GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ [11] ~ REENCONTRO!

Um conto erótico de Lucas
Categoria: Gay
Contém 3650 palavras
Data: 07/04/2025 17:30:23

Na manhã seguinte, tudo o que eu mais queria era ficar em casa, trancado no meu quarto, longe do mundo. As palavras e os socos do meu pai ainda ecoavam dentro de mim, como uma dor surda, latejante. Por mim, teria passado o dia inteiro ali, escondido. Mas eu sabia que isso não era uma opção.

Tomei banho, me vesti devagar e saí do quarto. Felizmente, meu pai não estava à vista — ou já tinha saído, ou ainda estava enfiado no quarto dele. Dei bom dia pra minha mãe e pro meu irmão, sem ânimo, e avisei que não queria comer nada.

Minha mãe disse que me levaria pra escola. Esperei ela terminar o café e, quando entramos no carro, percebi que ela parecia tensa. Ela ligou o carro, mas antes de dar partida, virou-se pra mim.

— Lucas… a Juliette me ligou ontem à tarde. Me contou tudo o que aconteceu…

Fiquei quieto, engolindo em seco. Sabia que essa conversa viria mais cedo ou mais tarde.

— Sobre seu pai… — ela continuou. — Você conhece ele. Sabe que ele sempre foi duro, sempre teve a cabeça fechada. Não estou justificando o que ele fez, jamais faria isso. Mas… só quero que você saiba que, aconteça o que acontecer, eu jamais vou te abandonar. Você é meu filho, Lucas. E eu te amo exatamente como você é.

Essas palavras, ditas com tanta simplicidade e verdade, deveriam ter me tocado profundamente. Mas ali, no meio daquela dor toda, eu só conseguia sentir um vazio. Eu era um adolescente. E, como todo adolescente, tudo o que vinha em forma de sermão ou conselho parecia um peso. Fiquei em silêncio, apenas olhando pela janela.

Hoje, olhando pra trás, percebo o quanto essa conversa foi importante. O quanto minha mãe, do jeito dela, estava me dizendo que eu não estava sozinho. Mas, naquela época, eu só queria que tudo parasse de doer.

Ela suspirou e continuou:

— O Luke… tentou se suicidar.

— O quê?! — falei, virando pra ela, o coração disparado.

— A Juliette me contou com calma. Encontraram ele desacordado pela manhã… ele tomou vários comprimidos. Mas conseguiram levar ele a tempo pro hospital. Fizeram a lavagem. Agora está estável, mas… abalou muito, tanto a Juliette quanto o Lúcio.

Fiquei sem chão. Senti meu peito apertar de um jeito que mal consegui respirar.

— Não… não pode ser… o Luke… ele tentou mesmo?

— Sim. E, segundo a Juliette, não foi a primeira vez. Mas ela não entrou em muitos detalhes. Disse apenas que, agora, ele está bem. Porém, o Lúcio quer interná-lo numa clínica psiquiátrica. A Juliette é contra isso, eles estão brigando feio.

Ela deu uma pausa, tentando escolher bem as palavras.

— A Juliette aceita o Luke. Ela sabe quem ele é. Mas o pai… ele acha que ainda pode “consertar” isso. Igualzinho ao seu pai. O Lúcio tá tão cego pelo preconceito que até ameaçou romper o contrato com seu pai, por sua causa. E acho que foi por isso que seu pai surtou daquele jeito ontem… porque ele investiu muito pra conquistar essa parceria com o pai do Luke.

— E eu tô pouco me lixando pro contrato do papai, mãe! — falei, a voz embargada. — Eu só quero saber do Luke! Quero saber se ele vai ficar bem!

— Filho… eu entendo. Mas seu pai sustenta nossa casa. Eu trabalho, sim, mas o que eu ganho não é suficiente pra manter tudo do jeito que é hoje. Inclusive os seus luxos, suas roupas, celular, escola… — Ela respirou fundo. — Eu não tô dizendo que você tem que aceitar tudo o que ele faz. Mas tente ter empatia, mesmo que seja difícil.

