Narrado pelo Padre
A cidade grande pulsava como um coração sujo, cheio de veias entupidas de pecado e promessas. Aqui, o barulho cobria tudo — carros rugindo nas avenidas, vozes gritando nos becos, o som abafado dos corpos se chocando em quartos baratos. A igreja ficava no meio disso, um bloco de pedra cinza espremido entre prédios altos, vitrais sujos filtrando a luz de neon. Cheguei há dez anos, um jovem padre recém-ordenado, a batina ainda cheirando a novo, os votos queimando na língua como brasas. Achava que podia salvar almas. Engano meu. As almas aqui não queriam salvação — queriam ser devoradas.
A paróquia era grande, uma máquina viva de missas lotadas, confissões intermináveis e fiéis que me olhavam com uma mistura de reverência e desejo. Homens de terno caro apertavam minha mão com força demais, mulheres de perfume doce roçavam os dedos no meu braço ao pedir bênçãos. Mas eram os jovens que me testavam. Rostos lisos, olhos famintos, corpos magros que se curvavam nos bancos como se me implorassem para quebrá-los. Cada olhar era uma tentação, cada confissão um convite. "Padre, pequei em pensamento," diziam, a voz tremendo, e eu imaginava aqueles lábios se abrindo para mim, aquelas mãos frágeis se rendendo sob o peso das minhas.
Resistia. No começo, resistia. Passava noites na sacristia, o terço cortando os dedos enquanto rezava até o suor escorrer pela testa. O desejo vinha em ondas, quente, viscoso, subindo pelo peito como uma febre que não cedia. Via-os na minha mente — os ombros estreitos, as coxas tensas, os pescoços expostos quando se ajoelhavam no confessionário. Queria agarrá-los, dobrá-los, sentir a carne ceder sob as mãos, ouvir os gemidos abafados contra o chão frio. Mas segurava a cruz no peito e engolia o fogo, deixando apenas cinzas na boca. A cidade grande não perdoava fraqueza, e eu não seria o padre que caía.
Os anos passaram, e a luta ficou mais suja. Não era só resistir — era sobreviver. A paróquia crescia, minha voz ecoava nos sermões, enchendo o espaço com palavras de redenção que eu mal acreditava. Tornaram-me líder, confiaram-me os segredos mais escuros da diocese. Bispos me chamavam para jantares em apartamentos caros, copos de uísque tilintando enquanto falavam de política e poder. "Você tem presença," diziam, os olhos brilhando com algo que não era só admiração. Sabia o que queriam, mas mantinha a máscara — batina impecável, olhar firme, mãos cruzadas para esconder o tremor.
Então veio Daniel. Ele apareceu numa missa de sábado, fim de tarde, a igreja quase vazia. Sentou-se no último banco, a cabeça baixa, o cabelo castanho caindo sobre os olhos. Magro, pele clara, uma fragilidade que chamava como um farol na escuridão. Tinha uns vinte anos, talvez menos, o corpo ainda preso entre menino e homem. Levantou o rosto quando falei do altar, e os olhos verdes me acertaram — brilhantes, famintos, pedindo algo que ele nem sabia nomear. Terminei o sermão com a voz rouca, o terço apertado na mão, mas já sentia o calor subindo, o pulsar baixo que não controlava mais.
Ele voltou. Todas as semanas. Sentava mais perto, os dedos tamborilando nos joelhos, o olhar seguindo cada movimento meu. Confessava pecados pequenos — mentiras, pensamentos impuros —, a voz tremendo enquanto descrevia sonhos que eu sabia que eram sobre mim. "Padre, não consigo parar," sussurrava, e via-se os lábios entreabertos, o pescoço fino exposto, a respiração acelerada contra a grade do confessionário. Cada palavra era um fio que me puxava, e eu lutava, mas o terço não segurava mais — escorregava, inútil, entre os dedos suados.
