O SABOR DE UMA DOCE VINGANÇA ! Cap.24

Um conto erótico de Alex Lima Silva
Categoria: Gay
Contém 3843 palavras
Data: 08/04/2025 17:59:36

Saí do box e comecei a enxugar o rosto com a toalha, tentando disfarçar o inchaço nos olhos, encostei na pia por alguns segundos, encarando meu reflexo. Era o mesmo rosto de sempre, mas com algo novo por trás do olhar. Um cansaço antigo, mas também uma determinação que eu não podia mais ignorar. Clara não podia crescer nesse ambiente pequeno, improvisado, com cheiro de tinta velha e pouco espaço pra sonhar. Ela era minha irmã, minha missão. E eu precisava fazer melhor por ela.

Respirei fundo e peguei o celular. Pesquisei rapidamente o número do corretor mais conhecido da cidade. Ernane. Sempre ouvi dizer que ele resolvia tudo rápido.

— Boa tarde! Ernane Corretor, como posso ajudar? — atendeu ele com aquele entusiasmo quase ensaiado.

— Boa tarde. Aqui é Pedro. Estou procurando uma casa mobiliada, pronta pra morar. De preferência grande, com bons cômodos e num bairro tranquilo.

— Meu amigo, parece que você leu a minha mente. Tenho um imóvel que acabou de entrar, novinho, impecável. Posso te mostrar ainda hoje.

— Me manda a localização. Tô indo agora.

Peguei a moto e fui. O bairro era novo, bonito, com ruas largas, árvores bem cuidadas, calçadas largas. Um silêncio gostoso reinava por ali, do tipo que dava vontade de sentar na calçada só pra ver o tempo passar. Quando Ernane me levou até a casa, senti o coração bater diferente.

A fachada era elegante, com uma varanda charmosa, jardinzinho na frente e um portão automático. Por dentro, tudo novo, cheiro de limpeza e madeira. Sala ampla com sofá em L, TV enorme, cozinha com bancada de mármore, armários planejados, fogão cooktop, geladeira duplex. Quartos espaçosos, camas já montadas, roupa de cama cheirosa, até brinquedos em um dos quartos menores — como se a casa estivesse esperando por Clara.

Fiquei em silêncio por um instante, observando cada detalhe.

— E aí, Pedro? O que achou? — perguntou Ernane, já com o contrato meio puxado da pasta.

— Eu quero. Pode preparar os papéis.

Voltei pra casa com o coração batendo acelerado, não de medo, mas de euforia. Aquilo era mais do que uma compra. Era uma vitória. Um marco. Um presente pra Clara, mas também um grito meu dizendo: “eu venci”.

Assim que entrei, mandei uma mensagem pra Jaci:

“Oi, Jaci. Você pode separar os documentos da Clara pra mim? CPF, certidão, tudo que tiver. Quero colocar uma casa nova no nome dela.”

Ela me respondeu com um áudio quase chorando, agradecendo, dizendo que ia mandar tudo ainda hoje. Aquilo me aqueceu por dentro.

Mas não parei por aí. Abri o aplicativo do maior supermercado da cidade e fiz a maior compra da minha vida. Comida, produtos de limpeza, material escolar, roupas infantis, brinquedos, leite, bolacha, frutas, arroz, feijão, até um carrinho de boneca. Coloquei tudo no carrinho virtual como se estivesse abastecendo um novo mundo.

Na hora de preencher o endereço de entrega, escrevi o da Jaci e mandei uma mensagem:

“Vai chegar uma compra grande aí. É pra Clara. Vê se ela gosta das bonecas que escolhi.”

Só depois disso, respirei fundo e me joguei no sofá. Pela primeira vez em muito tempo, senti algo que beirava a paz.

Clara ainda não sabe de nada. Mas já posso ver o brilho nos olhos dela quando cruzar o portão daquela casa, correndo pelos cômodos, escolhendo o quarto dela. Vai ser a casa dela. A vida dela.

Estava terminando de me arrumar, quando o meu celular começou a vibrar. Era Jaci. Quase engasguei com a espuma de tanta pressa pra atender. Atendi com um sorriso no rosto antes mesmo de ouvir a voz dela.

— Alô?

— Pedro... meu filho, você não tem noção da alegria que você deu pra Clara. — A voz dela vinha embargada, doce, emocionada. — Ela quase desmaiou quando viu aquela boneca com carrinho. Disse que agora é "a mãe da bonequinha" e que vai levar pra todo lugar.

