É terça-feira e o Eduardo ainda não está conversando comigo, e pra ser honesto, não estou nem um pouco preocupado com isso. Durante toda a viagem de volta, ignoramos um ao outro, acho que ele está tentando me dar um gelo, não sei por quê, e realmente, não me importa. Agora estou na biblioteca lendo, quando meu pai entra.
— Filho?
— Pai, que saudade. — me levanto da poltrona e o abraço — E então, o que queria conversar comigo?
— Calma, rapaz, — ri de forma descontraída — Nem sentei ainda. — diz, se aproximando e se acomodando na poltrona.
— Pronto, já sentou, agora fala!
— Primeiro quero saber como anda seu casamento... — frunzo a testa enquanto ele continua — Cada detalhe!
— Pra quê?
— Só fale!
O observo por um momento, desconfiado, mas ele não demonstra intenção de desistir, então me rendo e começo a contar sobre minha convivência com o Eduardo, desde o dia do casamento até o momento atual.
— Agora entendi!
— Entendeu o quê?
— É exatamente como meu pai previu... — continuo sem entender e o olho esperando uma explicação melhor — Eduardo se apaixonou por você, André.
— O quê? — digo antes mesmo de ele terminar a fala, minha voz subindo. Isso é absurdo demais para ser considerado... O Eduardo? Por mim? Conta outra, né! — O senhor por acaso bebeu?
— Eu estou totalmente sóbrio! — meu pai me olha sério, e percebo que ele não está brincando. Isso começa a me deixar incomodado.
— Então deve ser drogas... — rio, mas ainda me sinto desconfortável com a direção dessa conversa — Pai, você viu como ele é... E eu acabei de te contar como nós convivemos, quase como cão e gato aqui em casa! Acho que o que ele sente por mim está mais para ódio do que para amor... na verdade, ele nem fala comigo!
— Deixa de ser tapado, André, isso tudo é ciúmes! — olho para meu pai, incrédulo, Eduardo com ciúmes de mim é algo que não consigo sequer imaginar.
— Não... Isso não é possível...!
— Quer apostar?
— O quê? Não, pai, é sério... Acho que o senhor entendeu errado!
— André, meu pai sempre fazia as coisas com intenção, se ele fez isso com a certeza de que o Eduardo se apaixonaria por você, é porque mais cedo ou mais tarde isso ia acontecer. Bom, parece que foi mais cedo do que tarde, né?! — continuo encarando-o em descrença — Muito bem, vamos fazer um teste.
— Que tipo de teste? — pergunto, curioso, mas também receoso de descobrir o que não quero.
— Você vai dizer ao Eduardo que não aguenta mais continuar com isso, que vai desistir do casamento, e eu vou te ajudar a se manter até conseguir se arrumar sozinho, e que daqui a alguns meses você está planejando ir morar com o rapaz que conheceu em Salvador.
— Até parece que ele vai acreditar nisso!
— Quando se está apaixonado, acreditamos em tudo! Até inventamos coisas que não existem na nossa cabeça! Se ele realmente gostar de você, vai acreditar, se não, não vai ligar.
— Não sei não, pai... Isso parece meio...!
— O quê? Está com medo que seja verdade? — vejo um brilho nos olhos do meu pai, e isso não é bom.
— Não, eu não estou! Eu não ligo pra isso! Mas e se ele quiser que eu desista da herança? O que eu vou fazer? — meu pai continua me olhando com aquele olhar que me deixa nervoso — Olha, mesmo que, por acaso, ele realmente goste de mim, isso não muda nada!
— Será mesmo? — estreito os olhos para meu pai, começando a ficar irritado, me pergunto se esse teste é para o Eduardo ou para mim.
— Se o senhor está insinuando que eu gosto dele, está muito enganado! — ele me olha com as sobrancelhas erguidas e vejo que ele não está me levando a sério — Eu não entrei nessa história para me apaixonar, entrei para ficar rico.
— Tá bom, tá bom, eu já entendi! — meu pai ergue as mãos como sinal de rendição — Mas ainda assim, vamos confirmar o que o Eduardo sente por você.
— Aaah, eu já prevejo problemas!
— Você vai se surpreender com o resultado desse teste, tenho certeza!
