Obsidian: A Primeira Escrava - Parte 21

Da série Obsidian
Um conto erótico de Fabio N.M
Categoria: Heterossexual
Contém 4839 palavras
Data: 01/04/2025 10:08:24

O aroma discreto de carne grelhada e vegetais assados preenchia a cozinha espaçosa, misturando-se ao silêncio opressor que dominava a casa. Vincent não cozinhava com frequência. Não por falta de habilidade, mas porque há anos, ele simplesmente não via necessidade.

Naquela noite, no entanto, decidiu preparar um jantar modesto. Nada elaborado. Apenas o suficiente para reunir seu filho e a garota que, nos últimos meses, tornou-se um ponto de equilíbrio inesperado na dinâmica daquela casa.

Ele pousou a faca sobre a tábua de madeira e passou as mãos pela toalha de linho que havia colocado sobre a mesa. Nenhuma flor, nenhum enfeite. Apenas pratos, talheres e um silêncio carregado esperando para ser quebrado.

Respirou fundo antes de se dirigir ao corredor que levava aos quartos.

A porta do quarto de Wagner estava entreaberta. Vincent parou ali, encostando a mão no batente.

— Jantar está pronto.

Não havia doçura na voz. Não havia tentativa de aproximação forçada.

Dentro do quarto, Wagner estava sentado na cama, o olhar fixo no celular, enquanto Ellen, recostada entre as pernas dele, digitava algo no seu.

Wagner não respondeu de imediato.

Ellen ergueu os olhos para Vincent, captando algo diferente nele naquela noite. A presença dele estava mais firme, menos carregada de exaustão. Era um homem que estava voltando a ser quem sempre foi.

— Não estou com fome — A voz saiu curta, um golpe sutil, mas intencional.

Vincent manteve-se impassível.

— Não perguntei se estava.

Ellen desviou o olhar de um para o outro, percebendo o embate silencioso se formando.

Ela pousou o celular no colo e suspirou, puxando o braço de Wagner de leve.

— Vem, vai. Um jantar não vai te matar.

Vincent aguardou apenas mais um segundo antes de se virar e voltar para a cozinha. Sabia que, no final, Wagner viria. Não por ele, mas por Ellen.

Wagner sentou-se à mesa como se estivesse diante de um tribunal.

Ellen, ao seu lado, ajeitou-se com mais naturalidade, mas seus olhos varriam o ambiente, tentando ler a atmosfera carregada.

Vincent sentou-se à cabeceira. Serviu-se primeiro, os movimentos metódicos, silenciosos. O tilintar dos talheres contra a porcelana era o único som presente.

Ninguém falava.

Wagner manteve-se calado, mastigando lentamente como se cada garfada fosse uma concessão. Vincent notou a postura rígida do filho, o olhar duro. Ainda ressentido. Ainda com raiva.

E então, o inevitável aconteceu.

— Então… — Wagner largou os talheres com um som seco, encostando-se na cadeira. O tom era ácido — Luna já te ajudou a superar mamãe?

O ar na sala pareceu se tornar mais denso.

Ellen prendeu a respiração.

Vincent parou de mastigar. Não levantou os olhos, não demonstrou reação imediata. Apenas pousou o garfo ao lado do prato, movendo-se devagar, como se processasse a provocação.

Finalmente, ergueu o olhar.

— E é assim que você inicia uma conversa comigo?

Wagner sorriu sem humor.

— Ué, não somos pai e filho? Acho que podemos falar sobre qualquer coisa.

Ellen sentiu o peso das palavras. Pai e filho. Soou como ironia.

Vincent não piscou.

— Podemos. Se tiver algo relevante pra dizer.

O embate silencioso entre eles fez Ellen se mexer na cadeira.

— Gente… — Ela tentou intervir — Isso aqui não precisa ser um campo de batalha.

Vincent desviou os olhos de Wagner pela primeira vez.

— Depende. Ele veio pra jantar ou pra ficar de gracinha?

Wagner soltou uma risada curta, debochada.

— Tu não gosta de ser confrontado, né? Só gosta quando todo mundo te obedece.