Eu ri, fechando os olhos por um momento. Era isso. Era por isso.

— Fico tão feliz de ouvir isso, Jaci. Ela merece tudo, cada coisinha.

— E você também, Pedro. Obrigada. Você mudou a vida da minha menina. De verdade.

Ficamos mais alguns minutos falando sobre Clara, os brinquedos, a entrega do supermercado, e quando desliguei, fiquei olhando pro teto por alguns instantes, com aquele sorriso sereno de quem sente que fez o certo.

Peguei a moto e fui pra sorveteria já no fim da tarde. O céu começava a se tingir de laranja, as ruas estavam mais calmas, e uma brisa agradável me acompanhava. Mas assim que estacionei e entrei, percebi no ar que algo não estava certo.

Wellington estava no balcão, de cara amarrada, olhos vermelhos de raiva ou talvez frustração. Mateus lavava uma bandeja com força desnecessária, como se o plástico tivesse culpa. Não trocaram um olhar sequer. O clima era tão tenso que dava pra cortar com a espátula de servir sorvete.

Fiquei observando em silêncio por alguns segundos. Até que vi Camila pegando a bolsa no canto, pronta pra sair. Ela hesitou, olhou pra mim, e antes de ir embora, fez um gesto discreto com a cabeça, me chamando pra um canto.

— Tá com um minutinho? — sussurrou ela, olhando pros dois.

— Claro, fala.

Fomos até a porta dos fundos. Ela olhou ao redor e falou baixo:

— É melhor você saber o que tá acontecendo. O clima aí dentro tá horrível porque o Wellington descobriu que o Mateus tava se envolvendo com outros caras enquanto eles ainda tavam juntos. Foi feio. Teve discussão, quase saíram no tapa antes de você chegar.

Fiquei em silêncio, digerindo aquilo. Não que fosse exatamente uma surpresa — Mateus sempre teve um jeito envolvente, misterioso. Mas saber que ele realmente tava traindo o cara que até pouco tempo parecia apaixonado... bom, era revelador. Apesar que eu só tava esperando a bomba explodir, porque depois que ouvi aquele áudio, eu sabia que Wellington iria fazer alguma coisa!

— Obrigado por me contar, Camila. De verdade.

Ela assentiu e foi embora, deixando o rastro de um perfume suave no ar e uma bomba explodida no meu colo. Respirei fundo e voltei pro salão, como quem veste uma armadura.

Mateus fingiu não notar minha presença. Wellington me lançou um olhar breve, triste. Eu apenas passei por eles sem dizer nada.

O jogo tava mudando. E eu, mais do que nunca, precisava observar.

Com atenção.

Com frieza.

E talvez, com um pouco mais de estratégia.

O relógio já marcava quase oito e meia quando comecei a limpar o balcão da sorveteria, pronto pra fechar as portas depois de um dia cheio. O clima ainda tava meio estranho por conta do que tinha rolado entre Wellington e Mateus, mas naquele momento, tudo que eu queria era silêncio. E talvez uma comida bem gordurosa. Antes deles irem embora, falei que poderiam entrar mais tarde amanhã, pois hoje extrapolamos o horário de fechamento!

Estava terminando a limpeza do balcão quando a porta se abriu devagar e, pra minha surpresa, Flávio entrou. Vestia uma camisa simples, jeans e aquele olhar desconfiado de quem tava ensaiando o que dizer há horas.

— Sumiu hoje, hein? — ele falou, encostando no balcão com um meio sorriso. — Fiquei te esperando aparecer. Tava achando que tinha me bloqueado ou fugido da cidade.

Soltei uma risada leve, mesmo cansado.

— Nada disso. Tava resolvendo umas coisas administrativas… papelada, banco, ligação com corretor… essas chatices que ninguém vê, mas que fazem a engrenagem rodar.

Ele assentiu, se encostando um pouco mais.

— Entendo. Só não some assim, pô… — falou meio no automático, mas com um tom de quem se importa mais do que quer admitir.

Antes que eu respondesse, meu celular vibrou. Quando desbloqueei, quase engasguei com o nó na garganta.

Era uma foto enviada pela Jaci.

