Capítulo 2 – Um Adeus Que Não Era um Fim
O sol já estava se pondo quando terminei meu lanche e dei o último gole no refrigerante. O posto agora estava mais vazio, apenas alguns carros passando ao longe na estrada, seus faróis riscando a noite que começava a cair.
Eu me levantei, ajeitando a bolsa no ombro e dando um sorriso suave para Bobby. Ele estava atrás do balcão, ainda segurando o pano de prato, meio sem saber o que fazer com as mãos.
— Acho que já está na hora de eu ir. — Minha voz soou quase hesitante.
Bobby piscou, como se tivesse esquecido que o tempo continuava correndo enquanto conversávamos.
— Ah, sim… Claro. — Ele largou o pano e passou a mão grande e áspera na nuca, parecendo um pouco sem jeito. — Foi legal conversar com você.
Sorri, sentindo um calor estranho no peito.
— Pra mim também. Obrigada pelo lanche e pela companhia.
Ele assentiu, mas não respondeu logo. Apenas ficou ali, me observando por um instante, como se tentasse gravar aquela cena na memória.
Para Bobby, aquilo era inédito. Nunca uma mulher tão bonita, tão encantadora e cheia de vida havia sido tão simpática com ele. Ele já tinha visto mulheres lindas antes, claro. Na TV, nos outdoors da estrada, até mesmo algumas viajantes que passavam pelo posto… Mas elas nunca olhavam para ele. Nunca dirigiam palavras gentis, nunca pareciam enxergá-lo de verdade.
E ali estava eu. Loira, de olhos azuis brilhantes, cheia de uma energia que parecia iluminar qualquer ambiente. E o mais estranho de tudo? Eu havia escutado ele. De verdade. Não com aquela paciência forçada que algumas pessoas tinham quando falavam com ele, mas com um interesse genuíno.
Bobby não sabia bem o que fazer com aquela sensação estranha que subia pelo peito.
Eu dei um passo em direção à porta, mas hesitei por um momento antes de sair.
— A gente se vê por aí, Bobby.
Ele piscou de novo, como se não esperasse aquilo. Como se nunca tivesse imaginado que alguém diria aquelas palavras para ele com um tom tão… natural.
— É… a gente se vê. — respondeu, um pouco devagar.
Eu saí do posto e entrei no carro, sentindo um calor gostoso dentro do peito. O motor ronronou quando liguei, mas antes de partir, olhei pelo retrovisor.
Bobby ainda estava lá dentro, parado atrás do balcão, olhando para a porta como se esperasse que eu voltasse.
...
Meu novo apartamento era pequeno, mas aconchegante. As caixas ainda estavam espalhadas pelo chão, e eu nem sabia por onde começar a organizar tudo. Mas, de alguma forma, isso não me incomodava.
Joguei a bolsa no sofá e me joguei junto, soltando um suspiro cansado, mas satisfeito. O dia tinha sido longo, a mudança tinha sido estressante… Mas algo inesperado o tinha tornado especial.
Bobby.
Pensei nele por um instante, no jeito como seus olhos pareciam surpresos quando eu falava com ele, como se não estivesse acostumado a ser tratado daquele jeito.
Eu sorri para mim mesma, sentindo um friozinho gostoso na barriga.
Não sabia muito sobre ele ainda. Mas algo me dizia que aquela não seria a última vez que nossos caminhos se cruzariam.
E por alguma razão… eu gostava dessa ideia.