A veia na têmpora de Vincent pulsou.

— E você só gosta quando todo mundo sente pena de você.

O golpe foi preciso.

Ellen arqueou baixinho.

Wagner ficou vermelho.

— Que merda isso quer dizer?

Vincent se inclinou levemente para frente.

— Quer dizer que você ainda age como se o mundo lhe devesse alguma coisa. Como se eu tivesse que me ajoelhar e implorar pelo seu perdão porque sua mãe era uma mentirosa e você decidiu proteger ela.

Wagner se levantou da cadeira, os punhos cerrados.

— Vai te foder, Vincent.

O nome do pai cuspidamente dito. Sem o peso de “pai”.

Ellen também se levantou.

— Chega, os dois!

Ela olhou de um para o outro, vendo duas muralhas intransponíveis. Ela percebeu que Vincent nunca iria perdoar Wagner por não ter contado a verdade e Wagner nunca iria perdoar Vincent por seguir em frente.

Era uma guerra sem vencedor.

Ellen sentiu o estômago apertar.

— Isso não tá levando a nada. Vocês dois tão se destruindo.

Vincent soltou um riso baixo.

— Eu já fui destruído… mais vezes do que você imagina.

O silêncio que veio depois foi gelado.

Wagner empurrou a cadeira para trás e saiu da mesa sem olhar para trás.

Ellen permaneceu ali. Sentia que deveria dizer algo, mas o quê?

Vincent, por sua vez, manteve-se sentado. Pegou o copo de vinho e girou o líquido escuro dentro dele, o rosto impassível, sem demonstrar qualquer reação imediata ao descontrole do filho.

Ela o estudou.

O homem diante dela parecia intocável, inabalável, mas Ellen sabia que isso era fachada. Ela suspirou, deslizando as mãos pelos cabelos ruivos antes de soltar um riso curto e sem humor.

— Pois é… e lá se foi mais um jantar.

Vincent ergueu os olhos para ela, estreitando-os levemente.

— Se você queria jantar tranquilo, escolheu a família errada.

Ellen cruzou os braços novamente e inclinou a cabeça, observando-o.

— Não me surpreende que ele tenha saído irritado, mas tu também não facilita, né?

Vincent tomou um gole do vinho antes de responder.

— E por que eu deveria facilitar?

Ela soltou uma risada nasal, um misto de cansaço e incredulidade.

— Talvez porque ele ainda seja teu filho?

A resposta foi imediata e afiada.

— E talvez porque ele tenha deixado a mãe dele me trair e fingiu que não sabia de nada.

Ellen não recuou. Esperava essa resposta.

Sentou-se na cadeira que Wagner abandonara, apoiando os cotovelos na mesa e entrelaçando os dedos.

— Sabe… eu entendo teu lado. Eu entendo mesmo, mas será que tu já tentou entender o dele?

Vincent apenas a observou, a expressão séria.

Ellen não desviou o olhar.

— Tu sempre foi um homem forte. Sempre soube o que queria e o que era certo, mas Wagner? Ele cresceu entre duas versões completamente diferentes de amor.

Ela viu os músculos da mandíbula dele se contraírem ligeiramente.

Ellen estava acertando o ponto fraco.

— Clara tratava ele como se fosse um amigo, não um filho. Tu, por outro lado, sempre exigiu muito. Ele cresceu sem saber como equilibrar essas duas coisas.

Vincent apoiou o copo na mesa, seus dedos tamborilando levemente contra o vidro.

— Então agora é minha culpa?

— Não é isso que eu tô dizendo.

Ela se inclinou um pouco para frente.

— Mas tu realmente acha que ele ficou do lado da Clara porque queria te machucar?

Vincent não respondeu de imediato.

Ellen percebeu uma hesitação mínima, um vislumbre de algo por trás daquela fachada impenetrável.

E então, Vincent soltou um suspiro baixo, passando os dedos pelos cabelos.

— Eu nunca exigi que ele escolhesse lados.

Ellen arqueou as sobrancelhas.

— Mas ele sentiu que precisava.

