Completamente transtornado, peguei as chaves do carro e me preparei para ir direto para lá, eu mal conseguia coordenar as ideias, só pensava em matar os dois. Nesse momento, Monica chegou e ao ver meu estado, se assustou. Tentei explicar, mas as palavras tropeçavam, estava ofegante, dei um violento murro na parede e comecei a chorar, o que a deixou mais confusa. Ela me abraçou e foi tentando me acalmar. Após um tempo, peguei meu celular e entrei no aplicativo que me permitia ver as imagens da casa de Evelyn ao vivo e também as gravadas e mostrei, dando uma rápida explicação.
Obviamente, Monica se chocou e disse:
-Você precisa tirar o Thiago de lá ainda hoje!
Andando como um louco pela espaçosa sala do meu apartamento, disse:
-Eu vou é matar aqueles dois hoje! Já dei uma tremenda de uma surra naquele lixo uma vez, mas bater não basta, tem que matar!
Monica notou que pelo meu estado, poderia fazer mesmo uma loucura e tentou me impedir:
-Para de pensar assim! Você vai acabar com a sua vida, Renato! E mesmo que vá lá só para agredi-los, isso te prejudicará na Justiça e o Thiago continuará sendo torturado por aquele cara! Pense! O primeiro passo é tirar seu filho de lá ainda hoje e depois buscar a Justiça!
Irado, berrei:
-Justiça porra nenhuma!! Estou a anos luz de pensar como um desses frouxos de red pills ou machonaros que vivem dizendo que a maioria das mulheres não presta e que se vitimizam para ferrar os homens, na verdade é o contrário, a grande maioria dos homens é que não vale nada e fodem com a vida das mulheres, mas tenho que admitir que no caso da guarda de uma criança, o pai pode ser o melhor do mundo, mas a Justiça dificilmente fica do lado dele, é por isso, que vou resolver isso na violência, só que você tem razão de uma coisa, não posso chegar lá, arrebentando os dois na frente do Thiago, vou arrumar um jeito de tirá-lo primeiro.
Monica seguiu tentando me acalmar e deu a ideia de que eu ligasse para Evelyn, inventando que iria viajar no outro dia bem cedo com Thiago e que por isso, ela (Monica) passaria lá para pegá-lo dali uns 40 minutos, pois eu tinha ficado preso em uma reunião. Liguei certo de que a vagabunda criaria caso mesmo sendo uma sexta à noite.
Contei a versão sugerida por Monica e, pro sorte, Evelyn concordou. Minha agora namorada foi então buscar Thiago, porque sabia que se eu fosse, faria merda. Ao ver meu filho entrar em meu apartamento, tive que me segurar para não chorar, abracei-o forte por um bom tempo e mais tarde lhe disse:
-Eu já sei que aquele vagabundo do Leo bate em você, filho, mas não fica com medo, ele vai embora para sempre e você vai morar comigo.
Thiago arregalou os olhos, mas ficou calado, não queria contar, certamente, por medo. Decidi não mexer mais com a cabeça dele. Talvez, ele tivesse que ir a um psicólogo, mas isso eu resolveria depois, aquele era o momento de decidir como acabar com os dois.
Monica passou a noite em meu apartamento e fez minha cabeça para não ir atrás deles. Fiquei horas matutando e dei alguns telefonemas para pessoas de confiança, uma delas me disse que duas pessoas poderiam fazer “um serviço limpo”, mas não daria para ser na faixa, eu teria que desembolsar uma boa quantia. Aceitei e ela disse que conseguiria me levar para uma reunião com elas no dia seguinte.
No outro dia, disse a Monica que estava mais calma, iria falar com alguns “advogados” e que levaria Thiago para passar o dia com Luna e Michele. Ela não gostou:
-Ei! Mas por que não posso ficar o Thiago?
-Não quero que fique presa, provavelmente, passarei muitas horas fora.
-Não tem problema, se a Michele pode cuidar dele, eu também posso!
Não estava com cabeça para lidar com ciúme e apenas concordei. Talvez para quem tem sangue de barata, o que eu viria a fazer poderia parecer exagerado, mas um pai de verdade jamais aceitaria ver seu filho apanhando daquele jeito. Quantas vezes teriam sido e quantas mais ocorreriam? Será que a Justiça veria o que estava ocorrendo ali antes que fosse tarde demais? Eu não estava disposto a pagar para ver e como já tinha um pé no mundo das coisas erradas, decidi fincar os dois e fodam-se as consequências.
