Narrado por Gabriel
Os dias depois daquela noite na sacristia pesavam no peito, como se o ar da igreja tivesse ficado mais grosso, mais quente. O padre tava em todo canto — não falava muito, mas os olhos dele me achavam, sempre, como se soubessem onde eu tava antes de eu perceber. No pátio, enquanto esfregava o tanque, a água gelada respingando nas mãos, ele passou, a camisa com um botão a mais desabotoado no peito, o suor brilhando na pele oliva.
— Bom trabalho, Gabriel. — disse, a voz baixa, grave, e os olhos escuros pararam em mim, só um segundo, mas o suficiente pra fazer meu coração disparar, o pau endurecer um pouco na calça. Quis dizer algo, qualquer coisa, mas Dona Clara apareceu, a cesta de pão na mão, falando alto sobre a missa, e ele virou, o momento sumindo como fumaça. Fiquei parado, a água pingando no chão, o calor subindo pelo pescoço, querendo ele ali, só nós dois, mesmo sem saber o que faria.
No corredor, foi pior. Eu carregava paramentos pra sacristia, o linho pesado nos braços, quando ele surgiu na esquina, o corpo grande quase batendo no meu. O ar parou, os olhos dele me pegaram, escuros, fundos, e senti ele — o cheiro de suor, o calor que saía da pele dele, tão perto que a o tecido de sua roupa roçou meu braço. Quis falar, perguntar algo, mas a boca travou, a timidez me engolindo enquanto ele ficou ali, quieto, me olhando. Um fiel gritou do pátio e ele assentiu, lento, sem tirar os olhos de mim antes de ir. O corredor ficou vazio, o peso do “quase” me esmagando, o pau pulsando na calça, o coração batendo rápido demais.
Na igreja, alinhando os bancos tortos, senti ele de novo. A porta rangeu, e lá tava ele, entrando devagar, a luz dos vitrais jogando vermelho e azul no rosto dele. Os olhos me acharam, demorados, como se contassem cada pedaço de mim, e congelei, as mãos tremendo na madeira. Quis correr pra ele, falar, tocar, qualquer coisa, mas o sino tocou, alto, puxando nós dois pras tarefas — ele pro altar, eu pro pátio. Cada encontro era assim, um “quase” que cortava o peito — quase uma conversa, quase um toque, quase algo que eu não sabia nomear. O desejo crescia, quente, sujo, e eu queria estar com ele, a sós, mesmo com a culpa apertando, mesmo sem saber como agir, a timidez me travando enquanto o coração pedia mais.
Em um desses dias, a sacristia tava quieta, minutos antes da missa, o cheiro de cera quente misturado à madeira nova da reforma enchendo o ar. Eu arrumava o cálice na mesa, as mãos suadas escorregando no metal, quando a porta rangeu. Era ele. O padre entrou, a batina solta, o peito suado brilhando na luz fraca das velas, os olhos escuros me pegando antes de eu poder desviar.
— Tá pronto, Gabriel? — perguntou, a voz grave roçando o silêncio, mas tinha algo mais ali, algo que pesava, que prendia. Assenti, gaguejando um “S-sim, padre,” o coração disparado, o pau endurecendo na calça, o cuzinho piscando leve enquanto ele se aproximava.
Ele pegou a estola na mesa, o braço roçando o meu, um calor subindo pela pele como fogo. Fiquei parado, o ar preso no peito, o medo de sermos vistos misturado à vontade de ficar ali, de deixar ele mais perto. Os olhos dele me seguraram, longos, escuros, e senti — ele queria algo, assim como eu, mas nenhum de nós falava.
— Preciso falar com você. — ele disse, baixo, tão baixo que quase não ouvi, o tom grave vibrando no peito. — Depois da missa, aqui, quando todos forem. — O estômago virou, o pau pulsou mais forte, e eu quis dizer sim, quis correr, mas só assenti, a voz falhando na garganta.