***
Eduardo, como sempre, está assistindo TV. Olhando para ele assim, dá até pena pensar que vou mexer com ele, mas não sinto pena o suficiente para desistir agora que já estou tão perto da verdade, então pego minhas malas vazias e me aproximo dele, determinado a descobrir tudo. Papai realmente colocou essa ideia na minha cabeça, e não consigo mais tirá-la, então preciso confirmar para ficar tranquilo comigo mesmo. Quando ele me vê se aproximando, se senta no sofá e me observa desconfiado.
— Vai pra onde com essas malas? — pergunta com as sobrancelhas franzidas enquanto me observa abrir a porta. Suspiro dramaticamente e o encaro.
— Você conseguiu, tá?! Desisti dessa palhaçada, feliz agora? Espero que aproveite bem o dinheiro!
— Espera...! — ele se levanta de repente, parecendo nervoso, e isso é novo para mim — Você está falando sério?
— Estou, Eduardo! Eu pareço estar brincando? — deixo minhas malas na porta e me aproximo — Mas antes, quero deixar bem claro que eu te odeio, realmente te odeio! Toda vez que fui forçado a ficar perto de você, foi como estar com o próprio diabo! — sinto a raiva nas palavras, mas algo dentro de mim me faz me sentir estranho, principalmente quando vejo a expressão dele, que me encara com os olhos bem abertos e a mandíbula cerrada — Você é ridículo, insuportável, idiota e egoísta... E só machuca as pessoas ao seu redor!
— E-Eu... Eu não... Não fala assim! — vejo a dor nos olhos dele e me pergunto o quanto mais preciso continuar com isso. Ao longe, meu pai observava tudo.
— Pois é, a verdade dói, né? — Ele apenas me encara em silêncio enquanto vejo os músculos de seu pescoço se contraírem — Você não passa de um idiota mimado! — ele engole em seco, parecendo finalmente cair em si e se recompor.
— E você é uma bicha!
— Viu? Você é preconceituoso, xinga e pisa nas pessoas... Acho que assim você se sente "forte", né? Você devia tentar se tornar um homem de verdade, porque, nesse momento, você não passa de uma criança malcriada. E eu não estou disposto a fazer papel de mãe pra você, nem sou seu "papai".
Falo com deboche e vejo ele respirar fundo, a veia na têmpora dele pulsa, e um segundo depois ele está na minha frente, me segurando pelos ombros com força. Engulo em seco. Em momentos assim, é que lembro a diferença de altura entre nós. Ele se inclina para frente, ainda me segurando, e eu sou obrigado a olhar para cima para encará-lo, já que ele é uma cabeça mais alto que eu. Sinto seus dedos longos apertando meus braços e não vejo como vou conseguir me livrar do aperto dele. Xingo internamente, amaldiçoando-o por ser tão grande... Maldito idiota!
— SÓ... CALA A BOCA! — ele grita, me sacudindo.
— Grita... Grita, vai! Se isso vai te ajudar a superar sua infantilidade e se tornar um homem, pode gritar!
— Você não sabe de nada! Eu te...
— Não precisa dizer que me odeia, eu já sei disso, mas agora que vou embora, você pode ficar tranquilo! Eu não vou mais te incomodar, pode fazer o que quiser, transar com quem quiser, e o caralho todo, beleza?!
— Você não vai embora!
— Posso saber quem vai me impedir?
— EU! — ele me agarra pelos pulsos e me puxa para perto, fazendo nossos corpos se aproximarem. Sinto sua respiração quente no topo da minha cabeça e posso perceber o quão nervoso ele está.
— E por quê?
— Porque... Você... Você tem direito...! Quer dizer, você não pode desistir do dinheiro assim!
— Não se preocupe, eu vou para Salvador, viver com um homem de verdade! — Eduardo me olha e seus olhos brilham de raiva, o castanho das íris estão amendoados e muito bonitos, mas isso não importa.
— Você não está falando daquele idiota do Pelourinho, né?
— O único idiota aqui é você!
— Você não pode ir morar com aquele... Idiota! Você não pode desistir de tudo!