Fui ao encontro, onde me apresentaram dois caras que faziam serviços para gente importante, ou seja, eram experientes em fazer desaparecer um “problema”. Um era negro, alto e forte, o chamavam de Neco; o outro era moreno claro, magro, cabelos pretos, lisos e meio oleosos, se chamava Carlos. Ambos aparentavam estar na faixa dos 40 e poucos. A ponte que me levou a eles, disse que ambos sabiam torturar uma pessoa se fosse preciso e era isso que queria.
Neco disse que precisariam de uma semana, mas contestei dizendo que era urgente. Ambos toparam fazer o serviço no dia seguinte, um domingo, na parte da noite, mas por um valor mais alto. Fiz questão de estar junto para ver e participar.
Já de volta ao meu apartamento, inventei uma desculpa para Monica sobre o encontro que tive com os advogados e disse que no domingo à noite, eles iriam comigo propor um acordo a Evelyn, ela estranhou, mas acabou engolindo, pois aleguei que um deles não abriu mão de passar o domingo em família e se esperasse até segunda, minha ex poderia me denunciar por não ter levado nosso filho de volta.
Passei o domingo todo imaginando como agiria. Queria esfolar bem o Leo Xonado e explicar por que ele iria morrer. No horário marcado, me encontrei com os caras e fomos para a casa de Evelyn no carro deles. Combinei de bater no portão e quando a mesma abrisse, os dois entrariam rapidamente a empurrando. Foi o que ocorreu, minha ex se assustou, talvez pensando que bandidos me renderam na porta para entrarem e tentou gritar porém, Neco tapou sua boca. Em poucos segundos, já estávamos todos na sala e o canalha, que até então estava deitado sem camisa no sofá cinza, vendo TV, curtindo uma cervejinha e exibindo um pouco de barriga, se assustou, mas antes que gritasse, Carlos sacou uma pistola automática preta e disse:
-Nem um pio, filho da puta! Senta aí e fica pianinho!
Leo Xonado se sentou devagar e colocou as mãos para cima, olhando em pânico para Carlos.
Quando Neco soltou Evelyn e também sacou uma arma, ela percebeu que, na verdade, não era um assalto e que eu estava juntos com eles:
-Pelo amor de Deus, Renato! Explica o que é isso?
Louco de raiva, respondi:
-Você quer saber mesmo? Eu vou te explicar, ou melhor, te mostrar o que esse merda tem feito com o nosso filho e depois vocês dois vão morrer! – Eu estava em surto e pioraria a cada minuto, nem eu mesmo me reconheceria a partir daquele instante.
Antes de ir para lá, acessei novamente as imagens e copiei a parte em que o canalha batia em meu filho. Coloquei o pendrive na TV, na 1ª vez, não deu certo, o que me enervou mais ainda, porém, na 2ª tentativa apareceram as imagens.
Ao ver as imagens da sala na TV, Evelyn esboçou reclamar:
-Peraí, você foi louco ao ponto de colocar...
-Cala a boca e assiste, vagabunda! - Berrei
Logo depois apareceram as imagens da agressão. Evelyn demonstrou uma certa surpresa, talvez não tivesse visto, já que na hora estava em seu quarto, mas tenho certeza que ouviu o choro e não fez nada. Já Leo Xonado engoliu seco e perdeu a cor, não conseguia dizer nada, a marra sertaneja dele de falar gírias ridículas, sumiu naquele momento:
Eu gritei olhando para ele:
-Quer dizer que você achou que poderia espancar meu filho, seu vagabundo gosmento? Há quanto tempo você vinha torturando o garoto, seu canalha? Era por isso que ele tinha medo, estava sofrendo calado.
Leo, em pânico, se levantou e tentou explicar:
-Foi só esse dia, eu me excedi porque ele estava enchen...Fazendo manha e quis educa-lo, mas nunca mais toco nele prometo, não tem necessidade de violência, não, moço do céu.
Dei-lhe um violento murro na boca do estômago que o fez desabar no sofá.
-Uma vez só o caralho, filho da puta, esses tempos, o menino estava com duas manchas roxas no braço. Você gosta de torturar crianças achando que está ensinando, né, professor? Mas hoje eu vou fazer você provar das suas aulas, só que como já está grandinho, as aulas serão mais avançadas. Carlos, pega a maleta.
