Cidade de porte médio, interior do RS, trabalhador brasileiro, assalariado, todo o santo dia chego com meu VW/UP! no prédio-garagem às 08:10 e, no máximo, 08:15, depois do suplício de subir um espiral até o 7º andar, estaciono, fecho a porta, ligo o alarme, vou ao elevador e caminho até o escritório. Pontualmente às 08:30 início a jornada diária. Assim é (e será?) por anos e anos.
Eis que em uma dessa benditas manhãs, depois de estacionar meu carro, fechar a porta e acionar o alarme, vi descer uma loira de um C3 prateado no box da frente. Locatária nova! Ela se inclinou para pegar sei lá o quê, acho que uma pasta de trabalho, mas vi só a bunda. Que visão maravilhosa daquelas duas elevações laterais acomodadas pela calça legging marrom-clara, tendo cravada a pequena calcinha ao centro. Pior que ela foi ágil para retirar o material de cima do banco me flagrou babando. Eu cumprimentei a mulher e segui até o elevador.
O maldito demorado, mais uma vez, demorou. Agradeci, porque deu tempo suficiente para ela chegar e descermos juntos. Papinho trivial, reclamações de escalar 7 andares com o carro, do lento elevador e blá, blá, blá. No térreo, nos despedimos e cada um para o seu lado. De rosto, feia. Lábios grossos demais, deve ter enchimento. Não curto. Minha esposa, de rosto, é capa de revista. Linda. As virtudes animais da loirinha: abdômen sarado e tatuado; seios médios e que pareceram naturais, com um saltitar sexy; além da bunda curvilínea torneada.
Não sou o auge da inteligência, longe disso, mas para tapado não estou servindo. Durante duas semanas, percebi que quando eu finalizava a manobra para estacionar, coincidentemente ela descia do C3 e rumava ao elevador. Macacão, calça legging, vestido, saia, mas sempre a parte superior a revelar, sutilmente, o gingado dos seios. Fui sentindo aquela energia envolvente e deixei acontecer, durante nossas conversas diárias. Minha aliança de casado sempre exposta no dedo, roupas simples (jeans, sapatênis e camisa), pastinha executiva mequetrefe, colônia vagabunda de liquidação (mais para disfarçar o suor do que para atrair), eu sendo eu.
O match aconteceu num happy hour com o pessoal da empresa. Que ela estava me stalkeando no estacionamento, bem provável. Mas ali, no bar, duvido. Nem trabalhamos no mesmo prédio. Foi aleatório aquele encontro: ela saía do banheiro feminino, eu me dirigia ao masculino. No corredor de acesso a ambos, nos avistamos. E foi bizarro, porque todas as manhãs, no prédio-garagem, havia uma formalidade, um cumprimento rápido, sorriso-cumprir-tabela, conversinha trivial. No bar foi espontâneo. Vi que ela partiu para o abraço e fui também. Abraço curto e logo nos separamos. Eu sorri amarelo, ela riu estranho. E foi um para cada lado. Esquisito. Mas confesso que, ao chegar na porta do banheiro, virei para trás. Ela estava no fim do corredor e fotografei, com os olhos, o balançar firme daquela bunda saliente enfiada em um macacão branco. Os peitinhos, quando nos abraçamos, daquele jeito: felizes a saltitar, sem sutiã! Só que em um decote maior do que o comum e tive certeza: naturais, pelo caimento. Os mamilos firmes a apontados para mim. Espetáculo! Quando nos abraçamos, percebi que ela é baixa, e vi que estava de rasteirinha. No estacionamento, é salto alto ou tamanco gigante.
Quando retornei, procurei a mesa onde ela estava sentada. A surpresa, misto de decepção e baque: ela e um novinho, bem num canto do bar. Mas o piá não tinha 20 anos de idade. Ao menos, era o que aparentava. Ela parece ter mais de 30. Eu tenho 33. Ou seja, a matemática das suposições etárias nada me favorecia. Juro que tentei abandonar as imagens gingadas daqueles bronzeados peitinhos deliciosos, além de deletar a ideia de ser perseguido, por atração, na garagem. Passei um tempo com a tigrada, tudo vendedor, só mentira, vantagem, chantagem, história de zona e trago, que nem mais lembrava dela ali. Ria e bebia. Celular a tiracolo porque era certo que a esposa iria escrever perguntando quanto tempo demoraria para voltar para casa. Claro que me procuraria para sexo, até mesmo para sentir se o odor de algum perfume estranho pairava em mim.
Passava das 21 horas, a coisa fluía bem até que um dos meus colegas, o mais decente deles e que estava sentado ao meu lado, soltou a bomba na mesa, falando para mim, em tom baixo para os demais tigres não escandalizarem:
— Meu, faz tempo que tô focando na loira cicarelli da boca grande ali no canto e que tá com aquele juvenil, mas vi que a coisa é contigo. É tu te mexer e ela olha pra ti. Conhece?
Eu disfarcei e, se não me engano, disse que ele deveria estar viajando. Só que me liguei nas palavras ditas por ele, é claro. No momento em que o juvenil — risos, boa definição do amigo vendedor — foi ao banheiro, mirei. Ela estava falando ao celular e, quando percebeu meu olhar, sorriu pra mim. Quando a loirinha do C3 terminou a ligação, o piá voltou e ela se levantou. Segui olhando. Notei que ela moveu a cabeça, me encarou e, com os olhos, indicou o corredor dos banheiros. Instintivamente, fui. O tigre saiu do meio da tigrada para caçar. No corredor, cheguei perto da presa e ela perguntou, perto do meu ouvido:
— Consegue chegar às 8 horas amanhã na garagem?
O quê? Então era sério?! Tinha safadeza naqueles olhos verdes? Percebi receio. Não notei sacanagem, embora ela exalasse sexo ao natural.
“A verdade. Só a verdade, cara. Te concentra. Tua mulher tá em casa, as pessoas fofocam, vai ficar de papinho escondido em bar? Corta o romance.”
Eu estava levemente embriagado, mas o pensamento ainda afinado com a minha realidade. Ou dá, ou desce. Olhei meu dedo esquerdo anelar brilhando, enquanto ela aguardava a resposta.
— É pra sexo? — perguntei, focando os belos olhos dela, que baixou a cabeça. — Se for, 07:30 chego lá. Essa tua bunda merece mais do que quinze minutos.
“Caralho, passei do ponto. Será que precisava falar da bunda?”
Por alguns segundos, ela se manteve cabisbaixa e a observei.
“Até que não é tão feia essa baixinha. E de cabelo mais escuro, que deve ser o original, acho que ela ficaria melhor. Mas esses lábios, eu não...”
— 07:30 na garagem — soou a voz aguda dela a interromper meus pensamentos, erguendo a cabeça e de olhar fixo em mim. Em seguida, ela partiu em direção ao banheiro.
Em breve, na parte II, narro a vocês a minha longa história com a loirinha do C3...