— Eu já desisti, Eduardo! Agora me solta, eu preciso ir, meu pai está me esperando lá fora. — ele afrouxa o aperto e consigo me soltar, então abro a porta e saio, mas antes que eu consiga chegar ao portão, ele segura meu braço, fazendo-me parar. O encaro e o sol batendo nos cabelos dele faz parecer que os fios estão acesos, suas íris parecem ter absorvido todo o dourado do céu e brilham com algo parecido com desespero. Sua pele clara se destaca com a blusa azul-marinho que ele está usando. Ele está ofegante de ter corrido atrás de mim e suas mãos são quentes em meu pulso. Tento não pensar muito nisso.
— Não vá... Por favor! — ele fala!
— Por que eu deveria ficar?
— Porque eu preciso de você. — sussurra.
— O quê? — sinto minha boca ressecar e meu corpo se arrepiar.
— Você precisa sair em busca de outro quando eu estou bem aqui? O meu amor não é suficiente? — continuo olhando para ele em silêncio, porque na verdade, não sei o que dizer, eu simplesmente não consigo acreditar nisso, quer dizer... Ah meu Deus, ele realmente me ama!
— Não! Você não pode me amar, tem que ser uma piada!
— Piada? Por que eu brincaria com isso? O que eu preciso fazer para você acreditar em mim? — ele me olha com seriedade e vejo que ele não está brincando, de fato, nunca o vi tão sério assim — Talvez se eu te der uma prova você acredite em mim!
— O que? Que prova...? — antes que eu termine a frase, ele se inclina e me beija, sua mão vai para a minha cintura, me puxando para mais perto e apertando nosso corpo juntos, porém, diferente dos outros beijos, este é calmo, lento e extremamente sensual, posso entender exatamente o que ele quer. Sinto sua língua invadir minha boca e acariciar a minha, explorando cada canto, seu aperto na minha cintura aumenta enquanto a outra mão percorre minha nuca, enviando arrepios pela minha espinha. Um pequeno gemido escapa da minha garganta e volto a mim, respirando fundo e com as pernas bambas. Eu o afasto suavemente, empurrando seus ombros largos e ele me encara, talvez tão corado quanto eu.
— Me desculpa, Eduardo, mas eu não te amo...! — agora me sinto horrível, mesmo que eu não goste dele, não acho certo brincar assim com alguém, mesmo que seja só um idiota como o Eduardo. Acho que ao menos devo a ele a verdade — Na verdade, eu não vou embora, foi tudo só uma brincadeira do meu pai!
— Brincadeira? — ele me olha parecendo confuso.
— Olha, hoje, quando ele veio me visitar, meu pai disse que achava que você estava gostando de mim, mas é claro que eu não acreditei, afinal, estávamos falando de você...! Então ele sugeriu que eu fizesse um teste e... — minha fala é interrompida pela risada seca que Eduardo solta.
— Brincadeira?! — ele ri sem humor e vejo a mágoa em seu rosto, ele parece muito irritado — Você égrande imbecil, sabia? E ainda tem a coragem de me chamar de imaturo? Olha pra você...! O único que precisa crescer aqui é você, seu viado!
— Acho que você também é um, não?! — digo, olhando para ele de forma solidária, mas nem terminei de falar e sinto a dor explodir em meu rosto com o sonoro tapa que ele me dá.
— Pensava que você tinha algum respeito próprio, mas acho que eu tinha razão no final... Você não passa de um viado estúpido! — ele diz, voltando a passos rápidos para dentro de casa.
***
Estamos todos sentados no sofá, muito sérios, como crianças de castigo, encarando um homem de terno, por volta dos cinquenta anos, que nos observa com um olhar extremamente irritado. Ele é um representante da monitoria que chegou há pouco.
— Essa brincadeira foi totalmente desnecessária e irresponsável! — ele diz, olhando para mim, claramente desapontado — Eduardo poderia ter se machucado!
— Me desculpe, eu que propus a brincadeira... — o homem levanta a mão, pedindo para meu pai se calar.
— Não há justificativa, seu filho sabia muito bem as consequências que essa brincadeira traria, afinal, ele não é mais criança! — Eduardo me olha quando ele diz isso. Suspiro, exasperado com a situação. Se soubesse que ia virar essa bagunça toda, jamais teria concordado com isso.
— Olha, eu concordo que foi uma brincadeira idiota, mas também não precisava o Eduardo sair quebrando as coisas da casa, né?! Ele precisa aprender a se controlar.