Carlos tinha uma espécie de maleta de ferramentas com vários instrumentos que usava para torturar pessoas. Ele a buscou no carro e me entregou. Olhei rapidamente e vi que havia alicates, tesouras, bisturis, facas, coisas medievais e até um vibrador de uns 30 cm, mas me interessei pela marreta quadrada de 5kg. Tive uma ideia, num gesto rápido a retirei e disse:
-Neco, vamos levar esse porra lá para a cozinha.
Evelyn ameaçou gritar, mas Carlos enfiou o cano da pistola em sua boca, fazendo-a até engasgar.
-Fica quieta, sua puta! A única chance de sair viva daqui é cooperando.
Pedi que Neco esticasse bem o braço dele sobre a mesa e o segurasse. Quando Leo entendeu qual era a minha intenção, passou a berrar e implorar que não o machucasse. Eu queria que o filho da puta deixasse a mão aberta, mas o cantor não quis colaborar e a manteve fechada. Carlos aumentou no máximo o som da TV e colocou num canal de música.
Mirei bem em sua mão, levantei a pesada marreta o mais alto que pude e soltei com toda a minha força. Já tinha ouvido diversos gritos de dor em minha vida, sejam reais ou nos filmes, mas nada, nada, nada mesmo, se aproximava do som desesperador que Leo Xonado emitiu ao sentir a marreta esmagando parte dos ossos e pele de sua mão e dedos. Foi algo pavoroso e nem o som da TV conseguiu abafar.
Em minha cabeça, achei que seriam necessárias algumas pancadas, mas já não primeira, sua mão ficou totalmente deformada, torta, devia ter sofrido diferentes fraturas. Mesmo assim, decidi dar mais uma, ainda mais forte. Dessa vez, espirrou muito sangue, o vagabundo quase desmaiou de dor e passou a chorar compulsivamente.
Neco o soltou e Leo desabou no chão da cozinha, gritando e olhando para a sua mão que além de deformada, tinha perdido a ponta do dedo indicador após a 2ª marretada. Ele berrava de dor.
Mesmo sem ver a cena, já que estava na sala, Evelyn urinou só de ouvir os gritos desesperados de Leo e o som das pancadas em sua mão.
Eu ainda não estava saciado, mas não sabia o que fazer. Dei-lhe um violento ponta pé na cara que fez seu nariz sangrar. Até que decidi foder com o braço esquerdo dele, o estrago tinha sido não mão direita, a mesma que bateu em meu filho, mas agora seria no outro. Pedi a Neco:
-Você consegue quebrar o braço esquerdo dele na altura do cotovelo?
-É fácil, mas prefere do jeito rápido ou demorado?
Leo chorava e tentava pedir para que parássemos. Respondi a Neco:
-Pode ser rápido. Queria ficar mais tempo fazendo isso, mas os vizinhos podem notar e o choro desse canalha está me deixando com vontade de descer a marreta na cabeça dele, vamos acabar logo com essa porra, quebra o braço dele.
Leo Xonado implorou berrando e chorando:
-Não! Não! Não!
Neco disse então para irmos para a sala e pediu a ajuda de Carlos para segurar Leo. Carlos me passou a arma e disse para ficar olho em Evelyn que a essa altura, também chorava copiosamente.
Carlos se sentou nas costas de Leo de um jeito que praticamente o imobilizava, Neco veio e demonstrando uma prática assustadora, esticou o braço do vagabundo chorão, segurando firme pelo pulso, colocou o pé bem no cotovelo forçando para baixo e de repente deu uma forte pesada, como se estivesse partindo uma ripa ao meio. Foi um estalo assustador, seguido de um urro alucinante do cantorzinho que começou a perder as forças e quase desmaiou, tamanha era a dor, mas o mais impactante foi ver o seu braço ficar imediatamente deformado, parecia uma maria mole com ondulações, confesso que ali fiquei assustado. Já Evelyn se jogou no chão e começou a vomitar de pavor da cena.
Decidi dar um fim aquilo e pedi que o levassem embora e fizessem o que tínhamos combinado. Neco abriu a garagem, Carlos tirou a lata velha do Leo da garagem e entrou com o carro que viemos. Em seguida colaram uma fita na boca de Leo Xonado e o jogaram no porta-malas, saindo rapidamente. Deram um fim também no cacareco do cantor.
