GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ [16] ~ TEMPESTADE

Um conto erótico de Lucas
Categoria: Gay
Contém 3502 palavras
Data: 12/04/2025 07:40:08

A tempestade chegou. Eu era apenas um adolescente e não sabia como reagir a tudo isso. Tudo era complicado, tudo era novo. Eu fiquei triste, chorei e me culpei — o único culpado era eu, e eu precisava arcar com essas consequências.

Fui eu quem havia feito o Luke sofrer. Fui eu quem aceitou os beijos do Carlos. Então comecei a me culpar e me sentir a pior pessoa do mundo. Eu não sabia o que fazer a não ser chorar. Chorava com meu rosto afundado no travesseiro, sentindo-me um lixo humano, um ser desprezível. Infelizmente, todas essas coisas passavam pela minha mente de jovem que acabara de ter seu coração partido.

Mandei mensagem para o Luke me desculpando, mas ele não respondia. Por um momento, fiquei preocupado com ele. Afinal, há quase dois meses, ele havia ido parar no hospital com uma falsa tentativa de suicídio. Comecei a me sentir ainda mais culpado. Se o Luke fizesse algo, seria algo que eu não iria suportar.

O vazio crescia dentro de mim, como uma sombra que se espalha lentamente. Mandei mensagem para a mãe do Luke para saber se ela ou ele estavam em casa.

— Estou trabalhando — respondeu ela.

Mandei outra mensagem pedindo para ela falar com ele e saber se estava tudo bem.

— O que houve? — perguntou ela.

— Nós terminamos. O Luke saiu chorando da minha casa e estou preocupado.

Momentos depois, ela me mandou mensagem dizendo que estava indo para casa, que havia falado com ele e que aparentemente tudo estava bem. Só então consegui me tranquilizar um pouco.

Em meio a todo caos, acabei adormecendo. Acordei de madrugada, peguei meu celular e havia mensagem da mãe do Luke dizendo que ele estava bem, que eles conversaram e que eu poderia ficar despreocupado. Aquilo me deu um certo alívio. Fechei os olhos e voltei a dormir, com um peso menor sobre o peito, mas ainda carregando culpa em cada batida do coração.

Pela manhã, fui acordado pela minha mãe me chamando para ir à escola. Por um momento, pensei em não ir. Não queria encontrar o Luke ou o Carlos. Eu ainda estava digerindo tudo isso, as lembranças ainda cortavam como cacos de vidro. Mas eu não poderia me esconder para sempre. Um dia eu teria que enfrentar todos esses problemas.

Quando cheguei na escola, meu rosto estava abatido e atraiu alguns olhares, mas ninguém falou ou perguntou nada. Yan e Isaac vieram falar comigo e me deram um abraço. Disseram que o Luke havia falado com eles.

— Como ele está? — perguntei, a voz quase falhando.

— Ele está bem — responderam, mas havia algo nos olhos deles que não me convencia.

Finalmente entrei na sala. Carlos estava com seus amigos e me olhou normalmente, mas eu não conseguia olhar em sua direção. Eu era capaz de voar em cima dele e bater nele, mas não queria fazer isso novamente e ser suspenso como da última vez.

Logo depois, o Luke chegou e se sentou ao meu lado. Seu rosto estava normal, sem marcas de choro ou de insônia. Aparentemente ele estava bem, o que de alguma forma doía ainda mais. O vazio entre nós parecia uma parede invisível.

— Oi, Luke — falei baixinho, a esperança frágil na minha voz.

Ele não respondeu. Ignorou-me por completo, e foi isso que fez durante toda a aula. Aquela era a maneira do Luke me ferir: ele estava ao meu lado na aula e no recreio com nossos amigos, mas não dirigia uma palavra a mim. Eu insistia em falar ou puxar assunto, mas ele me ignorava completamente, e isso me machucava mais que qualquer grito ou acusação.

