Capítulo 8: Ficha Azul

Um conto erótico de Novatinho
Categoria: Gay
Contém 6818 palavras
Data: 10/03/2025 12:36:26

O sol não tinha raiado completamente, Quando passos apressados subiam as escadas do prédio. O ambiente era diferente do cabaré, mas, ainda assim, carregava um ar de clandestinidade, um silêncio incômodo, como se o lugar inteiro segurasse a respiração. Felipe chegou à porta do apartamento e suspirou, sentindo o alívio de finalmente estar ali.

Bateu na porta com os nós dos dedos, sem muita paciência.

Silêncio.

Bateu de novo.

Nada.

Bufou, revirando os olhos.

— Hiroshinho, criatura! — chamou, já se abanando com a mão. — Se tu tiver pelado, se cobre, viu?!

Quando já se preparava pra soltar um xingamento, ouviu passos arrastados. Demorou mais uns segundos, mas finalmente a porta se abriu. Léo apareceu ainda grogue de sono, só de cueca, olhos fechados, cara de quem nem tinha certeza se estava acordado ou sonhando.

Felipe arqueou a sobrancelha, dando uma olhada demorada e nada discreta.

— Eita... — lançou, fazendo um gesto exagerado. — Agora eu entendi tudo!

Léo piscou devagar, depois deu um sorrisinho debochado.

— O que foi, vô? Nunca viu um cara de cueca?

Felipe bateu palminha de leve.

— Meu bem, cueca eu vejo todo dia, mas um BOFE desses?! Isso sim é novidade!

E, sem esperar permissão, entrou de vez no apartamento, já batendo os olhos no vão principal. Léo bocejou, coçando o peito.

Hiroshi largado na cama, coberto só até a cintura, a respiração pesada de quem ainda estava afogado na ressaca. Felipe arqueou a sobrancelha e deu um sorrisinho.

— Ahhh, então era isso, né? Tô passada!

Léo acendeu um cigarro e olhou Felipe de cima a baixo com um meio sorriso.

— Então tu que é o tal do Pipoca? Pensei que fosse maior… e menos barulhento.

Felipe revirou os olhos e soltou, debochado:

— E eu pensei que tu fosse mais discreto, mas olha só... porta escancarada, cueca frouxa... tô vendo que a vergonha ficou lá no interior, né?

Léo fechou a porta com o pé.

— Se tu veio pedir benção, já tá dado, padrinho. — Se jogou no sofá como se Felipe fosse só mais um dos móveis.

Felipe deu um breve sorriso e brincou:

— Ai, não me tenta, viado. Que eu sou doida pra apadrinhar uma cachorrada.

Mas o olhar logo voltou pra Hiroshi.

— Levanta, dorminhoco, já deu tua hora! — chamou, puxando o lençol de uma vez.

Hiroshi resmungou, virou pro lado e tentou se enfiar de novo na bagunça dos panos.

Felipe cruzou os braços.

— Ah, então é assim? Enquanto eu tenho que ficar fingindo que gosto das maluquices da Sirena, você tá aqui de férias, se divertindo? Não é justo, viu?

Hiroshi nem se mexeu. Felipe suspirou e bateu de leve na coxa dele com as costas da mão.

— Bora, criatura! Antes que eu arraste essa cama contigo dentro.

Hiroshi só se encolheu mais no colchão.

— Aí, Pipoca, na moral... me deixa morrer em paz.

Silêncio.

— Morrer?! — Pipoca escandalizou. — Ah, morre lá no cabaré então, pelo menos ganha um cachê! Quem tá morrendo sou eu, tendo que fingir pra Sirena que tá tudo bem, enquanto tu some e deixa o barraco todo nas minhas costas!

Léo assistia de canto, já se divertindo.

— Cês parecem um casal brigado.

Felipe lançou um olhar afiado.

— E tu parece um bofe que se mete onde não foi chamado!

Virou de lado, encarando Léo de cima a baixo, como se só agora tivesse reparado nele direito.

— Aliás… boa pergunta. Tu é o bofe ou é o Hiroshi? Ai, tô confusa!

Hiroshi riu baixinho, sem abrir os olhos.

— Pipoca, eu vou mais tarde, pô...

— Mais tarde, minha raba! — Felipe deu um passo à frente, já preparando um ataque. — Tu vai agora, meu filho. AGORA!

Léo bufou, se ajeitando no sofá.

— Deixa o moleque dormir, porra.

Felipe virou nos calcanhares pra retrucar, mas travou no meio do movimento.

Léo estava com um canudo já no nariz, sugando o restinho de pó sem nem abrir os olhos direito.

Felipe cruzou os braços, tombou a cabeça de lado e soltou um suspiro dramático.

— Ai, ai, olha ele… preocupado com o sono do Hiroshinho, mas cheirando mais que um aspirador de pó logo cedo. Gatão, tu devia largar mão de babá e começar a se preocupar com esse nariz, viu?

Léo riu pelo nariz, deu mais uma puxada no canudo e limpou a ponta com o dedo.

— Relaxa, moça… esse teko aqui não atrapalha meu sono, não.

Felipe fez uma careta, jogando as mãos pro alto.

— Credo! Não quero nem imaginar o que rola aqui nessas noites...Cuidado viu, eu vou ficar de olho!

Hiroshi, tentava voltar a dormir, só suspirou fundo.

— Pipoca, tu sabe que eu não cheiro.

— É, mas cê também não cuida de macho que cheira, né?

Léo só ria enquanto tragava o cigarro. Felipe lançou um olhar azedo, mas voltou a atenção pra Hiroshi.

— Levanta. A casa tá um caos, Sirena já tá falando em te puxar pela orelha, e eu não sou teu secretário pra segurar tudo sozinho.