Fiquei com uma arma e disse a Evelyn que agora seríamos nós dois. A vagabunda passou a implorar pela vida, foi então que resolvi jogar com o que ela acabara de ver para tirar proveito em uma chantagem, contando algumas mentiras:
-Você sempre quis saber como eu melhorei de vida tão rapidamente, não é? Agora, você sabe, trabalho para o crime e se precisar sujar as mãos, sujo. Já decretei a pena de morte para o Leo Xonado, daqui a pouco o corpo dele será triturado e nada mais será encontrado. Mas quero saber, você quer ter o mesmo fim ou pretende aceitar as minhas condições e ficar de biquinho bem fechado para sempre?
Evelyn chorava apavorada, eu prossegui:
-Entenda uma coisa, aqueles dois caras que acabaram de sair daqui podem fazer o mesmo com seus pais e você vendo tudo, quer isso para eles e depois para você?
-Não...Faço o que quiser! Não mexa com eles!
A partir daí, fiquei horas explicando para Evelyn bolando a versão que ela deveria dar caso viessem procurar o merda. Expliquei que queria a guarda total de Thiago e que se dali um dia ou dez anos, ela contasse o que ocorrera, primeiro seus pais pagariam e depois a própria. Após ter visto o que viu, claro que a mesma acreditou que eu seria capaz de fazer o que disse e de muito mais.
Falei também que não acreditava que a mesma tivesse deixado um homem bater em nosso filho, já que nem ela nem eu fizemos isso uma única vez. Evelyn afirmou que nunca viu Leo bater e quando Thiago contou uma vez, o safado negou e disse que só tinha lhe dados umas broncas fortes. Num dado momento, minha ex me surpreendeu e mostrou o braço direito roxo:
-Eu só acreditei que Leo era violento depois do que ele me fez ontem. Chegou em casa altas horas. bêbado chutando, porta, cadeira, todo bravo porque o dono de um bar não tinha lhe pagado, fui reclamar do barulho e ele simplesmente me deu um soco aqui (mostrou o braço já perto do ombro roxo) e outro na cabeça.
-Ahh! Então sem querer, acabei te ajudando porque mesmo que você botasse aquele filho da puta para correr, o que acho pouco provável, já que você disse que apanhou ontem, mas hoje ele ainda estava aqui deitado feito um paxá tomando cerveja, mas supondo que o largasse, o cara era capaz de te perseguir e as notícias tão aí todo dia mostrando o que acontece com mulher que se envolve com homens assim.
-Eu ia largar dele sim...Mas não concordo com negócio de matar...Só que eu sei que a minha vida está nas suas mãos, não vou falar nada, só quero esquecer o que vi aqui.
-Não é só sua vida não! Pensa nos seus pais! Acha que vou aceitar ser denunciado e ficar quieto? Pense bem nisso, todos os dias daqui para frente.
Àquela altura, Monica já tinha deixando umas 10 mensagens no Whats. Resolvi dar uma desculpa e gravei um áudio, dizendo que, na verdade, junto com amigos, expulsei Leo Xonado da casa e que o levamos para a rodoviária, mas que tínhamos que ficar com ele até amanhecer, pois não tinha mais ônibus aquela hora e não confiava em deixa-lo ali. Disse ainda, que chantageei os dois com o vídeo e por isso, o canalha iria picar a mula e a vagabunda me entregaria o Thiago.
Algumas horas depois, mas ainda na madrugada, Neco e Carlos voltaram. Evelyn se desesperou, mas o que eles queriam era fazer uma lavagem minuciosa na casa com produtos que fizessem desaparecer qualquer resquício de sangue. Minha ex e eu ficamos do lado de fora. No final, eles a fizeram entregar tudo o que pertencia ao canalha em termos de roupas, sapatos, objetos pessoais.
Naquela segunda-feira, fui ao banco, saquei o valor combinado e entreguei a Neco e Carlos. Leo Xonado tinha virado poeira e ninguém mais o encontraria. Quando finalmente pude voltar ao meu apartamento, dormi por quase 10 horas. Mantive a versão que tinha passado a Monica no áudio.
Apesar de não me arrepender do que fiz, nos dias seguintes, passei a ter fortes crises de ansiedade, ora por causa das imagens e dos gritos de Leo que vinham à minha mente a todo instante, ora por medo de que alguém desce por falta dele e chegasse até a mim, ora por medo de Evelyn contar, se bem que a mesma estava se cagando de pavor do eu poderia fazer.
Foram vários dias bem tensos e mesmo com a pessoa que me indiciou Neco e Carlos, dando exemplos de outros “serviços” que os dois fizeram e que nada deu errado. Pelo que tinha pesquisado antes sobre o canalha, ninguém sabia nem mesmo de onde ele era, pois ora o vagabundo dizia que era do interior de Goiás, ora do interior de São Paulo, Minas. Certamente, tinha coisa errada em seu passado, daí as contradições. Ninguém deu por falta dele.