Cada minuto ao lado dele, sendo ignorado, era como uma pequena morte. O pior castigo não eram as palavras duras, mas o silêncio cortante que ele impunha entre nós. O Luke que eu conhecia, que sorria para mim e me fazia sentir especial, agora me olhava como se eu fosse invisível. E talvez, naquele momento, para ele, eu realmente fosse.

Quando acabou a aula fui para casa, almocei e fiquei deitado no meu quarto, até que o Yan me mandou uma mensagem.

— Olha o que o @GossipLEI84 postou — disse eleO Gossip era o perfil de fofoca do meu colégio. Corri para o perfil e abri as mensagens.

@gossiplei84

☀️ Bom dia, meus amores do LEI! Eita que o fds foi um bombardeio de babados, e como vcs sabem... eu não durmo no ponto 😏

Nosso time de vôlei foi até Mossoró e trouxe o troféu 🏆 (parabéns, meninos! 👏). Maaaas o que ficou mesmo foi o after no quarto 412 😳... ouvi dizer que rolou de tudo por lá, mas minhas fontes estão tímidas 🤐

Alguém quer me contar o que REALMENTE aconteceu? Manda aquele e-mail básico 😉📩

– xoxo, GossipLei 💋

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@gossiplei84

🔥 E por falar em quarto 412, soube que o clima entre UMA CERTA jogadora e UM CERTO alguém subiu a temperatura 🥵

Será que esse ano teremos mais uma aluna com chá revelação no intervalo da aula de bio? 👶🎀

OPS... esqueci que não posso falar daquela aluna do 3º ano que vive usando moletom no calor, né? 😶

– Sdds filtro de gravidez na água da escola 🍼

– xoxo, GossipLei 💅

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@gossiplei84

👀 Agora essa é de cair da cadeira... Fontes confiáveis (AKA minhas DMs) contaram que o capitão do vôlei, nosso queridinho Lucas 😍, depois que terminou com a Camille 💔...

Se jogou nos braços de um GAROTO 😱🌈

E já tô sabendo que a relação azedou na viagem 💥

Será que foi só fogo de rede ou teve bloqueio no coração tbm? 🏐❤️‍🔥

Esse campeonato trouxe mais que troféu... trouxe babado, confusão e gritaria!

– xoxo, GossipLei 🖤

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Devo admitir que apesar de eu sair no perfil do Gossip por ser uma pessoa popular, aquilo me trazia um certo alívio cômico. Afinal, as fofocas sobre a viagem, poucas pessoas sabiam realmente o que aconteceu, até porque na festa do quarto 412 não havia nenhuma garota. Acho que apenas especulam o que poderia ter acontecido. E sobre a aluna grávida, fiquei me perguntando se poderia ser a Camille, minha ex-namorada, mas eu torcia para que não.

Eram essas bobagens de escola que me faziam realmente me sentir no ensino médio: um perfil de fofocas. Apesar das pessoas darem valor a isso, mesmo eu tendo saído como um "gay" no perfil, não me preocupei com a minha imagem. Coisa que meses atrás me preocupava muito, agora pouco me importava se as pessoas sabiam ou achavam que eu era gay. Isso para mim não fazia mais tanto sentido. Como se as dores recentes tivessem me mostrado o que realmente importava, eu estava amadurecendo.

Durante a semana, o Luke permaneceu da mesma maneira. Ele me ignorava completamente. Eu tentava falar com ele, e ele me tratava como um invisível. Isso começou a me deixar mais triste ainda. Aparentemente, o Luke estava bem, ele estava lidando bem com tudo isso, mas infelizmente eu não estava. O peso de toda culpa caía sobre mim, pesado como chumbo. Quanto ao Carlos, ele se manteve longe. Nosso pouco contato era nos treinos de vôlei, mas eu o evitava ao máximo, afinal, estava com raiva de tudo o que ele havia feito. Cada vez que eu o via, sentia um misto de raiva e decepção que me consumia por dentro.

No final de semana, o Yan foi para minha casa. Estudamos para uma prova que teríamos na segunda, e depois ficamos jogando videogame e brincando com Thanos. Meu contato com o Yan aumentou depois do término; a gente passou a conversar mais e ele sempre me contava ou desabafava coisas que o Isaac fazia e nossa amizade foi se desenvolvendo. Era bom ter alguém com quem conversar, alguém que não me julgava.