Clara, sentada no chão de casa, abraçada com tanta força na boneca que parecia que queria colar ela no peito. Os olhinhos brilhando, o sorriso largo, puro, de criança que não entende o mundo, mas sabe reconhecer amor. A legenda era simples: *"Ela não larga por nada. Obrigada, Pedro."*

Senti uma onda quente subir pelo peito. Fechei os olhos por um segundo e só consegui sorrir.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou Flávio, curioso.

— Nada ruim. Muito pelo contrário.

Guardei o celular no bolso e me estiquei, como quem acabava de tomar uma decisão.

— Bora comer alguma coisa? Um cachorro-quente na praça, sei lá. Eu tô precisando de ar fresco e gordura trans.

Flávio sorriu mais abertamente dessa vez.

— Bora. Mas só se eu for de carona. Tô de preguiça de andar.

— Justo.

Fechei a sorveteria, travei tudo, e ele subiu na garupa da moto sem hesitar.

A noite se arrastava preguiçosa quando estacionei a moto na pracinha da cidade. O ar tava morno, com um cheirinho de pipoca no ar e o som das crianças brincando de pega-pega perto dos bancos. Do meu lado, Flávio desceu da garupa com aquele jeito dele alegre e traquino!

— Aqui tem umas barraquinhas legais, hein? — comentei, olhando ao redor.

— Tem sim. E dizem que o cachorro-quente daqui é um dos melhores — ele respondeu com um meio sorriso.

A gente começou a andar devagar em direção às barracas, mas o celular de Flávio começou a tocar. Ele atendeu com um suspiro leve.

— Oi, mãe… — Ele parou. — Agora? Tá, tô indo. Espera aí que já chego.

Desligou e me olhou, um pouco frustrado.

— Minha mãe tá precisando de ajuda em casa. Parece que deu um vazamento na pia e molhou tudo.

— Quer que eu te leve lá? Não me importo.

— Relaxa. Você veio pra comer, pra distrair a cabeça. Fica aqui, aproveita. Eu chamo um moto táxi.

— Tem certeza?

— Tenho sim. Vai, aproveita a noite.

E antes que eu insistisse mais, ele já tava acenando pra um moto táxi que passava devagar pela rua. Subiu na garupa, me deu um último aceno e partiu, desaparecendo na curva da praça.

Fiquei parado por alguns segundos, respirando fundo, sentindo aquele leve incômodo de quando a gente acha que a noite vai ser de um jeito e ela muda de direção sem aviso. Mas fui até a barraca, pedi um cachorro-quente completo, com tudo que tinha direito, e me sentei num dos bancos de madeira por ali.

Sozinho. Mas em paz.

Enquanto comia devagar, observando o vai e vem de gente, as luzes amarelas dos postes e o som dos risos espalhados pela praça, percebi que às vezes a gente precisa disso. De um momento simples. De um cachorro-quente quente numa noite morna. Sem grandes planos.

Abri a câmera, mirei no lanche quase devorado e tirei uma foto meio despretensiosa. Sem filtro, sem legenda elaborada. Só um cachorro-quente, num guardanapo branco e uma mesa de madeira. Postei no status do WhatsApp com um emoji de fogo e um “o melhor da cidade”.

Não deu dois minutos e apareceu a notificação: **Arthur respondeu ao seu status**.

“Rapaz, eu AMO um cachorro-quente .”

Dei uma risada curta, digitando logo em seguida:

“Pois vem! Tô aqui sozinho na praça. Tem uma barraquinha boa demais.”

A resposta não demorou.

“Saio da delegacia em 15 min. Se ainda tiver por aí, passo sim.”

Fiquei olhando pra tela por alguns segundos, surpreso. Arthur, o delegado da cidade, aquele mesmo que fez parte do meu passado turbulento. Aquele que eu jamais pensei em chamar pra qualquer coisa. Mas ali estava ele, vindo comer um cachorro-quente comigo numa noite aleatória. Era tão estranho saber que estávamos ficando cada dia mais próximos!

Guardei o celular e me encostei no banco, observando os casais passando, crianças rindo, o som abafado de uma música vindo de uma caixa portátil em algum canto da praça. A ideia de reencontrar Arthur, logo ali, do nada, me deixava curioso. O que será que ele esperava dessa noite? Ele eu realmente não sabia, mas eu ainda queria a vingança!