— E o Luke? Ele vai ficar no hospital? – Falei não dando ouvidos ao sermão que ela estava me dando.

— A Juliette me disse que ele deve ter alta hoje pela manhã, mas que não voltará à escola por enquanto. O Lúcio quer mesmo interná-lo. Eles estão em guerra. Mas… — ela me olhou com um carinho contido — depois da aula, a Juliette disse que você pode ir lá visitar ele. Eu posso te levar.

— Sério?! Mas e o Lúcio?

— Não vai ser fácil. Mas o Luke está em silêncio. Ele não fala com ninguém desde que acordou. A Juliette acredita que você pode quebrar esse silêncio… e eu também acho. Estarei lá com você, se o Lúcio tentar qualquer coisa, ele vai ter que passar por mim primeiro.

Eu respirei fundo, sentindo o coração bater mais rápido.

— Por que a gente não vai agora?

— Porque você não vai matar aula pra ver seu namorado. — ela sorriu de leve. — E eles ainda estão no hospital. Quando sua aula acabar, eu te busco. Prometo.

Foi estranho ouvi-la se referir ao Luke como "meu namorado". De um jeito tão natural, tão simples. E, pela primeira vez em muitos dias, eu senti um calorzinho no peito. Como se, mesmo em meio ao caos, houvesse uma faísca de esperança. Chegamos ao colégio. Me despedi da minha mãe e ela me garantiu que me mandaria mensagem com qualquer novidade.

Enquanto caminhava até o portão, a cabeça cheia de medo, ansiedade e saudade, uma coisa me ocorreu: talvez minha mãe tivesse salvado minha vida naquela conversa. Mesmo que, na hora, eu não tivesse percebido. Na hora do intervalo, meu celular vibrou. Era uma mensagem da minha mãe:

"Filho, só vamos conseguir ir à tarde. A Juliette ainda está resolvendo umas coisas no hospital. Te aviso quando for a hora."

Suspirei fundo. A ansiedade me consumia, mas eu sabia que não tinha escolha a não ser esperar. As horas arrastaram-se pelo resto da aula, como se o tempo estivesse de sacanagem comigo. Quando finalmente cheguei em casa, larguei a mochila no canto e fui direto pro quarto. Deitei na cama, olhando pro teto. Thanos, meu cachorro, veio deitar do meu lado. Acariciei sua cabeça em silêncio, tentando me distrair, mas tudo o que eu conseguia pensar era no Luke. Na dor que ele devia estar sentindo. No silêncio que ele mergulhou. No fim da tarde, minha mãe chegou. Peguei a coleira do Thanos — ele parecia entender tudo, abanando o rabo como se soubesse que algo importante estava prestes a acontecer. Coloquei a guia, ele latiu uma vez, animado, e fomos.

No caminho até a casa do Luke, o silêncio reinava no carro. Minha mãe parecia preocupada, com o olhar fixo na estrada. Eu só queria chegar logo. Quando estacionamos em frente à casa do Luke, percebi o quão pesado estava o clima. As cortinas estavam fechadas. A luz do entardecer deixava tudo meio alaranjado, como se o dia também estivesse triste. Juliette abriu a porta. Estava visivelmente abatida. Os olhos inchados, os ombros caídos. Parecia que havia envelhecido uns dez anos desde a última vez que eu a vi.

— Oi, Lucas… — disse ela, forçando um sorriso. — Oi, Thanos.

— Oi, Juliette… ele…?

Ela assentiu lentamente.

— Está no quarto. Está mais calmo, mas ainda não fala com a gente. Talvez com você… — fez uma pausa. — Ele perguntou por você ontem, antes de dormir. Foi a única coisa que disse. Meu peito apertou. Ela abriu espaço pra gente entrar. Thanos foi logo entrando, farejando tudo. Minha mãe ficou na sala com Juliette, e ela me guiou até o quarto do Luke. A cada passo que eu dava, meu coração batia mais forte. Parou em frente à porta entreaberta e olhou pra mim.

