Atenção, pessoal 📢
A história a seguir é um romance queer que tem como principais temas o perdão e a amizade. Se você gosta de uma leitura leve, fofa e acolhedora, este conto foi feito para você! 💖✨
Prepare-se para se emocionar e se encantar com essa jornada cheia de sentimentos e conexões especiais. Boa leitura! 📚🌈
***
A pacata cidade de Jacksonville nunca mais será a mesma depois do furacão Fernandes. Quando ele chegou, pegou todos nós desprevenidos. Emmet e eu, meu colega de turma, lutamos contra a força do vento, mas acabamos presos dentro da estrutura do ginásio. Faz três horas que estamos aqui. A chuva continua caindo forte, mas o vento finalmente diminuiu.
Estamos cercados por vigas de madeira espalhadas pelo chão, telhas quebradas e fios elétricos por todos os lados. E se a energia voltar? Essa pergunta não para de martelar na minha cabeça.
Apesar de o vento ter perdido força, o barulho continua nos assombrando. Aos poucos, a adrenalina vai passando, e a dor pelo corpo inteiro se intensifica.
Ao meu lado, Emmet. Seu braço direito foi esmagado quando o furacão derrubou parte do ginásio, e uma viga de madeira caiu sobre ele. Ele está febril, sentindo muita dor, e eu, sozinho, não tenho força suficiente para puxar a viga que o prende.
— Se eu morrer...
— Cala a boca, Emmet. Você não vai morrer. — Falei, enquanto sentava no chão molhado e torcia para o meu colega morrer.
— George, eu não estou sentindo minha mão. Eu não quero morrer desse jeito. — Ele reclamou.
— Você quer morrer?! — Gritei, assustando-o. — Eu pego um desses fios e te enforco, que tal? Precisamos guardar energia para esperar o resgate. Eu só quero ficar no meu canto! — Eu sei, sou um babaca, mas pense em todas as vezes que Emmet foi um babaca comigo. Se coloque no meu lugar por cinco minutos, por favor.
As horas passam, e o desespero começa a tomar conta. E se o resgate não vier? E se a situação for pior do que parece?
Não consigo parar de pensar na minha família. Minha mãe, meu pai e minha irmãzinha Anne, que só tem dois anos. Espero que estejam seguros. Também penso nos meus melhores amigos, Zeek e Rachel. E agora, olho para Emmet e me lembro de como nunca nos demos bem, principalmente depois que ele, capitão da equipe de futebol americano, começou a namorar Rachel.
— Quer saber? — Levanto-me e aponto para Emmet em tom acusador. — Isso é tudo culpa sua. Desde o início, fez de tudo para afastar a Rachel de nós. Nunca gostou que ela andasse com o nerd esquisito e o gay. — Ando de um lado para o outro, desviando dos escombros. — Se você não tivesse namorado a Rachel, a gente nunca teria parado de se falar e talvez... e talvez...
Minhas emoções estão à flor da pele. Eu só quero meus amigos de volta. Só quero chegar em casa e encontrá-los para mais uma sessão de cinema. Desabo no chão e choro como uma criança perdida.
— George... — Emmet chama meu nome com a voz fraca. Olho para ele. Seus olhos estão cheios de medo e dor. — Eu... eu não sou um babaca, sabia? A Rachel se afastou porque era apaixonada por você. Ela também era minha amiga. Você acha que eu não estou preocupado?
— Se ela era apaixonada por mim, por que correu para os teus braços? — Questionei, limpando as lágrimas e sentindo uma pontada de dor no olho esquerdo.
— Eu também sou gay, ok. — Ele revelou, para meu choque. — A Rachel estava me ajudando. Fiquei com medo quando você se assumiu. Os comentários que os caras faziam no vestiário... eu entrei em pânico.
— E o que a minha saída do armário tem a ver com você? — Perguntei, sentando-me ao seu lado e sentindo um pouco de empatia. — Eu nunca nem troquei meia palavra contigo. As pessoas não iam nos associar, Emmet.