A praça já começava a esvaziar devagar quando ouvi o ronco de uma moto se aproximando. Levantei os olhos e vi Arthur chegando, descendo com aquela segurança de sempre. Usava uma camiseta preta justa no peito largo, e um short jeans curto que deixava as pernas à mostra — bronzeadas, fortes. Tava sorrindo, daquele jeito que ele sorria quando sabia que estava chamando atenção. E chamava.

Ele tirou o capacete, passou a mão no cabelo e veio direto na minha direção.

— E aí, sumido? — falou, antes de me puxar pra um abraço rápido, firme e inesperadamente quente.

O cheiro do perfume dele misturado com o suor leve da noite me pegou de surpresa. Meus pelos arrepiaram no braço inteiro. Tentei disfarçar, mas sei que meu corpo respondeu mais do que devia.

— Chegou na hora certa — falei, tentando parecer natural. — Pedi dois cachorros-quentes pra nós. Tá aqui o teu.

— Sério? Melhor ainda — ele pegou o lanche e deu a primeira mordida com gosto. — Tô morrendo de fome.

Apontei com a cabeça pra um banco mais afastado, sob uma árvore onde a luz do poste fazia uma sombra suave. Caminhamos até lá e sentamos lado a lado, com as pernas esticadas, comendo devagar.

Ficamos em silêncio por um tempo, ouvindo a noite se ajeitar ao redor da gente. A cidade parecia mais leve dali.

— Eu tô feliz hoje — comentei, quase sem pensar.

Arthur me olhou de lado, com a boca ainda cheia.

— É mesmo? Por quê?

— Porque finalmente aconteceu algo de bom. Algo simples... mas bom.

Ele mastigou em silêncio, esperando mais.

— O que aconteceu?

— Só isso... algo bom. — Dei de ombros, olhando pro céu escuro. — Fazia tempo que eu não sentia isso.

Arthur assentiu devagar, o sorriso se apagando aos poucos.

— Queria poder dizer o mesmo — confessou, encarando o cachorro-quente por um instante, como se estivesse falando pra ele. — Mas tá difícil.

Virei o rosto devagar, encarando aquele cara que um dia foi sinônimo de raiva e dor. Mas ali, naquela noite quente, sob uma árvore e com um cachorro-quente na mão, ele parecia só... humano.

— Se quiser falar sobre isso, eu tô aqui.

Ele respirou fundo, mas não disse nada. Só assentiu de novo, olhando pra frente.

O silêncio entre a gente durou mais alguns minutos. O cachorro-quente quase no fim. A praça agora tinha só alguns poucos gatos pingados e o som distante de um rádio tocando alguma música sertaneja.

Arthur virou um pouco no banco, me encarando com um olhar que não era mais de quem só queria jogar conversa fora.

— Posso te perguntar uma coisa? — ele disse, com a voz mais baixa.

Assenti, sem saber bem o que esperar.

— Você é gay, né?

Minha garganta secou por um segundo. Mas eu já não era mais o garoto que se encolhia com medo dos olhares. Respirei fundo e encarei ele de volta.

— Sou sim.

Arthur assentiu lentamente, olhando pro chão como se estivesse organizando os próprios pensamentos.

— Sabe... eu odiava gays no passado — continuou ele, com a voz pesada. — Cresci ouvindo que era errado, que era nojento. Repetia isso o tempo inteiro. Xingava, debochava, como se aquilo me tornasse melhor. Como se fizesse sentido.

Aquelas palavras começaram a cutucar dentro de mim. Como uma chave girando devagar numa fechadura antiga. Uma memória emergiu sem pedir licença — eu, mais novo, encostado num armário da escola, ouvindo risos cruéis, empurrões, palavras sujas. Um deles era ele. Arthur. O mesmo sorriso, mas na época, carregado de desprezo.

— Fiz muita besteira naquela época — ele continuou, a voz baixa. — Me arrependo de muita coisa. Se eu pudesse voltar atrás…

As lembranças vieram em ondas. O tapa na nuca quando eu passava, o caderno arrancado da minha mão, os apelidos. O medo constante. O dia em que cheguei em casa com o joelho ralado e inventei que tinha caído na escada, quando na verdade tinha sido ele que havia me empurrado!

Aquela dor antiga parecia tão perto. Como se tivesse sido ontem. E ele… ali do meu lado, sem nem reconhecer quem eu era.

Uma lágrima escorregou pelo meu rosto. Discreta, mas pesada.

Arthur virou de novo pra mim e franziu a testa, preocupado.

