Segredos do Coração - Superando o Passado. Parte 24.

Um conto erótico de Ménage Literário
Categoria: Heterossexual
Contém 9334 palavras
Data: 23/04/2025 13:56:01
Última revisão: 23/04/2025 18:53:59

Celo baixou o olhar, apertando os dedos entre si. Tentou mudar de assunto, como quem busca uma rota de fuga.

— Você não precisava ter mandado o Paul ao mercado. Eu tenho tudo o que preciso aqui. — Disse, quase num resmungo.

Anna virou-se de volta para ele, caminhando com calma, mas com um olhar firme, penetrante.

— Paul não vai voltar. Não agora.

Celo a fitou, sem entender de imediato.

— Como assim?

Ela parou diante de Celo, os olhos cravados nos dele.

— Nós temos assuntos pendentes a resolver. Esqueceu?

Continuando …

Parte 24: “Quando Penso Em Você, Fecho Os Olhos de Saudade …”

Celo estranhou, seus olhos fixos nos de Anna. Ainda confuso, recuou um passo, como se precisasse de distância para compreender melhor o que acabara de ouvir.

— Assuntos pendentes? Que tipo de assunto, Anna?

Ela respirou fundo, cruzando os braços diante do peito. Por um instante, pareceu buscar as palavras certas, como quem organiza uma bagunça interna antes de revelar o que sente.

— Aquela nossa breve conversa no restaurante, semanas atrás ... aquilo só aumentou a urgência que eu senti de falar com você. Explicar algumas coisas. E, talvez, entender outras.

Celo manteve o olhar nela, agora mais atento, embora sem esconder o desconforto. Ele acenou levemente com a cabeça, como quem diz “vá em frente”, mesmo sem saber exatamente onde aquela situação iria chegar.

— Desde que tudo aconteceu, desde aquele fatídico feriado ... eu fiquei me perguntando onde foi que a gente errou. — Ela disse, suavemente. — Eu e Paul ultrapassamos um limite, eu sei disso. Na época, até achei que estávamos respeitando o que você e a Mari queriam experimentar. Mas agora vejo que fomos inconsequentes. Eu também pressionei você, fiquei próxima, colada o tempo todo …

Celo permaneceu calado, apenas ouvindo. Anna prosseguiu, com um tom sincero e direto, mas carregado de emoção:

— Quando você sumiu, eu entrei em pânico. Mesmo tentando me manter calma, confesso que fiquei com medo. Não só pelo que tinha acontecido ... mas por você. Por ter desaparecido daquele jeito, sem dar sinal. Paul ficou devastado. E eu ... tentei não julgar, mas não conseguia evitar de pensar se, de alguma forma, nós éramos os principais responsáveis por aquela situação.

Ela se aproximou devagar, mas respeitando o espaço entre eles.

— Quando encontramos você naquela cidadezinha, meses depois, quando vimos que estava bem, mesmo que tenha explodido com a gente, o que foi muito justo ... Paul desabou. Acho que ele estava segurando tanta coisa que só aquilo bastou para ele desmoronar. Foi ali que, confesso, minha cabeça começou a criar ... cenários. Coisas que nem sei de onde vieram.

— Que tipo de coisas? — Celo arqueou as sobrancelhas, surpreso.

Anna desviou o olhar, envergonhada por um segundo, mas logo retomou o controle.

— Eu cheguei a pensar que o Paul pudesse … estar desenvolvendo sentimentos pela Mari.

Anna deu um longo suspiro, envergonhada por ser tão honesta.

— Sei lá, eram só caraminholas da minha cabeça, tá? Eu conheço o homem que tenho ao meu lado. Sei que o que ele sentia era culpa. Culpa genuína. Ele se sentiu responsável por tudo. Pela dor de vocês dois. Pelo desequilíbrio que causamos.

Celo se ajeitou na cadeira, tentando assimilar aquilo tudo. A voz de Anna era calma, mas as palavras vinham carregadas de emoção, e ele ainda não entendia exatamente qual era a intenção dela.

— Anna ... eu ainda não sei o que você espera de mim ao contar tudo isso.

Ela o encarou, firme, mas com ternura nos olhos.

— Não espero nada. Só queria que você soubesse o que se passou aqui … — Disse, tocando o próprio peito, onde fica o coração. — … e aqui … — Agora, tocando a cabeça. — … que você soubesse que não está sozinho. Nunca esteve.

O silêncio entre eles se instalou, intenso e cheio de significados. A lua seguia iluminando discretamente a sala, como se assistisse à cena em respeito. Entretanto, esse silêncio se prolongou, pesado, mas necessário. Celo respirou fundo. Seus olhos estavam fixos em algum ponto indefinido da parede, mas logo se voltaram, outra vez, para Anna, e havia algo diferente neles, uma transparência dolorosa, como se estivesse prestes a romper um lacre muito antigo.

— Você quer saber como eu me senti naquela noite?

Anna hesitou, surpresa pelo tom. Celo apertou as mãos sobre os joelhos, curvando-se um pouco para frente, como se as palavras tivessem peso físico.

— Depois que te ajeitei na cama, e te cobri com o lençol ... — Celo começou, em voz baixa, cauteloso. — … eu saí do quarto, tentando entender o que tinha acontecido. Tentando juntar as peças. Mas, antes mesmo de chegar no corredor, eu já ouvia os gemidos. E eu conhecia aqueles sons, Anna. Eu conhecia muito bem ... cada respiração, cada pausa, cada suspiro da Mari. Aquilo me atravessou como uma lâmina.

Ele parou, respirando com dificuldade, mas não desviou o olhar.

— Eu fui puxado até o quarto, sabe? Nem sei se com as pernas ou com a alma. Era como se algo invisível me arrastasse. Os gemidos dela me guiavam. E quando eu vi ... — Ele engoliu seco, quase desistindo, mas se forçou a continuar. — Quando eu vi a Mari se entregando ao Paul, daquele jeito, com uma intensidade que ... que ela nunca teve comigo ...

Os olhos de Celo marejaram, mas ele sustentou firme a dor. Sua voz falhou apenas por um instante.

— Foi a dor mais visceral que eu já senti. Não era ciúme. Era um tipo de ... de … desintegração. A realidade desmoronou. Tudo escureceu. E eu ... apenas fugi. Não pensei. Não planejei. Só fui … um covarde. Fugindo como se correr me fizesse escapar de mim mesmo.

Anna se mexeu, como quem ia dizer algo, talvez tentar amenizar, mas Celo ergueu a mão, pedindo silêncio. Ele ainda não tinha terminado.

— Quando vocês me encontraram naquela cidadezinha ... eu já estava tentando juntar meus pedaços. E quando voltei ... eu quis, com toda a força que me restava, reacender alguma coisa com a Mari. Mostrar pra ela que o amor ainda existia. Que eu ainda era “aquele cara”. Mas não adiantou. Cada tentativa era como colocar fogo em papel molhado. Nada pegava. Nada aquecia.

Celo virou o rosto por um instante, respirando fundo, como se buscasse forças em outro lugar.

— A cada toque, a cada conversa ... aquela sensação de ser insuficiente só crescia. De ser pequeno. Inferior. Por mais que eu tentasse afastar a sombra ... ela crescia. A mágoa crescia. E a escuridão também. E tivemos ótimas noites juntos, mas que após a adrenalina baixar, só sobrava ressentimento.

Ele fez uma breve pausa, então completou:

— A terapia me ajudou, sim. Mas não a me entender ... e sim a entender a Mari. O quanto ela sofreu. O quanto o passado dela foi injusto. E como ... de algum jeito, eu a empurrei direto nos braços do Paul. Que, sejamos sinceros, foi um amante muito melhor do que eu jamais consegui ser.

Seus olhos estavam vermelhos, úmidos, mas ainda sem lágrimas caindo. Ele não se permitia chorar. Não mais.

Anna, com os olhos cheios d’água, se aproximou devagar. Sentou-se ao lado dele e o envolveu com um abraço apertado. Silencioso. Verdadeiro.

Celo não retribuiu o abraço de imediato, mas também não se afastou. Ficou ali, respirando devagar, permitindo-se ser acolhido.

— Eu tentei, Anna ... — Ele murmurou. — Tentei conhecer o que o mundo tinha a oferecer. Tentei ter uma nova experiencia com outras mulheres. Tentei aprender. Tentei melhorar. Talvez ... talvez para ser um amante melhor. Um homem melhor. E, quem sabe, se um dia a Mari e eu voltarmos a ficar juntos ... eu possa ser suficiente. Só isso. Só ... suficiente.

O silêncio voltou, denso e compassivo, como se o mundo tivesse parado por um instante para ouvir o desabafo de um homem quebrado, tentando, a duras penas, se reconstruir.

Celo soltou um suspiro cansado, com a voz arrastada, como se cada palavra fosse uma pedra sendo retirada do peito.