Por um instante, o silêncio pesou entre eles. Vincent desviou o olhar, fixando-o no vinho no copo, pensativo. Ellen estava cutucando algo delicado.

— Ele pode ter sido imaturo demais quando descobriu tudo, Vincent. Devia estar apavorado. E, bom… tu pode ser um cara meio assustador, tu sabe.

A sombra de um sorriso quase surgiu nos lábios de Vincent.

— Eu sou?

Ellen riu, finalmente relaxando um pouco.

— Porra, tu tem noção do que é ser teu filho? Tu não é só rígido, tu é um monumento de expectativas e Wagner nunca achou que fosse capaz de atender a todas.

Vincent girou o copo mais uma vez antes de olhar para ela.

Algo no olhar dele mudou.

Ellen sentiu aquilo. Uma conexão silenciosa que nunca estivera ali antes. Talvez fosse porque nenhuma outra pessoa ousaria falar com ele daquela forma. Talvez fosse porque, de alguma forma, Ellen entendia o que era crescer sem certezas, sem saber onde realmente pertencia.

Vincent inclinou-se um pouco para frente.

— E você?

Ela piscou, confusa.

— Eu o quê?

— Como você aprendeu a lidar com isso?

A pergunta a pegou de surpresa.

Ela desviou o olhar por um instante, os lábios pressionados.

— Lidando. Da única forma que dava.

Vincent permaneceu em silêncio, esperando.

Ellen soltou um suspiro e deu de ombros.

— Meu pai mal tava presente e minha mãe nunca se importou muito com o que eu fazia — Seus dedos traçaram um círculo invisível sobre a mesa — Então eu aprendi a cuidar de mim sozinha. Sem expectativas, sem esperanças de que alguém fosse me salvar.

Ela levantou os olhos para Vincent.

— Acho que foi por isso que eu nunca tive medo de ti.

A frase pegou Vincent desprevenido.

— Nunca teve medo de mim?

Ellen sorriu.

— Não.

Ela o estudou por um momento antes de completar:

— Talvez porque eu sempre enxerguei um pouco de mim em ti.

A revelação pairou entre eles.

Vincent não desviou o olhar. Ellen não era como Wagner. Ela não o via como um monstro. Ela não o julgava.

Vincent e Ellen não eram tão diferentes.

**********

O quarto estava mergulhado em penumbra, a única iluminação vinda do poste do lado de fora, projetando sombras alongadas pelo chão. O silêncio entre Wagner e Ellen era quase sufocante, carregado de tensão latente e palavras não proferidas.

Ele estava de pé, os braços cruzados, ombros rígidos, mandíbula travada, vinha segurando aquela irritação desde o jantar. Ellen, por sua vez, permanecia sentada na beira da cama, as pernas cruzadas, tentando conter a própria frustração.

— Que merda foi aquilo, Ellen? — Wagner quebrou o silêncio, a voz saindo num tom baixo, mas afiado.

Ellen ergueu os olhos, nada surpresa pelo ataque repentino.

— Define ‘merda’ pra mim. Porque se tu tá falando da tua explosão na mesa, acho que tu já sabe.

Ele bufou, passando a mão pelo cabelo escuro, exasperado.

— Tu me viu lá, tu viu como ele age! Como se nada tivesse acontecido, como se ele não tivesse feito porra nenhuma pra destruir essa família!

Ellen inclinou a cabeça, estreitando os olhos.

— E o que exatamente ele fez, Wagner?

O tom tranquilo dela foi uma provocação involuntária, e Wagner endureceu ainda mais a expressão.

— Tu tá falando sério?

— Muito sério.

— Ele transformou essa casa num inferno! Ele sempre foi frio, controlador, e quando precisou ser um marido de verdade, não percebeu que minha mãe tava infeliz! Não percebeu que ela precisava de alguém que realmente ligasse pra ela!

Ellen cruzou os braços, agora genuinamente incomodada.

— Então agora a culpa é dele porque tua mãe resolveu abrir as pernas pra outro cara?

O silêncio que veio depois foi pesado como chumbo.

O rosto de Wagner ficou tenso, os punhos cerrados.

— Não fala assim dela.

Ellen suspirou, revirando os olhos.