— Eu falei alguma coisa errada?

Demorei pra responder. O coração batia descompassado. O passado e o presente colidindo dentro de mim.

— Não… — sussurrei, enxugando rápido a lágrima. — Só… lembrei de umas coisas - Ele sorriu enquanto terminava de comer o cachorro quente!

(...)

Enquanto caminhávamos em silêncio até uma lixeira próxima pra jogar os copos e guardanapos fora, eu senti o estômago revirar. Não pelo cachorro-quente, mas pelas palavras de Arthur. Aquela voz tranquila, arrependida, como se fosse fácil enterrar tudo o que ele fez.

“Não vou me enganar com ele”, pensei, enquanto seguíamos devagar pela pracinha. “Talvez ele tenha mudado, sim. Talvez seja um homem diferente agora. Mas no passado, ele me quebrou. Me mandou pra UPA. Disse que eu merecia por ser ‘viadinho’. Riu enquanto eu chorava. E isso ele nunca vai poder apagar.”

Eu queria gritar, jogar tudo na cara dele, mas me controlei. Ainda não era a hora. Ele pagaria por tudo, sim. Cada humilhação, cada marca que deixou em mim. Só que agora… eu era quem tinha o controle.

A gente se aproximou de uma parte mais vazia da praça, e eu quebrei o silêncio.

— Por que perguntou se eu era gay?

Arthur coçou a nuca e olhou pro lado, meio sem graça.

— Ah… foi só curiosidade mesmo. Nada demais.

Nada demais. Como se não mexesse comigo escutar isso vindo dele.

— Aqui tem um cantinho legal — ele disse, apontando com a cabeça. — Tem uma parte alta da grama, ali atrás das árvores. Dá pra deitar e olhar o céu… é bom pra relaxar, pra esquecer um pouco das coisas.

Fiquei em silêncio por um momento, avaliando a proposta. Ele parecia sincero. Mas dentro de mim, o alerta continuava aceso.

— Quer ir lá comigo? — ele completou, olhando pra mim com um leve sorriso.

Assenti, contido.

— Vamos.

Seguimos lado a lado por uma pequena trilha no meio da grama, onde a luz dos postes já não alcançava direito. O barulho da cidade se apagava aos poucos, e o céu se abria acima da gente, salpicado de estrelas.

Deitei na grama, com as mãos apoiadas atrás da cabeça. Arthur fez o mesmo, um pouco afastado.

— Bonito, né? — ele murmurou.

— É — respondi, encarando o céu. Mas minha mente estava longe dali, envolta em lembranças, planos e vingança.

Eu continuava deitado na grama, olhando pro céu, quando Arthur se virou pro meu lado e se sentou, apoiando um dos braços atrás do corpo.

Sem dizer nada, ele pegou minha mão com a dele, com aquele jeito leve e confiante que ele sempre teve. Ficou olhando por alguns segundos, como se estivesse avaliando alguma coisa, e soltou um riso baixo.

— Caramba… tua mão é bem pequenininha — comentou, ainda sorrindo.

Ergui uma sobrancelha, me sentando também e puxando a mão de volta devagar.

— Minha mão não é pequena, não… tua mão é que é imensa.

Ele deu um risinho, e eu aproveitei a deixa, encostando o ombro no joelho dobrado e soltando com malícia:

— Na real… parece que tudo em você é grande. Volumoso até demais, né?

Arthur riu, balançando a cabeça devagar.

— Não é bem assim, não… — disse, meio sem jeito, mas com um sorriso divertido nos lábios. — Nem tudo é o que parece.

Ficamos uns segundos em silêncio depois disso, o clima pendendo entre o descontraído e o tenso. E aí, do nada, ele soltou:

— Minha ex não curtia oral.

Virei o rosto pra ele, com a expressão mais confusa possível.

— Tá, mas… por que você tá me dizendo isso?

Ele deu de ombros, ainda olhando pra frente.

— Sei lá. Me veio à cabeça.

Fiquei observando ele por um tempo, tentando entender qual era a dele. Cada frase que saía da boca dele parecia medir o terreno, ver até onde podia ir.

Arthur ainda olhava pro nada quando eu soltei:

— Engraçado isso… porque eu amo fazer oral.