Hiroshi resmungou mais alguma coisa, mas antes que ele pudesse se enterrar nos lençóis de novo, Felipe puxou de vez e deu um tapinha no colchão.

— Levanta, Hiroshinho! Pelo amor da minha dignidade!

— Tá bom, tá bom... já tô indo, caralho... — Hiroshi resmunga, se levantando ainda meio grogue.. Pega uma calça jogada na cadeira, veste sem pressa, ajeita a camiseta amassada e coça a nuca.

Léo observava enquanto Felipe só batia o pé no chao de braços cruzados. Hiroshi puxou a carteira e pegou umas notas e estendeu pra Léo.

Léo ergueu a sobrancelha.

— Isso aí dá pra tu se virar hoje. Não sei se volto, então vê se não surta.

Léo olhou pro dinheiro e riu de lado.

— Caralho, bicho, tô me sentindo uma quenga agora.

Hiroshi riu também, mas ficou sério logo depois.

— É só pra tu não passar necessidade, Léo.

— Tá doido, mano? Eu não passo necessidade, não.

— Então guarda.

Léo um pouco sem jeito, olhou pra Felipe, que não fez espanto na cena. Olhava pra as notas se perguntando o que aquilo estava significando. Hiroshi interrompeu os devaneios dele:

— Tu precisa de mais alguma coisa?

— Não, mano, vai na tua.

Felipe revirou os olhos e bateu palminha.

— Bora, Hiroshinho! Que eu já perdi meu humor com essa rasgação de seda.

Hiroshi deu um sorriso apos colocar seus óculos e saiu fechando a porta em seguida.

Léo ficou ali, sofrendo um vazio estranho no peito, olhando as notas dobradas na mão. E agora? O que ia fazer sozinho o resto do dia... além de esperar?

***

A conversa entre Hiroshi e Léo naquela noite mudou tudo. As palavras de Léo saíram aos tropeços no início, mas logo viraram uma avalanche. Era a primeira vez que dizia tudo em voz alta. O nó no estômago, o peso no peito, as verdades que ele entendia naquele momento e que segurava há tempo demais. E Hiroshi só ouvia.

Léo, pela primeira vez, se permitiu falar sem barreiras. Sem omitir, sem distorcer — ou pelo menos, sem perceber que distorcia. Disse tudo como enxergava, como se fosse a única verdade possível. Contou tudo. Desde seus pensamentos ao deixar a capital, sobre Caio e o que fazia pra ganhar dinheiro até os limites que rompeu sem perceber, a ilusão de controle que a droga trouxe e depois arrancou. Os erros, as merdas que ele fez tentando preencher o vazio. Tudo foi falado.

Hiroshi ouviu. Sem interromper, sem julgar. Só ouviu. A dúvida sobre a existência da gravação no quarto que Hiroshi quis intervir, mas Léo foi firme. ‘Isso eu resolvo sozinho.’ Mas sozinho nunca foi bem o caso.

E, quando a confissão terminou, veio o plano.

Um plano simples, pelo menos na teoria. Léo precisava sair daquela vida. Ele precisava se internar. Se salvar de si mesmo. A solução estava ali, clara, óbvia, mas os dois não estavam prontos para encarar de verdade. Então, decidiram dar um tempo. Um tempo antes de fazer qualquer coisa concreta.

Era só uma questão de tempo. Mas o tempo nunca acabava. E, nesse tempo, se permitiram.

O apartamento virou refúgio e prisão ao mesmo tempo. O sexo entre os dois estava menos tímido e se tornou mais intenso, mais comprometido, mas nunca dito em voz alta. Nenhum dos dois queria nomear o que estava acontecendo.

Pra eles era só um momento antes do plano começar de verdade. Era o que diziam um para o outro, entre toques e drogas, nas madrugadas sem fim.

Só que o plano nunca começava.

Os dias viraram semanas. Caio ligava constantemente pra Léo, cobrando novos vídeos, que era a forma de Caio sondar se ele estava bem. Léo conseguiu gravar um pra despistar a atenção de Caio, camuflando a tatuagem com a ajuda de Hiroshi.

A rotina foi se estabelecendo sem que percebessem. Hiroshi continuava indo ao cabaré, mas passava mais tempo fora de lá do que dentro. No começo, Hiroshi era o que bancava Léo. Mas, no fim, eram os dois que estavam sendo bancados por essa ilusão.

A cada dia, a dependência crescia, de formas diferentes para cada um.

***

O motor do carro roncava baixinho enquanto Hiroshi dirigia de volta pro cabaré. O sol já castigava as ruas, e Felipe, no banco do passageiro, jogado como sempre, bufava com a mão no rosto.

— Ai, Hiroshinho… Esse carro precisa urgente de um ar decente! Se eu desmaiar aqui, cê me ajeita bonitinha, pelo menos.

Hiroshi riu baixo, ajeitou os óculos.

— Drama.

Felipe abanou o rosto com a mão, revirando os olhos como se estivesse prestes a derreter.

— Agora me diz, meu bebê... que babado é esse? um bofe abrindo a porta de cueca... já tô começando a achar que tem muito mais coisa aí.

Hiroshi manteve a atenção na estrada, mas o sorriso discreto denunciou.

— Tá começando a achar agora, Pipoca? Tá meio atrasado, hein.

Felipe riu, cruzando os braços.

— Olha, não me leva a mal, viu? Eu acho ótimo cê tá saindo dessa vidinha de namorar com a propria mão... Ficar no gelo o tempo todo não é normal, Hiroshinho.

Hiroshi ria em pensamento. Felipe continuou, relaxando no banco e falando pelos cotovelos.

