A Queda De Um Herói

Um conto erótico de Lauro Costa
Categoria: Gay
Contém 734 palavras
Data: 07/04/2025 23:01:12
Assuntos: Gay

Acordei com a sensação de ter sonhado com um futuro que nunca vai acontecer. Um desses sonhos onde tudo parece estar no lugar certo… até você abrir os olhos. E lá estava eu, no meu apartamento vendido, encarando a cidade como se ela me devesse algo.

Peguei o celular e rolei as manchetes do dia, só para alimentar meu mau humor.

"Pedro Moraes será o novo patrocinado de Freitas. Evento de lançamento será em grande estilo, durante a festa de quinze anos de sua enteada, Camila."

"Felipe Soares assume o gerenciamento da carreira de Pedro. Ex-colega de Aldebaran volta aos holofotes."

"Leônidas Sampaio vende apartamento no Morumbi para bancar campanha de lutador em decadência."

Felipe, o eterno parasita, reaparece sempre que há carniça no ar. E claro, Freitas escolheu Pedro, justamente o namorado da ex de Aldo, pra jogar mais lenha na fogueira. O jogo não era mais sobre esporte, era pessoal. Sujo.

Fui até o centro de treinamento. Eu precisava ver Aldo. Ele estava lá, suando, socando o saco de areia com uma raiva cega. Júlio estava no canto, com cara de quem sabia que fez merda, mas fingia estar tudo certo. Vi nos olhos de Aldo o que ele não dizia: a decepção com Camila. Ela aceitara usar a própria festa como vitrine para Pedro. Aquilo doía nele. Ele se sentia um pai horrível.

— Você devia me agradecer — disse Júlio, olhando pra mim como se fosse o dono da razão. — Freitas é influência, dinheiro, portas abertas. Você é só um filho bastardo com um apartamento vendido.

Sorri. O tipo de sorriso que precede um soco.

Aldo nos interrompeu antes que a coisa desandasse.

— Leônidas, não era sua função rasgar aquele contrato. Você se mete demais.

— Eu rasguei pra te proteger, Aldo. Mas tudo bem. A verdade é que eu vendi meu apartamento. Eu sou o patrocinador. Não é só sobre esporte. É sobre honra. Sobre o que você vai ensinar pra sua filha.

Ele baixou o olhar. Pela primeira vez, não tinha uma resposta pronta.

No fim da tarde, fui buscar Camila e Diego na escola. Aldo me ligou pedindo esse favor, alegando que teria uma reunião importante com um fornecedor e depois a terapia. Está tentando ser um homem melhor — por ele, pelos filhos, por mim. Só não sabe ainda como.

Camila deixou claro que não queria minha presença.

— Você não é da nossa família — disse ela, com os olhos marejados, mas firmes. — E eu não quero você na minha festa de quinze anos. Vai ser humilhante ter um estranho na valsa.

— O estranho aqui é o Pedro — respondi. — Eu vou dançar a valsa com você e ainda economizar no lançamento do patrocínio. Dois eventos em um. Olha que maravilha.

O golpe foi direto, sem aviso. E eu aceitei. Como sempre, calei e engoli.

Pra quebrar o clima, levei Diego pra casa e passamos horas cantando no karaokê do apartamento. Ele tem uma voz terrível, mas canta com o coração. E aquilo, por um instante, curou minha frustração.

Mais tarde, voltei à Fama. A discussão com Marcelo foi inevitável.

— Você enlouqueceu? Vendeu o apartamento no Morumbi pra bancar um projeto suicida?

— Suicida é essa empresa gerida por parasitas e filhos mimados. — retruquei. — Prefiro afundar com dignidade do que viver comendo nas mãos da sua filha.

— A minha filha tem nome!

— Tem sim. Capirota.

Percorri os corredores feito uma tempestade, ignorando olhares, secretárias chocadas e executivos boquiabertos. Minha voz ecoava, cortando o silêncio da empresa:

— Cadê você, sua putinha?!

— Cadê você, sua capirota?!

— Eu sei que foi você que vazou a venda do meu apartamento!

— Aparece, sua desgraça!

— Tá se escondendo, Satanás sem rabo?!

— Vai sair do esgoto ou quer que eu te arraste pelos cabelos?!

Alguns funcionários tentaram intervir, mas ninguém teve coragem de encostar. O escândalo já estava desenhado em neon. Quando uma porta se abriu discretamente no fim do corredor e vi Luiza tentando se esgueirar, avancei.

— Você se supera — ela disse, puxando a porta com fingida calma. — Isso foi baixo, mesmo pra você.

— E você continua a mesma voyeurzinha suja — retruquei, com o sangue fervendo. — Gosta de assistir tudo de camarote, né?

Ela empalideceu.

— Pois hoje tem espetáculo. Sabia que você era tarada por pornografia, mas não que tinha fetiche em ver o próprio ex sendo enrabado.

Enviei o vídeo pro celular dela, sem dizer mais nada. E saí, deixando o ar pesado e podre de verdades expostas.

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