A frase saiu com naturalidade, como quem fala do clima ou de um prato favorito. Mas eu sabia exatamente o que estava fazendo. Vi os olhos dele se arregalarem um pouco, e continuei:

— Não entendo como a sua ex não gostava… Mas, sei lá, gosto é gosto, né? — acrescentei, rindo e coçando a cabeça, como se estivesse tirando o peso da frase.

Arthur ficou quieto por alguns segundos. Quieto demais. Foi quando reparei no jeito como ele ajeitou a postura, como quem tenta disfarçar algo. O olhar dele agora evitava o meu, e o silêncio disse mais do que qualquer palavra.

— Faz séculos que eu não sei o que é isso… — ele soltou, quase num sussurro, olhando pra frente, como se estivesse confessando um segredo proibido.

Virei o rosto devagar, analisando cada detalhe do rosto dele. Aquela pose de machão começando a rachar, deixando escapar algo mais... humano. Ou carente.

Olhei nos olhos dele, direto, e sem pensar duas vezes, deixei minha mão escorregar por cima da coxa dele, descendo com calma até o centro do volume evidente na bermuda.

— E você… quer? — perguntei com a voz baixa, firme, quase desafiadora.

Arthur me encarou por um segundo, os olhos cheios de tensão, desejo e confusão. Então, ele sussurrou:

— Quero.

O ar entre a gente parecia mais denso agora, como se o mundo lá fora tivesse ficado em segundo plano.

Não houve palavras, só olhares. E o silêncio dizia tudo. Arthur se encostou mais na grama, respirando fundo, e eu fui até o fim.

O corpo dele tremia, os músculos se contraíam, e ele soltava uns suspiros baixos, como se estivesse perdendo o controle por completo. Quando acabou, ele ficou ali de olhos fechados, como se estivesse tentando processar o que tinha acabado de acontecer. E eu… me sentei de novo, observando tudo.

— Às vezes… — ele começou, ainda com a voz rouca — a gente só complica tudo. No fundo, era só deixar as coisas fluírem, né?

— Pois é — respondi, ainda ofegante, mas com a mente a mil. — O problema é que a gente vive se colocando barreira, se sabotando. Quando vê, passou uma vida inteira sem fazer o que queria. - Respondi com certa dificuldade, pois os cantos da minha boca ainda ardiam devido a grossura e ao tamanho do pau do Arthur!

Arthur ficou me olhando por alguns segundos. Depois, do nada, me puxou de leve. Meu corpo foi com ele, meio sem saber o que esperar, e antes que eu reagisse, ele me abraçou forte. Um abraço apertado, quente, de alguém que não queria soltar. E então, como se aquilo não fosse nada demais, ele encostou os lábios na minha testa e disse:

— Eu preciso ir.

Se levantou e antes de ir , lançou um último olhar confuso, como se ele mesmo não entendesse tudo aquilo. Partiu sem mais uma palavra.

Fiquei ali, sentado na grama, sentindo o cheiro dele ainda no meu corpo e com um nó na cabeça.

Por um lado, eu queria rir. Porque tudo estava indo conforme o plano. Arthur estava se aproximando, baixando a guarda, entregando as armas. Mas por outro lado… aquele abraço, aquele beijo na testa… Aquilo me desarmou.

E pela primeira vez desde que voltei pra essa cidade, eu me perguntei:

*Será que eu tô realmente pronto pra destruir alguém, que agora começa a mostrar um lado que eu nunca imaginava ter?*

Continua....

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Comentários

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Gostei deste capítulo, como já disse em outro comentário, acredito que o Arthur na realidade sempre desejou o Pedro, e, agora acredito que está revendo um novo rumo em sua vida e já demonstrou que pode mudado, ainda me preocupa é o Fabio, o Mateus e o personal e todos os outros personagens que acredito todos estarem tramando ou escondendo algo. Pedro se Arthur te encontrar novamente de a chance que ele precisa.

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No primeiro capítulo o Flávio aparece do lado de fora da casa do Pedro, provavelmente tocou fogo na casa dele com ele dentro, logo ele não é boa pessoa!

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Cara, me julguem... mas, eu perdoaria o novo Arthur, somente se ele for essa nova pessoa que ele se mostra, agora quem não merece perdão e merece a pior vingança, são Mateus e o Pao dele, o qual provavelmente ele vai perdoar!.

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A história abre uma questão muito interessante: destruir ou construir...?

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Pensei igual a ti, Xandão. E como diz o verso da canção...

"O amor quando acontece, a gente esquece logo que sofreu um dia."

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