— Eu vou deixar vocês a sós. Se ele se sentir mal, me chama, tá?

Assenti. Juliette saiu, fechando a porta com delicadeza.

Entrei. Luke estava deitado, coberto até a barriga, olhando pro teto. O quarto estava meio escuro, com só uma fresta de luz entrando pela cortina. Quando ele me viu… seus olhos se arregalaram por um segundo. Um sorriso tímido se desenhou no canto da boca. Não era um sorriso de felicidade exagerada, mas de alívio. Como se, finalmente, o mundo tivesse deixado de girar rápido demais.

— Oi… — ele disse, com a voz fraca, quase um sussurro.

Fui até ele e, sem dizer nada, o abracei.

Ele se agarrou em mim com força, como se eu fosse a única coisa sólida num mundo em colapso. O rosto dele encostou no meu ombro e senti sua respiração trêmula. Ficamos assim por um tempo, apenas sentindo o outro ali. Como se não precisássemos dizer nada.

Thanos subiu na cama, deitando do lado dele, e lambeu sua mão. Luke riu baixinho, ainda com a cabeça encostada em mim.

— Oi, grandão… — ele sussurrou pro Thanos, fazendo carinho no focinho dele.

Me afastei um pouco pra olhar nos olhos dele.

— Você tá bem?

Ele respirou fundo, hesitou.

— Tô tentando ficar… — respondeu, os olhos marejados. — Achei que não ia ter forças pra mais nada. Mas você tá aqui. Isso muda tudo.

Eu segurei a mão dele.

— Eu tô aqui. E não vou a lugar nenhum.

Ele sorriu de novo. Dessa vez, com mais verdade. Encostou a testa na minha.

— Desculpa por te deixar preocupado…

— Eu sei. Mas agora você está bem, é aqui comigo é o que importa… — então puxei ele para um selinho.

Nos olhos dele, vi uma lágrima escorrer. Ele não disse mais nada, só me puxou de novo pro abraço. E eu fiquei ali. Com ele. Com Thanos. No silêncio mais sincero e necessário do mundo. Naquele momento, éramos só dois garotos de 16 years, tentando sobreviver à dor. E descobrindo, entre tudo aquilo, o que era o amor. Depois de um tempo abraçados, o quarto ficou quieto de novo. Só se ouvia a respiração do Thanos, deitado aos pés da cama. Luke ainda estava com os olhos fixos em mim, como se quisesse dizer algo, mas não soubesse por onde começar. Eu segurei sua mão, e ele finalmente falou:

— Eu não tentei me matar de verdade.

Meu corpo congelou por um instante.

— Como assim?

Ele engoliu em seco, abaixou o olhar.

— Eu... eu só tomei uns remédios pra dormir. Uns analgésicos que a minha mãe toma. Eu sabia que não ia dar em nada grave... só queria dormir, sabe? Mas também queria... que eles vissem. Que achassem que tinham me perdido. Queria dar um susto neles.

Fiquei em silêncio. Meu peito doía, mas não de alívio — era um peso estranho, misturado com raiva, tristeza, vontade de proteger e de gritar ao mesmo tempo.

— O que aconteceu depois que eu fui embora? — perguntei.

Luke respirou fundo.

— Meu pai surtou. Me bateu. Muito. Disse que eu era um erro. Que preferia ter me perdido pra morte do que pra “essa vida”. Me chamou de aberração. Disse que você era um desgraçado que tinha acabado comigo.

Ele fechou os olhos por um instante, como se revivesse cada palavra.

— Quando você foi embora... o silêncio ficou enorme. Tipo... gigante. Eu fiquei sozinho com aquele ódio dele. E me senti invisível. Com muita raiva. Com uma vontade enorme de sumir, mas não de verdade, porque o que eu sinto por você me impedia de fazer qualquer besteira... entende? Só... de fazer eles sentirem o que eu tava sentindo.