No domingo, estava indo correr no meu condomínio, e quando desço do elevador dou de cara com a Camille, minha ex-namorada. O mundo parecia pequeno demais às vezes.

— Oi Lucas — falou ela sorrindo, como se nada tivesse acontecido entre nós.

— Você por aqui? — falei assustado.

— Vim para um aniversário no oitavo andar.

— Ah, beleza — falei sem nenhum assunto, querendo que aquele encontro acabasse logo.

— Me liga depois. Soube que você tá solteiro novamente. Vai virar um ex-gay? Se quiser, podemos voltar, eu aceito você — ela falou em tom provocativo, que me deu vontade de revirar os olhos.

— Camille, eu tenho certeza que não sou "ex-gay", e que a última coisa que eu quero nessa vida é me envolver com você. Você se mostrou ser uma pessoa da mesma laia do Carlos, ou pior. Vocês dois me dão nojo — as palavras saíram duras, carregadas de uma mágoa que eu nem sabia que ainda carregava.

— Nojo é você ser gay. Eu devia mandar tudo pro Gossip — sua voz tinha um veneno familiar.

— Manda, não tô nem aí.

— Nem aí pra sua reputação?

— Sim, tô nem aí. Pode mandar. Eu aproveito e mando também que usei você como disfarce, invento várias e várias coisas. Daí vamos ver quem vence essa guerra — não sei de onde tirei tanta coragem, mas o cansaço de fingir era maior que o medo.

— Você não seria capaz de fazer isso — ela hesitou, pela primeira vez.

— Se você acha que não, só não mexe comigo e dá licença.

E então saí e deixei a Camille para trás. Realmente eu pouco estava me preocupando com a opinião dela, ou do Gossip, ou de qualquer um que fosse. Eu estava triste, isso era um fato, mas não havia o que fazer. Eu não iria morrer por conta disso. E então fiz minha corrida e tentei colocar toda minha bagunça interna em ordem, embora cada passada parecesse não me levar a lugar nenhum.

Na segunda-feira, indo para a escola com minha mãe, ela me deu uma notícia que me pegou de surpresa.

— Marquei um psicólogo para você — ela disse, quase casualmente.

— Eu não preciso disso — contestei imediatamente, sentindo como se ela estivesse insinuando que havia algo errado comigo.

Ela então insistiu:

— Sim, você precisa. Você anda triste, não conversa nada, e isso seria melhor para você. E você não vai faltar. Será hoje às 17h, depois do seu treino de vôlei.

Pronto. Era tudo o que eu menos queria: um psicólogo. Eu não era doido, pensava comigo mesmo. Só que eu não sabia, mas aquela seria a melhor decisão que minha mãe havia feito por mim. Claro que para um adolescente não é fácil ser colocado numa terapia; aquilo caía como um insulto. Mas eu dependia da minha mãe e não poderia simplesmente não ir e correr o risco de ter minha mesada cortada.

Cheguei na escola ainda remoendo a ideia de ter que ir ao psicólogo. Como de costume, o Luke continuava me ignorando. Passamos pela aula de matemática e depois química, enquanto eu observava discretamente o perfil dele, tentando entender como ele conseguia seguir tão bem, como se nada tivesse acontecido. Será que ele não sentia nada por mim? Será que foi tão fácil para ele me esquecer?

No recreio, me sentei com Yan e Isaac. O Carlos estava com seu grupo habitual, rindo alto de algo que eu não conseguia ouvir. Parte de mim queria saber se em algum momento ele pensava em mim, se sentia qualquer remorso pelo que havia feito.

— Tudo bem, Lucas? — perguntou Yan, notando meu olhar perdido.

— Tudo. Só pensando na prova de história amanhã — menti.

— Você vai no treino hoje?

— Vou. Mas depois tenho que ir... — hesitei — ... resolver umas coisas com minha mãe.