— Sei bem como essas coisas funcionam, viu? Já vi muito machão que bate no peito, faz a linha durão, mas na encolha tá se derretendo por um casinho. E olha… se você tá se abrindo pra alguém, já é um babado fortíssimo!

Hiroshi soltou um riso discreto.

— Sei não, Pipoca… Tu tá parecendo mais fofoqueiro do que amigo.

Felipe fingiu um choque dramático.

— Olha que desaforo! Eu sou só um preocupado, meu bem.

Hiroshi riu baixo, mas Felipe logo voltou pro tom sério.

— Agora, de verdade, Hiroshinho… Eu confio em tu, mas não confio em quem anda do teu lado... Se esse bofe começar a te puxar pra essa farinha estragada, cê tem que abrir o olho.

Hiroshi negou com a cabeça, tragando o ar quente do carro.

— Tu sabe que isso nunca foi minha onda, Pipoca.

Felipe assentiu, pensativo.

— É, eu sei, monamu… mas tem coisa que não precisa de intenção, só de repetição. Quando tu vê, já tá de quatro pro destino sem nem perceber. Só não quero que tu acorde um dia e descubra que já tá atolado na merda sem nem saber quem cagou.

Hiroshi ficou um tempo quieto, depois soltou um suspiro leve.

— Valeu pela preocupação, Pipoca. Mas tá tudo bem comigo.

Felipe ergueu as mãos, rendido.

— Tá bom, tá bom… Mas esse sorrisinho aí tá entregando alguma coisa, viu? Vou até ficar calado. Qualquer coisa me chama pra um vinho pra eu conhecer teu garoto melhor... Eu mereço depois de andar nessa sauna ambulante.

Hiroshi só riu, enquanto o carro virava a rua. Quando chegaram, o portão ainda tava fechado, e o movimento morto. Todos dormiam, aparentemente. Ele estacionou e suspirou.

— Como ela tá?

Felipe fez uma careta dramática.

— Aquela desequilibrada acorda com a macaca sempre. Mas quando for de noite, vai perguntar por você. Então se prepara.

Hiroshi riu, abriu a porta do carro e saiu. O peso do dia começava a se formar. Ele precisava dormir. Precisava manter o equilíbrio.

A noite ia ser longa.

***

No apartamento, Léo ficou pensativo, tentando decidir se começava a se drogar ou voltava a dormir. A falta de Hiroshi parecia mais forte do que deveria. Ele tinha se acostumado com a presença, com a companhia. Com o jeito que as madrugadas se desenrolavam, sem precisar dizer nada. O ritual era sempre o mesmo — ficar largado no sofá, falando besteira, batendo uma sem compromisso... Era fácil, natural. Mas agora, sozinho, o silêncio parecia pesado demais.

O pó já não era novidade. Cerveja tinha na geladeira. Mas faltava alguma coisa.

O pau começou a pesar na cueca, latejando no meio das coxas. Era um incômodo surdo, um desejo sem nome.. Algo que ele já tinha experimentado antes, mas que foi ficando cada vez mais ocasional.

A ideia veio sem esforço. Uma vontade que Hiroshi ainda não atendia. Pegou o celular, abriu um site de acompanhantes e deslizou os olhos pelas opções.

— Atende em domicílio?

A resposta veio rápida, o programa fechado sem demora.

Léo largou o telefone, soltou o ar pelo nariz e passou a mão pelo pau por cima da cueca. O corpo já sabia o caminho.

Decidiu dormir antes que a necessidade gritasse alto demais.

***

Já era noite. Felipe sabia que, quando Sirena começava a se vestir cedo, era sinal de que a noite prometia. Ele bateu na porta duas vezes, sem muita paciência, depois abriu devagar.

Sirena estava diante do espelho, sentada com um cálice de vinho na mão, enquanto ajustava um brinco pequeno, mas sofisticado. Não se virou de imediato. Apenas ergueu os olhos pelo reflexo e soltou um suspiro.

— Felipe... Você entra com essa falta de cerimônia como se fosse o dono da casa.

Felipe sorriu de lado, se jogando na poltrona ao lado.

— Ah, minha querida Sirena, eu sou um humilde servo aqui dentro. E cá estou, pronto para lamber o chão se for necessário.

Sirena riu curto, girando o vinho na taça.

— Lamber o chão? Agora me surpreendeu. Pensei que sua especialidade fosse lamber o ego dos clientes.

Felipe arqueou a sobrancelha.

— E da dona da casa também, se for necessário.

Sirena finalmente virou o rosto pra ele, avaliando-o de cima a baixo.

— Como você está dramático hoje… Diga logo, Felipe. O que quer?

Felipe cruzou as pernas, jogando a cabeça pra trás como se estivesse cansado.

— Nada demais. Só queria me certificar de que a majestade está bem antes da batalha começar.

Sirena ergueu uma sobrancelha.

— Majestade?

Felipe engoliu seco, percebendo que o tom dela mudou.

— Sim... Majestade soa mais apropriado pra essa casa do que madame ou qualquer outro apelido.

Sirena girou a taça lentamente.

— E por que não rainha, então?

Felipe riu baixo.

— Porque uma rainha ainda precisa de um rei. Uma majestade governa sozinha.

Sirena deu um sorriso discreto e aprovador.

— Muito bem, Felipe... Gostei.

Ela pegou um par de luvas de cetim e lhe entregou, como se fosse um ritual sagrado. Felipe se aproximou, pegando um pente fino da penteadeira e começando a passar nos cabelos dela.

— O cabaré vai bombar hoje, hein? O povo já tá doido pra torrar dinheiro...

Sirena fechou os olhos por um instante, relaxando sob o toque do pente.