— Luke... — falei baixo, me aproximando mais e com os olhos cheios de lágrimas — nunca mais faz isso. Nunca mais inventa esse tipo de coisa. Por mais que você ache que não tem saída, eu tô aqui. Sempre vou estar. Segurei o rosto dele com as duas mãos e o puxei pra perto. Nossos lábios se tocaram num beijo lento, carregado de tudo que eu não conseguia dizer com palavras. Quando separamos, encostei minha testa na dele e sussurrei:

— Me promete. Promete que nunca mais vai fazer isso.

Ele fechou os olhos, lágrimas escorrendo.

— Eu prometo... juro.

Beijei o rosto dele, enxugando as lágrimas com o polegar. Ficamos assim, em silêncio, por alguns segundos. Até que eu disse:

— Sua mãe… ela foi boa comigo hoje. Me deixou vir. Me tratou com carinho. Isso... significa algo, né?

Luke suspirou, mas o sorriso sumiu.

— A minha mãe... ela é boa às vezes. Mas ela é tão culpada quanto o meu pai. Porque ela vê, ouve, e finge que não. Ela deixa acontecer. Ela chora depois, me abraça, mas nunca impede. Nunca bate de frente de verdade. Ela tem medo dele, mas às vezes eu sinto que ela tem medo de mim também... de quem eu sou.

Fiquei em silêncio, sem saber o que dizer. O Thanos deu um latido baixo, como se sentisse o clima.

Luke se levantou devagar, ajeitou o moletom.

— Vem... vamos sair um pouco daqui. Quero andar com você.

— Vou avisar a sua mãe — falei, levantando também.

Saí rapidamente, avisei à Juliette que a gente ia andar pelo condomínio um pouco. Ela só assentiu, com o olhar ainda perdido. Voltei pro quarto, e descemos as escadas em silêncio, lado a lado. Thanos nos acompanhava, alegre, sem entender o peso da situação, mas feliz por estar com a gente. O céu começava a se pintar em tons alaranjados e rosados. Caminhamos até o lago do condomínio. O vento estava fresco. Sentamos na beira do deck de madeira, com as pernas penduradas, observando o sol se esconder atrás das árvores.

Thanos deitou atrás da gente, tranquilo. O silêncio que se formou não era pesado. Era um silêncio cheio de tudo: de dor, de amor, de medo, de cuidado. Um silêncio que falava mais do que qualquer frase longa demais.

Depois de alguns minutos, eu perguntei, ainda olhando o sol:

— E agora… como vai ser daqui pra frente?

Luke não respondeu de imediato. Só respirou fundo, e deitou a cabeça no meu ombro.

— Eu não sei. Mas, por agora… eu só queria que você ficasse.

Segurei sua mão com firmeza.

— Eu vou ficar.

E ali, entre o vento e as cores do fim do dia, era como se o mundo ainda fosse difícil — mas, pela primeira vez em dias, havia um espaço pequeno, delicado, onde tudo parecia suportável. Onde o amor cabia.

Como nem tudo são flores, quando voltamos pra casa do Luke, o clima mudou no mesmo instante. O Lucio havia chegado. Estava encostado perto da escada, com os braços cruzados e um olhar de puro desprezo cravado em mim. Por um momento, achei que ele fosse dizer alguma coisa — soltar uma daquelas frases cruéis que ele parecia guardar na ponta da língua. Mas não. Ele apenas subiu as escadas em silêncio, como uma tempestade que não desaba, mas deixa o ar pesado. A Juliette apareceu logo em seguida, com um sorriso cansado.

— Pedi umas pizzas... fiquem por aqui, tá bom? — disse, olhando pra mim. Eu sabia que, no fundo, ela estava tentando cumprir seu papel de mãe. Tentando, do jeito dela, remendar um mundo que tinha se quebrado nos últimos dias. Mas também sabia que, comigo ali, o Luke ficava mais leve. Ele comia. Ele sorria. Ele respirava um pouco melhor.