— E a culpa de tudo isso é de quem, idiota? — ele me fuzila com o olhar.
— De qualquer forma, — o homem nos interrompe — esse é o último aviso, na próxima confusão desse tipo, não só um, mas ambos perderão a herança! Entendido? — ele se levanta do sofá, claramente irritado — Tenham um bom dia!
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Estou no jardim há algum tempo refletindo sobre os acontecimentos de hoje, meu pai já foi embora, e é claro que ele praticamente se ajoelhou aos meus pés pedindo desculpas antes de partir, mas teve que ir. E o Eduardo, desde que a monitoria foi embora, tem se dedicado à malhação de forma intensa, acho que ele quer ocupar a mente. Na verdade, eu vim para o jardim com esse objetivo também, ainda estou tentando assimilar a ideia de que Eduardo tem sentimentos por mim.
O pior de tudo isso é que eu não queria que ninguém saísse ferido desse maldito casamento, mas pelo que percebi, parece que o Eduardo vai acabar saindo, na verdade, ele já se feriu. Eu não pretendo desenvolver sentimentos por ele, só quero viver minha vida em paz e com menos problemas. Acho que isso é o suficiente para ser feliz... ou pelo menos eu espero que seja.
— Parece que sempre que te vejo, você está abatido! — o jardineiro, Leo, me observa curioso, nem percebi que ele estava ali.
— Aparentemente sim!
— O que aconteceu dessa vez?
— Ah, só uns problemas por aí!
— Quer me ajudar a cuidar dessas rosas? Talvez isso te anime um pouco!
— É, talvez! — levanto e começo a ajudá-lo.
***
QUATRO MESES E MEIO DEPOIS
Já faz seis meses que estou nessa enrolação de casamento, e sinceramente? Não aguento mais. Ultimamente as coisas têm ficado ainda mais complicadas, especialmente depois que terminei minha graduação. Ainda tem a pós, mas só quero começar depois de me livrar desse casamento.
E o Eduardo? Bem, ele piorou muito, mas de uma maneira bem diferente. Depois da minha brincadeira, ele mal olha na minha cara, me evita de todas as formas possíveis, é quase como se eu não existisse para ele, e agora virou amiguinho da vizinha safada. Não acho que ele tenha me traído, já que a monitoria teria ficado sabendo instantaneamente, mas isso não quer dizer que estou FELIZ com isso.
Agora que passo o tempo todo em casa, tenho me dedicado muito à jardinagem, Léo se tornou um amigo inseparável, cuidar do jardim com ele sempre é a melhor parte do meu dia, é como uma válvula de escape. O Feh sempre vem aqui, mas na maioria das vezes é para me chamar de idiota pelo que fiz e por ter afastado o Eduardo e não estar com ele, o que frequentemente gera discussões entre nós. E também tem o Edward, que voltou a frequentar a mansão e se tornou ainda mais especial para mim!
***
Quando completamos três meses de casamento, fomos presenteados com outra viagem, dessa vez para uma ilha, mas o Eduardo ficou doente e não pudemos ir. Nos meses seguintes, fizemos uma viagem para Fortaleza, no Ceará, e Olinda, e agora que estamos completando seis meses, fico imaginando para onde iremos.
— Você tem estado pensativo ultimamente! Algum problema? — Leo me pergunta enquanto rega as roseiras, eu suspiro.
— Só estou cansado disso tudo, nunca pensei que um ano fosse demorar tanto para passar.
— Por que você não desiste?
— Bem que eu queria, mas preciso desse dinheiro, meu futuro depende dele.
— Então o jeito é aguentar firme! Você já resistiu seis meses, mais seis não é nada!
— É, acho que sim! — falo sem muita certeza, afinal, seis meses são SEIS meses. — É o único jeito, além do mais, quero muito ficar com essa herança. A tia Charlotte é uma pessoa muito egoísta, ela não merece ficar com tudo.
— Charlotte foi aquela mulher que esteve aqui mês passado, não foi?
— Nem me lembre, aquela visita só me trouxe dor de cabeça!
— Lembro que ela mandou você destruir o jardim, porque, segundo ela, as flores são cafonas e feias!
— Aquela mulher não é normal! — Leo ri, me contagiando, sua risada é a coisa mais linda e me faz me sentir melhor — O representante chegou, eu preciso ir. — digo já triste, me levantando para voltar para dentro de casa.