— Mesmo com essas outras mulheres, eu me sentia perdido ... eu não sabia o que estava fazendo. Não sabia como tocar, como provocar, como dar prazer de verdade. Eu só ... fazia o que achava certo. Mas não era. Eu não tinha, ou melhor, não tenho a habilidade pra ser suficiente. — Ele hesitou por um instante, como se engolisse algo amargo. — Cada tentativa era pior do que a outra.

Anna apenas escutava, com os olhos atentos e calmos.

— Nenhuma delas quis me ver de novo. Nenhuma. — Ele soltou uma risada sem humor, triste, conformada. — Triste, mas real. Realmente, o problema sou eu. Por mais que eu queira, por mais que eu tente ... eu não sou suficiente. E não é só para Mari. É para qualquer uma.

Anna deu uma pequena risada, mas não era de deboche. Era suave, afetuosa, quase cúmplice. Se aproximou mais, segurando o rosto de Celo com as duas mãos, firme, carinhosa.

— Você sabe por que a gente escolheu ser liberal, Celo? Por que Paul e eu vivemos assim?

Ele a encarou confuso, desconfiado, sem entender onde ela queria chegar.

— Você acha que o Paul, o meu marido, é o melhor amante com quem eu já transei? O mais completo, o mais incrível?

Celo franziu a testa, surpreso com a pergunta. Um silêncio desconfortável pairou no ar, até que ele murmurou:

— Anna ... por que você tá dizendo isso?

— Porque é verdade. — Ela respondeu, com serenidade. — Eu amo meu marido, claro. Paul é um homem maravilhoso, um companheiro incrível. Mas o sexo ... o sexo é só uma das camadas do nosso amor. E, sinceramente, ele está longe de ser o melhor amante que eu já tive. Longe mesmo.

Celo piscou, perplexo.

— Você tá falando sério? Parece que tá dizendo isso só pra me confortar ...

— Eu não tenho motivo nenhum pra mentir para você, Celo. — Ela afirmou, com firmeza. — Cora, por exemplo, é uma amante muito mais fogosa do que eu. Aquela safada nunca se cansa. Uma máquina. E o Chris ... ah, o Chris é de longe o melhor macho do nosso grupo. O mais completo. Paul sabe disso. Eu sei disso. E a gente convive bem com isso porque o nosso amor vai muito além da performance na cama.

Ela acariciou o rosto de Celo com os polegares, num gesto cuidadoso, quase maternal.

— Celo, você esteve com a mesma mulher por vinte anos. Só com a Mari. Isso não é vergonha nenhuma. Muito pelo contrário. É até injusto que você se compare com pessoas que vivem e exploram sexualidade há tanto tempo. A experiência vem do conhecimento, da prática, da liberdade de testar, de errar, de descobrir o que funciona com cada pessoa. E, pelo que eu sei, Mari nunca disse que você era ruim de cama. Nunca te diminuiu nesse aspecto.

Ela fez uma pausa e depois falou, com mais suavidade:

— A verdade é que você nunca teve espaço pra aprender coisas novas. Para evoluir como amante. E talvez ... talvez você mesmo tenha se limitado. Mas quem disse que isso precisa continuar assim? Quem disse que isso não pode mudar?

E completou:

— E mais, na situação que voce se encontra agora, com essa neura de não se achar suficiente, eu até entendo o motivo das mulheres não te darem uma segunda chance.

As palavras dela caíam como um bálsamo, mas também como um espelho. Celo engoliu seco, sentindo as defesas internas se desfazendo, uma a uma. Ele começava a enxergar que o buraco dentro dele talvez não fosse ausência de valor, mas ausência de oportunidade.

Anna se sentou ao seu lado, sem pressa, com a calma de quem sabe que palavras certas, ditas na hora certa, podem ser o ponto de virada.

— Celo ... — Ela disse, com ternura na voz. — Quando você se olha no espelho, o que vê?

Ele hesitou, os olhos marejados novamente.

— Alguém quebrado. — Respondeu. — Alguém que não foi suficiente para a mulher que ama. Alguém que não consegue sequer dar prazer a outra mulher. E, para piorar ... alguém que deixou a própria dor afastar as pessoas que se importavam com ele.

Anna balançou a cabeça lentamente, pegando as mãos dele entre as suas.

— Isso não é quem você é. Isso é o que a dor fez com você. Mas “dor” não é identidade, Celo. É só um momento, por mais longo que pareça. Você está preso numa ideia de si mesmo que não é justa, nem verdadeira.

Ela se inclinou um pouco mais, o tom agora quase didático, mas nunca arrogante.

— O prazer, a entrega ... não vêm só da técnica. Vêm de conexão, de atenção, de presença. Você tem tudo isso, mas está tão focado em “ser melhor”, “ser suficiente”, que esqueceu o principal: estar ali, inteiro. Você não é um projeto inacabado. É um homem que está aprendendo de novo a viver.

Ele respirou fundo, tentando absorver cada palavra.

— Mas e se ... e se eu não conseguir? — Ele perguntou, com sinceridade.

— Consegue sim. — Anna rebateu. — Porque você quer. Porque você tem coragem de admitir o que sente. Sabe quantos homens conseguem fazer isso? Quase nenhum.

Anna apertou as mãos dele com mais força.

— E sabe o que mais? O fato de você ter se sentido mal, de ter se questionado, mostra o quanto você se importa. E isso, Celo ... isso é raro demais. É lindo.

Um pequeno sorriso tímido começou a surgir nos lábios dele. Ainda carregado de tristeza, sim, mas agora com uma fagulha de esperança.

— Então ... você acha que ainda dá pra aprender? Para melhorar?

— Eu acho que você já começou. Agora é só continuar. Se permitir. Sem se comparar, sem pressa. Não existe um “melhor” amante no mundo. Existe quem quer aprender com o outro. E você é esse cara. Eu mesma, até hoje aprendo. Cada nova pessoa que entra na minha vida, deixa alguma coisa.

Celo se permitiu acreditar, como se aquelas palavras estivessem curando partes escondidas dele.

— Obrigado, Anna ... de verdade.

Ela sorriu, carinhosa.

— Eu estou aqui, Celo. E Paul também está. E, quando você estiver pronto ... Mari talvez também esteja.

— Eu quero ficar bem. — Ele disse. — Por mim, antes de qualquer coisa.

— Então começa hoje. Agora. — Anna disse, erguendo o queixo dele com um toque leve. — Começa por acreditar que você merece ser feliz. Porque merece mesmo.

Celo encarou Anna com os olhos marejados, mas não era mais de tristeza e solidão. Havia mais luz do que sombra em seu olhar naquele momento.

— Sei que o que vou pedir agora pode ser contraditório ... — Celo começou, a voz embargada. — Talvez eu até me arrependa no futuro. Mas ... por favor, cuide da Mari. Não a deixe sozinha. Ela é forte, eu sei. Mas às vezes até os mais fortes desmoronam quando acham que não têm mais para onde ir …

Ele respirou fundo, encarando o chão por um segundo, antes de voltar a fitá-la.

— … não quero que ela pare a vida dela até que eu me reencontre. Não seria justo. Nem com ela. Nem comigo.

Anna mordeu levemente o lábio, o olhar curioso e provocador.

— Você tem certeza disso? — Disse, com um sorriso maroto. — Você sabe muito bem a vida que a gente leva, né?

Celo sorriu de volta, um sorriso genuíno, libertador. Quente e verdadeiro.

— Anna ... a curiosidade ainda existe em mim. O desejo de conhecer esse mundo de vocês por completo. Era isso que eu estava tentando fazer com o Vicente. Entender. Aprender. Me abrir.

Ele fez uma pausa e abaixou um pouco a cabeça, como se estivesse organizando as palavras dentro de si.

— Inclusive ... a Mari conhece esse mundo. Muito mais do que eu. Mesmo que a experiência dela tenha sido a pior possível.

Os olhos dele brilharam de emoção e cuidado.

— Por favor, mostre para ela que nem todos são como aquele canalha do passado dela. Que nem todo homem vai usar sua inocência. Ou abusar do amor que ela entregou. Mostra que existe prazer com respeito. Que dá pra se entregar sem se perder. Que ela pode ser desejada ... sem ser ferida.

Anna se aproximou novamente, agora mais emocionada também, tocando o ombro de Celo com carinho.

— Eu prometo, Celo. Por ela. Por você.

Eles se abraçaram em silêncio, um abraço firme, cheio de significado. Não era apenas um gesto de amizade, mas um pacto silencioso, uma promessa entre duas pessoas que se queriam bem, que se sentiam atraídas uma pela outra, mas sabiam que não era a hora e nem o momento para dar vazão ao desejo.

A noite lá fora seguia quieta, mas dentro daquele abraço ... nascia um novo recomeço. Paul retornou minutos depois, Anna cozinhou, e os três jantaram juntos, entre risos e boa conversa. Celo se reconstruía aos poucos, devagar e sempre.

