UMA SEMANA DEPOIS
O barulho dos martelos e das serras tomou conta da fazenda logo cedo. A construção da nova casa estava a todo vapor, e os novos trabalhadores tinham demorado pra chegar, mas finalmente haviam chegado. O patrão não estava brincando quando disse que queria tudo pronto o mais rápido possível.
Miguel, que já tinha se estabelecido bem, observava os operários descarregarem mais madeira enquanto os recém-chegados se apresentavam. Um deles era Raul, um homem robusto de uns quarenta e poucos anos, com a pele queimada de sol e mãos calejadas de tanto arar a terra. O outro, Vinícius, era um rapaz mais novo, com jeito mais reservado, mas que parecia saber bem o que fazia.
— Então é aqui que vamos morar? — Raul comentou, olhando a estrutura inacabada da casa.
— Por enquanto, só tem madeira e muito prego — Vinícius brincou. — Mas pelo menos já temos um teto em construção.
— Se depender do patrão, essa casa fica pronta antes do mês acabar — Miguel acrescentou, ajudando a descarregar um saco de cimento.
Enquanto isso, Eduardo e eu estávamos nas baias, alimentando os cavalos!Depois do acontecido entre ele e Lucas, as coisas ficaram bem estranhas, não estávamos nos falando direto, e olhe que eu tentei explicar a todo custo que eu não havia feito nada,que fui totalmente surpreendido! Mas ele só me ignorava!
Estava pronto pra mais uma vez tentar conversar, quando Túlio apareceu com um sorriso meio sem jeito. Ele estava acompanhado de uma garota de cabelos castanhos e olhos vivos, vestida com jeans e uma blusa simples, mas que parecia bem confortável na fazenda.
— E aí, seus desocupados? Quero apresentar alguém pra vocês — ele anunciou.
Eduardo cruzou os braços e arqueou a sobrancelha.
— Então a gente finalmente vai conhecer a dona do seu coração?
Túlio bufou, mas seu sorriso entregava que ele estava feliz.
— Essa aqui é a Isabela — ele disse, puxando a garota para mais perto. — Minha namorada.
Eu e Eduardo trocamos um olhar antes de sorrir.
— Prazer, Isabela — eu disse, apertando a mão dela. — Você tem certeza de que quer se envolver com essa criatura aqui?
Ela riu, divertida.
— Acho que sim. Pelo menos por enquanto, ele ainda não me deu motivos pra fugir.
— *Ainda*, hein? — Eduardo provocou.
Túlio revirou os olhos, mas não conseguiu esconder o orgulho de estar apresentando Isabela pra gente. Dava pra ver que ele gostava dela de verdade.
— Agora vocês já conhecem. Não precisam mais ficar falando merda por aí — ele disse, tentando manter a pose.
— Isso só nos dá mais material pra zoar você — Eduardo rebateu.
Isabela riu de novo e olhou ao redor.
— A fazenda de vocês é linda. Tá sempre assim movimentada?
— Mais do que gostaríamos — respondi. — E agora, com a construção da casa nova, tá mais agitada ainda.
Ela olhou para os trabalhadores e depois para Túlio.
— Você me prometeu que ia me mostrar os cavalos de perto.
— Verdade! Vem comigo — ele disse, puxando-a pela mão.
Nós assistimos os dois se afastarem, e Eduardo sorriu.
— Até que ela parece ser gente boa. - ele falou baixinho, voltando a me tratar de forma fria!
— Sim, mas vamos ver até onde ela aguenta o Túlio — tentei brincar!
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O final da tarde trouxe um vento mais fresco, e enquanto todos ainda estavam ocupados, resolvi tirar um tempo pra mim. Peguei o celular e subi até um ponto mais alto da fazenda, onde o sinal era melhor. Fazia um tempo que eu não ligava para meus pais, e a saudade começava a apertar.
Depois de alguns toques, a voz da minha mãe atendeu, cheia de emoção:
— **Filho!** Que bom que ligou!
Sorri, sentindo o coração aquecer.