— Por quê? Porque tu ainda insiste em pintá-la como vítima?

Wagner apertou os lábios, tentando controlar o impulso de gritar.

— Tu não entende.

Ellen se levantou, ficando a centímetros dele.

— Então me explica, Wagner! Me explica por que tu odeia tanto teu pai, mas nunca teve coragem de admitir que tua mãe fez escolhas de merda.

Ele desviou o olhar, como se a verdade fosse dura demais para encarar de frente.

Ellen viu isso e finalmente entendeu.

— Tu não odeia ele só por causa do que aconteceu, né?

Wagner não respondeu.

— Tu odeia ele porque ele nunca foi fraco.

Os olhos de Wagner se estreitaram.

— O que tu quer dizer com isso?

Ellen suspirou e cruzou os braços.

— Que talvez tu tenha mais raiva da tua mãe do que do teu pai, mas te agarrar ao ódio por ele é mais fácil. Porque ele nunca quebrou, né? Ele não chorou, ele não implorou, ele simplesmente cortou tua mãe da vida dele e seguiu em frente.

O peito de Wagner subia e descia mais rápido agora.

Ela o acertou em cheio.

— Ele seguiu em frente porque ele não tem sentimentos, Ellen!

— Ou porque ele se recusou a ser destruído.

O silêncio voltou, mas agora era diferente.

Ellen viu os olhos de Wagner brilhando de raiva, mas também de algo mais profundo. Dor. Porque ele sabia que ela estava certa.

Ele virou-se de costas, respirando fundo, as mãos nos quadris.

— Tu não entende como era.

— Então me faz entender.

Wagner passou a língua pelos lábios, hesitando.

E então, finalmente disse.

— Eu cresci esperando que, um dia, ele olhasse pra mim e enxergasse mais do que só um sucessor da empresa. Que ele me visse como filho, mas ele nunca fez isso.

Ellen piscou, absorvendo aquelas palavras.

Wagner continuou:

— E minha mãe… bom, ela pelo menos me via, mas eu sabia que ela não era forte o suficiente e no fim, ela me fodeu também.

Houve uma pausa carregada.

Ellen respirou fundo antes de responder.

— Eu entendo.

Ele riu sem humor.

— Entende? Como?

— Porque eu também cresci sozinha, Wagner. Também não tinha quem olhasse por mim, mas a diferença entre nós é que eu não fico esperando que o passado me peça desculpas.

O olhar dele se tornou puro desafio.

— E tu acha que tá acima de mim por isso?

Ellen balançou a cabeça.

— Não, mas eu acho que tu precisa decidir se vai viver pra sempre nessa merda de ressentimento ou se vai construir algo melhor.

O peito de Wagner subia e descia rápido agora, a raiva, o orgulho e a verdade brigando dentro dele.

E então, ele fez a pergunta que queimava em sua mente há tempos.

— Por que tu defende tanto ele?

Ellen não hesitou.

— Porque ele nunca tentou me enganar sobre quem ele é.

Wagner trincou o maxilar.

— E isso te atrai?

A pergunta veio como uma lâmina.

Ellen não respondeu de imediato. Porque talvez, no fundo, a resposta a assustasse um pouco.

Ele soltou um riso curto e sem humor.

— Não acredito.

Ellen suspirou, esfregando o rosto.

— Tu tá distorcendo as coisas.

— Estou?

Ele a encarou, como se finalmente enxergasse algo que sempre esteve ali.

— Talvez tu não tenha medo do Vincent porque, no fundo, tu vê algo nele que tu quer.

A frase pairou no ar, quente e incômoda.

Ellen se recusou a ceder.

— Boa tentativa, Wagner, mas não muda o fato de que tu precisa parar de agir como um garoto abandonado.

Wagner abriu a boca para responder, mas desistiu.

Nada do que dissesse mudaria o que Ellen já via nele agora.

Ele passou as mãos pelos cabelos, exalando pesadamente antes de dar alguns passos até a porta do quarto.

Quando falou novamente, sua voz estava mais baixa, mas carregada de ressentimento.

— Acho melhor tu ir embora.

