Narrado por Gabriel
Minha cama estava fervendo e não conseguia dormir. E toda vez que fechava os olhos, via ele — o padre, pelado no pátio, o sol batendo no peito molhado, o pau balançando livre enquanto me olhava e ria.
— Sou só um homem — ele tinha dito, a voz grave cortando o ar.
Fiquei parado, a faca caindo, o corpo tremendo feito um idiota.
Levantei da cama, o suor grudando a camiseta de tecido fino na pele, o coração batendo rápido demais. Não dava pra ficar ali, pensando nele, no jeito que os dedos dele roçaram os meus quando pegou o sabão, no calor que subiu e não saiu mais. Fui pra sacristia, os pés descalços na pedra fria, o corredor escuro engolindo o som dos passos. Precisava fazer alguma coisa, qualquer coisa, pra tirar ele da cabeça.
Entrei na sacristia. O ar cheirava a mofo e cera velha, o silêncio pesando como se a noite tivesse parado. Peguei duas velas na prateleira, as mãos tremendo enquanto riscava o fósforo. A chama subiu fraca, jogando sombras tortas na parede. Acendi as duas, coloquei na mesa lascada, a luz amarela tremendo, mal iluminando o canto. O cálice tava lá, opaco. A jarra vazia ao lado, os paramentos dobrados no canto, amarelados, com cheiro de naftalina. Resolvi organizar aquilo. Passar o tempo. Acalmar a cabeça.
Peguei a estola branca, o linho áspero na mão, comecei a alisar as dobras, os dedos suados deixando marcas no tecido. Era uma tarefa besta, mas precisava daquilo — de algo pra segurar, pra não pensar no peito dele, nos músculos duros, na água escorrendo pelas coxas enquanto ele me olhava e falava como se soubesse tudo.
Sentei na cadeira, a madeira rangendo, e puxei o missal, abrindo nas páginas do dia. Tentei ler, murmurar uma prece, pedir perdão pelo que tava sentindo, mas as palavras embolavam na cabeça.
— Senhor, dai-me força — sussurrei, a voz saindo baixa, quase engasgada.
Mas o calor subia mesmo assim, um nó na barriga que não ia embora. A imagem dele voltava, mais forte — o jeito que a batina caiu na poeira, o pau endurecendo no sol, os olhos escuros me pegando como se eu fosse dele. O corpo traiu. O pau ficou duro na calça, um pulsar que não dava pra parar. Ajustei a perna, tentando esconder, mas a luz das velas tava ali, fraca, mas o suficiente pra mostrar tudo se alguém entrasse.
Levantei rápido, o coração disparado, e voltei pros paramentos, dobrando com força, como se pudesse esmagar o que tava sentindo. O vento soprou lá fora, um som baixo entrando pela janela rachada, misturado ao canto rouco de um galo longe. A sacristia parecia viva, as sombras dançando na parede, o cheiro de cera quente subindo das velas. Peguei a casula, o tecido pesado escorregando nas mãos, e tentei focar — alisar, dobrar, guardar. Mas o calor não parava. O pau duro apertava a calça. Um arrepio subiu pela espinha. O cuzinho piscou, leve, um tremor que não controlava, e mordi o lábio, o rosto queimando.
O padre estava na minha cabeça — pelado, a água pingando, a voz grave dizendo "compartilhamos partes em comum". Eu sabia que era pecado, que era errado, mas o corpo não ouvia. A pele arrepiou inteira, os pelos do braço em pé. Deixei a casula cair na mesa. As mãos tremiam demais pra segurar.
Fiquei parado. O peito subia rápido. O ar saía em pedaços. Tentei rezar de novo, "Pai Nosso", mas as palavras morriam na boca, engolidas por ele. O frio na barriga virou um buraco. E então senti antes de ouvir — um som no corredor. Passos pesados, lentos, vindo pra cá. Era ele.
Sabia pelo jeito que o chão tremia, pelo calor que subiu no ar antes mesmo de ver a sombra na parede. O pau ficou mais duro. O cuzinho piscou de novo, mais forte, um arrepio cortando as costas. Ajustei a camiseta, tentando cobrir, mas as velas jogavam luz no meu colo. Ele podia me ver. Qualquer um podia.