O sino tocou, alto, os fiéis entrando com vozes e passos, e ele se afastou, o momento quebrando como vidro. Fiquei ali, as mãos tremendo na mesa, o coração na garganta, a promessa da conversa queimando na cabeça. Era um “quase” de novo — quase um toque, quase uma confissão —, mas agora tinha algo certo, algo que vinha depois, e eu não sabia se queria ou temia. O desejo gritava, a culpa apertava, e eu só conseguia pensar nele, nos olhos escuros, na voz que me mandava ficar. Porém, nossa conversa nunca aconteceu. Algo surgiu depois da missa e ele foi atender os necessitados.
Dias depois, a reforma avançava, o cheiro de tinta e madeira nova tomando a igreja. O quarto do padre precisava de reparos — telhado rachado, paredes úmidas —, e ele me achou no pátio, o sol quente batendo na terra seca. Eu varria, o suor escorrendo na testa, quando ele parou na minha frente, a camisa com dois botões soltos, aberta no peito, os olhos escuros brilhando.
— Gabriel — chamou, a voz grave, com um toque de algo novo, algo ousado. — O quarto tá interditado uns dias. Posso ficar no seu? É mais isolado, ninguém vai atrapalhar.
O estômago gelou, o rosto queimando enquanto levantava os olhos pra ele. Dividir o quarto? Com ele? A memória da sacristia voltou — o braço no peito, o pau duro nas costas, o sussurro no ouvido —, e o coração disparou, o pau endurecendo só de pensar.
— S-sim, padre. — murmurei, obediente, a timidez travando a voz, mas por dentro era um caos — desejo, medo, vontade de dizer não, de dizer sim, de correr pra ele. Ele sorriu, leve, os olhos demorando nos meus.
— Obrigado, Gabriel. — a mão quase tocando meu braço antes de ele virar e ir embora.
Fiquei parado, a vassoura esquecida na mão, o calor do sol misturado ao fogo que subia no peito. Ele no meu quarto, dormindo perto, o corpo dele ali, tão próximo — era demais, perigoso, mas eu queria, mesmo sem saber o que fazer, mesmo com a culpa gritando na cabeça. O desejo vencia, quente, vivo, e sabia que aquela noite ia mudar algo, mesmo sem entender o quê.
***
O quarto parecia pequeno demais, o ar quente grudando na pele, cheirando a madeira velha e ao calor que o dia deixou preso nas paredes. Organizei o colchão no chão, ao lado da cama, o linho áspero esticado com cuidado, as mãos tremendo enquanto tentava não pensar no que tava por vir — ele aqui, dormindo tão perto, a noite inteira comigo. A lamparina jogava uma luz amarela, fraquinha, sombras dançando na parede, e senti o coração batendo na garganta, o pau meio duro na calça só de imaginar ele deitando ali, o corpo grande, quente, a centímetros de mim. A porta rangeu, e ele entrou, e Deus, eu não tava pronto pra isso, nunca ia tá.
O padre parou na entrada, a regata justa colada no peito largo, os músculos dos braços brilhando com suor, duros, marcados na luz fraca como se fossem esculpidos. A calça de tecido fino agarrava nas coxas, descendo leve até os pés descalços, e vi — o volume ali, pesado, mexendo um pouco enquanto ele se movia, e o estômago virou, o pau endurecendo de vez, o cuzinho piscando leve, um pulsar quente que não segurava. Ele olhou pra mim, os olhos escuros brilhando, fundos, como se vissem tudo — a timidez que me engolia, o desejo que me rasgava, a culpa que eu tentava enterrar.
— Tá bom assim, padre? — perguntei, a voz saindo rouca, quase sumindo, apontando pro colchão no chão, e ele sorriu, lento, a boca curvando de um jeito que fez minhas pernas tremerem.
— Tá ótimo, Gabriel. — disse, a voz grave cortando o silêncio, e deu um passo pra dentro, o calor dele tomando o quarto, o cheiro de suor e pele viva subindo até mim, me acertando no peito. Sentou no colchão, o tecido rangendo sob o peso, e fiquei na cama, as pernas moles, o coração disparado enquanto tentava não olhar pra ele — pro peito largo, pros braços fortes, pra calça fina que marcava cada curva, cada linha.