Não queria contar sobre o psicólogo. Era como admitir uma fraqueza que eu não estava pronto para aceitar. O dia se arrastou como se as horas tivessem peso extra. No treino de vôlei, consegui evitar o Carlos na maior parte do tempo, embora às vezes nossos olhares se cruzassem. Havia algo nos olhos dele que eu não conseguia decifrar. Arrependimento? Desafio? Indiferença?

Quando o treino terminou, minha mãe já me esperava no carro. O caminho até o consultório foi silencioso. Eu observava a cidade passar pela janela, as pessoas andando normalmente, como se o mundo não tivesse parado para mim nas últimas semanas.

— Chegamos — disse minha mãe, estacionando em frente a um prédio comercial.

— Você vai entrar comigo? — perguntei, sentindo-me subitamente inseguro, como uma criança no primeiro dia de aula.

— Só para te apresentar ao Dr. Marcelo. Depois você fica sozinho com ele.

Subimos ao terceiro andar. A sala de espera era aconchegante, com cores neutras e uma música ambiente relaxante. Minutos depois, a porta se abriu e um homem de meia-idade, com óculos e um sorriso gentil, nos cumprimentou.

— Você deve ser o Lucas. Prazer em conhecê-lo. Eu sou o Dr. Marcelo.

Assenti com a cabeça, ainda resistente à ideia de estar ali. Minha mãe conversou brevemente com ele, assinou alguns papéis e se despediu, dizendo que voltaria em uma hora.

— Vamos entrar? — convidou o Dr. Marcelo, abrindo a porta do consultório.

Era uma sala simples, com dois sofás confortáveis de frente um para o outro, algumas plantas e estantes com livros. Não havia um divã como eu imaginava, baseado em filmes. O Dr. Marcelo me indicou um dos sofás e sentou-se no outro.

— Então, Lucas, como você está se sentindo por estar aqui hoje?

Dei de ombros.

— Não foi minha ideia.

— Entendo. Foi da sua mãe?

— Sim — respondi, olhando para as minhas mãos.

— E por que você acha que ela quis que você viesse?

Hesitei por um momento. Parte de mim queria ficar em silêncio, mas outra parte queria desabafar tudo o que estava preso na minha garganta.

— Porque eu terminei com meu namorado e estou triste, eu acho — as palavras saíram antes que eu pudesse contê-las.

O Dr. Marcelo assentiu, sem demonstrar qualquer surpresa.

— Você quer me contar um pouco sobre isso?

E então, sem saber exatamente por quê, comecei a falar. Sobre o Luke, sobre o Carlos, sobre a confusão dos últimos meses. As palavras fluíam como se uma represa tivesse sido aberta. Pela primeira vez em dias, alguém realmente me ouvia.

O Dr. Marcelo soube conduzir bem a consulta e eu, de certa forma, acabei falando coisas sem nem mesmo perceber. Ele sempre questionava algumas de minhas atitudes e perguntava o porquê de eu fazer aquilo. Anos depois eu descobri que a linha que ele seguia era terapia lacaniana, então todas as respostas estavam em mim. Ele fazia com que eu mesmo me desse a resposta para aquilo que eu perguntava. Óbvio que tudo isso não foi em uma única sessão; demorou bastante tempo para eu perceber e me abrir por completo, mas realmente foi uma das melhores coisas. Foi dado início para a terapia que mudaria minha visão de mim mesmo.

Durante a semana aconteceu o inesperado. Estava em casa de bobeira, não tinha tido treino, quando o Luke chega no meu apartamento. Me assustei quando a empregada falou que era ele que estava subindo, e fiquei sem entender. Meu coração disparou quando ele entrou no meu quarto e fechou a porta.

O Luke se aproximou de mim com um olhar que eu conhecia bem, me puxou para um beijo intenso e a gente acabou fazendo amor. Mas havia algo diferente. O Luke se manteve em silêncio o tempo todo, como se não estivesse realmente ali comigo. Quando terminamos, ele continuou mudo, sem dizer uma palavra, se vestindo como se eu nem estivesse no quarto.