{…}

A luz do fim da tarde atravessava as cortinas da sala, tingindo tudo em um tom dourado e silencioso. Mari estava sentada no sofá, com as pernas encolhidas e uma manta sobre os ombros, o olhar perdido em algum ponto entre o nada e o lugar nenhum. Havia dias em que o tempo parecia escorrer como areia entre os seus dedos. Aquele era um desses dias.

— Mãe ... — A voz da filha veio baixa, quase como um convite para que Mari despertasse daquele torpor emocional. — Você não vai voltar a trabalhar? Sei que nunca precisou, mas lembro que a senhora gosta muito de ajudar as pessoas.

Mari piscou devagar, voltando à realidade. Respirou fundo antes de responder, com um sorriso cansado, mais triste que afetuoso.

— E ajudar alguém como, filha? Eu mal consigo levantar da cama em alguns dias. Que tipo de terapeuta seria eu?

— Uma humana. — A filha respondeu, com firmeza. — Alguém que sabe o que é dor. Talvez até melhor do que antes.

Mari desviou o olhar. Não queria chorar na frente da filha outra vez.

— Chega desse assunto. — Ela passou a mão nos cabelos, como se quisesse apagar a conversa. — E você? Vai me dizer quando volta pra faculdade ou pretende jogar o diploma fora?

A filha hesitou. Aquilo quebrou a tensão.

— Eu tranquei a matrícula.

Mari sentou-se mais ereta, os olhos arregalados.

— Como assim?! Você está no último semestre!

— Eu não conseguia me concentrar, mãe. Estava preocupada com a senhora, com tudo isso aqui ...

— “Isso aqui” não é sua responsabilidade! — Mari ergueu a voz, mas logo se arrependeu, abaixando-a. — Isso não tá certo. Você não deveria estar cuidando de mim. Eu sou a mãe aqui.

A filha deu de ombros, tentando parecer forte, mas havia um nó em sua garganta.

— E eu sou a filha que te ama. Me deixa fazer o que eu posso.

Mari a olhou com ternura e dor, as emoções embaralhadas. Sentia-se culpada, fraca, incapaz de ser o apoio que sempre foi. Tentou respirar fundo, encontrar forças para insistir.

— Por favor, volta. Nem que seja pra terminar esse semestre, é o último. Seu irmão está prestes a se formar. Depois você decide o que quer fazer. Não deixe que o que eu estou vivendo atrapalhe sua vida também. Você merece mais que isso.

A filha hesitou, tocada pelas palavras, mas sem ter tempo de responder. A campainha tocou. Mari franziu a testa, surpresa. Levantou-se devagar e caminhou até a porta. Ao abri-la, seus olhos se arregalaram.

— Cora?

A mulher estava ali, com aquele sorriso cheio de intenções e o olhar que parecia enxergar mais do que devia.

— Oi, Mari. Achei que era hora da gente conversar ...

Mari abriu a porta ainda confusa com a visita inesperada. Cora sorriu, como se fossem velhas amigas se reencontrando num momento leve.

— Eu estava passando por aqui e pensei em você. Fiquei sabendo que as coisas andaram complicadas. Quis ver como você estava. — Cora completou.

Mari assentiu com um sorriso breve, educado, mas tenso.

— Estou ... me recuperando. Um dia de cada vez.

— Imagino. — Cora entrou com um passo manso, como quem não queria incomodar. — Sei que não é fácil. Só queria que você soubesse que tem gente que se importa. A Anna e a Fabi, por exemplo ... vivem falando de você, preocupadas. Por que não ligamos para as duas, saímos para conversar, beber alguma coisa?

Mari e Cora não eram tão próximas, e isso a deixava inquieta. Ela acompanhou Cora para dentro, fechando a porta devagar.

— Agradeço, Cora, mas no momento não estou no clima. Tenho outras prioridades, entende?

— Claro, claro ... — Cora balançou a cabeça, compreensiva. Depois, fez uma pausa e sorriu, com um brilho traiçoeiro nos olhos. — Mas, Mari ... será que não tá na hora de você sair um pouco dessa tristeza? Digo, o Celo, por exemplo, não perdeu tempo.

Mari sentiu um arrepio percorrer a espinha. Endureceu a expressão.

— Como assim?

Cora imediatamente recuou um passo, levando a mão ao peito, em um gesto dramático de arrependimento.

— Ai, me perdoa. Falei demais. Não era minha intenção trazer isso pra você. Eu juro.

— Mas trouxe. — Mari a encarou firme. — Fala, Cora. Já que começou, termina.

Cora hesitou, depois fez um biquinho quase infantil, como se fosse obrigada a dizer algo contra a vontade.

— Olha, é que ... falaram, né? A gente ouve as coisas. Celo tem sido visto por aí com o Vicente ... e, bem, parece que estão bem amigos, curtindo a vida. Sabe como é ...

Mari piscou lentamente, absorvendo o golpe. Tentou não demonstrar.

— Amigos? Curtindo a vida? Como assim?

— Ah, Mari ... — Cora quase suspirou, como quem carrega um fardo. — Eu não devia ... Mas você praticamente me força!

Ela se aproximou como uma amiga preocupada, mas a voz vinha carregada de veneno.

— Vicente é aquele tipo, sabe? Um Don Juan tupiniquim, um bon vivant famoso, desses que tem sorriso fácil e mãos mais rápidas ainda. É um liberal bem conhecido no meio. E o Celo ... bom, ele tá naquela fase, meio perdido, meio querendo se reencontrar, meio ... carente.

Cora fazia pausas estratégicas, para ver a reação da Mari.

— Enfim, não me entenda mal, não tô te dizendo isso pra te magoar. É só que ... acho que você deveria saber. Não merece ficar presa nesse luto por alguém que, talvez nem esteja mais no mesma situação emocional que você.

Mari ficou em silêncio por alguns segundos, o olhar fixo, mas distante. Quando voltou a encarar Cora, havia algo diferente, uma mistura de dor e determinação.

— Obrigada por sua visita, Cora. Mas acho que já deu por hoje. — Mari foi direta, encerrando a conversa.

— Claro ... claro ... — Cora deu um passo atrás, com um sorrisinho contido. — Se precisar conversar ... sabe onde me encontrar.

Mari apenas se afastou, sem abrir a porta para ela de novo. Cora entendeu o recado e saiu por conta própria, deixando para trás o rastro sutil do caos que tanto gostava de espalhar.

A porta mal havia se fechado quando a filha de Mari, encostada no batente da cozinha, cruzou os braços com uma expressão desconfiada.

— Quem era aquela?

— Uma conhecida … — Mari respondeu, evitando o olhar da filha. — Amiga de umas amigas. Veio saber como eu estava.

A garota não se deu por satisfeita.

— Humm … Sei. Tem gente que aparece só pra fingir que se importa, mas na verdade só quer espalhar fofocas.

Mari ergueu os olhos, surpresa com a percepção da filha.

— Como assim?

— Ela parecia ... venenosa. Daquelas que falam devagarzinho, com palavras doces, mas cada frase tem uma agulha escondida. Não gostei dela.

Mari respirou fundo, sentindo o peso das palavras da filha. Ainda ruminava o que Cora dissera: Vicente, Celo, aventuras, carência. Tudo aquilo se misturava num redemoinho em sua mente.

— Talvez você tenha razão ... — Respondeu Mari por fim, pensativa.

As semanas que se seguiram foram de lentas reconstruções. Mari, com a insistência da filha e o apoio constante de Luciana, começou a dar pequenos passos para fora de sua concha. Um café aqui, uma caminhada no parque ali. Às vezes um jantar com as duas. O riso ainda era tímido, mas já aparecia vez ou outra, principalmente quando a filha fazia piada sobre os homens do aplicativo que viviam curtindo o perfil de Luciana.

Mari, porém, ainda não estava pronta para se entregar a outro homem. Havia um bloqueio, uma muralha que não era física, mas emocional. Quando saía, olhava ao redor como quem espera algo, mas, no fundo, sabia que não era hora. E tudo o que Cora havia dito ainda latejava em sua mente. Ela tentava não dar importância, mas as imagens se formavam mesmo assim: Celo com Vicente, mulheres, sorrisos, troca de olhares. Aquilo doía. Doía mais do que ela estava disposta a admitir.

Durante aquele tempo, Mari se dedicou mais a casa e a filha, se preparando para a formatura do filho. Por mais que a tristeza ainda a tocasse, a ansiedade dele era contagiante. As chamadas por vídeo se tornaram diárias. Ver o brilho nos olhos do garoto, o convite que tinha chegado, o aluguel da beca, o discurso que ele ensaiava com vergonha, tudo aquilo arrancava um sorriso sincero, mesmo que discreto.