— Senta aqui. — falou, baixo, batendo a mão no colchão, e obedeci, o corpo pesado, caindo ao lado dele, o espaço tão pequeno que meu joelho roçou o dele, um calor subindo pela perna, o pau pulsando na calça, o cuzinho piscando mais forte, como se pedisse algo que eu não podia dar.
Começamos falando do quarto dele.
— Tá ficando bom com a reforma. — murmurei, a voz tremendo, e ele assentiu, os olhos fixos nos meus, longos, demorados, como se quisessem entrar em mim. A conversa virou, lenta, virando algo que eu não esperava, algo que pesava no peito.
— Como era antes, Gabriel? — perguntou, a voz grave, quente, quase um toque na pele. — Antes de mim? — engoli seco, o rosto queimando, e contei, tímido, do tempo com Eduardo, das noites na sacristia, o chão frio mordendo as costas, o outro seminarista que me fazia sentir nada, um vulto sem voz. Ele ouviu, quieto, o corpo inclinado pra mim, o braço tão perto que sentia o calor dele, os olhos escuros me segurando, e os silêncios entre as palavras eram mais altos, dizendo coisas que eu não sabia nomear, coisas que eu queria e temia.
— Você já pensou em sair? — perguntou, de repente, a voz mais baixa, os olhos brilhando na luz fraca, e eu parei, o ar preso no peito, o pau duro doendo na calça.
— Não, padre. — sussurrei, a voz falhando. — É meu lugar. — ele assentiu, lento, a mão mexendo no colchão, tão perto da minha que senti o calor dos dedos dele, o desejo gritando pra tocar, pra agarrar, mas a timidez me travava, a culpa apertando o peito como um soco. — O senhor dorme na cama. — falei, rápido, o coração disparado, tentando fugir daquela conversa, daquele peso. — Eu fico no chão. — ele franziu a testa, a regata esticando no peito enquanto se virava pra mim, o rosto mais perto agora, o hálito quente roçando meu ombro, me fazendo tremer.
— Não é certo, Gabriel. — disse, firme, mas com algo macio na voz, algo que tremia, e eu senti — ele queria estar ali, comigo, tanto quanto eu queria ele, mesmo que doesse, mesmo que fosse errado. — Eu fico no chão. — insistiu, os olhos escuros me pegando, e eu balancei a cabeça, a voz falhando de novo.
— Não, padre, a cama é sua. — ele riu baixo, o som grave vibrando no peito, cortando o ar como uma faca, e olhou pra mim, tão fundo que achei que ia afundar. — Então nenhum dos dois na cama. — disse, a voz quente, quase um convite, quase uma ordem. — Junta os colchões, deitamos no chão juntos.
O estômago virou, o pau endureceu tanto que doía, o cuzinho piscando rápido, um tremor subindo pelas pernas enquanto assentia, obediente, as mãos tremendo ao arrastar o outro colchão. Pusemos os dois juntos, o espaço apertado, o linho áspero roçando minha pele enquanto me deitava, ele ao lado, o calor do corpo dele tão perto que senti cada respiração, cada mexida. O quarto tava escuro, a lamparina quase apagando, e eu não conseguia dormir, o corpo tenso, o pau duro, a culpa e o desejo brigando no peito, o coração batendo tão alto que eu jurava que ele ouvia. Ele também não dormia, o respirar pesado ao lado, o braço mexendo, roçando o meu de leve, um toque quente, pequeno, que parou meu coração.
Fiquei quieto, o ar preso, o corpo inteiro pedindo mais, e então senti de novo — o braço dele, quente, firme, deslizando devagar, a mão roçando a minha, os dedos parando ali, quentes, como se perguntassem algo. Levantei os olhos, o escuro mal me deixando ver, mas ele tava lá, o rosto tão perto, os olhos escuros brilhando, fundo, me chamando.