— Não vai falar nada? Você chega assim do nada, me beija e vai embora? — perguntei, tentando esconder o tremor na minha voz.

— Sim — respondeu ele friamente, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

— Luke, precisamos conversar — implorei, sentindo um nó na garganta.

— Não tenho nada pra conversar com você. Só queria me divertir e usar você. É só pra isso que você serve.

Essas palavras foram duras comigo, como facas afiadas cortando o que restava da minha dignidade. No momento que o Luke saiu do quarto, me senti sujo, me senti um lixo humano por ter sido usado por ele. Mas na época eu achava que era o meu carma, era a minha sina por ter traído o Luke. Então absorvi mais culpa para mim e comecei a chorar, sentindo as lágrimas quentes escorrerem pelo meu rosto. E apesar da melhora que eu tinha tido com a terapia, ali eu acabara de entrar no fundo do poço, me sentindo a pior pessoa do mundo.

Foi assim que as próximas semanas se passaram. Eu estava triste e abatido, meu rendimento no vôlei caiu drasticamente. O técnico até me chamou para uma conversa particular, preocupado com meu desempenho, mas não consegui explicar o que estava acontecendo. A terapia ia me ajudando aos poucos, mas ainda era muito difícil. Era muita informação, muitos sentimentos confusos.

O Luke voltava para mim pelo menos uma vez por semana, me usava e ia embora, deixando para trás apenas o vazio e o cheiro dele nos meus lençóis. Meu sorriso não existia mais. Os dias se arrastavam, e mesmo quando estava com Yan e Isaac, me sentia solitário, como se estivesse olhando a vida através de um vidro embaçado.

Carlos me observava de longe às vezes, durante os treinos. Houve um dia em que ele tentou se aproximar, mas eu rapidamente me afastei. Não queria mais complicações na minha vida.

E então, no final de junho, numa das minhas sessões com Dr. Marcelo, eu finalmente acordei para a vida e tive o primeiro estalo de lucidez em meio a todo aquele caos.

— Como você se sente quando o Luke aparece no seu apartamento? — perguntou o Dr. Marcelo, com aquela calma habitual.

— Eu me sinto... — hesitei, procurando as palavras certas — ...esperançoso no início, como se talvez ele quisesse voltar. Mas depois, quando ele vai embora sem dizer quase nada, me sinto usado. Sujo.

— E por que você permite que isso continue acontecendo?

A pergunta pairou no ar por alguns instantes. Era simples, mas poderosa.

— Porque... porque acho que mereço? — respondi, mais como uma pergunta do que uma afirmação.

— Você acha que merece ser tratado assim?

— Eu o traí. Eu mereço sofrer por isso.

Dr. Marcelo ajustou os óculos e me olhou com intensidade.

— Lucas, todos nós cometemos erros. Você tentou se desculpar com o Luke?

— Tentei várias vezes, mas ele não queria ouvir.

— E agora ele aparece, tem relações com você, e vai embora sem dar satisfações. E você aceita isso como uma forma de punição?

Foi como se uma luz se acendesse na minha mente. Eu disse a mim mesmo que não podia me permitir ficar triste. Se eu errei e tentei consertar, e o Luke não quis aceitar minhas desculpas, era um problema dele e não meu. Se o Luke vinha e me usava como ele queria, e eu permitia, era um problema meu, porque eu permitia que ele me usasse.

— Não é justo comigo mesmo — falei finalmente, sentindo como se tivesse saído de um transe.

— O que não é justo?

— Me punir eternamente por um erro. Me deixar ser usado assim. Eu não sou... — minha voz falhou — ...não sou um objeto.

Aquilo foi como um estalo, uma revelação. Foi o método lacaniano que me fez abrir os olhos e começar a sair do fundo do poço onde eu estava me afogando.

Saí daquela sessão com uma sensação diferente. Era como se um peso tivesse sido retirado dos meus ombros. Não completamente, mas o suficiente para eu começar a respirar de novo. Caminhei pela calçada, observando as pessoas que passavam, as folhas das árvores balançando com o vento, o céu que começava a escurecer. Percebi que o mundo continuava girando e que eu precisava girar com ele.