Ellen piscou.

— O quê?

— Vai pra casa, Ellen. Eu preciso ficar sozinho.

Ela estreitou os olhos.

— Então agora é assim? Eu falo o que tu não quer ouvir e tu me manda embora?

Wagner manteve-se firme.

— Isso não é uma discussão qualquer. Eu tô tentando entender como tu consegue olhar pra ele e não sentir ódio. Como tu consegue simplesmente sentar e conversar com ele como se nada tivesse acontecido.

Ellen cruzou os braços.

— Talvez porque eu não me prenda ao passado como tu.

Wagner riu sem humor.

— Ou talvez porque tu já tenha escolhido um lado.

A acusação pairou no ar como um golpe invisível.

Ellen o olhou por longos segundos.

Depois, sem dizer mais nada, pegou a bolsa jogada sobre a cadeira e caminhou até a porta.

Parou por um instante antes de sair, lançando um último olhar para Wagner.

— Se tu continuar assim, um dia tu vai perceber que foi tu mesmo quem escolheu ficar sozinho.

Ela então saiu, deixando Wagner para trás com os próprios demônios.

Lá fora, Vincent ainda estava na sala.

O som da porta da frente ecoou pela casa silenciosa quando Ellen saiu, os passos rápidos pelo caminho de pedra do lado de fora denunciando sua frustração.

Vincent havia notado o brilho úmido nos olhos dela quando ela desviou o rosto para que ele não percebesse. Ela piscava rápido demais, segurando as lágrimas com a determinação de quem não queria demonstrar fraqueza, de quem se recusava a sair dali parecendo a parte derrotada.

A raiva subiu lenta, controlada, como fogo lambendo madeira seca. Não era a explosão impulsiva de um homem descontrolado, mas sim uma fúria meticulosamente contida.

Ele já esperava o orgulho ferido do filho. Já esperava que Wagner não soubesse lidar com a verdade, que preferisse se afundar na própria raiva ao invés de encarar a realidade, mas fazer Ellen pagar o preço por isso? Isso, Vincent não toleraria.

Sem pressa, levantou-se. Hora de ensinar uma lição.

Seus passos não hesitaram ao subir as escadas. A raiva dentro dele não era cega, não era barulhenta, era fria, calculada, como tudo que ele fazia.

Ao chegar no corredor, a porta do quarto de Wagner estava fechada.

Vincent não bateu.

Girou a maçaneta e entrou.

Wagner estava sentado na ponta da cama, os cotovelos apoiados nos joelhos, os olhos fixos no chão.

Ele não se moveu quando Vincent entrou, mas Vincent viu o maxilar dele se contrair, o punho se fechar ao lado da coxa. Ele estava esperando.

Vincent fechou a porta atrás de si e permaneceu parado, estudando-o com olhos afiados.

O silêncio se prolongou por longos segundos. Ele queria que Wagner sentisse a pressão.

O filho finalmente soltou um suspiro forçado e falou, sem levantar o olhar:

— Se tu veio me dar mais um sermão, pode poupar o trabalho.

A voz de Wagner não era desafiadora como antes. Havia algo ali, algo quebrado, mas Vincent não tinha paciência para fragilidade.

— Olha pra mim.

Wagner não se moveu.

Vincent avançou um passo, a sombra dele se projetando sobre o filho.

— Olha pra mim quando eu falar com você.

Wagner levantou a cabeça lentamente, os olhos avermelhados de raiva e orgulho ferido.

Vincent o encarou com frieza.

— Você fez a Ellen chorar.

Wagner riu, um som curto e sem humor.

— Agora tu se importa com isso? Achei que tu não desse a mínima pros sentimentos dos outros.

Vincent não se alterou.

— Os sentimentos dela não são problema meu — deixou um silêncio estratégico se instalar antes de completar — Mas são problema seu.

A mandíbula de Wagner se contraiu.

— E tu veio me dizer isso por quê? Vai me dar uma lição de moral sobre como tratar minha namorada? Logo tu?

Vincent sorriu de canto, mas não havia humor no gesto.