Não conseguia parar de pensar em Celo e durante uma conversa, foi inevitável a pergunta:

— Filho, tem falado com seu pai? Ele confirmou presença na sua formatura?

O garoto não queria se meter, e sempre que o fazia, era repreendido pelo pai, que dizia que aquele não era um problema para ele se preocupar.

— Tenho falado sim, mãe. Ele garantiu que vai. Se a senhora quiser, posso manter vocês afastados. E só …

Mari respondeu mais do que depressa. Não procurou, não correu atrás, mas queria, de todo o coração, ter a oportunidade de ver o ainda marido novamente.

— Não! Tudo bem. Não precisa se preocupar. Seu pai e eu jamais o faríamos passar vergonha.

Conversaram por mais algum tempo e se despediram. Mari precisava arrumar as malas. Viajaria uma semana antes para ajudar o filho nos preparativos finais.

{…}

Alguns dias se passaram desde a conversa com Anna. Celo havia refletido muito. As palavras dela ainda ecoavam dentro dele como refrões de uma canção antiga, daquelas que a gente conhece de cor, mas só entende de verdade quando a dor vem ensinar. Ele ignorou os convites insistentes de Vicente e resolveu fazer diferente: ao invés de se jogar de novo no caos, procurou a calma.

Com os projetos de consultoria adiantados, já que havia mergulhado no trabalho para abafar a dor, ele sentiu aquele velho chamado que o levava sempre ao mesmo destino quando precisava respirar: o bar do seu Zé, na cidadezinha de interior onde o tempo parecia desacelerar. Era mais que um lugar qualquer, era refúgio, raiz, reencontro.

Chegou numa sexta à tarde, com a mochila nas costas, o violão no ombro, e o coração dolorido, mas mais leve do que imaginava que poderia estar. Seu Zé o viu atravessando a rua de paralelepípedos e abriu um sorriso largo.

— Olha só quem resolveu aparecer! E aí, rapaz, dessa vez vai dar o ar da graça por mais de dois dias ou vai sumir de novo como alma penada na madrugada?

— Vim pra ficar, seu Zé. Pelo menos uma semana. Tô precisando dessa paz que tem aqui.

— Então pega seu violão, que eu quero ouvir música boa. Nada de preguiça hoje.

Celo sorriu. Era isso mesmo que ele queria. Guardou a mochila na edícula, tomou uma banho demorado e restaurador, comeu um tropeiro caprichado, preparado pelo seu Zé e quando a noite chegou, ajeitou-se no pequeno palco de madeira, como quem ocupa um lugar sagrado. Olhou pro velho amigo, que já servia duas doses de cachaça artesanal, e disse:

— Hoje eu vou tocar um álbum inteiro. Um que me ajudou a manter a sanidade nos últimos meses, nos meus piores dias. Fagner & Zé Ramalho, ao vivo. Conhece?

Seu Zé levantou a dose num brinde silencioso, com um brilho emocionado no olhar. Era fã dos dois. Sempre fora. O bar começava a ganhar vida, e os clientes entusiasmados, sabendo que Celo estava por ali, apareciam por todas as ruas próximas ao bar. O salão enchia rapidamente.

Celo dedilhou os primeiros acordes, começando com “Canteiros”.

“Quando penso em você

Fecho os olhos de saudade

Tenho tido muita coisa, menos a felicidade

Correm os meus dedos longos

Em versos tristes que invento

Nem aquilo a que me entrego

Já me dá contentamento

Pode ser até amanhã, sendo claro feito o dia

Mas nada do que me dizem

Me faz sentir alegria

Só queria ter do mato um gosto de framboesa

Pra correr entre os canteiros

E esconder minha tristeza”

A letra, feita de poesia e saudade, parecia dizer tudo que ele ainda não conseguia explicar. O bar fervilhava, a plateia cantando junto.

Logo em seguida, veio "Chão de Giz". A voz de Celo ressoava pelo ambiente, rouca, sentida, mas firme. Ele fechava os olhos entre um verso e outro, como se cada palavra limpasse mais um pedaço da alma.

“Eu desço dessa solidão

Espalho coisas

Sobre um chão de giz

Há meros devaneios tolos

A me torturar

Fotografias recortadas

Em jornais de folhas

Amiúde

Eu vou te jogar

Num pano de guardar confetes”

Depois, veio “Noturno”. Celo modulou a voz com suavidade, quase num sussurro, como se cantasse só para si. “Fanatismo”, potente e dolorosa, rasgando fundo. “ Jardim dos Animais”, imediatamente na sequência, com um toque mais intenso no violão, trazendo um ritmo quase hipnótico.

Depois, “Pedras Que Cantam”, logo após, como se cada acorde marcasse o passo de uma longa caminhada. “Asa Partida”, difícil de cantar, mas Celo não fugiu. Sentiu os acordes preenchendo a alma e deu tudo de si, mostrando sua versatilidade e técnica vocal.

As músicas do álbum, na voz marcante do Celo, seguiam sendo cantadas, e ele encerrou com “Mucuripe”, deixando que a melodia flutuasse pelo ar como um último sopro de esperança.

Seu Zé enxugou discretamente os olhos, aplaudindo de pé.

— Você não toca música. Você abre uma cicatriz e costura no mesmo compasso, rapaz ...

Celo sorriu, com humildade. A dor ainda morava dentro dele, mas naquela noite, pelo menos, ele soube mais uma vez transformá-la em algo bonito. Ali, entre o cheiro de madeira velha, o som do violão e o calor de um amigo verdadeiro, ele sentiu: estava começando a se reconstruir verdadeiramente.

O bar pulsava animado quando Celo desceu do pequeno palco, guardando o violão com o cuidado de quem sabe o valor de um instrumento que carrega memórias. Seu Zé lhe entregou uma cerveja gelada e um aceno silencioso de aprovação. A noite havia sido especial, daquelas que deixam marcas.

Enquanto se acomodava no balcão, ouviu uma voz feminina conhecida às suas costas:

— Então, ainda brigando com os próprios demônios? Ou já aprendeu a dançar com eles?

Celo virou-se devagar. Era ela. A mulher da outra noite, da última visita ao bar. Bela e misteriosa. A que tinha aparecido do nada, deixando apenas uma lembrança incômoda e curiosa. O sorriso dela era discreto, mas firme. Naquela noite, diferente do rabo de cavalo e da jaqueta de couro, vestia jeans, uma camisa branca com um leve perfume amadeirado e aquele olhar que atravessava sem pressa. Os cabelos soltos, refletindo a luz brilhante dos dois velhos e enferrujados holofotes acima.

— Você de novo … — Ele disse, surpreso, mas sem ironia. — Achei que tinha sido só uma aparição.

— Sou boa nisso. — Ela respondeu, pegando a própria taça de vinho no balcão. — Aparecer e sumir. Costumo fazer isso quando a conversa vale mais do que a despedida. Mas daquela vez, foi você quem sumiu.

Ela sorriu, balançando a cabeça, intrigada.

— E hoje? Vai ficar ou já está preparando a saída dramática?

— Ainda não decidi — Celo respondeu, encostando o braço no balcão, inclinando-se levemente. — Depende da conversa. E de quem estiver do outro lado.

Seu Zé passou por perto, ajeitando garrafas, mas lançou a Celo aquele olhar paternal de quem diz, sem palavras: vai com calma, mas vai.

Celo lembrou-se das palavras de Anna: “O prazer, a entrega ... não vêm só da técnica. Vêm de conexão, de atenção, de presença. Você tem tudo isso, mas está tão focado em “ser melhor”, “ser suficiente”, que esqueceu o principal: estar ali, inteiro”.

Ele respirou fundo, deu um gole na cerveja e estendeu a mão.

— Celo.

— Eu sei. — Ela sorriu, apertando a mão dele com firmeza. — E você ainda não perguntou o meu nome.

— Achei que fazia parte do seu charme, manter isso em segredo.

— Talvez. — Ela encostou o copo nos lábios, pensativa. — Mas hoje … pode me chamar de Clara.

— Clara … — ele repetiu o nome como se experimentasse a sonoridade. — Clara que aparece no escuro.

— E você … Celo, que vive tentando consertar o que sente, com acordes bem tocados e letras que mais parecem poesias.

Ele riu, surpreso com a sagacidade.

— Tá estudando poesia agora ou leu minha alma em algum manual de instruções? — Ele brincou, tentando ser mais divertido, causar boa impressão.

— Nenhum dos dois. Só observo. As pessoas vivem mostrando quem são, só não percebem que fazem isso.

O silêncio que se seguiu não foi incômodo. Pelo contrário, parecia um espaço seguro. Eles se encararam, dois adultos com bagagens, cicatrizes e aquela rara vontade de escutar em vez de impressionar.

— Você é daqui? — Celo perguntou, quebrando a tensão com gentileza.