— Felipinho..., meu amor... — A voz dela veio doce, quase maternal, mas carregada de algo mais profundo. Algo perigoso. — Me diz uma coisa: você já viu um cabaré com cristais importados no bar? Com clientes que pagam adiantado só pra reservar um atendimento?

Felipe gaguejou, desviando o olhar.

— Bom... já vi cabaré com cerveja quente e luz piscando, cadeira meio bamba... Então acho que não.

Sirena manteve o olhar fixo nele por um segundo longo demais. Então, sem mudar de expressão:

— Então por que insiste? Isso aqui não é um cabaré, querido...

Felipe parou o pente por um instante, depois continuou.

— Verdade. É um palácio...

— Exatamente. — Seus olhos encontraram os dele pelo reflexo. — E quem manda nesse palácio, Felipe?

Ele riu nervoso, sentindo o peso da pergunta.

— A senhora, né? Quer dizer... você, Majestade.

Sirena parecia se iluminar com o título. Passou os dedos lentamente pelo batom, analisando o próprio reflexo como se aprovasse uma obra de arte.

— Pois é, Felipe. Amei. — Sua voz deslizou aveludada, carregada de aprovação.

Felipe percebeu o brilho de satisfação e abriu um sorriso, sempre querendo agradar.

— Tá bom, tá bom... Minha majestade. Cabaré é palavra proibida. Viva o palácio!

Sirena girou o corpo de volta para ele e esticou um dedo no ar, como quem dá uma ordem sem precisar levantar a voz.

— Isso. Agora me garanta que vai propagar essa ideia. Se eu ouvir alguém chamando isso aqui de cabaré de novo... mando trocar a cerveja cara por pinga de garrafa plástica.

Felipe fez um escândalo falso, colocando uma mão no peito.

— Cruzes! Agora pegou pesado! O povo tem que beber com classe, Majestade!

— Então trate de educá-los.

Felipe fez uma reverência exagerada, retomando o penteado dela com delicadeza. Mas antes que pudesse engatar outra conversa, viu a expressão de Sirena perder um pouco da leveza.

Sirena voltou a olhar para o espelho, mas sua atenção estava em outro lugar.

Eles ficaram em silêncio por alguns segundos, até que Sirena falou num tom mais arrastado, quase casual, mas sempre calculado.

— Hiroshi apareceu hoje?

Felipe parou o pente no ar por um segundo antes de continuar.

— Chegou, Majestade… Inclusive me fez um favor de me trazer de volta pra cá pela manha... deve estar no quarto fumando e trabalhando...

Sirena virou o rosto, encarando Felipe agora com interesse genuíno.

— Você tem certeza?

Felipe percebeu a sutileza na pergunta e abriu um sorriso, como quem já entendeu o jogo.

— Absoluta, minha Majestade. Mas se for pra garantir, posso ir agora mesmo checar até debaixo da cama dele.

Sirena sorriu levemente, mas não se deu por satisfeita.

— Não precisa. Mas já que você é tão prestativo… Vá chamá-lo aqui. Diga que é um pedido meu.

Felipe levantou devagar, dobrando o pente e colocando na penteadeira com um gesto teatral.

— Vossa Majestade tem muitos súditos... Mas nenhum tão dedicado quanto eu.

Sirena apenas sorriu, bebendo mais um gole.

Felipe abriu a porta, deu dois passos para fora, mas, antes de fechar, Sirena falou, sem olhar pra ele.

— Felipe.

Ele parou, olhando pra trás.

Sirena virou o rosto de leve, com um ar divertido, mas incisivo.

— Não demore.

Felipe sorriu e saiu, fechando a porta atrás de si com um baque seco.

***

A noite no apartamento estava carregada.

Léo, de pé, só de cueca, seco de tesão, segurava o pau por cima do tecido enquanto a puta, só de calcinha, peito de fora, mamilos duros, esperava na cama, mordendo o lábio.

— E aí, gostoso? Vai ficar só se segurando? Quero sentir essa rola.

Léo sorriu sacana, pegou o saquinho de pó, sacudiu pra espalhar.

A puta na cama com os dedos passeando pela própria coxa, subindo até a calcinha mostrando os lábios inchados da boceta enquanto tirava a peça.

— Vai cheirar, safado?

Léo rosnou baixo, segurou o canudo subiu ao nariz. Ele esticou o pescoço, fechou os olhos, puxou o ar com força, sentindo o calor do pó queimando o nariz, enquanto o pau ficava ainda mais duro na cueca.

Quando abriu os olhos de novo, a puta já estava na beira da cama, sem calcinha, com as pernas bem abertas, boceta lisinha, pulsando, esperando ele dar o bote.

Léo chegou perto, deslizou os dedos até o meio das pernas dela, escorregando entre os lábios molhados.

— Hummm, safada... tá toda pronta pra vara, né?

Ela arqueou as costas, fechou os olhos e gemeu baixinho, segurando nos braços dele.

— Tô sim, lindão... mete logo, vai?

Léo arrancou a cueca de uma vez, o pau saltando rijo. A puta mordeu os lábios e se inclinou pra frente, esfregando a mão na cabeça da pica dele.

— Ai, caralho... mete logo, não enrola!

Léo já estava com a camisinha na mão, rasgando com os dentes, segurou firme na base e encapou ligeiro esticando até a base do pau. Subiu um joelho na cama, se aproximando mais e a puta, já louquinha do colchão, abriu bem as pernas.

Com um gemido rouco, encaixou a piroca na boceta e afundou de uma vez, num golpe seco e fundo. A puta arqueou as costas, gritou, as unhas fincando nos braços dele.

— Isso, caralho! Mete, mete forte!

A cama rangeu quando Léo começou a socar com força, os quadris batendo no corpo dela num ritmo frenético. O suor escorria pela testa, o pó queimava no sangue, a sensação de poder tomava conta dos músculos.

