz Raylan já fechando a cara.
— Nem tive mais notícias dele pessoal, relaxa, amanhã vou está na estrada, é provável que nem o veja.
— Você vai dormir com a gente né? — Cicero pergunta.
— Agradeço amigo, mas já peguei um hostel perto do centro, vou ficar bem, não precisam se preocupar.
— Sabe que pode ficar lá em casa, né? — Dan se pronuncia me pegando de surpresa — vamos acordar cedo amanhã para ir pro aeroporto mesmo.
— Não quero atrapalhar o itinerário de vocês, podem ficar tranquilo que vou ficar bem, agora vamos lá, vim aqui para ver o talento de vocês no palco — por hora meus amigos param de tentar me convencer a dormir ou casa casa do Cícero o a do Raylan, já peguei o hostel, vou ficar bem, e mais à vontade com toda certeza.
Depois de mais algumas músicas e algumas doses os primeiros a terem que ir embora são Raylan e Guigo, depois de mais um pouco Bia também se vai e assim nosso rolê chega ao fim com o bar quase fechando, é madrugada, estou um pouco cansado, mas me diverti muito e pela primeira vez em muito tempo Dan está de boas comigo o que é ótimo e deixa o clima de forma geral muito mais leve, Cícero tenta uma última vez me convencer de ficar com eles e não em um hostel, mas sigo firme de que por uma questão de logística é melhor assim, então me despeço deles e lhes desejo uma excelente viagem mais uma vez. Dan não bebe e está habilitado, isso me deixa muito mais tranquilo, não gosto quando Cícero insiste em dirigir bêbado.
— Me liga quando chegar lá no seu pai — Cícero mesmo bêbado banca o amigo preocupado e fofo.
— Pode deixar Seu Cícero, se o velho encher o saco eu dou no pé — o tranquilizo.
— Muito bem, Seu Ricardo não é para ficar aguentando abuso de ninguém não.
— Valeu, mas melhor o senhor ir com seu namorado para casa Seu Cicero, amanhã vocês viajam cedo — Dan me agradece com um gesto de cabeça.
— Certo, e você me mantenha informado não é para esquecer — faço que sim concordado, pois sei que Cícero só vai parar quando eu disser o que ele quer ouvir.
— Aviso você e você me trate de se comportar nessa viagem, cuida do Dan.
— Vou cuidar, né amor, eu cuido de tu né — Dan está rindo e fazendo carinho em seu cabelo.
— Cuida sim vida, agora vamos que o Rick tem ração, amanhã temos que está bem cedo no aeroporto.
Eles partem e eu sigo para meu carro, mas não consigo dar a partida, não paro de pensar no Francisco e sei que seu eu for embora agora nunca mais vou ter uma chance de ficar com ele, então desço do carro e volto a entrar no bar, os garçons estão começando a guardar as mesas e limpar o lugar, vou até o balcão onde Francisco orienta um de seus funcionários no abastecimento do freezer.
— Ainda posso pedir algo para viagem? — Ele sorri ao me ver de volta e entra no meu jogo.
— Depende do Ricardo, o que você quer pedir?
— O Barman, será que você pode embalar para mim?