— Já fui. Agora, só volto de vez em quando. A cidade é pequena demais para tudo que quero esquecer, mas grande o suficiente pra esconder quem a gente foi um dia.

— Entendo perfeitamente. — Celo tomou mais um gole da cerveja. — Eu venho aqui quando preciso lembrar quem eu sou … ou esquecer quem eu não quero mais ser.

— E hoje, qual das duas coisas você está tentando fazer? — Clara provocou.

— As duas. — Ele respondeu, sincero.

Clara olhou para ele com mais atenção. Havia algo em Celo que a atraía não pelo óbvio, mas pelo silêncio. Era um homem em reconstrução, e ela reconhecia isso de longe, porque também estava tentando se reconstruir.

— Se eu te dissesse que essa noite ainda pode melhorar, você acreditaria? — Celo achou que era hora de ser mais direto e ousado, mas sem ultrapassar limites.

— Isso depende … — Ela inclinou-se ligeiramente na direção dela. — Você costuma sumir depois de fazer promessas?

— Só se prometerem antes de merecer. — Ele a impressionou com a resposta.

Celo sorriu, e não era um sorriso melancólico tentando disfarçar a dor. Era genuíno. Simples. Vivo.

Ali, entre copos de vidro, o cheiro da madeira do balcão e os olhos atentos do seu Zé, Celo não se obrigou a nada. Não tentou curar, nem prever o futuro. Apenas deixou-se estar com Clara, com a noite, com o acaso. Aquilo era mais do que suficiente.

Celo terminou a cerveja e sinalizou para seu Zé com dois dedos, pedindo mais uma. Antes que dissesse qualquer coisa, Clara já tinha virado para ele, apoiando o cotovelo no balcão e cruzando as pernas com uma naturalidade quase ensaiada.

— Está me analisando? — Ele perguntou, notando o jeito como ela o observava.

— Só te admirando. — Clara respondeu com aquele sorriso indecifrável. — Faz tempo que não vejo alguém tocar com tanta “verdade”. Você se despe quando canta. Sem medo.

— Talvez seja porque me resta pouco a esconder.

— Não parece. — Ela o encarou sem desviar. — Parece alguém que ainda está aprendendo a se mostrar do jeito certo.

Celo baixou os olhos, desconcertado, mas não recuou. A presença dela o tocava num lugar silencioso, mas acordado. Um tipo de toque diferente, que despertava sua atenção. Não era paixão, amor, nada desses potentes sentimentos … era apenas o que era. Simples e verdadeiro.

— E você? — Ele devolveu. — É sempre assim? Direta?

— Só com quem aguenta ouvir. — Clara se aproximou um pouco mais. A voz dela era baixa, firme, mas sem pressa. — Você aguenta, Celo?

Ele a fitou. Por um instante, pensou em todas as perguntas sem resposta que andava carregando no peito. Mas ali, naquela noite, sob o olhar distante do seu Zé, entre canções de Fágner e Zé Ramalho que ainda ecoavam nos cantos do bar, ele decidiu que não precisava se proteger.

— Hoje … talvez sim. — Respondeu. — Talvez eu precise aguentar.

Clara sorriu, agora com o rosto mais próximo. Seus olhos tinham uma profundidade que não pedia permissão para entrar, apenas entravam.

— Então, me diz … o que você vê quando me olha? — Clara começava a brincar de seduzir.

Celo levou um instante para responder. Não porque não soubesse, mas porque sentia que aquilo merecia palavras verdadeiras.

— Vejo alguém que carrega um mundo inteiro por dentro. E que não faz questão nenhuma de disfarçar. — Ele se aproximou também, com leveza. — Vejo uma mulher que me deixa curioso … e um pouco desconcertado.

— Gosto do efeito que tenho em você. — Ela murmurou. — E você também me deixa curiosa, Celo. Com essa coisa toda de intensidade silenciosa … como se houvesse um furacão atrás desse olhar calmo.

— Tem dias que tem mesmo. — Ele disse, com honestidade. — Mas hoje, acho que só tem brisa.

— Brisa é o começo de tudo. — Clara respondeu, e então tocou a mão dele, de leve. Um gesto simples, mas cheio de significado. — Me mostra a cidade? Ou quer ficar aqui me convencendo com poesia de balcão?

Celo sorriu. Era o tipo de convite que ele teria recusado semanas atrás. Mas não agora. Não com ela. Não naquela noite.

— A cidade é pequena … — Ele disse, levantando-se. — Mas sua companhia vale a caminhada.

Ela pegou a bolsa com a mesma elegância com que lidava com as palavras e o seguiu, com um brilho nos olhos que misturava desejo, curiosidade e calma. Seu Zé, limpando um copo atrás do balcão, observou a cena sem interferir. Apenas sorriu, cúmplice da vida e do tempo.

Lá fora, a brisa da noite os envolveu como uma continuação da música. Não havia promessas, nem expectativas. Só duas pessoas quebradas, dispostas a se encontrar, uma conversa por vez.

E aquilo, por si só, era mais do que suficiente.

A cidadezinha parecia dormir sob as estrelas, envolta no silêncio típico das noites do interior. As ruas de paralelepípedo estalavam sob os passos deles, e o som distante de um rádio ligado, em alguma casa próxima, parecia acompanhar os dois como uma trilha sonora discreta.

Clara andava ao lado de Celo com as mãos no bolso do casaco. Ele mantinha o passo sereno, mas atento, como quem saboreia cada segundo.

— Faz quanto tempo que você vem aqui? — Ela perguntou, rompendo o silêncio com suavidade.

— Alguns meses, quase um ano. Sempre que as coisas apertam, eu corro pra cá. Seu Zé virou um conselheiro de vida, um amigo, confidente. Mesmo sem querer.

— Às vezes a gente precisa de um lugar que nos lembre quem somos … — Ela falou mais para si mesma. — Eu costumava ter um desses. Mas depois do fim do meu casamento, nada mais pareceu fazer sentido.

Celo olhou para ela com interesse genuíno.

— Terminou há muito tempo?

— Pouco mais de um ano. — Clara suspirou, mas sem pesar. — Estava casada há quase sete. Descobri da pior forma que eu não era a única. Ele tinha outra. Tinha algumas, na verdade. A última foi a gota d’água. — Ela olhou para ele de relance. — Não te conto isso pra me fazer de vítima, só … me sinto confortável com você. Não sei porquê.

— Talvez porque eu entenda. — Celo disse, em tom grave. — Também estou recém saído de uma relação. Ainda aprendendo a reaprender.

Ela parou, encarando-o sob um poste de luz antiga. A lâmpada tremia, projetando uma luz amarelada sobre os olhos dele.

— E doeu?

— Está doendo, na verdade. — Ele confessou. — Mas tá começando a fazer sentido.

Clara assentiu, como quem respeitava o silêncio que vinha com a dor alheia. Eles continuaram andando por mais alguns metros até pararem numa pracinha vazia, com bancos de madeira envelhecida e o som de grilos preenchendo os espaços entre as frases.

Ela se sentou, cruzando as pernas e olhando para o céu.

— Celo … Posso te propor uma coisa?

— Depende do que é. — Ele respondeu, meio sorrindo, meio atento.

— Sem promessas, sem planos, sem mentiras. Só hoje. — Ela o encarou, decidida, mas serena. — Dois corpos querendo calor. Dois corações que já apanharam demais para se iludir. Você me parece um homem honesto. E eu? Bem … acho que estou precisando parar de fugir de mim mesma. O que você acha?

Celo sentiu o mundo desacelerar. As palavras de Anna voltaram em sua mente, mas na sua própria interpretação, como um sussurro encorajador: "Desempenho vem com a troca, com a presença, com a conexão. Não te exige mais do que isso”.

Olhou para Clara, que o observava com olhos claros e intensos. Ela não estava jogando, não era uma armadilha. Era um convite real, maduro, sem amarras.

Ele se aproximou devagar, tocando o rosto dela com a ponta dos dedos. Clara fechou os olhos por um instante, recebendo o gesto com doçura. Quando os olhos se encontraram de novo, ele respondeu sem palavras. Apenas a beijou.

O beijo não foi hesitante. Foi urgente. Cheio de vontade represada, de desejo contido, de vidas que buscavam abrigo uma na outra ainda que por uma única noite. Os corpos se reconheceram antes mesmo de se tocarem por completo.

Os lábios de Clara eram macios, e Celo sentiu o calor dela se espalhar por todo o seu corpo. Ele a puxou para mais perto, sentindo o contorno do corpo dela contra o seu. Era um abraço que dizia mais do que qualquer frase poderia expressar.

— Vamos? — Ele sussurrou, a voz rouca de emoção.

Clara sorriu, um sorriso que era resposta suficiente. Ela pegou a mão dele, e juntos caminharam em direção à edícula nos fundos do bar onde Celo estava hospedado. O lugar era simples, mas aconchegante, com uma cama de casal coberta por um lençol branco e uma janela que deixava entrar a luz da lua.