Ele agarrou os peitos dela, apertou com força, os dedos afundando na carne macia.

— Caralho, que bucetinha gostosa.

Ela gemeu alto, segurando nos pulsos dele.

— Então fode forte, gostoso... Fode essa boceta!

Léo segurou na garganta dela, trazendo o rosto pra perto. Os olhos dela estavam arregalados nele, as pupilas dilatadas, a boca arfante.

— Tá pedindo, né? Então aguenta essa pica!

Ele socou mais forte, o colchão balançando, os gemidos ficando mais altos.

— Ai, porra! Isso, caralho! Isso!

As unhas dela arranhavam as costas dele, os corpos encharcados de suor.

Léo sentia o pau pulsar, os músculos das coxas se contraindo, a pressão do gozo crescendo no fundo da barriga. O corpo queria mais, mas o tesão já estava no limite.

Ele tentou segurar, prolongar, mas a onda já estava levando ele junto.

— Ai, caralho... porra... tá vindo!

A puta gemeu ainda mais safada, apertando os próprios peitos, a boceta sugando cada estocada dele.

— Isso, gostoso! Goza pra mim, goza gostoso!

Léo urrou fundo, o corpo inteiro tremendo, os dedos esmagando os peitos dela enquanto metia mais uma vez, até soltar o leite.

O jato quente encheu a camisinha num pulso forte, a mente girando, o peito arfando, os músculos travando na intensidade do gozo.

Por alguns segundos, o quarto ficou em silêncio. Só os corpos suados respirando pesado.

A puta ria baixinho, mordendo o lábio, alisando o pau encapado dele devagar, enquanto os espasmos finais ainda percorriam sua espinha.

O prazer tremia no corpo, mas a sensação já começava a mudar.

Léo fechou os olhos por um instante. A droga ainda queimava no sangue. O tesão já tinha sido despejado.

Mas a porra do vazio continuava ali. E nem toda droga ou sexo do mundo conseguiria preencher.

***

Hiroshi chegou na porta de Sirena e bateu duas vezes, sem pressa. Aquela conversa não ia ser tranquila, e ele sabia disso antes mesmo de bater.

— Pode entrar, querido. — A voz dela veio serena, mas carregada de intenção.

Ele girou a maçaneta e entrou com passos calculados. Sirena estava no mesmo lugar, sentada diante do espelho, a taça de vinho agora quase vazia.

Ela não olhou direto pra ele de imediato. Observou pelo reflexo, dando mais um gole, como quem analisa antes de agir.

— Feche a porta.

Hiroshi obedeceu, mas não se moveu mais do que isso.

— Fiquei sabendo que você anda sumido, Hiroshi. — A voz dela deslizou sem pressa.

Hiroshi manteve a expressão fechada.

— Precisei resolver umas coisas.

Sirena ergueu uma sobrancelha, se virando de leve na cadeira.

— Coisas?

Hiroshi sustentou o olhar dela.

— Nada que atrapalhe a casa.

Sirena riu curto, girando a taça entre os dedos.

— A casa... Você diz como se fosse apenas um negócio qualquer.

Ela se levantou devagar, dona do espaço.

— Hiroshi, meu bem... — Ela se aproximou, parando ao lado dele, sem pressa. — Você sabe tão bem quanto eu que aqui não é só uma casa, não é só um trabalho, não é só um lugar qualquer.

Ela inclinou ligeiramente a cabeça.

— E não é um lugar onde as pessoas somem sem explicação.

Hiroshi engoliu seco, mas manteve a postura.

— Eu não sumi. Só tirei um tempo.

Sirena arqueou a sobrancelha, como se o analisasse por dentro.

— Um tempo... — Ela repetiu, deixando a palavra pairar no ar, cheia de subtexto.

Então, ela deu um passo pro lado, pegando a garrafa de vinho e derramando mais um pouco na taça, mas sem beber.

— Você sempre foi um garoto inteligente, Hiroshi. Calculista. Racional.

Ela se virou de novo pra ele.

— Não me faça pensar que está começando a agir por impulso.

Hiroshi manteve o olhar fixo nela.

— Eu sei exatamente o que estou fazendo.

Sirena sorriu levemente, mas era um sorriso sem doçura.

— Jura, meu bem? Então me conta... o que está tomando tanto o seu tempo assim?

Hiroshi não respondeu de imediato.

Foi até a poltrona e se jogou ali de qualquer jeito, pegando um cigarro do cigarreira pessoal de Sirena e acendendo sem pressa. Não era de fumar cigarro comum, mas a ocasião pedia esse comportamento.

— Eu tô trabalhando num novo projeto.

Sirena estreitou os olhos, interessada.

— Que projeto?

Hiroshi tragou o cigarro devagar, soltando a fumaça para o lado antes de falar.

— Recrutamento.

Sirena manteve a expressão elegante, mas os olhos brilharam com algo a mais.

— Recrutamento...

Ela se moveu lentamente até a penteadeira, sentando-se novamente e ajustando um brinco com calma, como se desse tempo para as palavras dele ecoarem.

— E esse recrutamento inclui quem, exatamente?

Hiroshi sorriu de canto, mas não respondeu de imediato.

— Alguns caras com o perfil certo.

Sirena bebeu um gole do vinho, sem tirar os olhos dele pelo espelho.

— Certo para a casa... ou certo para você?

Hiroshi tragou de novo, sem pressa, jogando a cabeça pra trás na poltrona.

— Uma coisa leva à outra, né?

Sirena não riu, mas um sorrisinho estreito brincou nos lábios dela.