— Eu pirei. Por isso comecei a te tratar mal pelos corredores. Olha, eu sei que não justifica, mas o futebol americano sempre foi o sonho da minha mãe. Quantos jogadores gays você conhece?
— Você tem um ponto. E a Rachel? O que fez ela me evitar nas últimas semanas? — Perguntei.
— Ela ficou magoada porque nutria sentimentos por você. Mas, ao mesmo tempo, sabia que não podia mudar as coisas. Então, topou fingir ser minha namorada para focar no problema de outra pessoa. — Explicou Emmet.
— Isso é tão típico da Rachel. — Sorri. — E por que está me contando tudo isso agora?
— Porque estou com medo. — Ele confessou, chorando. — Não sinto meu braço. Isso não deve ser algo bom, né? Estou com muito medo.
Ouvir isso de Emmet, o cara que sempre parecia ter tudo sob controle, me pegou de surpresa. Com medo de morrer, ele começou a se abrir. Confessou que ainda era virgem e que sua fachada de durão vinha da pressão de sua mãe, Elizabeth, uma mulher forte, mas rígida demais com ele. Ela sempre o forçou a não seguir os passos do pai, um escritor marcado por fracassos.
Enquanto ele falava, percebi que toda aquela pose era apenas uma casca—e essa casca estava se quebrando bem na minha frente. Emmet estava desfalecendo, e eu sabia que precisava fazer algo para salvá-lo.
— Ok, Emmet. — Levantei do chão. Espero que minha voz tenha transmitido toda a determinação que eu sentia. — Vou tirar a gente daqui.
Eu precisava acreditar nisso.
Olhei ao redor, analisando o ginásio destruído. Traçar uma rota de fuga parecia impossível, mas desistir não era uma opção. Comecei a mover algumas das vigas menores, tentando abrir um caminho. Cada movimento me custava dor e esforço, mas eu não podia parar. Emmet precisava de mim.
— Vamos, George. Você consegue. — Murmurei para mim mesmo, tentando encontrar forças que nem sabia que tinha.
O medo de que a energia voltasse me atormentava, mas, ao mesmo tempo, uma determinação crescia dentro de mim. Eu ia nos tirar dali, custasse o que custasse. Por minha família, por Emmet e por mim mesmo.
Cada puxão de viga era uma pequena vitória. Aos poucos, comecei a enxergar uma saída. O caminho ainda era difícil, mas havia esperança. E, enquanto houvesse esperança, eu não desistiria.
— Estou quase lá, Emmet. Aguenta firme. — Falei, mesmo sabendo que ele mal conseguia me ouvir. Eu precisava acreditar que ele estava ouvindo, que ainda estava lutando.
Finalmente, depois de horas de esforço, consegui abrir um caminho. O céu cinzento estava visível. A chuva continuava forte, mas o vento havia diminuído. A liberdade estava a poucos metros de distância.
— Emmet. — Voltei para o meu colega. — Achei uma saída. Vou buscar ajuda. Por favor, aguenta firme.
Ao sair do ginásio, vi o estrago que o Furacão Fernandes havia deixado para trás. Meu Deus. Eu não reconhecia mais aquele lugar. A escola tinha virado ruínas, destroços espalhados por toda parte.
Dei alguns passos, mas escorreguei e caí de costas. Olhei para cima e vi um céu apático, cinzento. Gotas de chuva escorriam pelo meu rosto e senti meu olho esquerdo arder.
— Eu não tenho tempo para isso. — Murmurei, levantando-me com dificuldade. Peguei um pedaço de madeira do chão para usar como apoio.
Cada passo era doloroso, cada movimento exigia mais do que eu achava que tinha. Mas eu não podia desistir. Não agora. Passo a passo, segui em frente. A chuva misturava-se ao suor e às lágrimas. Mas eu continuava. Não podia parar.