A queda veio numa noite de chuva. Ele bateu na porta da casa paroquial, o cabelo molhado colado na testa, a camisa fina grudada no peito magro. "Preciso falar, padre," disse, os olhos verdes brilhando na luz fraca do corredor. Deixei-o entrar, sabendo que não deveria. O cheiro dele — terra molhada, pele quente — encheu o espaço, misturado ao da minha batina. Sentou-se na cadeira do escritório, as mãos inquietas, e começou a falar de culpa, de desejos que o queimavam. Levantei-me, as pernas pesadas, e parei atrás dele. O silêncio caiu, só o som da chuva batendo nas janelas.
Toquei o ombro dele. A pele cedeu sob os dedos, macia, quente, e o ar mudou. Ele levantou o rosto, os olhos arregalados, a boca entreaberta como se já soubesse o que vinha.
— Padre... — sussurrou, mas não terminou. Agarrei o cabelo castanho, puxei a cabeça para trás, expondo o pescoço. O gemido que escapou dele foi baixo, trêmulo, e o som me atravessou como uma faca. Não havia mais volta. O terço caiu no chão, a cruz batendo na madeira com um estalo seco.
Levei-o para o quarto, a porta fechando com um clique que ecoou na casa vazia. Ele tremia, mas não resistia — seguia, os passos hesitantes atrás dos meus, o corpo já se curvando antes que eu mandasse. Joguei-o na cama, o colchão rangendo sob o peso leve. As mãos dele agarraram os lençóis, os dedos brancos de tensão, e subi sobre ele, a batina roçando a pele nua enquanto arrancava a camisa molhada. O peito magro subia e descia rápido, os mamilos endurecendo no ar frio, e passei os polegares ali, sentindo a carne reagir, o corpo inteiro dele se arqueando para mim.
— Por favor — murmurou, a voz quebrada, os olhos verdes me implorando.
A palavra me incendiou. Agarrei os pulsos dele, prendi-os acima da cabeça com uma mão, o peso do meu corpo mantendo-o no lugar. A outra mão desceu, abrindo o cinto, arrancando o jeans com um puxão seco. Ele gemeu alto, o som ecoando no quarto, e senti o pau pulsar contra a batina, duro, faminto, impossível de ignorar. A pele dele era macia, quente, as coxas tremendo quando as forcei a se abrir. O cheiro subiu — suor, desejo, algo doce e sujo que me puxava mais fundo.
Não havia delicadeza. Tirei a batina, o tecido caindo no chão, e o peso do meu corpo o esmagou contra o colchão. Ele se contorceu, os quadris subindo para me encontrar, e agarrei a cintura fina, os dedos afundando na carne. O pau dele estava duro, pequeno contra o meu, e o esfreguei com a palma, sentindo o calor, o pulsar, o gemido que escapava a cada toque.
— Padre, por favor. — repetia, a voz mais alta agora, desesperada, e eu sabia que ele era meu — inteiramente meu.
Ajoelhei-me entre as pernas dele, o colchão afundando, e puxei as coxas para cima, expondo-o. A entrada era apertada, rosada, tremendo enquanto passava os dedos ali, sentindo a resistência ceder devagar. Ele gritou, o som abafado contra os lençóis, e não esperei mais. Cuspi na mão, espalhei o líquido quente, e posicionei a ponta do meu pau contra ele. O calor me engoliu, a pressão quase insuportável enquanto forçava a entrada. Ele se contorceu, as mãos agarrando os lençóis, mas não resistiu — abriu-se, o corpo cedendo como se tivesse sido feito para isso.
Entrei devagar, sentindo cada centímetro, a carne apertada me envolvendo, quente, úmida, viva. O gemido dele virou um grito, os olhos verdes arregalados, cheios de lágrimas e algo mais escuro — entrega. Segurei os quadris com força, as unhas marcando a pele, e comecei a me mover. Cada estocada era firme, profunda, o som da carne batendo contra a carne enchendo o quarto. O suor escorria pelo meu peito, pingando sobre ele, e eu sentia o pau pulsar dentro, o prazer subindo em ondas que não controlava mais.