Creio que somente após um mês, comecei a me tranquilizar. Nesse período, arrumei uma senhora para tomar conta de Thiago na parte da tarde, já que de manhã, ele ficava na escolinha. Evelyn decidiu se mudar para outro bairro e para agradá-la, voltei a pagar seu aluguel e disse que em breve, passaria a levar nosso filho aos sábados para que se encontrassem, mas na casa dos pais dela.
Monica e eu seguíamos firmes, após todo o pesadelo, voltei a transar e muito com ela. Também fazíamos algumas viagens curtas. Aos poucos, aquele pesadelo foi sendo esquecido.
Além do sexo, tínhamos longas conversas sobre os tempos de namoro na adolescência, mas também sobre outros temas. Certo dia, em uma dessas conversas passamos a falar sobre política e a criminalidade, até que o assunto descambou para um lado que me deixou preocupado:
-A falta da segurança me deixa o tempo todo intranquila aqui, é algo que não sentia na Europa. Nos tempos dos nossos pais, se a pessoa fosse morar numa cidade pequena do interior ou numa praiana mais calma, vivia sem medo de assalto, mas hoje, está perigoso em todo canto. Também me choca como os brasileiros mudaram tanto em tão pouco tempo, enlouqueceram por causa de política, gente adulta de 30, 40, 50 anos e até idosos exalando ódio, querendo agredir e até matar que pensa diferente, acreditando em teorias bizarras e fake news. Se bem que na Itália, o fascismo também está forte, só sei que tá complicado para quem não é demente.
-Acho que o mundo de tempos em tempos, entra numa vibe doentia ou de paz que se espalha, o que estamos vendo hoje em parte da Europa, aqui, na Argentina e até nos Estados Unidos é um remake mal feito do que ocorreu na própria Itália, Alemanha e outros países há quase 100 anos. Depois, tivemos uma época de questionamento ao autoritarismo, quando surgiram os hippies e outros movimentos de jovens pedindo o fim de guerras e outras pautas, mas acho que agora as coisas estão voltando a ficar obscuras e vai piorar.
-Fico pensando em arrumar um lugar para morar e dizer: é aqui que quero ficar, ter 1 ou 2 filhos e vê-los crescer com segurança e longe de gente tapada e agressiva.
Aquilo me preocupou:
-Mas você está pensando em voltar a morar fora?
Monica respirou fundo e me deu um olhar triste:
-Não sei ainda, Renato. Meus pais não querem sair daqui, mas acho que se não fosse por eles e por você, já teria ou voltado para a Itália ou buscado outro país, fato é que aqui as coisas estão.
Antes de voltar ao Brasil, Monica morava em Tivoli, uma pequena e linda cidade (que lá chamam de comuna da província de Roma) de menos de 50 mil habitantes. Estar em São Paulo com todos os problemas de uma metrópole e na atual fase do país, realmente, não devia de ser fácil.
Tivemos outras conversas sobre sua insatisfação, até que numa delas, Monica fez uma proposta que me pegou de surpresa:
-Comecei a pesquisar e vi que há muitos condomínios de bom nível, com segurança, muito verde e são pertos de São Paulo, dá para vir trabalhar aqui e voltar no final da tarde, gastando menos de uma hora. Queria que você pensasse com calma na possibilidade de em breve, nos casarmos e irmos morar num desses condomínios. Não resolveria todas as minhas angústias, mas pelo menos moraríamos sem medo de abrir uma porta, caminhar...
Apesar de estar amando os meses que estávamos passando juntos, não consegui esconder a surpresa:
-Casar?! De papel passado e tudo?
Monica notou minha surpresa e tentou amenizar.
-Assim, vamos pensar em tudo, também quero refletir e depois vemos se esse é o melhor caminho. Agora, que você tem a guarda total do Thiago, ele viria também, seríamos nós 3 e quem sabe no futuro, um filhinho ou filhinha.
Dinheiro não seria problema, até porque, Monica tinha ficado com uma baita de uma bufunfa após a morte do marido e ainda tinha algumas propriedades na Itália, eu também tinha um pouco guardado.
Comecei a refletir com calma nos dias seguintes e vi talvez fosse o melhor mesmo. Monica e eu tínhamos um entrosamento perfeito. Entretanto, logo viria outra festa e novas revelações embaralhariam tudo novamente.