"Entre os Corredores" — Capítulo 1
Lucas era calouro na universidade. Tinha 19 anos, olhos castanhos intensos e aquele jeito meio tímido que só os que ainda estão se acostumando com a liberdade da vida adulta têm. Ele passava a maior parte do tempo entre a biblioteca e o laboratório de informática, fugindo das festas e evitando se destacar demais.
Mas tudo começou a mudar no segundo mês de aula.
Foi numa manhã quente, entre uma aula de sociologia e um café apressado, que ele a viu pela primeira vez. Ela caminhava pelo corredor principal como se o mundo girasse em câmera lenta só pra ela. Cabelos longos e negros, corpo escultural, vestidos colados que deixavam pouca coisa pra imaginação e, ao mesmo tempo, instigavam como ninguém. O salto alto estalando no chão ecoava como um feitiço. O nome dela era Valentina.
Lucas não sabia nada sobre ela — só ouvia sussurros pelos corredores. Que era trans. Que era linda. Que fazia todos os olhares se virarem quando entrava numa sala. Mas Lucas não via apenas o físico. Tinha algo no olhar dela que o prendia. Um misto de força e mistério.
Eles se esbarraram pela primeira vez na biblioteca.
— Cuidado... — ela disse, sorrindo, quando ele deixou cair o caderno no chão ao trombar com ela.
Ele gaguejou um "desculpa", e ela se abaixou ao mesmo tempo que ele pra pegar o caderno. As mãos se tocaram. Foi rápido. Mas Lucas sentiu uma descarga elétrica subir pela espinha.
— Lucas, né? — ela perguntou, ainda com o caderno nas mãos.
Ele assentiu, surpreso que ela soubesse seu nome.
— Eu sou Valentina.
Ela entregou o caderno e saiu com aquele sorriso nos lábios. A partir dali, Lucas não conseguia mais pensar em outra coisa. À noite, deitado em sua cama, as cenas do dia passavam como um filme. E, em sua imaginação, ele voltava a sentir a mão dela, o perfume, os lábios carnudos que pareciam feitos pra provocar.
No fim daquela semana, eles se encontraram de novo. Dessa vez, foi diferente. Valentina estava sentada sozinha no gramado, lendo. Lucas criou coragem e se aproximou.
— Posso sentar?
Ela sorriu.
— Só se for pra me fazer companhia. Tô entediada.
Conversaram por horas. A tensão no ar era palpável. Valentina tocava o cabelo, olhava nos olhos dele de um jeito que fazia seu coração acelerar — e outra coisa também.
— Você sempre olha assim pras pessoas? — ela perguntou, maliciosa.
— Só quando não consigo evitar — ele respondeu, mais corajoso do que pensava que seria.
Ela se aproximou, colando os lábios no ouvido dele.
— E o que você faria... se eu dissesse que quero sentir sua boca no meu pescoço agora?
Lucas engoliu seco.
— Eu não diria não.
Valentina riu, pegou a mão dele e levou até sua cintura.
— Então vem. Meu quarto fica aqui perto.
continua no capítulo 2