— Hiroshi... — Ela virou na cadeira e encarou ele de frente — Eu gosto de você. Sempre gostei. Você é um dos únicos aqui dentro que tem inteligência o suficiente pra entender o jogo sem precisar que eu desenhe. Aliás esse jogo você desenhou boa parte dele.

Ela cruzou as pernas, girando a taça nos dedos com elegância.

— Mas não me subestime.

Hiroshi soltou a fumaça devagar, sustentando o olhar.

— Eu nunca subestimei você, Sirena.

Ela o avaliou por um instante, então sorriu com mais suavidade.

— Ótimo. Porque eu não quero ter que me preocupar com você, meu bem.

Ela se levantou novamente, pegou uma caixinha de pó compacto na penteadeira e começou a retocar a maquiagem, sinalizando que a conversa estava chegando ao fim.

— Se precisar de tempo, tenha. Mas não esqueça suas funções. Você tem metas no financeiro, nos agendamentos, na divulgação... — Ela virou o rosto para encará-lo de novo, agora sem sorriso algum. — Eu preciso de você focado.

Hiroshi jogou o cigarro no cinzeiro e se levantou da poltrona.

— Tô sempre focado. Só preciso do meu notebook onde estiver.

Sirena deu um sorrisinho breve.

— Era bom dar atenção aos pervertidos que gostam de ver seu showzinho particular... Mas isso não é problema já que todos pensam que você é meu sobrinho.

Sirena ergueu a taça num brinde simbólico, e deu um último gole lento.

Hiroshi entendeu o recado. Ele virou as costas e saiu, fechando a porta atrás de si. Aliviado por poder sair e voltar pro apartamento. Mas, no fundo, não era só isso. A cada conversa com Sirena, ele sentia que estava sempre pisando num tabuleiro onde as peças se moviam sem que ele percebesse.

E ele não podia deixar Sirena transformar Léo em mais uma peça do tabuleiro.

***

O quarto ainda tinha cheiro de sexo. Lençóis embolados no colchão, camisinha amassada no chão, o rastro de uma noite que tinha seguido seu curso. Mas a puta não parecia com pressa de ir embora.

Léo, nu e largado no sofá, tragava um cigarro com um olhar perdido no teto. O gosto do pó ainda queimava no céu da boca, misturado ao amargor do álcool e suor.

Na cama, ela se espreguiçou, virou de lado e ficou observando ele com um sorriso de canto.

— Tá no mundo da lua, gatinho?

Léo soltou a fumaça pelo nariz, sem responder.

Ela se levantou devagar, pegou a cerveja morna do criado-mudo, tomou um gole e foi até o sofá, sentando ao lado dele. O olhar dela escorregava pelo corpo dele.

— Tu é gostoso demais... — Ela disse, arrastando a unha de leve pelo peito dele, descendo devagar pela barriga. — Não precisa pagar mais, viu? Eu ficava fácil por conta.

Léo riu curto, tragando de novo.

— Isso é bom ou ruim?

Ela deslizou a mão pela coxa dele, brincando.

— É só a realidade.

Léo não afastou a mão dela, sentindo os dedos subindo, massageando o pau dele devagar, provocando. O corpo respondeu na hora. Ela percebeu e mordeu o lábio, empolgada.

— Se quiser, eu fico mais um pouco...

Léo sentiu o pau engrossar na palma dela, a respiração ficando mais lenta, o desejo reacendendo. Ia responder quando ouviu o clique da maçaneta girando. Os dois viraram o rosto ao mesmo tempo. A porta se abriu devagar.

Hiroshi.

Ele parou na entrada, ajustando os óculos no rosto, o corpo enrijecendo na visão dos dois. A puta colada em Léo, a mão ainda na coxa dele.

Hiroshi abriu a boca pra falar, mas só balançou a cabeça e soltou um riso curto, sem acreditar no que via.

— Esqueci uma parada aqui, mas volto depois.

Virou nos calcanhares, pronto pra sair.

Léo se levantou rápido, jogando o cigarro no chão e pisando em cima.

— Ei, calma.

Nu mesmo, ele segurou o braço de Hiroshi.

Hiroshi olhou pra ele, depois pro quarto bagunçado, o lençol embolado, a camisinha no chão... e sentiu um gosto amargo na boca que não soube nomear. Não era ciúme. Pelo menos, não podia ser. Mas então por que porra aquela cena incomodava tanto?

— Nem fode, Léo.

Léo arqueou a sobrancelha.

— Não tô fodendo ninguém agora.

A puta, que assistia tudo como se fosse um reality show, soltou uma risadinha e cruzou as pernas, se divertindo.

— Ahhh, entendi... Agora são dois? Gostei dessa vibe.

Léo virou pra ela na hora, o olhar fechando na hora.

— Cala a boca, veste essa merda e pega teu dinheiro.

Ela ergueu as mãos num gesto de rendição, rindo.

— Eita, sem estresse, bonitão.

Se levantou, catando as roupas pelo chão sem nenhuma pressa.

Léo continuava segurando Hiroshi pelo braço. O olhar de Hiroshi era indecifrável por trás das lentes, mas a tensão estava estampada na postura rígida.

A puta pegou o maço de dinheiro no balcão, conferiu e jogou um olhar pros dois.

— Vocês são um casal?

Léo fechou ainda mais a cara.

— Sai logo, porra.

Ela deu de ombros, abriu a porta e passou, esbarrando levemente em Hiroshi e rebolando um pouco, só pra provocar.

Léo ainda segurava Hiroshi pelo braço.

Hiroshi respirou fundo, esfregou a nuca e soltou um riso sem humor.

— Pensei que precisasse de companhia, queria fazer surpresa...

Mas a frase morreu na garganta antes do fim. Porque ele já se sentia um idiota antes mesmo de falar a última palavra. Sentia uma porra de um aperto no peito que parecia coisa de moleque de primeiro namoro.