Ficamos ali, na grama, de frente pra casa. O céu já escurecia, e uma brisa suave fazia as folhas dançarem. O Thanos corria de um lado pro outro, trazendo galhos, se jogando no chão, tentando morder o próprio rabo. Eu e o Luke nos olhávamos e ríamos como se o mundo tivesse esquecido da gente por um instante. E talvez tivesse mesmo.

Ali, naquele pedaço de grama iluminado por um poste amarelo, o caos dos últimos dias parecia distante, quase irreal. Era como se a dor tivesse ficado trancada junto com o Lucio lá em cima. Só existíamos nós dois e o cachorro mais doido e especial do mundo.

De vez em quando, nossas mães apareciam à distância, na varanda ou na janela, e nos observavam. Em um desses momentos, vi que Juliette estava com os olhos marejados. Ela não estava apenas olhando o filho — ela estava vendo um menino que ainda conseguia sorrir, mesmo depois de tudo. E vendo quem era o motivo daquele sorriso.

Foi naquele instante que entendi: elas iriam nos apoiar. Nossas mães seriam nosso porto, nossa trincheira, nossa rede. O maior problema ainda seriam os pais. Mas agora… agora a gente não estava mais sozinho. A pizza chegou. Comemos juntos na sala, com o Thanos pedindo pedaços a cada cinco segundos. Rimos, conversamos pouco, mas tudo ali parecia certo. Um certo frágil, mas sincero. Já era quase dez da noite quando minha mãe disse que estava na hora de irmos. O Lucio continuava trancado no quarto. E pra ser sincero, achei bom assim. Fui me despedir do Luke. Na porta, nos abraçamos com força — daquele jeito que a gente queria que durasse mais do que o tempo deixava. Evitei o beijo. Estávamos de frente pras nossas mães, e talvez ainda não estivéssemos prontos pra essa liberdade. Mas aquele abraço... aquele abraço dizia tudo.

— Quando você volta pra escola? — perguntei, com a voz baixa.

— Ainda tenho alguns dias de atestado… — ele respondeu. — Mas acho que volto logo. Quero voltar. Quero te ver.

— Eu vou te esperar — sussurrei.

Nos afastamos devagar, as mãos se soltando como se o tempo tivesse esticado só pra gente poder se tocar um pouco mais.

E foi ali, naquele fim de noite comum, depois de uma sequência de dias nada comuns, que percebi: um novo capítulo estava começando. Com mais medo, sim. Mas também com mais força. Porque agora a gente tinha duas mulheres incríveis ao nosso lado. Mães que estavam dispostas a enfrentar o mundo por nós. E isso... isso era mais do que muita gente tinha. A gente era sortudo. Muito sortudo.

Duas semanas se passaram, e nossas vidas, de certo modo, voltaram ao normal. Um novo tipo de normal. Eu e Luke agora tínhamos uma autorização não oficial para namorar — contra a vontade dos nossos pais, claro. Mas, mesmo contrariados, eles entenderam que nos separar talvez só piorasse tudo. Meu pai passou a evitar qualquer conversa mais profunda comigo. Falava o básico. Às vezes, nem isso. Luke me contava que na casa dele era parecido. Mas o Lucio... o Lucio ainda tentava. Tentava puxar assunto, fazer perguntas, agir como se tudo estivesse bem. Mas o Luke não queria. Não por mágoa apenas, mas porque existia uma barreira invisível, feita de palavras cruéis e olhares que doíam mais do que tapas. Lucio amava o filho, mas não o suficiente pra aceitá-lo por completo. E isso era algo que a gente sabia que levaria tempo. Talvez muito tempo.