Na semana seguinte, quando o Luke apareceu no meu apartamento, eu estava preparado. Ele entrou no meu quarto como sempre fazia, com aquela expressão fria que eu já conhecia tão bem.

— Não, Luke — falei, permanecendo na minha cadeira, distante da cama.

— Não o quê? — ele perguntou, confuso.

— Não vamos fazer isso de novo. Se você quer conversar comigo, tudo bem. Se quer voltar a ser meu namorado, podemos conversar sobre isso também. Mas não vou mais deixar você me usar e ir embora como se eu fosse nada.

Ele me olhou surpreso, como se não me reconhecesse.

— Desde quando você tem voz ativa? — ele zombou.

— Desde agora — respondi com firmeza, embora meu coração estivesse acelerado. — Você pode ficar bravo comigo pelo que aconteceu. Tem todo direito. Mas não tem o direito de me tratar assim.

O Luke ficou em silêncio por alguns segundos, me encarando.

— Tanto faz — ele disse finalmente, dando de ombros. — Tem vários outros caras querendo ficar comigo.

— Ótimo para eles — respondi, tentando manter a calma. — Mas eu não sou mais um deles.

Ele saiu do meu quarto batendo a porta. Quando ouvi o som do elevador, me permiti respirar fundo. Era doloroso, sim. Uma parte de mim queria correr atrás dele, pedir desculpas, dizer que estava tudo bem ele me usar se isso significava tê-lo por perto. Mas outra parte, mais forte, sabia que eu tinha feito a coisa certa.

Naquela noite, chorei de novo. Mas era um choro diferente. Não era mais de autopiedade ou culpa. Era um choro de libertação, de quem começa a aprender a se respeitar novamente.

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Comentários

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Show. Fiquei chocado, triste, aliviado e agora ansioso pelos próximos acontecimentos. Parabéns pela trajetória.

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Hahaha sim! Agora a história vai começar a andar como costumo dizer

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Já dizia aquela música "Você não me procura nem mais, pra saber se eu existo

Não responde meus recados, me trata feito lixo

Se não me quiser não me procure nem mais pra fuder, eu insisto

E quer saber? Eu desisto

Acha que a sua indiferença vai acabar comigo?

Eu sobrevivo, eu sobrevivo". Terapia é tudo de bom, sou um defensor de que todo mundo deveria fazer, pena que ou é caro ou tem uma fila gigante no SUS.

Eu tô esperando Camile fazer alguma coisa do tipo inventar que está grávida de Lucas ou alguma outra coisa.

Também tô esperando Carlos tentar prejudicar Lucas no vôlei ou tentar seduzir Lucas novamente.

Fiquei com a orelha em pé com essa aproximação entre Lucas e Yan, pensei em duas coisas: ou Yan estava como um olheiro para Luke ou eles vão se aproximar sexualmente.

Sobre o Luke, ele foi cruel, escolheu a pior forma para se vingar, mas não julgo, ele tinha o direito de se vingar, só acho que a forma que ele escolheu é muito perigosa para quem ainda ama, pois deixa marcas emocionais pesadas, mas com o nível de raiva que eu imagino que Luke ficou, eu nem sou capaz de dizer que ele estava errado, porque não foi um simples traição da parte de Lucas, foi justamente com quem Lucas menos deveria ter contato, além da mentira.

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Amei a citação da música de Jhonny H. Bom o futuro eh incerto ainda de tudo isso! O Yan bom rss, vou deixar vc com suas teorias no capítulo 18 vc vai ter sua resposta hehe! O Lucas e Luke vão crescer juntos só digo isso rsss! Essa semana eu me empolguei muito escrevendo! Estou com 2 capítulos prontos! E o comecei a escrever o 20! Estou com pouco trabalho e resolvi adiantar o máximo de coisa desse conto que eu particularmente estou amando de mais cada novo capítulo!

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