Que inferno! A minha vida estava um caos. O Fernando não me respondia mais, e eu não sei se era por raiva, por desinteresse ou por pura falta de tempo. Cada dia que passava, sentia que ele se afastava mais de mim, e eu não tinha forças para correr atrás. Talvez eu merecesse isso. Talvez eu tivesse estragado tudo.
E, para piorar, estou desempregado. O Posto, que era minha fonte de renda e, de certa forma, meu porto seguro, estava sendo investigado. Fui até a delegacia com os outros colegas para depor, mas não tivemos nenhum retorno. O advogado que consultamos disse que o caso não ia dar em nada, mas mesmo assim fiquei apreensivo. O dinheiro que entrava era bom, e agora estou aqui, tentando me virar com o seguro-desemprego e um emprego temporário que consegui graças ao Murillo.
Falando nisso, a academia. Sim, consegui uma vaga como atendente em uma das unidades. O lado bom? Não precisava mais pagar para malhar. O lado ruim? O salário era pouco, e ainda por cima não tinha carteira assinada. Mas, enfim, era melhor do que nada. Pelo menos tenho grana para me sustentar até encontrar algo melhor.
O dinheiro do seguro-desemprego estava sendo gasto com cuidado. Comprava produtos mais baratos, evitava gastos desnecessários e tentava manter a cabeça no lugar. Mas, às vezes, era difícil. A solidão batia forte, especialmente com as festas de fim de ano se aproximando. Pelo jeito, vou passar mais um Natal sozinho.
Recebi uma mensagem da Paloma. Ela e o pessoal do Posto vão fazer uma festa de despedida. Achei estranho, já que a maioria de nós foi demitida, mas decidi ir. Pelo menos seria uma distração. Enquanto isso, continuava tentando entrar em contato com o Fernando, mas nada. Ele deveria me odiar.
No meio dessa turbulência toda, encontrei a turma do futebol. Já tinha ficado com eles um tempo atrás, mas nunca tinha rolado nada sério. O Cauã, o único que eu lembrava o nome, se aproximou e perguntou se rolava mais uma aventura. Eu estava tão triste, tão carente, que acabei topando.
Lá fomos nós. O meu kitnet ficou pequeno para tanto homem. Eram sete rapazes, todos suados, exalando testosterona e uma energia que eu não sentia há tempos. Cauã era claramente o líder do grupo. Magro, alto, com tatuagens espalhadas pelo corpo e um jeito de quem sabe o que quer. Ele baixou o short e revelou o que já era esperado: um pau enorme, cheio de veias e grosso.
Eu não vou mentir: fazia tempo que não me sentia desejado. Desde que parei de atender os clientes do Posto, minha autoestima tinha ido para o buraco. Aqueles caras, com seus corpos suados e seus olhares famintos, me fizeram sentir vivo de novo.
A tarde foi uma mistura de prazer e dor. Eles se revezavam, me comendo, me xingando, batendo na minha bunda. Cada tapa, cada palavra dura, me fazia sentir mais presente, mais real. Um a um, eles foram gozando, deixando meu corpo todo grudento, marcado por eles.
Quando acabou, fiquei deitado no chão, exausto, mas com um sentimento estranho de alívio. Por um momento, eu não pensei no Fernando, no desemprego, no futuro incerto. Por um momento, eu só existi.
Depois da sessão de pau, passei parte da noite na cozinha, mexendo a lasanha no forno, tentando não deixar queimar o queijo por cima. O cheiro de molho de tomate e queijo derretido já tomava conta do apartamento, e eu me peguei pensando se seria o suficiente para impressionar a galera. Não que eu queira impressionar alguém, mas, sabe, era aquela coisa de querer mostrar que tô me virando bem, mesmo desempregado. Enquanto esperava, dei uma olhada no espelho. Coloquei uma camisa que não usava há um tempo, mas ainda estava boa. Nem parecia que foi comprada no Brás.
Quando a lasanha ficou pronta, embrulhei com cuidado num pano de prato e peguei um carro de aplicativo. No caminho, pensei em como seria legal ver todo mundo de novo. Paloma, Lucas, o resto da turma da madrugada. Fazia tempo que a gente não conversava pessoalmente, desde que o posto de gasolina nos demitiu e cada um seguiu seu rumo.
Chegando na casa da Paloma, já escutei a música lá de dentro e o barulho das risadas. Bati na porta, e ela abriu com um sorriso largo.