Até que, finalmente, saímos do que restava da Freedom High School.
Foi então que ouvi vozes e vi luzes no horizonte. Acelerei o passo e esbarrei em um homem. Sua expressão ao me ver foi de horror.
Será que meu estado é tão ruim assim?
Ele se apresentou como Julian Scott, do grupo de busca do Corpo de Bombeiros. Expliquei a situação e a localização de Emmet.
— Pessoal! — Julian gritou para os colegas. — Temos um sobrevivente no ginásio da Freedom High School! Preparem a motosserra e uma maca!
Ele se virou para mim.
— Eu sei que você está abalado, mas pode nos guiar?
— Sim, senhor. — Respondi, sentindo o cansaço pesar sobre mim.
Enquanto as luzes das lanternas iluminavam o caminho entre os destroços, minha mente era um turbilhão. O rosto de Emmet, pálido e febril, não saía da minha cabeça. Sabia que sua situação era crítica.
O paramédico Julian, que aparentava ter uns 40 anos, me olhou com preocupação. Só então percebi o quanto meu rosto ardia. Mas, por mais que doesse, Emmet era a prioridade.
Olhei para o céu carregado e agradeci silenciosamente por termos encontrado ajuda.
Chegamos ao ginásio. Julian pediu que eu ficasse enquanto uma mulher se aproximava para cuidar dos meus ferimentos.
A reconheci de uma palestra que o Corpo de Bombeiros fez na escola meses atrás. Seu olhar firme transmitia segurança.
— Você foi muito valente, garoto. — Ela disse, enquanto limpava os cortes no meu rosto.
— Qual a situação? — Perguntei, minha voz embargada pela preocupação. — Digo, a situação da cidade?
— Muitas perdas. A área mais afetada foi a da Freedom High School. Todos os voluntários estão focados aqui, mas ainda há muito a ser feito. — Explicou. — A propósito, me chamo Diana.
Antes que eu pudesse responder, o barulho da motosserra ecoou do ginásio.
Diana pegou uma gaze e cobriu meu olho esquerdo, depois enfaixou minha cabeça.
— Diana... Emmet vai ficar bem? — Perguntei, a voz carregada de angústia.
— Estamos fazendo tudo o que podemos. Julian é um dos melhores. Se alguém pode tirá-lo com vida, é ele. — Ela apertou minha mão, tentando me reconfortar.
Tentei forçar um sorriso.
— Tá muito feio o meu rosto, né?
Diana riu baixinho.
— Precisamos levar vocês ao hospital. Mas vai dar tudo certo. O importante é que vocês estão vivos.
A espera foi agonizante. Cada segundo se arrastava enquanto as vozes do grupo de resgate ecoavam ao longe. Eu me sentia impotente.
Então, finalmente, vi Julian e sua equipe voltando. Eles carregavam Emmet em uma maca improvisada. Ele estava inconsciente, o rosto pálido, mas vivo.
Uma onda de alívio e exaustão me atingiu.
— Vamos levá-lo ao hospital de campanha. — Disse Julian, olhando para mim. — Você também precisa de atendimento, garoto.
Com a ajuda de Diana, me levantei. Minhas pernas tremiam, mas continuei. Olhei para Emmet, rezando para que ele resistisse.
A jornada estava longe de terminar, mas, pelo menos, havíamos dado um passo importante.
Diana caminhou ao meu lado, sua presença reconfortante.
— Você fez um trabalho incrível, George. Sua coragem salvou a vida de Emmet.
— Eu só... não podia deixá-lo lá. — Murmurei, sentindo, enfim, o peso de tudo o que havia acontecido.
Chegamos ao ponto de resgate, onde outros sobreviventes recebiam atendimento. Enquanto os paramédicos cuidavam de Emmet e de mim, olhei para Diana e senti uma gratidão profunda.
Ela sorriu.
E, naquele momento, soube que, apesar de toda a destruição, ainda havia esperança.