A sombra dele caiu primeiro, longa, escura, engolindo a luz das velas. Entrei em pânico. Tentei esconder a ereção, mas não dava. Ele tava ali, só de calça, de peito nu, os pelos escuros brilhando na luz fraca, os olhos castanhos me pegando como um anzol. Não disse nada. Só ficou me olhando, e eu sabia: ele via tudo. Via o volume. Via o que eu não conseguia parar.
Meu cuzinho piscou de novo, mais forte. A respiração ficou presa. Ele deu um passo. O calor dele me acertou como um soco. Os olhos dele sabiam. Sabiam tudo. O que fiz ontem, deitado na cama, a mão suada entre as pernas, o nome dele preso na garganta.
— Não consegue dormir? — perguntou, a voz grave roçando o ar, cada sílaba um peso.
Levantei os olhos.
— Não, padre.
Ele assentiu. Os olhos desceram. Pararam no meu colo. O pau pulsou. Virei de lado, fingindo mexer na estola, mas as mãos tremiam. Ele se inclinou na mesa, os dedos longos perto da vela. A chama tremeu.
— Tá quente hoje.
— É.
Um riso baixo, grave, que vibrou na pele, veio dele. A sacristia parecia pequena, o ar grosso. Tentei pensar em Deus. Mas só via ele.
Em um passo ele chegou mais perto. Meu corpo cedeu. As pernas ficaram moles.
— Gabriel — disse, e levantei os olhos, o rosto em chamas.
Quando ele ia falar mais, um som veio do pátio — passos leves, fora de lugar, um ruído seco na terra que não era o vento.
A tensão se quebrou. Olhei pra janela. O vidro rachado refletia as velas. Não dava pra ver nada.
— Tem alguém aí. — murmurei.
O padre ficou quieto, os olhos estreitos. Larguei a estola. Peguei uma das velas. Fui pra janela. Lá fora, vi. Uma sombra magra, longa, andando entre as mesas da festa. Não era vento. Não era bicho.
— Vou ver quem é. — disse, mais pra mim mesmo.
Cheguei à porta.
A mão tremia na madeira.
O coração martelava no peito.
E aí ele me pegou.
Um braço no peito. Fui puxado pra trás. O corpo dele colou no meu. Quente. Duro. A outra mão cobriu minha boca. Os dedos firmes me silenciaram.
— Fica quieto, Gabriel. — ele sussurrou, o hálito quente no meu pescoço. — Não faz barulho.
O som dele em mim. A voz grave entrando no corpo. O pau dele pressionando minha bunda através da calça. O meu pulsando na calça. O cuzinho piscando de novo. Rápido. Um arrepio que me desmontou. De repente já nem ligava para quem estava lá fora.
Éramos só nós dois.
A vela caiu. O fogo apagou com um chiado. A sacristia ficou escura. Só uma vela acesa.
Ele me segurava. Firme. Fiquei ali. Preso nele. A mão dele na minha boca. A respiração saindo em pedaços pelo nariz. O peito colado nas costas. O pau dele duro. Latejando.
— Quem tá aí? — murmurei contra os dedos.
Ele apertou mais.
— Shh. Quieto.
O som lá fora voltou. Passos. Um sussurro rouco. Parecia alguém falando sozinho.
O medo e o tesão brigavam dentro de mim. E eu sabia — ele sentia tudo. Cada tremor, cada pulsar, cada arrepio. E eu tava ali. Entregue. Silenciado. A pele arrepiada. O corpo em chamas.
E o que quer que estivesse lá fora... não fazia ideia do que acontecia aqui dentro.
Dava pra sentir, no jeito que ele me segurou rápido, no tremor leve do braço dele, que ele também tava assustado. O coração dele batia forte nas minhas costas. O meu também. O meu pau pulsava na calça, a ereção voltando com força, o cuzinho piscando sem parar, num tremor que não controlava.