— Joel, chegou! E trouxe lasanha, gente, olha só! — ela gritou pra dentro, e eu me senti meio sem graça, mas também feliz por ter acertado no prato.
Entrei e vi todo mundo lá. Lucas sentado no sofá, com uma cerveja na mão, já meio alterado. Ele levantou e me abraçou, como se a gente não se visse há anos.
— Joel, meu parceiro! Tá grandão, hein? — Lucas riu, e eu dei uma risada também.
Paloma toda animada, contando que conseguiu um emprego em outro posto, mas agora no turno da manhã e que ficaria longe dos caminhoneiros por um tempo.
— Pelo menos não vou mais virar a noite. — ela disse, e todo mundo concordou.
A galera começou a falar das conquistas. Lucas soltou que estava namorando uma "coroa" que o bancava, e todo mundo ficou impressionado, mas ele estava feliz, então quem sou eu pra julgar? Outros revelaram que estavam fazendo bicos, estudando, tentando se encaixar em algo novo. Quando perguntaram de mim, falei que estava no aguardo da nota do Enem. "Joel vai ser doutor, gente!", alguém gritou, e eu não segurei a risada, meio sem jeito, mas feliz pelo apoio.
A lasanha sumiu rápido, e as garrafas de cerveja e refrigerante foram se acumulando na mesa. O funk começou a tocar, e alguns se soltaram na pista de dança improvisada, enquanto outros só olhavam e bebiam, rindo das palhaçadas. Lucas, já bem bêbado, se aproximou de mim e me abraçou de novo.
— Cara, saudade daqueles tempos, hein? Lembra quando a gente ficava até de madrugada contando piada no posto? — ele falou com um sorriso meio triste, e eu concordo.
— Confesso que no início te detestava, mas eu aprendi a gostar de ti. — revelei, sorrindo.
— Gostou do meu pau. — comentou.
— Idiota. — soltei e bati em seu peitoral.
— Vem. — ele me puxou para um quarto vazio e trancou a porta.
— Lucas...
— Uma última vez. Eu preciso disso. — ele pediu.
A música ainda ecoa lá fora, mas dentro do quarto estava quieto, só o som da nossa respiração quebrando o silêncio. Lucas fechou a porta atrás de nós, e agora estávamos ali, encarando um ao outro, meio sem saber por onde começar. Fazia tanto tempo que a gente não ficava assim, só nós dois, desde aquelas noites no posto, quando o movimento era lento e a gente matava o tempo com conversas e risadas.
Ele deu um passo pra frente, e eu senti o cheiro da cerveja nele, mas também aquele perfume que ele sempre usava, que me trazia um monte de lembranças. "Joel..." ele falou, a voz meio rouca, e eu já sabia o que vinha por aí. A gente se olhava por um instante, e então ele se aproximou, devagar, como se tivesse medo de quebrar o momento.
Quando ele me tocou, era como se o tempo voltasse. Seus dedos passaram pelo meu rosto, e eu fechei os olhos, deixando a sensação tomar conta. Ele me puxou pra perto, e nossos corpos se encaixaram como se nunca tivessem se separado. O beijo começou devagar, mas logo ficou mais intenso, cheio de saudade e de tudo aquilo que a gente nunca disse.
As mãos dele desceram pelas minhas costas, e eu senti um calafrio percorrer meu corpo. Eu o puxei mais perto ainda, querendo sentir cada pedaço dele. A gente caiu em cima da cama, rindo baixinho, como se fosse uma brincadeira de adolescente, mas a tensão entre a gente era real, palpável.
As roupas foram caindo no chão, uma peça de cada vez, e cada toque parecia acender algo que eu tinha esquecido. Ele me olhava nos olhos, e eu vi nele a mesma mistura de desejo e nostalgia que eu estava sentindo. "Tá tudo bem?", ele perguntou, e eu só acenei com a cabeça, porque as palavras pareciam difíceis agora.
A gente se moveu juntos, devagar no começo, como se estivesse reaprendendo um ao outro. Cada toque, cada suspiro, parecia trazer de volta um pedaço do que a gente tinha antes. E, por um momento, era como se o mundo lá fora não existisse. Só existiamos nós dois, e tudo o que a gente já foi.
Quando acabamos, ficamos deitados ali, lado a lado, olhando pro teto. A respiração foi ficando mais calma, e eu senti o peso do corpo dele ao meu lado. "Joel...", ele disse de novo, mas dessa vez não completou a frase. Eu virei pra olhar pra ele, e percebi um sorriso meio triste nos lábios dele. "Saudade, né?", eu questionei, e ele concordou com a cabeça.