Ridículo.

Como se estivesse vivendo um drama que devia ter ficado no passado, mas que só agora começava a bater de verdade.

— Foi mal. Sou um babaca mesmo.

Léo apertou a mandíbula.

— Fecha essa porta e entra.

Hiroshi encarou ele por um instante, depois a porta aberta.

E sem nem perceber, obedeceu.

***

Hiroshi respirou fundo, como se estivesse processando a cena, e soltou um riso curto, quase seco.

— Pra quê, Léo? Eu só atrapalhei sua parada aí...

Léo passou a mão na nuca, depois no rosto de novo.

— Não é isso, porra... — Ele suspirou fundo e olhou direto pra Hiroshi. — Olha, mano, eu só queria curtir... tu sabe que eu gosto de uma buceta e tal... mas ela não significa nada, velho. Foi só curtição...

Hiroshi ficou calado, olhando pra ele. A expressão difícil de decifrar, os olhos escondendo algo.

— Léo... eu nem tô puto, mano. Relaxa. E tu não precisa justificar nada pra mim, não. Tem mais é que curtir mesmo.

Ele sorriu de canto, mas era um sorriso sem brilho, um reflexo mal ensaiado de tranquilidade.

Léo percebeu na hora. Estava errado.

Hiroshi passou por ele e foi sentar no sofá, pegando um beck no bolso e acendendo, tragando devagar, sem pressa nenhuma.

Léo ficou parado um tempo, observando a forma como Hiroshi segurava o beck, como girava entre os dedos antes de tragar. O peso da situação parecia estar todo ali, no jeito que a fumaça saía dos lábios dele, carregada, pensativa.

— Você tá estranho, mano...

Hiroshi soprou a fumaça pro lado, depois olhou pra ele, os olhos meio cansados, meio distantes.

— Não tô, não, mano. Cê que tá viajando...

Léo bufou, cruzou os braços.

— Então por que parece que tá bolado comigo?

Hiroshi girou o beck mais uma vez nos dedos, como se estivesse reorganizando os pensamentos antes de falar.

— Porque, Léo... sei lá, mano... eu só achei que tu não ia... — Ele mordeu o canto do lábio, desviou o olhar pro chão, tragou mais uma vez, hesitante. — Esquece, cara. Acho que tô viajando.

Léo não sabia o que dizer. Só olhava Hiroshi, sentindo que alguma coisa tinha mudado ali, mesmo que fosse só um detalhe. Mas às vezes, são os detalhes que fazem tudo desmoronar.

Por alguns minutos, só se ouvia a batida baixa da música rolando no fundo, misturada com a respiração arrastada de Hiroshi.

Léo finalmente quebrou o silêncio, sentou devagar ao lado dele. Sem pressa. Ficou ali, estudando Hiroshi de canto de olho.

Esqueceu até de cheirar. Só bebia. Levantou no automático, arrumando a cama e jogando os vestígios do sexo longe.

Tomou um breve banho. Quando voltou, Hiroshi ainda estava ali, na mesma posição, o beck queimando devagar entre os dedos.

Léo se sentou novamente ao lado dele. Então, com um sorrisinho sacana no rosto, puxou devagar o beck dos dedos dele, tragou profundamente, segurou a fumaça por alguns segundos antes de soltar devagar. Nem curtia o beck, mas queria evitar o pó naquele momento. Depois, sem pressa, colocou o beck cuidadosamente no cinzeiro. Quando ele virou o rosto pra Hiroshi, os olhos baixos, o tom de voz mais rouco.

— Vamos pra cama, mano.

Hiroshi arqueou uma sobrancelha, olhando pra ele sem se mover.

— Que foi, tá me botando pra dormir agora?

Léo riu baixo, puxando o braço dele, devagar.

— Se quiser, eu te faço dormir... mas não acho que vai querer não.

Hiroshi revirou os olhos, mas se levantou, esticando os músculos e tirando a camiseta antes de se jogar na cama de qualquer jeito. Se ajeitou no colchão, tirou a bermuda sem intenção oculta, puxou o lençol de leve e olhou pra Léo ainda de pé.

— Não vai cheirar antes de deitar, mano? — Hiroshi perguntou, tentando disfarçar a ansiedade na voz.

Léo cruzou os braços, o olhar deslizando pelo corpo de Hiroshi deitado ali, os traços relaxados, mas o brilho nos olhos dizendo outra coisa.

— O pó pode esperar... Agora minha brisa é você, mano. — A voz dele saiu baixa.

Hiroshi desviou o olhar, desconfortável.

Léo se aproximou, deitando devagar ao lado dele. Sentiu Hiroshi prender a respiração por um segundo.

Encostou o queixo no ombro dele, deixando o bigodinho roçar na pele quente, sentindo a tensão no corpo de Hiroshi. Desceu os dedos devagar pelo abdômen, arranhando leve, traçando um caminho sem desespero.

— Diz que tá gostando, mano... — Léo murmurou, a voz baixa, sacana. Hiroshi engoliu seco, mas a resposta não veio. Ele sentia, sim. Mas dizer em voz alta tornava aquilo real demais.

O toque de Léo, combinado com sua voz, fez o corpo reagir quase de imediato. O pau dele começou a endurecer lentamente, ganhando volume conforme os dedos de Léo passeavam por seu corpo, explorando com firmeza.

Hiroshi fechou os olhos, tentando segurar algo que já estava escapando. Mas Léo percebeu e roçou os lábios na orelha dele. A respiração quente fez Hiroshi se arrepiar.