— Fica quieto. — ele sussurrou outra vez, a voz grave roçando o pé do meu ouvido. O hálito quente no meu pescoço.
O padre estava até com medo do que tinha lá fora, mas seu corpo não conseguia mentir. O pau duro me dizia o que eu já sentia. O que eu já queria. O tesão brigava com o pânico, me engolindo inteiro enquanto os passos lá fora paravam.
A mão em minha boca tinha os dedos quentes, firmes, cheirando a suor e sabão. Já meu corpo o sentia por inteiro. O peito subindo rápido contra minhas costas. O suor grudando na minha camiseta. A respiração pesada. A ereção dele pressionando minha bunda como se não pudesse evitar. Ele era tensão pura. E ainda assim, me prendia como se eu fosse o único ponto fixo no caos.
— Quem é que tá aí? — gritou o padre.
— Cadê meu facão?! — responderam do lado de fora. Uma voz arrastada. Bêbada. Desgastada de cachaça.
Seu João. O ferreiro. O mesmo que olhava torto desde que o padre chegou.
— Deixei aqui ontem, porra...
O medo caiu do peito. O alívio entrou feito ar fresco.
Senti o padre relaxar atrás de mim. O braço afrouxou. A mão escorregou devagar da minha boca, meu lábio inferior sedendo e molhando seus dedos. Os dedos roçaram meu queixo, quentes, úmidos, suados. Mas a pélvis dele... ainda tava ali. Encostada. O pau ainda duro. E eu sentia. O medo dele. O tesão. Misturados. O corpo dele não conseguia mentir.
— Era ele. — murmurei, a voz falhando. O suor escorria na minha testa.
Ele riu baixo. Um som grave, abafado, vibrando nas minhas costas. E o arrepio subiu inteiro pela espinha.
Me soltou. Devagar. O braço caiu. A pélvis se afastou da minha bunda. Mas o calor ficou. Grudado em mim como se ele ainda estivesse ali. Peguei a vela na mesa. A chama tremia na minha mão suada. Fui até a porta da sacristia, o coração ainda correndo. O pau duro na calça. O cuzinho piscando mais leve agora, como se lembrasse, como se pedisse.
O padre ficou atrás. Quieto. Mas eu sentia os olhos dele me seguindo. Queimando minha nuca.
Abri a porta. O ar frio da madrugada bateu no rosto. A vela jogou um círculo fraco de luz no chão de terra. Lá fora, Seu João cambaleava entre as mesas desmontadas da festa. A barba grisalha brilhava no clarão da lua.
— Seu João. — chamei, a voz rouca.
Virou-se devagar. O rosto franzido, o olho perdido no escuro.
— Gabriel...? Que cê tá fazendo aí, rapaz?
— Vai pra casa, Seu João. Não tem facão nenhum aqui. Tá tarde.
Alguma coisa foi resmungada por ele sobre a festa, virou o corpo, e sumiu de volta pela estrada poeirenta.
Fiquei ali. O peito subindo e descendo. A vela tremendo. O suor colando a camiseta nas costas. E o calor dele ainda em mim. A pélvis dele na minha memória. O pau duro que senti sem querer — mas que agora não queria esquecer.
Voltei pra sacristia. A porta rangendo no escuro. O ar quente e espesso me engolindo de novo. E ele tava lá, encostado na mesa. O peito exposto, os olhos brilhando no reflexo da vela. Meu coração disparou de novo. O pau pulsou. O cuzinho piscou, querendo, querendo tudo que o corpo ainda não tinha esquecido.
— Era só o seu João. — murmurei, largando a vela na mesa.
Vagarosamente ele assentiu. Olhos nos meus. Silêncio.
— Tá tarde — consegui dizer, baixo, quase um sussurro.
Meus olhos fugiram dos dele. Mas ele não respondeu. Só ficou parado. Esperando. Como se soubesse que eu não ia fugir. A vela tremia. A luz projetava o rosto dele na parede. Esculpido em sombra e fogo. E eu sabia que aquilo — o toque, o medo, o calor entre nós — tava vivo. Tava crescendo.
E não ia parar ali.