Nós ficamos em silêncio por um tempo, só ouvindo o barulho da festa lá fora. E, por mais que eu soubesse que isso foi só um momento, um reencontro de duas pessoas que já foram próximas, eu também sabia que ia guardar isso comigo. Porque, às vezes, precisamos de um pouco do passado para seguir em frente.
Os dias foram passando devagar, como se o tempo tivesse decidido me testar. O ápice foi o dia de ir ao RH do posto assinar aqueles papéis que ficaram pendentes desde que tudo acabou. A moça do RH, uma loira simpática que sempre parecia estar com pressa, me recebeu com um sorriso meio cansado.
— Joel, as investigações foram encerradas. Descobriram que era só um esquema entre funcionários, nada sério. — ela disse, como se isso fosse me consolar.
— E aí, não dá pra nos recontratar? — questionei, brincando. — Cadê o espírito natalino de vocês?
Ela riu, mas foi daqueles risos sem graça, sabe? Acho que ela já estava de saco cheio de ex-funcionário fazendo piada.
Depois do RH, segui direto pra academia, onde estava tentando me manter no setor da administração. Confesso que o horário era bem melhor, nada daquela madrugada maluca do posto, e o trabalho era mais leve. Mas o salário... bom, o salário era uma piada. Agora, justo quando eu deveria estar contando com o dinheiro do posto, né? Mas tudo bem, como digo pra mim mesmo: novo ano, novo Joel. Pelo menos era o que eu tentava acreditar.
Faltavam dois dias para o Natal, e o clima natalino estava por todo lado. O prédio do meu kitnet estava todo enfeitado, com luzinhas piscando e um pinheirinho na entrada que já tava meio caído de um lado. Até a academia foi decorada, com guirlandas e um Papai Noel de plástico que parecia mais assustador do que alegre. Mas, sinceramente, eu não estava sentindo nada disso. Estava em tudo, menos no clima natalino. Sentia falta de alguma coisa, mas não sabia bem o quê.
Naquela tarde, enquanto eu tentava me distrair vendo vídeos no YouTube, recebi uma mensagem da Joyce, a coordenadora do instituto de acolhimento onde eu morei por um tempo. "Joel, vem aqui jantar com a gente e confraternizar com os internos. Tá todo mundo te esperando!", ela escreveu. Não pensei duas vezes. Topei na hora. Afinal, o que mais eu tinha pra fazer, né?
Decidi que ia levar uns presentes pras crianças. São 30 no total, e eu pedi uma lista para Joyce com os nomes e idades de cada uma. Coloquei uma roupinha folgada, passei protetor solar e coloquei um óculos escuro. Triste sim, feio jamais. Peguei um pirulito que estava na mesa e coloquei na boca, tentando me animar pro que viria pela frente.
Enquanto me preparava, mandei um áudio pra Joyce: "Joyce, é o seguinte, eu vou levar uns brinquedos pras crianças. São só 30, né? Meu orçamento tá limitado, mas vou fazer o que der. Me ajuda a me ajudar a te ajudar, tá?". Ela respondeu na hora, com um "Claro, Joel! Você é um amor!". Aí eu pensei: "Meu Deus, que eu não faça besteira".
Peguei minha mochila e fui em direção à porta, já imaginando como ia ser a cena no abrigo. Mas, ao abrir a porta, levei um susto. Lá estava o Fernando, ofegante, vestido com uma roupa estranha que parecia saída de um filme de zumbi. No peitoral dele, as siglas "R.P.D". Eu não fazia ideia de que personagem era aquele, mas não tive tempo pra pensar muito. Ele estava ali, suando, com uma cara de quem tinha corrido até meu kitnet.
— O que você tá fazendo aqui? — perguntei, tentando disfarçar o nervosismo.
Fernando olhou pra mim, respirou fundo e soltou: "Joel, preciso da tua ajuda. É urgente." Aí eu pensei: "Agora? Sério? Tô indo comprar presente para 30 crianças, cara!". Mas a expressão dele era séria, e eu sabia que não tinha como fugir disso.
— Entra — eu disse, abrindo a porta e deixando ele passar.
E lá estava eu, com um pirulito na boca, uma lista de 30 crianças para presentear e um Fernando vestido de patrulheiro na minha sala. O Natal deste ano prometia ser... diferente.