A coxa esquerda de Hiroshi era pressionada pelo pau de Léo que engrossava aos poucos pelo contato. Léo não tinha pressa. Ele queria sentir cada reação, queria ver Hiroshi cedendo aos poucos, sem perceber.

— Tá sentindo, mano? Tá sentindo essa porra te pegar de jeito?

Hiroshi fechou os olhos, tentando evitar a resposta. Léo riu, baixo, lento, deixando a voz pesar no ouvido dele.

— Tô falando de mim, menor. Eu sei que tu tá sentindo meu pau.

Léo desceu a mão, pegando firme na de Hiroshi que arrancou a cueca com pressa, mas sem dizer nada, relaxando logo depois.

Léo riu baixo, deslizando a mão de volta, apertando de leve.

— Isso, mano... Isso! — Ele murmurou. — Deixa esse corpo todo solto, que hoje eu cuido de você.

Hiroshi fechou os olhos com força, as mãos apertando os lençóis, se agarrando a qualquer coisa que o fizesse ter controle. Mas ele já tinha perdido.

Léo bateu a punheta devagar, cadenciada, sentindo Hiroshi se perder no toque.

— Tá bom demais... — Hiroshi arfou, quase sem perceber.

Léo sorriu de lado, aproximando o rosto do ouvido dele novamente.

— E vai ficar melhor ainda, parceiro... Geme pra mim, vai... Baixinho, mano.

O ritmo aumentava, a tensão entre os dois fervia. Hiroshi tentou segurar, tentou não demonstrar tanto, mas a porra do corpo estava no comando.

Léo sentiu o pau de Hiroshi pulsando na palma da mão, os músculos das coxas se contraindo. O moleque estava na beira.

— Léo... Caralho...

Léo segurou mais forte, acelerou.

— O que? Fala, vai. Tu gosta quando eu soco assim no seu pau?

Hiroshi arfava.

— Diz que vai gozar pra mim... Solta tudo, mano. Sem medo.

Hiroshi gemeu mais alto com a respiração errática. Léo manteve o toque firme, intenso, e então... Hiroshi veio, num jato quente, grosso, sujando a barriga, o peito, tremendo inteiro.

O quarto ficou em silêncio por alguns segundos, então de repente Léo soltou um gemido inesperado melando a lateral do corpo de Hiroshi.

Os dois recuperação a respiração enquanto riam um pra o outro. Um riso sem voz. Apenas da satisfação.

Léo se inclinou mais perto, encostando o antebraço no colchão. Ele olhava sem dizer nada.

Alisou os cabelos de Hiroshi, afastando os fios do rosto, revelando os olhos baixos por trás dos óculos tortos.

Hiroshi ainda estava perdido na onda, mas quando Léo aproximou o rosto e ficou encarando ele de perto, o momento mudou.

Léo estava ali, olhando direto pra ele, sem pressa, sem piada, sem frescura.

Léo deslizou os dedos pelo rosto de Hiroshi, ajeitando os óculos, depois tocou os lábios dele com o polegar, devagar, sentindo a respiração quente ali.

— Tu é diferente, mano.

Os olhos de Hiroshi piscaram rapidamente, como se tentasse entender o que Léo estava dizendo.

E então, Léo o beijou.

Não foi rápido, não foi com pressa. Foi intenso, cheio de significado.

Hiroshi congelou por um segundo. Mas aproveitou o momento. Era o primeiro beijo. O primeiro que realmente fazia sentido. Que não era só um gesto. Mas algo que ficaria gravado.

Quando se separaram, os olhos de Hiroshi ainda estavam meio perdidos, ofegantes.

Léo sorriu de leve, ainda alisando os cabelos dele.

— Tu é meu, mano.

E nesse momento, repousou a cabeça no peito de Hiroshi que pela primeira vez, percebeu que o plano de tomar o cabaré não era só um plano que poderia esperar. Era uma necessidade urgente.

Porque se ele não saísse dali, se não arrastasse Léo junto, eles iam se afundar.

Ou pelo menos, era assim que ele justificava pra si mesmo.

E Léo... Léo sabia disso também. Ou achava que sabia.

Aquela carta, ainda na mente dele, as palavras de Hiroshi escritas no papel, queimando na consciência.

E foi nessa mesma noite que os devaneios e ilusões de tempo se esgotaram.

Ou talvez só tivessem mudado de forma.

Era como se o tempo não fosse mais suficiente.

E cada um, no seu silêncio, traçava os pensamentos antes de verbalizá-los um para o outro.

Os pensamentos deles eram como notas musicais, se encaixando na mesma frequência.

Estava nascendo uma melodia perigosa. Uma sinfonia composta no silêncio da obsessão.

Ou seria apenas a ilusão de um sonho compartilhado?

Eles não tinham maldade no coração. Pelo menos, era isso que se diziam.

Só estavam absorvidos neles mesmos, sem perceber o peso do que estavam prestes a fazer.

Não enxergavam as consequências. Não viam as peças que estavam prestes a mover.

Para eles, tudo fazia sentido. Mas fazia mesmo?

Toda canção tem suas consequências. E a que estavam prestes a entoar era um canto traiçoeiro.

E essa melodia arrastaria Axel para um sofrimento absurdo, mas nada se compararia à dor de Davi ao descobrir que Ulisses tinha escutado o canto errado.

Um canto que o guiaria até aquele lugar...

Até o salão onde os clientes se sentavam para beber.

Até o corredor onde os segredos eram consumidos entre quatro paredes.

Até a cama onde sua fragilidade seria explorada.

Onde ele seria extorquido.

Onde ele sairia desmoronado, sem entender exatamente o que tinha acontecido.

Onde ele terminaria, sozinho, na calçada do cabaré.

Onde ecoavam os cantos mais perigosos.

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Por R. Rômulo

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