Luz, Câmera e Farsa

Um conto erótico de Lauro Costa
Categoria: Gay
Contém 838 palavras
Data: 06/04/2025 23:55:28
Assuntos: Gay

O céu de São Paulo dava sinais de trégua. A neblina que cobria os prédios na madrugada foi dissolvendo aos poucos, e um sol dourado rompia pelas copas das árvores como se a cidade, de repente, quisesse parecer amigável. Aldebaran mal notou a beleza daquela manhã. Estava ocupado demais com a tensão que se acumulava no peito enquanto estacionava a SUV diante da casa da ex-mulher.

Não houve abraço. Camila saiu primeiro, séria, o celular grudado à mão. Diego vinha atrás, já usando a camiseta da turnê de Luísa Sonza e tagarelando sobre como o show seria épico. A mãe deles não apareceu, mas o novo namorado dela fez questão de dar o ar da graça — o mesmo cara que já dividiu ringue com Aldo, agora com cara de quem acha que venceu fora das cordas.

Aldo ignorou. Abriu a porta e soltou um seco:

— Entra aí.

Os dois filhos entraram. Camila mal olhou pro pai. Diego, animado, já começava a falar sobre as músicas preferidas. Aldo assentia com a cabeça, distraído, enquanto dirigia rumo ao Morumbi.

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O Parque Burle Marx parecia outro mundo. Já havia uma fila considerável, os camarotes com acesso controlado e uma multidão de fãs em clima de euforia. Música ecoava de caixas escondidas nas árvores, enquanto marcas patrocinadoras distribuíam brindes e drinks. O sol batia com força agora, iluminando tudo com uma cor dourada e impaciente.

E foi aí que Aldo o viu.

Leônidas.

Vestido inteiramente de preto, peças oversized com corte de alfaiataria, como se tivesse saído de um editorial de moda para uma missa fúnebre de luxo. Os cabelos soltos, o olhar escondido atrás de óculos escuros de armação dourada, e aquele andar calculado, quase irritante, como se o mundo o aguardasse.

Aldo travou o maxilar ao perceber um rapaz ao lado dele — jovem, bonito, rindo de algo que Leônidas acabara de dizer. A risada do outro soava íntima demais. E Leônidas... ele tocava o braço do rapaz com uma naturalidade que Aldo não sabia se queria destruir ou imitar.

Foi como um soco seco no peito. A raiva veio antes de ele entender por quê.

Camila e Diego não notaram. Diego já corria em direção ao acesso do camarote, enquanto Camila caminhava devagar, observando o entorno. Aldo respirou fundo, tentando recuperar a pose.

Leônidas os viu se aproximando. Retirou os óculos com uma leveza insolente e sorriu — não para os filhos de Aldo, mas diretamente para Aldo. Um sorriso que dizia: eu te vi... e vi tudo.

— Então esses são os herdeiros Rocha — Leônidas comentou, estendendo a mão para Diego com um charme polido. — Muito prazer. Leônidas.

Diego o adorou de imediato. Camila apenas assentiu com a cabeça, distante. Leônidas parecia saber disso, e não se esforçou muito com ela. Conduziu todos até a área VIP, onde os drinks circulavam e os fotógrafos, discretamente, já estavam posicionados. Tudo sob controle. Tudo um espetáculo.

— Fiquem à vontade. Quando a Luísa subir no palco, vamos tirar umas fotos pra campanha da Johnnie Walker. Já está tudo acertado — Leônidas explicou, sem deixar de lançar olhares enviesados para Aldo.

Aldo o seguiu de perto, como se estivesse em um jogo que não entendeu bem as regras. Queria odiar aquele homem. Mas o ódio vinha com uma outra coisa... mais quente. Mais perigosa.

E ver o tal rapaz — o do piercing no nariz — se afastando com uma piscadela para Leônidas fez algo dentro de Aldo explodir.

— Tá com alguém? — perguntou, direto, num canto mais afastado do camarote.

— Isso é da sua conta? — Leônidas rebateu, sem perder o tom suave.

— É. Agora é — a voz de Aldo saiu baixa, ameaçadora.

— Interessante... pra alguém que vive dizendo que me odeia, você se importa demais.

Aldo deu um passo à frente. Ficaram frente a frente. O calor do sol misturava-se ao do corpo.

— Tá brincando comigo, Leônidas?

— Não. Mas adoraria brincar com você.

Aldo ficou paralisado, dividido entre o impulso de agarrá-lo e o de socá-lo. Leônidas apenas virou o rosto com desdém e caminhou de volta ao centro do camarote, chamando Diego para a primeira foto.

O celular de Leônidas vibrou. Ele atendeu sem nem olhar o identificador.

— O que foi, pai?

Do outro lado, a voz de Marcelo explodiu.

— Você perdeu o juízo, Leônidas? O Aldebaran foi até a mansão atrás de você! Você sabe o que a imprensa faria com isso?

— Ele foi por conta própria — respondeu, tenso.

— Você atrai esse tipo de coisa. Já te avisei. A presidência não é seu palco de drama. Mais um erro, Leônidas... mais uma exposição errada... e você perde tudo.

A ligação caiu. Leônidas ficou ali, imóvel por alguns segundos, sentindo o coração pulsar mais rápido do que queria admitir. Quando virou o rosto, Aldo ainda o observava — agora com algo indefinido nos olhos. Era desejo? Desprezo? Ciúmes?

Talvez tudo ao mesmo tempo.

O som da música subiu. As luzes do palco se acenderam. E Leônidas, com um sorriso contido, chamou um fotógrafo com um gesto discreto.

— Hora da família perfeita.

Aldo respirou fundo. E entrou na farsa.

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