— Se preferir ver assim…

Ele caminhou lentamente até o outro lado do quarto, parando perto da cômoda de Wagner, onde uma pilha de mídias de PS3 estava jogada de qualquer jeito. Pegou uma delas e analisou, distraído.

— Deixa eu fazer uma pergunta, Wagner.

Wagner cruzou os braços, claramente impaciente.

— Vai fundo.

Vincent largou o jogo de volta sobre a cômoda.

— Você quer perder ela?

O silêncio que se seguiu foi tão pesado quanto chumbo. Os olhos de Wagner piscaram rápido demais, como se fosse pego de surpresa. Ele abriu a boca para responder, mas nenhuma palavra saiu.

Vincent se inclinou levemente para frente.

— Porque é exatamente isso que vai acontecer se você continuar agindo como um moleque mimado.

Wagner travou a respiração.

Aquela frase atingiu o ego dele como uma navalha.

— E o que tu quer que eu faça? Me ajoelhe e peça desculpas?

Vincent riu baixo.

— Quero que você pare de agir como um garoto inseguro que desconta na única pessoa que ainda tá do seu lado.

Wagner passou a língua pelos dentes, os punhos cerrados.

— Ah, claro. Porque tu entende tudo sobre relacionamentos, né? Não foi tu que conseguiu destruir o próprio casamento?

Vincent não hesitou.

— E ainda assim, eu não tô sozinho.

Wagner piscou, confuso.

Vincent continuou, a voz baixa, letal:

— Mas você vai estar.

O peso das palavras fez o rosto de Wagner endurecer.

Ele abriu a boca para retrucar, mas não conseguiu.

Vincent se afastou, caminhando até a porta, sem olhar para trás.

— Você tem uma escolha, mas não pensa que Ellen vai ficar esperando você decidir crescer — Ele girou a maçaneta e lançou a última palavra — Se você continuar assim, quando perceber o que perdeu, já vai ser tarde demais.

E então, ele saiu.

Wagner permaneceu parado no meio do quarto, o peito arfando de raiva e frustração. Não pelo medo de perder Ellen, mas de que o pai estivesse certo.

O sol filtrava-se pelas cortinas do quarto de Ellen, tingindo o ambiente com uma luz suave e amarelada. A cidade já estava desperta, mas dentro daquele espaço o tempo parecia suspenso, como se o peso da noite anterior ainda impregnasse o ar.

Ellen estava sentada na beira da cama, os cabelos ruivos caindo soltos sobre os ombros, o olhar perdido na tela do celular. Não havia mensagens de Wagner. Nenhuma tentativa de contato.

Ela suspirou, passando a mão pelo rosto.

A discussão ainda ecoava em sua mente, a raiva, as acusações, as palavras afiadas que nunca deveriam ter sido ditas.

E então, a última coisa que Wagner lhe disse.

"Vai pra casa, Ellen."

Foi a forma como ele falou. O tom seco, a frieza repentina… como se quisesse afastá-la para não ter que encarar a verdade.

Ellen tentou ignorar o aperto no peito e desbloqueou o celular mais uma vez, sem saber exatamente o que procurava.

Até que a tela brilhou.

🗨Wagner: "Me encontra no café perto da tua casa. Agora."

Sem "bom dia", sem explicações. Apenas uma ordem mal formulada.

Ela revirou os olhos, mas mesmo assim pegou o casaco e saiu.

O sino sobre a porta do pequeno café tilintou quando Ellen entrou.

O lugar estava tranquilo, apenas algumas pessoas dispersas pelas mesas de madeira escura. Wagner estava em um canto, de costas para a entrada, os braços cruzados sobre a mesa, o olhar baixo.

Ellen aproximou-se, mas não se sentou de imediato.

— Tu tem sorte que eu não te fiz esperar.

Wagner ergueu os olhos e soltou um suspiro carregado.

— Ellen…

O jeito como ele disse seu nome já era um pedido de desculpas, mas ela não ia facilitar.

Sentou-se de frente para ele e cruzou os braços, esperando.

Wagner deslizou a mão pelos cabelos, claramente incomodado com aquele silêncio acusador.

— Eu fui um idiota ontem.