Mesmo assim, o trabalho entre nossos pais continuava. O Lucio não retirou a rede de supermercados do escritório do meu pai, como havia ameaçado. Mas aqueles almoços de domingo, em que todos se reuniam em clima de família perfeita... esses já não existiam mais. Agora, vez ou outra, meu pai saía com o pai do Carlos e o Lucio, como se nada tivesse acontecido. Mas nós, os filhos, já não fazíamos parte desse teatro.

Enquanto isso, meu namoro com o Luke florescia. Quando ele voltou pra escola, alguns dias depois, decidimos contar pro Yan e pro Isaac — os nerds que sempre estiveram com o Luke. E pra nossa surpresa, eles contaram que também estavam se conhecendo melhor, ficando, se curtindo. Foi como se a gente tivesse formado uma nova bolha no mundo. Uma onde a gente podia respirar e ser quem era, sem medo. O Carlos ainda se mantinha distante. Entre nós, ainda pesava a traição. Mas eu deixei isso de lado. Não queria que o Luke soubesse, não queria sujar aquilo que a gente estava construindo. De alguma forma, o Carlos soube da tentativa de suicídio do Luke — e talvez por isso, por respeito ou arrependimento, ele não me procurou mais. Era melhor assim. Ele lá. Eu cá.

Era uma sexta-feira. O Luke ia passar o fim de semana comigo. Meu pai tinha viajado a trabalho, o que me deixava mais à vontade pra preparar uma surpresa pro Luke. Eu estava animado, pensando em fazer uma janta diferente, deixar tudo perfeito. Até que recebi uma mensagem do meu pai.

“Lucas, um cliente vai passar aí à tarde. O nome dele é Alysson Carneiro. Ele vai pegar um envelope que tá no cofre. Só entrega em mãos.”

Respondi com um “ok” e segui o dia. Algumas horas depois, o interfone tocou.

— Portaria, senhor Lucas? O senhor Alysson Carneiro está aqui.

— Pode liberar — respondi, curioso.

Fui até o cofre, peguei o tal envelope e deixei em cima da cama dos meus pais, eu estava apenas de shorts, sem camisa — fazia calor e eu estava à vontade em casa. Alguns minutos depois, a campainha tocou.

Abri a porta e ali estava ele. Um homem nos seus quarenta e poucos anos. Alto, corpo escultural, ombros largos, barba por fazer, olhos intensos. Vestia uma camisa justa demais pra esconder os músculos e uma calça escura que moldava as pernas fortes. Havia algo naquele olhar... algo difícil de explicar. Um certo magnetismo que me deixou sem ar por um segundo. Ele estendeu a mão com firmeza:

— Boa tarde. Você é o Lucas, filho do Jorge?

— Sou sim. E o senhor é o Alysson, né? Entra, vou pegar o envelope.

Ele entrou. Sua presença preenchia o ambiente como uma música baixa que você não consegue ignorar. Fui até o quarto do meu pai, peguei o envelope e entreguei. Ele sorriu com gratidão — e naquele sorriso havia algo mais. Um tipo de olhar que escaneia, que analisa... que provoca.

— Obrigado — disse ele, com a voz grave e calma.

Senti meu corpo arrepiar. Havia um calor estranho dentro de mim, uma lembrança do que vivi com o pai do Carlos. Eu sabia que tinha uma queda por homens mais velhos — e o Alysson... era um prato cheio de tudo aquilo que me despertava. Quis prolongar o momento.

— O senhor aceita uma água? — perguntei, tentando soar natural.

Ele hesitou por um segundo e depois assentiu:

— Aceito sim. Obrigado.

Fui até a cozinha, tentando controlar o nervosismo. Meu coração batia rápido, não porque eu estivesse com medo... mas porque algo naquele homem me deixava em chamas. Talvez fosse o jeito calmo de falar, ou o modo como ele me olhava — como se já me conhecesse por dentro. Preparei dois copos de água gelada, respirei fundo e voltei pra sala.

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Comentários

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O tio do Rafael não dispensa ninguém! kkkkk

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