Ao entrarem, Celo fechou a porta atrás deles, e o silêncio do espaço pareceu abraçá-los. Ele não precisava de luxos ou de cenários elaboradas. Ali, com Clara, tudo o que importava era o momento. Ele a puxou para si novamente, beijando-a com mais intensidade, como se quisesse dizer tudo o que não conseguia colocar em palavras.

Daquela vez foi inteligente, diminuindo as próprias expectativas, parando de tentar dar aquilo que não tinha. Deixando rolar naturalmente.

Clara respondeu ao beijo com a mesma intensidade, suas mãos deslizando pelas costas dele, puxando-o para mais perto. Celo sentiu o corpo dela se moldar ao seu, e um desejo simples, mas avassalador, tomou conta dos dois.

Ele, então, fez menção de tirar as suas roupas, sendo interrompido por Clara.

— Porque voce não me ajuda primeiro com a minha?

Celo percebeu que estava, novamente, preocupado em atingir ou superar as expectativas de Clara e não, necessariamente, com as necessidades dela. Respirou fundo e mentalizou as palavras que foram ditas por Anna. Depois, retirou o casaco que ela vestia e começou a desabotoar a blusa, devagar, como se cada movimento fosse uma cerimônia. Clara o ajudou, deixando a peça cair ao chão, revelando a pele macia e os seios pequenos, mas perfeitos, que ele admirou com desejo.

Ele beijou o pescoço dela, descendo lentamente até o colo, onde parou para apreciar a beleza que tinha diante de si. Clara fechou os olhos, soltando um suspiro suave enquanto Celo explorava seu corpo com a boca e as mãos. Ele não queria apressar nada, não queria ser afoito. Queria sentir cada curva, cada suspiro, cada reação dela.

— Você é linda — Ele murmurou, olhando nos olhos dela antes de beijá-la novamente.

Clara sorriu, um sorriso que era tanto agradecimento quanto convite. Ela começou a desabotoar a camisa dele, revelando o peito largo e os músculos definidos. Celo sentiu as mãos dela deslizarem por sua pele, e um arrepio percorreu sua espinha. Ele a deitou na cama, deitando-se ao lado dela, e continuou a explorar o corpo dela com a mesma devoção.

Os beijos se tornaram mais intensos, as mãos mais ousadas, mas ainda assim, tudo era feito com uma calma que tornava o momento ainda mais especial. Ele finalmente entendeu que não era para impressionar, era para dar prazer. Celo deslizou as mãos pela cintura de Clara, descendo até as coxas, onde as apertou de leve, sentindo a maciez da pele. Ela se contorceu de prazer, e ele sorriu, gostando de ver a reação que causava nela.

— Devagar … calma, nos temos todo o tempo do mundo — ela sussurrou, e ele obedeceu, beijando o ventre dela, descendo até o umbigo, onde brincou com a língua, fazendo-a rir e se contorcer ao mesmo tempo.

Celo continuou sua jornada, beijando e lambendo cada parte do corpo de Clara, como se estivesse mapeando um território desconhecido. Quando chegou à xoxota, tirou sua calcinha suavemente, olhando para ela, buscando permissão. Ela sorriu, encorajando-o com um aceno de cabeça. Ele começou a beijar e lamber a região, sentindo o sabor, o cheiro e a reação dela.

Clara gemia baixinho, as mãos afundadas no lençol, enquanto Celo explorava seu corpo com a boca e a língua. Ele não queria que fosse rápido, nem a pretensão de que fosse perfeito. Queria que ela sentisse cada toque, cada carícia, que curtisse o momento, que a entrega viesse por livre e espontânea vontade. E, de certa forma, sem a pressão que ele exigia de si mesmo, tudo acontecia com naturalidade.

Quando Clara atingiu o clímax, Celo a segurou, beijando-a suavemente, como se quisesse confortá-la. Ela o puxou para si, beijando-o com paixão, e sentiu o próprio gosto em seus lábios, misturado ao seu próprio desejo.

— Sua vez — ela murmurou, e Celo sorriu, deixando-a guiar o momento.

Ela começou a beijar o pescoço dele, descendo até o peito, onde brincou com os mamilos, fazendo-o arfar de prazer. Celo fechou os olhos, sentindo as mãos dela descerem até a cintura de sua calça, onde ela a desabotoou e a puxou para baixo, revelando sua ereção.

Clara sorriu, um sorriso travesso, e Celo sentiu o coração acelerar. Ela o beijou novamente, descendo até o pau ereto, onde começou a explorar cuidadosamente com a língua, num boquete bem babado. Ele gemia extasiado, enquanto ela o levava ao limite do prazer.

Quando ele não conseguiu mais segurar, ele a puxou para si, deitando-a de costas na cama. Não queria reinventar a roda, criar uma performance de vídeos eróticos adultos, e, por isso, colocou a proteção e entrou nela devagar, sentindo o calor e a umidade daquela xoxota apertada envolver seu pau completamente. Clara o recebeu com um gemido abafado por um beijo na boca, as pernas se enrolando em volta da cintura dele, puxando-o para mais perto.

Eles se moveram juntos, em um ritmo lento e constante, como se estivessem dançando uma música que só eles podiam ouvir. Celo beijava o pescoço dela, a boca, os seios, enquanto Clara enterrava as unhas nas costas dele, apertando as pernas para que a penetração fosse cada vez mais funda.

O prazer foi construído, camada por camada, até que ambos não conseguiram mais segurar. Celo sentiu a buceta se contrair em volta do pau, a musculatura em espasmos, e ele sabia que era um sinal, que ela estava próxima ao êxtase.

Ele acelerou o ritmo, beijando-a com paixão, até que Clara gritou seu nome, o corpo tremendo de prazer.

— Celo … Ahhhhh … fode essa buceta … mete mais forte … como isso é bom …

Celo não durou muito mais, sentindo o próprio clímax se aproximar. Ele beijou cada centímetro de pele que sua boca alcançava, sussurrando palavras de tesão e desejo, sem inventar.

— Caralho! Você é um tesão … gostosa demais …

Até que, finalmente se entregou, se unindo a ela no gozo.

— Ahhhhh … como eu precisava disso … Eu sabia … desde a primeira vez que te vi. Minha buceta ficou encharcada só de olhar para você …

Eles ficaram deitados juntos, ofegantes, os corpos ainda conectados. Celo beijou sua boca novamente, sentindo o coração dela bater contra o seu. Ele não precisava de palavras para expressar o que sentia. Aquele momento, aquela conexão, era tudo o que importava.

Clara sorriu, os olhos brilhando na penumbra do quarto. Ela passou a mão pelo cabelo dele, retribuindo o beijo suave. Celo respondeu, sentindo o calor do corpo dela contra o seu.

A semana mal havia começado, e eles tinham todo o tempo do mundo. Celo sabia que aquela não seria a última vez que fariam sexo, mas também sabia que cada momento com Clara seria único, especial, cheio de significado. Mesmo que o sentimento fosse apenas de atração física.

E, enquanto o mundo lá fora continuava a girar, eles ficaram ali, na edícula nos fundos do bar, perdidos em um abraço que parecia durar para sempre. O futuro era incerto, mas naquele momento, tudo o que importava era o agora, a conexão, a troca, a presença.

E aquilo era mais do que suficiente.

{…}

Mari e a filha chegaram alguns dias antes da formatura. Uma semana antes para ser exato. A cidade universitária, com seu clima jovem e leve, contrastava com o cansaço emocional que Mari ainda carregava. Mesmo assim, havia algo revigorante naquele ambiente. A mãe fazia questão de ajudar nos preparativos, como se aquilo desse algum sentido aos dias. Afinal, era um momento importante. Não só para o filho, mas para ela mesma, como mãe, como mulher.

A filha se dividia entre os risos espontâneos com o irmão e os olhares atentos à mãe, cuidando sem sufocar. Era um cuidado silencioso, quase imperceptível, mas constante.

Naquela noite, os dois irmãos ficaram sentados na varanda do apartamento do rapaz, olhando o movimento da rua enquanto Mari dormia no quarto ao lado.

— Você tá cuidando direitinho da mamãe, né? — Ele perguntou, com um sorriso sincero.

A irmã o olhou compassiva, tomando um gole do suco que tinham pedido.

— Tô tentando ... Mas não tá sendo fácil. Ela tem dias bons, outros em que simplesmente não quer sair da cama. — Suspirou. — Mas eu entendo. Mesmo quando ela não diz nada, eu vejo que ainda tá machucada.

Ele assentiu, a expressão ficando mais séria.

— Eu devia estar mais presente. É foda estar tão longe ... Mas eu juro que vou compensar você. Sei que está se sacrificando sozinha. Assim que acabar esse ciclo aqui, quero ficar mais perto. Dar um jeito de ajudar.