Ellen arqueou uma sobrancelha.

— Foi.

Ele suspirou.

— Tu não precisa esfregar na minha cara.

— Preciso sim.

Wagner passou a língua pelos dentes, impaciente.

— Eu tô tentando me desculpar aqui.

Ellen inclinou a cabeça, o olhar afiado.

— E eu tô tentando entender se tu realmente tá arrependido ou se só não quer ficar sozinho.

Os olhos de Wagner brilharam de irritação, mas ele não rebateu, porque, no fundo, ela estava certa. Ellen sabia ler ele bem demais.

Ele respirou fundo antes de finalmente dizer:

— Eu não quero te perder.

As palavras saíram num tom mais baixo, quase um murmúrio.

Ellen sentiu algo no peito apertar.

— Então para de agir como se fosse tu contra o mundo.

O silêncio entre eles não era mais carregado de tensão, mas de algo mais profundo.

Uma compreensão mútua. Um espaço que apenas os dois ocupavam.

Wagner passou a mão pelo rosto antes de falar novamente:

— Eu prometo que não vou mais trazer essa merda de ressentimento pelo meu pai pra cima de ti.

Ellen queria acreditar. De verdade, mas algo dentro dela suspeitava que essa promessa não seria cumprida.

Em vez de contestar, ela fingiu acreditar. Naquele momento, era mais fácil assim. Ela soltou um suspiro e deslizou a mão sobre a mesa, tocando os dedos dele de leve.

— Se tu quer me manter do teu lado, Wagner, tu tem que parar de lutar com fantasmas.

Wagner entrelaçou os dedos nos dela.

Ellen sorriu de leve.

— Vamos sair daqui.

O apartamento de Ellen ficava a poucas quadras do café, e eles caminharam lado a lado. Nenhum dos dois falou muito, mas a tensão entre eles havia mudado. Não era mais raiva. Era algo mais quente, mais urgente.

Quando chegaram à porta do prédio de Ellen, Wagner não esperou um convite. Ele a segurou pela cintura e a puxou para perto. O beijo veio sem hesitação.

Não era apenas um pedido de desculpas, era um lembrete do que eles tinham, do que Wagner não queria perder.

Os dedos de Ellen subiram pelo peito dele, segurando-se no tecido da jaqueta, como se quisesse puxá-lo para ainda mais perto.

O beijo se aprofundou, e por alguns segundos, nada mais importava.

Quando se afastaram, o olhar de Wagner era mais intenso.

— Eu te amo.

Ellen sentiu o coração acelerar, mas não respondeu. Ela se perguntou se amor seria suficiente para segurá-los juntos.

Ele deslizou os dedos pelo rosto dela.

— Me diz que tu ainda acredita em mim.

Ellen forçou um sorriso.

— Eu acredito.

Mas dentro dela, uma voz pequena sussurrou uma verdade desconfortável. Ela estava mentindo.

O elevador parecia pequeno demais para o calor que crescia entre os dois. Assim que as portas se fecharam, o ar se tornou pesado. Ellen se encostou contra a parede espelhada, puxando-o pela gola da camisa. O beijo veio urgente, faminto, a boca dela se abrindo sob a dele, línguas se encontrando em um embate feroz.

As mãos de Wagner deslizaram pela cintura dela, puxando-a mais para perto, os corpos colidindo como se quisessem se fundir ali mesmo. Os dedos ávidos de Ellen puxaram a jaqueta dele, enquanto seu olhar felino mantinham-se fixos nos olhos de Wagner.

O elevador apitou, e eles se afastaram apenas o suficiente para sair, mas mal haviam passado pela porta do apartamento quando Wagner a prensou contra a parede, os beijos descendo por seu pescoço, os dedos puxando o tecido fino do vestido dela.

Ellen arfou, o coração batendo forte contra as costelas.

— Era disso que você sentia falta, safado?

Wagner sorriu contra a pele dela, a respiração quente contra sua clavícula.

— Quem não sentiria?

A risada dela se dissolveu em um suspiro quando ele a ergueu no colo, os lábios voltando a encontrá-la com uma necessidade crua.