Ele se arqueava, os gemidos virando súplicas, o corpo tremendo sob o meu. "Mais," murmurava, a voz rouca, e eu dava — mais forte, mais fundo, até o colchão ranger alto, até as paredes parecerem tremer com o som. O calor dele me consumia, a carne se moldando ao meu pau, e eu sabia que ele sentia cada estocada, cada pedaço de mim marcando-o por dentro. Segurei o pescoço dele, os dedos apertando leve, sentindo o pulso acelerar sob a pele fina, e os olhos verdes me encararam, brilhando com algo que não era mais medo — era devoção.
O clímax veio rápido, brutal. O prazer explodiu, quente, visceral, e gozei dentro dele, o pau pulsando enquanto o enchia, o líquido quente escorrendo para fora quando puxei devagar. Ele tremia, o corpo mole contra os lençóis, o peito subindo e descendo em respirações curtas. Levantei-me, o suor escorrendo pelas costas, e joguei a batina sobre os ombros. Ele ficou ali, exposto, os olhos verdes me seguindo, mas não disse nada. Lá fora, peguei o terço do chão, os dedos ainda quentes, e voltei ao quarto.
— Vá embora — falei, a voz fria, sem olhá-lo.
A porta bateu atrás dele, o som ecoando na casa vazia.
***
A manhã seguinte trouxe o caos. Acordei com o som de sirenes, o barulho cortando o silêncio da casa paroquial. Vista da janela, a rua estava cheia — policiais, curiosos, uma ambulância parada perto da ponte que cortava o bairro. Desci, a batina limpa cobrindo o suor da noite, e ouvi os murmúrios antes de ver o corpo. Daniel. Estendido na margem do rio, a pele pálida marcada por arranhões profundos, rasgos que pareciam de garras, o sangue seco manchando a terra. Os olhos verdes estavam abertos, vidrados, olhando para o céu cinza.
A multidão falava baixo, as mãos cobrindo a boca. "Um animal," diziam. "Alguma coisa o pegou na ponte." Os policiais refaziam os passos dele, interrogavam os moradores, mas ninguém olhava para a casa paroquial. Ninguém sabia que ele esteve lá, que saiu cambaleando na chuva depois de eu tomá-lo, depois de eu marcá-lo de formas que ninguém viu. O terço pesava no bolso, a cruz fria contra a coxa, e eu fiquei na sombra, o rosto imóvel, o peito vazio.
A investigação durou semanas. Arrastaram o rio, interrogaram bêbados e prostitutas que rondavam a ponte, mas os passos de Daniel paravam na chuva, na escuridão, como se o chão o tivesse engolido. Um lobo, disseram. Um cachorro selvagem. As marcas não mentiam. Ninguém perguntou por mim. Ninguém viu a porta da casa paroquial se abrir na madrugada, ninguém ouviu os gemidos que ele soltou ao fodermos. O segredo ficou comigo, preso na carne, no cheiro que ainda sentia nas mãos mesmo depois de lavá-las mil vezes.
Ele me assombrava. Não era culpa — não sentia culpa. Era o vazio. O corpo dele na ponte, os olhos verdes que me adoraram na cama agora mortos na terra, o silêncio que deixou onde antes havia gemidos. Tinha-o possuído, dobrado, feito dele minha obsessão por uma noite, e ele me deu tudo — até o fim. Mas o fim veio rápido demais, sujo demais, e eu não podia ficar. A cidade grande me engolia agora, os prédios altos fechando o céu, o barulho me sufocando com cada sirene que passava.
Abandonei tudo. A diocese aceitou o pedido de transferência ao saberem da morte de um padre e sem perguntas — um padre exemplar como eu precisava de descanso, diziam. Arrumei a mala, a batina dobrada sobre o terço, e parti para a cidadezinha. O interior prometia silêncio, isolamento, um lugar onde o desejo não me encontrasse. Mas enquanto o carro roncava pela estrada, os olhos verdes ainda me seguiam, brilhando na escuridão da memória, pedindo mais, mesmo na morte.