Ela sorriu com carinho, passando o braço pelo ombro do irmão. Gêmeos tem sua própria conexão.

— Você não tem que compensar nada, bobo. A gente é família. Só isso já vale. Eu faria qualquer coisa por você. E sei que faria o mesmo por mim.

Ficaram em silêncio por alguns segundos, até que a irmã o cutucou com o cotovelo, meio risonha:

— Ei ... o papai confirmou presença?

O irmão desviou o olhar, coçando a nuca, desconfortável.

— Ainda não sei. Falei com ele outro dia, mas ... ele tava meio estranho. Disse que ia tentar vir, mas não confirmou nada. Mas você conhece o pai, tenho certeza de que ele virá.

— Estranho como? — Ela insistiu.

— Sei lá. Mais calado do que o normal. Mas … parecia estar melhor. Falou que tava em outra cidade, tocando violão, organizando umas coisas, pensando na vida.

— Hum ... — A irmã mordeu o lábio, pensativa. — Tomara que venha. Vai ser estranho se não vier.

— Vai. Mas, sinceramente, eu entendo ele. O que aconteceu ... deve ter mexido muito com ele também. Eu jamais pensei que o pai deixaria a mãe. Isso ainda não entra na minha cabeça.

— É. E teve uma mulher, uma tal de Cora, que ainda foi lá em casa espalhar fofocas, criar caos. — A irmã falou, revirando os olhos. — Aquela mulher não me desceu.

— Sério?

— Sério. Ela parece daquelas que falam com mel nos lábios, mas têm veneno no coração. A mamãe ficou ainda mais confusa depois da visita dela. E o pior: fingiu que tava tudo bem.

O irmão bufou, cruzando os braços.

— Sabia que tinha alguma coisa errada. A mãe tenta disfarçar, mas eu sempre a pego olhando para o nada, aérea.

— É assim mesmo. Mas vamos focar no que importa agora, a sua formatura.

Ele sorriu, empolgado de novo.

— Ainda parece mentira. Quatro anos voaram.

— E você conseguiu. Mesmo longe, mesmo com tudo. A mãe tá muito orgulhosa de você. Mesmo sem dizer.

— Eu sei. A gente vai dar um jeito nisso tudo. Juntos.

Ela encostou a cabeça no ombro dele e, por alguns minutos, os dois ficaram ali. Unidos pelo sangue, pela dor, e por um amor que nenhum vendaval da vida seria capaz de levar.

Aquela semana passou num piscar de olhos. Entre correrias, ajustes no terno do formando, ensaios de discursos e almoços improvisados no apartamento apertado, os dias evaporaram e o grande dia, enfim, chegou.

O salão escolhido era amplo, com pé-direito alto e iluminação em tons de âmbar, que deixavam o ambiente sofisticado e acolhedor. Painéis de LED exibiam fotos dos formandos ao longo dos anos, entre sorrisos, provas, festas e abraços. Havia arranjos de flores tropicais sobre as mesas — discretos, mas elegantes — e um leve aroma de lavanda pairava no ar, misturando-se ao entusiasmo dos convidados.

As cadeiras foram organizadas em fileiras, viradas para o palco principal, onde uma mesa de honra já estava composta com professores e coordenadores. Os formandos, em suas becas azul-escuro, aguardavam ansiosos, tentando esconder a emoção sob sorrisos nervosos.

Celo já estava lá. Chegou antes do início da cerimônia, mas preferiu se refugiar num lugar mais afastado. Ficou de pé, recostado contra uma coluna, observando tudo com atenção, sem querer interferir. Vestia uma camisa social de linho azul claro, com as mangas dobradas até os cotovelos e um olhar calmo, embora atento. Quando Mari chegou com a filha, ele não demorou a notá-las. Mari estava linda. O vestido elegante, verde-musgo, destacava a pele dourada pelo sol recente e os olhos cheios de significado.

Seus olhares se cruzaram por um instante. Uma troca silenciosa. Nenhum dos dois ousou se aproximar. Apenas a filha foi falar com ele, mas voltou em menos de quinze minutos, se postando ao lado da mãe novamente, sabendo que precisava manter os cuidados.

O cerimonial começou. Um breve discurso do coordenador arrancou risos da plateia, seguido pelo hino, que fez os pais enxugarem discretamente os olhos. Então, um a um, os formandos foram chamados ao palco. O nome do filho de Mari e Celo ecoou, forte, fazendo o coração dela bater mais rápido. Ela o viu caminhar com segurança, receber o diploma com firmeza e acenar para a plateia com aquele sorriso que sempre tivera, o mesmo sorriso do pai.

Celo, ao fundo, respirou fundo, aplaudindo. Foi só nesse momento que se permitiu dar alguns passos à frente, mas ainda não se aproximou de Mari. Mas agora estava visível. Presente. Próximo.

Com o fim da cerimônia, o salão rapidamente foi reconfigurado para a festa. O palco se transformou em espaço de banda — um grupo jovem e animado, tocando música pop moderna. Entre uma música e outra, o DJ assumia o som, mantendo o clima vivo com hits que agradavam a todas as idades. O bufê servia finger foods gourmet, mini sanduíches artesanais, risotos em potinhos e taças de mousse em sabores variados. Taças de espumante tilintavam em brindes entusiasmados.

Mari, ainda envolta na emoção da conquista do filho, deixou-se conduzir por ele pelo salão. Ele a apresentou orgulhoso a cada amigo, a cada professor. A filha, elegante e discreta, também foi incluída, sorrindo com leveza, orgulhosa de ver a mãe sorrir, ainda que houvesse um cansaço oculto naquele sorriso.

A noite avançou. A festa estava animada. Os jovens dançavam, os adultos conversavam com taças nas mãos, e a pista se dividia entre os mais corajosos e os mais discretos.

Foi quando Mari parou. Olhou ao redor. Viu o filho rindo alto, abraçado a um grupo de amigos. A filha, conversando animadamente com outros convidados. Ali, sozinha no meio da multidão, sentiu o vazio voltar a se aproximar pelas bordas do coração. O olhar dela se deslocou instintivamente ... e encontrou o que procurava: Celo.

Ele estava em um canto, com um copo na mão, observando-a com delicadeza. Não como quem julga. Mas como quem sente.

Mari hesitou. Respirou fundo, sentindo o peso de tudo o que ainda não fora dito. O medo, o orgulho, as mágoas e a saudade. Mas algo dentro dela, mais forte que tudo aquilo, gritou mais alto. Ela precisava perguntar, saber a verdade. Não podia esperar mais.

Passou por entre as pessoas, ignorando os sons da festa, os risos, os flashes das câmeras. Atravessou o salão com a firmeza de quem finalmente entende o que quer. Quando parou diante dele, Celo também deixou o copo de lado. Ficaram apenas os dois, frente a frente. Mari estava decidida, não tinha mais retorno. Apenas aquele sorriso tinha o poder de desarmar seu coração.

Continua …

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Foto de perfil de Ménage LiterárioMénage LiterárioContos: 60Seguidores: 330Seguindo: 36Mensagem Três autoras apaixonadas por literatura erótica. Duas liberais, e uma mente aberta, que adora ver o parquinho pegando fogo.

Comentários

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Excelente capitulo uma saga que tenho como uma das melhores historias com sentimentos, parabéns meninas três estrelas e pouco

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Com esse capítulo tivemos algumas respostas dos debates sobre ser bom de cama ou não, também não me recordo de ter alguma menção a isso de outra pessoa além da própria consciência do personagem, pelo menos até ele sair da sua caverna, mas esquecemos que o psicológico dele estava uma merda e sabemos que o psicológico do homem nesses momentos pode ferrar com tudo.

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Muitas questões em aberto foram respondidas (pelo menos as minhas).

A conversa entre a Ana e o Celo foi sensacional, ele precisava justamente de uma boa conversa, com alguém que o escutasse e o entendesse. E como Celo mostrou amadurecimento, ele entendeu as questões da Mari e percebeu o que faltava a ele mesmo.

O encontro dele com a Clara foi chave de ouro, Celo não é um cara que se daria bem em um sexo ocasional, precisa de sentimento, confiança, cumplicidade. E Clara conseguiu estabelecer tudo isso com ele.

Acredito que do momento em que rolou o nhêco-nhêco entre Celo e Clara, até a formatura deve ter passado um lapso temporal.

Será que Celo e Clara se encontraram mais vezes ? Será que Celo encontrou em Clara o que não teve com a Mari ? E Clara encontrou em Celo o que faltava ?

Achei a sintonia dos dois muito interessante, espero que não descartem isso.

Em relação a Mari, eu torci durante a leitura para que Paul e Ana se encontrassem com ela, mas infelizmente parece que não aconteceu.