A porta do apartamento se fechou com um estrondo surdo atrás deles, mas Wagner e Ellen já estavam muito além de notar qualquer coisa além um do outro. Ele a carregou pelo corredor com passos decididos, os lábios colados aos dela, os dedos explorando cada curva de seu corpo como se quisesse memorizar tudo de uma só vez.

Ellen entrelaçou as pernas ao redor da cintura dele, sentindo a força com que a segurava, como se nada no mundo pudesse tirá-la dali. As costas dela encontraram a parede do corredor, e Wagner aproveitou a oportunidade para prendê-la ali, seus lábios viajando pelo maxilar dela até o pescoço, onde deixou mordidas provocantes que fizeram Ellen arfar e puxar seus cabelos.

— Vai precisar de mais do que isso para se desculpar… — A voz dela era um sussurro entrecortado, os olhos semicerrados em puro desejo.

— Deixa comigo.

Ele sorriu contra a pele dela antes de se afastar apenas o suficiente para levá-la até o sofá da sala. Ellen caiu sobre as almofadas macias, os cabelos bagunçados pelo caminho, e Wagner se ajoelhou entre suas pernas, puxando-lhe a calça e encaixando-se dentro dela, rígido e ardente. As mãos dele deslizavam por suas coxas, explorando a pele quente, enquanto movia os quadris em movimentos cadenciados, afundando-se ainda mais dentro dela.

Os dedos hábeis de Ellen puxaram a camisa pela cabeça dele, revelando a pele quente e tensa por baixo. Ela passou as unhas levemente por seu peito antes de puxá-lo para outro beijo, desta vez mais lento, profundo, recheado de promessa.

Wagner não pretendia deixar nada pela metade.

Os movimentos entre eles se tornaram uma dança intensa, repleta de toques ávidos e sussurros abafados. Ele a puxou para cima, trocando posições, dominando e se deixando dominar, enquanto o desejo subia como fogo, consumindo qualquer vestígio de controle que ainda restava.

A respiração de Ellen vinha em ondas curtas e entrecortadas, misturando-se ao ar pesado do apartamento, saturado pelo calor que os envolvia. O toque de Wagner queimava sobre sua pele, mãos explorando, reivindicando, conduzindo-a a um lugar onde o controle já não existia. Cada movimento era um convite, um desafio silencioso, e ela aceitava sem hesitação, entregando-se ao ritmo que os corpos traçavam juntos, como se estivessem compondo uma sinfonia secreta que apenas eles podiam ouvir.

Seus corpos se moldavam um ao outro com uma precisão quase cruel, o encaixe perfeito de algo predestinado. Cada toque, cada beijo, cada respiração compartilhada aumentava a intensidade, a necessidade insaciável crescendo como um incêndio sem controle. O cheiro da pele, o gosto do desejo, o som dos murmúrios e gemidos abafados preenchendo o ambiente, tudo se somava, até que o mundo além da sala desaparecesse completamente.

E então, veio o clímax, como um trovão que rasga o céu em meio à tempestade, um turbilhão de calor e vertigem que os levou juntos até o ápice. O tempo se dissolveu, os corpos se tensionaram e se perderam no outro, até que tudo se reduziu a um instante eterno, um suspiro final que os deixou sem fôlego, marcados pela intensidade daquele momento.

Ellen se deixou cair contra o peito de Wagner, o coração ainda disparado, os lábios curvando-se em um sorriso satisfeito. Ele deslizou os dedos pelos cabelos dela, rindo baixo contra sua pele, como se soubesse que, depois daquela noite, nada entre eles jamais seria o mesmo.

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Foto de perfil de Fabio N.MFabio N.MContos: 136Seguidores: 159Seguindo: 51Mensagem Segredos para uma boa história: 1) Personagens bem construídos com papéis e personalidades bem definidas qualidades e defeitos (ninguém gosta de Mary Sue ou Gary Stu); 2) Conflitos: "A quer B, mas C o impede" sendo aplicado a conflitos internos e externos; 3) Ambientação sensorial, descrevendo onde estão seus personagens, o que estão vendo ou sentindo.

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