Seu colo, meu lar!
Capítulo 02
Estou aqui, observando cada movimento de meu amigo enquanto conversamos. Miguel de lembrou do meu sabor favorito de sorvete ㅡ chocomenta ㅡ ele sempre brincava, dizendo que tinha gosto de creme dental.
Estranho, que mesmo depois de muito tempo sem nos vermos, ainda consigamos manter uma excelente conexão. Não ficamos um minuto sem um assunto sequer. Incrivelmente conseguimos transitar entre variados assuntos, até ele me contar como ganhava a vida.
Miguel sonhava cursar Engenharia Civil. Era seu sonho seguir os passos de seu pai, avó e bisavô. Pelo o quê ele está me dizendo, seu sonho se tornou realidade.
Enquanto ele se orgulha de si mesmo por se tornar o quê sempre desejou, eu assisto um filme em meus pensamentos de como ele se importava comigo quando éramos crianças.
Nossa diferença de idade é muito pequena. Miguel é somente dois anos mais velho que eu. Isso tornou nosso laço ainda mais forte.
Ele sempre me protegia na escola quando me via em alguma situação de desconforto com outros garotos, por eu ser mais retraído.
Já faz uma hora e meia desde que chegamos na sorveteria e minha vontade é de perguntar se ele está com alguém. Será que é muito invasivo? Acho melhor deixar pra lá. Se fosse relevante, ele já teria dito.
Um pouco de mim está desejando que ele seja solteiro; só não entendo o motivo.
ㅡ Eu tô aqui falando e falando, me conta um pouco do que você tem feito. A gente se perdeu depois do Ensino Médio. Mas sabe, André, eu não me esqueci de você. É tão estranho que, mesmo morando na mesma cidade, fiquemos tantos anos sem nos ver.
ㅡ Não há muito o quê dizer sobre mim. Me formei em Letras, sou professor, trabalho em escola pública e quando me sobra tempo, dou aula particular de Inglês. Moro sozinho. Imagino que não saiba sobre o falecimento de minha mãe. Você soube?
ㅡ Eu sinto muito. Fiquei sabendo por alto, pela minha mãe. Desculpe por não entrar em contato. Quando foi que acabamos nos perdendo desse jeito? A gente não se desgrudava. Sinto muito por isso também.
ㅡ Eu não sei! Mas não vejo motivo para remover isso agora. Só seguimos caminhos opostos e, olha só pra gente, aqui, depois de tanto tempo?! O importante é o presente e eu estou muito feliz revendo você.
Percebi um leve sorriso escapando por entre seus lábios. Ele também se sente feliz?
Miguel apenas concordou com tudo o quê eu disse. Ele está girando a colher procurando por um resquício de sorvete. Talvez eu deva perguntar se ele quer mais.
ㅡ Você quer mais? Esse é por minha conta. ㅡ Pergunto e ele travou os olhos em mim.
ㅡ Não quero mais, obrigado. Quero seu número de telefone. Seria terrível te perder novamente.
ㅡ Tudo bem! Pode mandar mensagem quando quiser.
Não sei o quê está acontecendo. Será que eu disse algo estranho para ele me olhar assim? Anda sinto seus olhos em mim.
Miguel novamente travou seu olhar no meu, o que é muito estranho, porque não consigo sustentar por muito tempo encarar seus olhos da mesma maneira que ele encara os meus. Me sinto despido, invadido e desconcertado. O que eu fiz de errado?
ㅡ Não me leve a mal, mas você não mudou muito desde aquela época. Sempre tímido, retraído e com o olhar perdido. Jamais será um defeito, mas continua sendo um mistério pra mim. Se bem que hoje, você falou mais do que todas as vezes que passamos juntos quando éramos crianças.
ㅡ Você está exagerando. A gente sempre conversavabe muito.
Ele está rindo e eu entendo o motivo. Quando criança, eu sempre fui calado e ele era quem passava a maior parte do tempo conversando comigo.
ㅡ Eu conversava! Sabe, André, talvez seja por isso que nos dávamos tão bem. Eu sempre quis ser ouvido por alguém e você sempre estava lá. Enfim, quero que continuemos amigos. Por favor, não desapareça! Promete?
ㅡ Prometo!
Seu sorriso está deixando bem claro que ter me encontrado o deixou muito feliz.
Trocamos números de telefone e estamos nos despedindo. André sempre foi afetuoso e esse abraço quase que sufocante, está me deixando atordoado e me fazendo perder os sentidos.
Não entendo porque me sinto assim entre seus braços, mas a sensação de tê-lo junto ao meu peito é magnífica.
Ele está indo embora, agora. Teimoso, pagou a conta e disse que eu pagaria a próxima. Então, haverá mesmo um outro dia?
Ainda tenho um tempo de sobra que posso preencher com uma ida rápida à livraria.Tenho uma amiga que trabalha no café ao lado e posso muito bem fazer uma visita depois de comprar um alguma coisa.
Enquanto caminho, só consigo pensar naquele sorriso que há muito tempo eu não via; os olhos castanhos avermelhados me encarando, e os braços me apertando forte enquanto a gente se despedia.
Eu nem ao menos fiz a pergunta que eu tanto queria; saber se existe alguém em sua vida ou se está vazia como a minha. Impossível! Diferente de mim, Miguel sempre foi muito sociável e todos os adoravam. Mas ainda continuo sem saber. Deixarei para perguntar na próxima vez que nos vermos.
Queria entender o quê está acontecendo comigo nesse momento. Trazer de volta lembranças da minha infância ao lado de Miguel, está me fazendo ter sentimentos e sensações que jamais imaginei sentir. Talvez seja a saudade quebme arrebatou assim que o vi.
Em um mundo onde éramos inseparáveis, ter ficando distantes por alguns anos, está me fazendo perceber o quanto ele me fez falta. Por onde andei todos esses anos que não o procurei? Onde eu estava que não me lembrei de continuar mantendo contato?
Será possível continuarmos amigos, depois de tanto tempo distantes?
Preciso ir para casa. Deixarei a visita à minha amiga pra um outro dia. Quero colocar meus pensamentos em ordem com um bom banho de água fria.
Sinto minha mente se revirando, como se meu cérebro estivesse se esvaindo.
E mesmo que ele não me ligue ou que jamais nos encontremos novamente, ainda sim guardarei na memória o seu sorriso.
Continua...
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