O Testamento em Vida

Um conto erótico de Lauro Costa
Categoria: Gay
Contém 388 palavras
Data: 06/04/2025 23:34:22
Última revisão: 06/04/2025 23:53:42
Assuntos: Gay

A sala de reuniões da Fama cheirava a couro velho e a dinheiro mal lavado.

Meu pai, Marcelo Sampaio, estava sentado na ponta da mesa de mármore negro Lpcomo um rei envelhecido que se recusa a morrer — com o paletó perfeitamente alinhado, mesmo que o corpo por baixo já tremesse nos dedos. Seus olhos varriam a sala como se soubessem de todos os pecados ali, principalmente os meus.

Luiza cruzou as pernas, as unhas vermelhas tamborilando no tablet como uma sentença anunciada. Ela estava linda. Ela sempre está linda quando planeja me destruir.

Felipe estava atrás dela, de pé, como um bom cão de guarda. Sorriso no canto da boca, mãos nos bolsos, o mesmo perfume que um dia me fez perder o juízo. Ou a dignidade.

— Bem, já falei com os conselheiros — disse meu pai, com aquela voz grave que ainda tentava se impor. — E cheguei a uma decisão.

Silêncio. Até os seguranças do lado de fora pareceram prender a respiração.

— Vocês dois vão competir pela presidência da Fama — continuou ele. — Cada um vai assumir uma conta. Um cliente real, importante. Quem fizer o melhor trabalho em seis meses, assume o posto de diretor executivo.

Sorri. Mas era um daqueles sorrisos que só os amaldiçoados sabem dar. Cheios de dentes e tragédias.

— Então virou um reality show? Posso chamar um drone pra filmar a decadência ao vivo? — disparei.

Marcelo me ignorou. Ele sempre foi bom nisso.

— Os nomes dos clientes estão nesses envelopes — ele disse, empurrando dois papéis selados na mesa. — Sem troca. Sem negociação.

Luiza pegou o dela como quem já soubesse o que estava escrito. Porque talvez soubesse mesmo. Felipe a encarava com aquele brilho de quem já havia transado com o inimigo e gostado.

Peguei o meu. Rompi o selo. Li o nome.

Aldebaran Rocha. O Touro Maluco. Um desastre com luvas e histórico de agressão. O homem que a imprensa amava odiar. Viciado, violento, falido.

Perfeito.

— Isso é sério? — perguntei, levantando os olhos. — Vai me dar justamente o caso mais perdido da empresa?

— Vai me agradecer depois — ele disse. — Ou me odiar mais. Tanto faz.

Felipe sorriu. Luiza sorriu. E eu… eu engoli a bile, o orgulho, e o último resto de esperança que ainda me restava.

Porque eu ainda não sabia... mas aquele homem arruinado, Aldebaran, seria meu inferno e meu paraíso.

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