— Boa sorte!
— Vou precisar!
Caminho lentamente até a torneira, me lavo o melhor que consigo e vou para a sala ainda com a roupa suja de terra. O representante me observa sem expressão, como se não se importasse com o que eu estava fazendo.
— Me desculpe, estava cuidando do jardim!
— Tudo bem! — ele está sentado no sofá, encarando o Eduardo, eu me sento e espero que o homem comece a falar — Hoje vocês completam seis meses de casamento e, como sabem, a cada mês juntos, uma recompensa é dada, e dessa vez não será diferente!
— O que ganhamos dessa vez? — Eduardo faz a pergunta primeiro.
— Um carro!
— Como assim?
— Cada um ganhou um Palio branco!
— Sério? — digo, muito feliz por não ser outra viagem com o Eduardo, e além disso, é meu primeiro carro.
— Sim!
— Sério isso? — Eduardo fala com desdém — Pensei que seria pelo menos uma BMW!
— Vá sonhando! — o homem fala, sério.
— Porque aqui na mansão não tem uma BMW?
— Mas esse carro vocês podem perder a qualquer momento, basta se separarem, já o carro que acabaram de ganhar, independentemente de qualquer coisa, já é de vocês!
— Uma pena que eu não sei dirigir! — digo, chateado.
— Com o carro agora, fica tudo mais fácil! — suspiro, sem muita certeza disso — Basta aprender o básico e depois entrar numa autoescola para tirar a carteira!
— Mas quem eu vou achar para me ensinar o básico?
— E por que não o seu marido? — eu o encaro.
— Não, obrigado!
— Vou ver se falo com o Edward! — digo derrotado, não vou ficar implorando nada a ele.
— Acho que seria melhor seu marido te ensinar!
— Bom, você ouviu a resposta dele, e não é como se eu pudesse obrigá-lo, certo?!
— Bom, Eduardo, acho que você tem que ensinar o André, afinal, ele é seu marido! Você não quer que outro o ensine, quer? — dá para ouvir o tom de autoridade na voz do homem, e acho que o Eduardo percebe, porque ele suspira e me encara com raiva.
— Tudo bem! Mas vou logo avisando que não tenho muita paciência!
— Com o tempo tudo se resolve!
— Nem tudo! — digo, lembrando que estou casado há seis meses e as coisas só pioram a cada dia.
— Além dos carros, a monitoria fez reserva em um dos melhores restaurantes de São Paulo, mas não é obrigatório.
— Sério?
— Eu não vou! — Eduardo diz, imediatamente.
— Por quê? Logo você, que adora comer?!
— Porque não quero ir a lugar algum com você! E não sou obrigado! — ele encara o representante — Acabou ou tem algo mais?
— Por enquanto é só isso!
— Então, creio que posso voltar a malhar! — ele diz, já se retirando da sala.
— Não entendo por que ele malha tanto, já não está forte o suficiente? — o representante comenta.
— Eu me pergunto a mesma coisa, mas acho que ele está treinando para se transformar em uma espécie de monstro! — rimos, e o representante vai embora, me deixando sozinho novamente.
Respiro profundamente e volto para o jardim, encontrando Léo sentado com a cabeça baixa.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunto, percebendo que ele está chorando.
— É difícil se apaixonar!
— Como assim? — me sento ao seu lado.
— Só queria ser correspondido!
— Já tentou falar sobre o que sente para a pessoa? Talvez ela retribua!
— Será?
— Talvez!
— Hum... Só tem um jeito de saber!
Antes que eu compreenda o que está acontecendo, vejo Léo se aproximar. Erguo a mão, agarrando seu braço, tentando impedir o que claramente será um beijo, mas já é tarde demais. Seus lábios encontram os meus, e o peso de seu corpo me empurra para o chão, me aprisionando. Tento pará-lo, mas ele deita sobre mim, segurando meus pulsos, impedindo minha fuga. Sua língua invade minha boca e ele coloca uma de suas pernas entre as minhas, me imobilizando. Sinto a raiva percorrendo meu corpo enquanto ele aprofunda o beijo... Isso é sério? Não posso ter nem um momento de tranquilidade?
Continua...