— Oi, mãe. Como vocês estão?
— Estamos bem, mas morrendo de saudades de você! Você some, André! — ela reclamou.
— Não sumo, mãe… só tô sempre ocupado. A fazenda não para nunca.
— Imagino. E você tá bem? Se alimentando direito?
— Sim, mãe — revirei os olhos, mesmo que ela não pudesse ver.
Ouvi meu pai ao fundo perguntando se era eu no telefone, e logo ele pegou a chamada.
— **André, meu filho!** Como vai essa vida de fazendeiro?
— Trabalhosa, pai. Mas tô gostando.
— E o Eduardo? Como ele tá te tratando?
Sorri ao ouvir o tom cuidadoso dele. Meu pai sempre foi mais reservado, mas dava pra perceber que se preocupava comigo.
— Ele me trata bem, pai. Pode ficar tranquilo.
Minha mãe suspirou do outro lado da linha.
— Queríamos tanto que você viesse nos visitar. Quando vai dar um jeito de aparecer?
Mordi o lábio. A verdade é que eu queria vê-los, mas sabia que sair da fazenda agora seria complicado.
— Assim que der, mãe. Prometo.
Ela ficou em silêncio por um momento antes de dizer baixinho:
— Sinto sua falta, meu filho.
Meu peito apertou.
— Também sinto, mãe. Muito.
Conversamos mais um pouco, até que precisei desligar. Fiquei ali sentado por um tempo, observando o pôr do sol e sentindo a mistura de saudade e gratidão.
Quando voltei para casa, Eduardo me olhou de lado.Aparatemente tinha acabado de saí do banho, pois ainda estava de toalha!
— Você tá com uma cara estranha.
— Liguei pros meus pais.
Ele assentiu devagar.
— Eles tão bem?
— Sim… só sentem minha falta.
Eduardo se aproximou e me abraçou de lado, sem dizer nada.
— A gente precisa conversar — falei!
Eduardo suspirou, se afastando do meu abraço , enquanto tirava a toalha ficando pelado na minha frente! Ele começou a enxugar os cabelos molhados e me encarou!
— Não tem mais o que falar, André.
— Tem, sim — fechei a porta atrás de mim. — Você não pode continuar me tratando como se eu tivesse te traído de propósito.
Ele me olhou por um longo momento antes de suspirar e sentar na beira da cama.
— Eu sei que foi um acidente — admitiu, olhando para o chão. — Sei que você não queria aquele beijo, sei que não sente nada pelo Lucas.
Me aproximei, me ajoelhando na frente dele para que ele não fugisse do meu olhar.
— Então por que ainda tá assim comigo?
Ele apertou a toalha entre os dedos, como se estivesse tentando controlar alguma coisa dentro dele.
— Porque *doeu*, porra — sua voz saiu mais baixa do que eu esperava. — Ver ele te beijando… me deixou puto. E mais puto ainda foi perceber que eu confio em você, mas nele? Nem um pouco.
Fiquei em silêncio, deixando ele falar.
— Eu te perdoo, André. Não foi sua culpa. Mas não quero ele perto de você.
Minha respiração falhou um segundo.
— Você tá pedindo pra eu me afastar do Lucas?
— Tô.
Fiquei encarando Eduardo, tentando processar aquilo. Eu não tinha nada com Lucas, mas sabia que ele gostava de mim. E, ao mesmo tempo, eu entendia o lado do Eduardo.
— Isso é um ultimato? — perguntei, tentando manter a calma.
— Não — ele negou, levantando a cabeça e finalmente me olhando nos olhos. — Mas é um pedido. Eu só… não quero correr o risco de ver essa cena de novo.
Passei a mão no rosto, sentindo o peso daquela conversa.
— Tá bom — suspirei. — Eu vou dar um jeito de me afastar.
Eduardo me puxou para perto, colando nossas testas.
— Eu te amo, André.
— Também te amo, seu idiota ciumento.
Ele riu, e naquele momento, soube que tudo ia ficar bem.
**Continua…**
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