Mari vai questionar se Celo estava por aí pasando a vara, e Celo vai ter que ter jogo de cintura pra responder sem deixar Mari magoada.

Se Mari se magoar e Celo não souber controlar a situação, pode ser que língua de cobra chegue nela e a convença de mas escolhas.

Mas isso é papo para o próximo capítulo, esse por enquanto respondeu muitas pontas soltas sobre o Celo.

Parabéns e estou aguardando o próximo.

Sabem dizer quantos capítulos vocês tem em mente até o final ? Ou tudo está em aberto ainda ?

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Está em aberto, amigo. É uma série com muitas pontas soltas ainda por resolver. Estimar um final é difícil. Repare que aumentamos o tamanho dos capítulos, esse teve quase 10 mil palavras, para tentar diminuir um pouco a quantidade de partes.

Vou dar algumas dicas: repare bem na conversa entre Clara e Celo, pois deixei bem marcado o que os dois estão vivendo.

Sim, o tempo passa entre Clara e Celo, e Mari e Celo na formatura. Uns dois meses, no máximo.

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02 meses não é tempo o suficiente pra dizer que houve amor, nem tempo o suficiente pra esquecer um grande amor.

Mas 02 meses é tempo suficiente pra nascer uma paixão e por muitas coisas em questão.

Vou aguardar o próximo, precisamos ver o desenvolvimento da Mari, até agora ela estava de luto, como ela vai sair do luto depois disso é a próxima questão.

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Tem a conversa dela e do Celo, logo na abertura do episódio. Que promete grandes emoções... 🤭

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Como sempre um ótimo capítulo. Acabou na hora que não tinha que acabar. Aiaiaiai... Coloquei a trilha sonora como sempre faço e algumas músicas eu não conhecia...

E eu avisei, desde lá de trás... Todos erram não querendo errar, mas a Cora... Essa erra com vontade. Ela sempre querendo desestabilizar com intrigas e fofocas...

Um forte abraço Id@ e meninas...

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Você também alertou alguma coisa sobre falsas amigas... 😂😂😂

Tá prestando atenção mesmo, Mister. Beijo, amigo.

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Gente, eu fico furibunda com alguns comentários !!! Rsrsrs

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Sabe, amiga, Isso é mais comum do que muitos pensam. Tem os que sabem realmente trepar, e os que mentem. Os que adoram se vangloriar, mas não tem a mínima noção do que está fazendo. Geralmente viram cornos. 🤭

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Parabéns! Primeira vez que comento a história, mas acho excelente. Até o ccapítulo anterior, não entendia direito pq o Celo afastou-se da Mari. Hoje tudo ficou esclarecido. Seus problemas internos de baixa autoestima, o fantasma do prazer dela, que ele se acha incapaz de proporcionar. Como ele mesmo disse, se acha insuficiente.

E ainda vem a víbora da Cora destilar veneno, como tentou fazer com a Ana. Tinha que ter alguém assim, pois a maioria nessa saga é de pessoas de bom coração...

Aguardar o próxjmo capítulo...

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Esse Celo é um burro,Além de não voltar para a esposa,ainda da o aval para ela entrar de vez para o mundo liberal.

Se ele já se acha um perdedor e um inútil,por transar vinte anos com a esposa e não satisfazê-la,imagina depois que ela adquirir o prazer com outros.

Ele tem que ser mais macho e criar vergonha na cara,aonde já se viu um cara a tanto tempo casado não saber trepar.

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Vou deixar uma reflexão amigo, até pq esse negócio de saber ou não transar já foi exaustivamente debatido...

Será que a Mari vai se sentir a vontade para faWr as festinhas com os "amigos"??

Será que ela vai ficar com ela própria sabendo que ao limitar tanto o marido, e causar todo esse sentimento, finalmente o marido pode estar se satisfazendo com outras mulheres...será que realmente a percepção dela sobre o marido em relação ao sexo, é a mesma dele com ele mesmo???

Eu sinceramente tenho uma visão completamente diferente e não consigo me identificar mesmo com os homens do conto do Leon, por exemplo, basta ver o site lá TB!!

Mas esse cara, essa pessoa, esse homem... é muito mais homem do que muitos que falaram dele...como eu disse no anterior, ele apesar de toda sua frustração, nunca deixou de ser o melhor possível para sua família e esposa. E justamente o fato dele, ainda quebrado, humilhado, ferido, magoado, pensar na felicidade da esposa, pedindo para que a Ana a ajude a se encontrar e ser feliz, mesmo sem ele, é muito mais uma atitude de homem, de mecho, do que se aproveitar da situação, e do modo como as pessoas enxergavam ele, e com isso, enrabar a esposa de outra pessoa causando tanto sofrimento (esse segundo se trata logicamente do paul).

Agora vem a questão, ficarem pelo menos uns 12 capítulos julgando a reação do cara com o que aconteceu....vamo ver o julgamento do chat a reação dela na situação semelhante.

Uma pessoa boa, de caráter e honrada ela é com ctz!! Mas como ele lidara com algo parecido com o cara lidou e está lidando ainda???

Veremos...minha admiração pelas meninas apenas aumentou...

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Nunca foi dito que ele não a satisfazia, apenas pelo trauma dela ela foi minando as investidas dele.

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E temos transas entre os dois, depois do ocorrido, que são bem simbólicas sobre essa questão.

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Podemos ver a interação dele com a Anna, quem é cabaço nesse quesito não teria uma interação como aquela.

Realmente ele pode não ser o pica das galáxias pelo fato de não ter tanta experiência como os outros caras da história, mas eu acho que o psicológico dele pesou nesse quesito.

Comigo nunca tive um episódio de dar uma broxada e sei que não sou invulnerável a isso, a mente do homem nessas horas é uma merda. E aí daquele que falar que nunca ejaculou antes da hora kkkkk é um tremendo mentiroso.

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isso é verdade. a Mari nunca disse que não ficava satisfeita.

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Na história realmente não...mas no site...

Por isso que eu falei...talvez a percepção do desempenho do sexo pela esposa fosse uma e a percepção do cara por ele mesmo outra...

O problema é que as atitudes dela alimentavam esse sentimento, iniciado pelo problema com sua ex namorada...

Muito pelo contrário, no texto, muitas vezes durante o sexo do casal, uma vozinha alertava ela e aí ela brecava a situação, justamente pelo medo dele pensar que ela era uma vagabunda e, assim, ele o abandonar...

Por isso que nunca comprei esse negócio de ser bom ou ruim de sexo...

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Mas aí é que está mano, nunca foi dito isso mas estava na mente dele, com todo o ocorrido ficou na mente ser insuficiente para a esposa mesmo não sendo.

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Muito bom...

finalmente alguém falou as "verdades" para ele. Pelo menos as que ele realmente precisa ouvir...ou melhor, alguém finalmente tentou ouvir-lo para entender o pq ele cometeu todos aqueles "erros".

Agora eu tenho que falar que senti falta do início da virada de chave da Mari. Ela precisa TB se entender para conseguir entender o que aconteceu de fato com o marido...vai ser um pouco sofrido, pq nesta história suas ações tiveram bastante repercussão negativa para a pessoa que ela ama, desde o início...e ter essa consciência TB é custoso.

Mas é algo essencial para ela TB!!! Até o entender essa nova fase da vida do marido. Se não for desse jeito, o restará é mágoa e rancor, e no final ela se sentira traída.

E tem um detalhe interessante...ela sempre soube, até pq já viveu dentro desse mundo, a separar o sexo do amor. Mas uma coisa é a teoria, outra é constatar que o marido precisou ou precisa fazer sexo com outras pessoas para se sentir pleno, e que isso seria apenas sexo, prazer...ela vai sentir o que o Celo sentiu... frustração, receio e ciúmes...e o peso de seus atos sera devastador.

Ela se segurou por anos para que não fosse abandonada...qd resolver voltar a viver, acabou errando (e essa é a questão...ela entender que errou), e que isso que foi o causador da possibilidade de perda do marido.

Interessante a abordagem!!

Como disse antes, é um enorme prazer ser surpreendido...

Ansioso para mais!!!

Kkkk

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Vixi as meninas tinham respondido, não tinham...kkk

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Censurado. Respondi já com a parte nova na cabeça, na qual já estou trabalhando. Dei mole. 😳😳😳

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Kkkkk eu li... Segredo 🤫🤫😶‍🌫️😶‍🌫️

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Estes últimos capítulos, estão carregados de muitas emoções e sentimentos!

Dos contos que já li, acredito eu, que estão entre os 3 com mais carga de emoções, que transferem prá nós, em uma realidade absurda!

👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼

Parabéns meninas!

Espetacular!

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Esse Ménage Literário é tudo de bom! Parabéns meninas! Excelente conto! Não é apenas um conto erótico, é um drama muito bem desenvolvido. Daria um excelente filme! Bjs

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Listas em que este conto está presente