— Gabriel — murmurou, a voz grave, rouca, quase um gemido, e senti o calor dele mais forte, o cheiro de suor e pele viva subindo, me puxando. A mão dele subiu, lenta, os dedos roçando meu braço, minha nuca, e eu tremi, o pau pulsando, o cuzinho piscando tão forte que achei que ia ceder ali, na hora, deixar ele me tomar inteiro.
Ele se inclinou, o corpo grande mais perto, o peito da regata roçando meu ombro, e não me mexi, o coração disparado, a boca seca enquanto ele parava, o rosto a centímetros do meu.
— Você já sentiu isso antes? — perguntou, baixo, os lábios tão perto que eu sentia o hálito quente, doce, batendo na minha pele, e o desejo gritava, me rasgava, me fazia querer tudo — ele, a boca dele, o corpo dele, tudo que eu não podia ter.
— Não. — sussurrei, a voz falhando, e era verdade. Nunca senti nada assim, esse fogo, esse peso, essa vontade de me jogar nele e deixar ele me quebrar, ir e vir dentro de mim, me enlarguecer até não sobrar nada de mim.
Ele sorriu, leve, os olhos escuros brilhando, e então veio — a mão dele na nuca apertou, quente, firme, puxando meu rosto pro dele, e os lábios dele bateram nos meus, duros, famintos, um beijo que me engoliu inteiro, que me devorou como se eu fosse dele, só dele. A boca dele era quente, macia, os lábios grossos se abrindo contra os meus, a língua dele escorregando, lenta, provando minha boca, um gosto salgado, vivo, que me fez gemer baixo, o som abafado contra ele, preso na garganta. Ele me puxou mais, o corpo dele colando no meu, o peito duro da regata contra minha camisa, e senti tudo — o calor da língua dele, molhada, dançando na minha, o roçar leve dos dentes, o jeito que ele chupava meu lábio inferior, devagar, como se quisesse comer cada pedaço de mim, guardar cada pedaço.
O pau pulsava na calça, duro, molhado, o cuzinho piscando tão forte que sentia ele vazio, pedindo, querendo ele ali, dentro, me penetrando vulgarmente até eu não aguentar mais, até ser só ele, só esse fogo que queimava tudo. Mas tinha algo mais, algo que apertava o peito, que fazia o beijo ser maior que o tesão. Era ele — os olhos que me olhavam antes, a voz que perguntava sobre minha vida, o jeito que ele me segurava agora, firme, mas com um cuidado que me fazia sentir querido, como se isso fosse mais que pecado, mais que desejo. A língua dele entrou mais fundo, quente, molhada, explorando minha boca, o gosto dele enchendo tudo, salgado, doce, misturado ao suor que escorria da testa, e eu cedi, a mão minha agarrando a regata dele, puxando ele mais, querendo ele mais perto, querendo ele pra sempre.
Ele gemeu, baixo, o som vibrando na minha boca, e me senti devorado, engolido, como se ele pudesse me rasgar ali, no escuro, e eu ia deixar, ia querer, ia pedir mais. A mão dele desceu, roçando meu peito, os dedos quentes na camisa, e tremi, o pau pulsando mais, o cuzinho piscando rápido, o corpo gritando pra ele me tomar, me abrir, me fazer dele de uma vez. A boca dele chupava a minha, lenta, forte, a língua dançando, os lábios molhados escorregando, e eu me perdia, me afogava, só esse calor, só esse gosto que não saía da minha boca.
Então veio o som — um estalo seco lá fora, madeira batendo na pedra, como se algo caísse no pátio. Ele parou, a boca saindo da minha com um roçar molhado, o hálito quente ainda batendo na minha cara, os olhos escuros arregalados, procurando o escuro.
— Que foi isso? — murmurou, a voz rouca, o corpo tenso ao meu lado, e eu congelei, o coração disparado, o pau duro na calça, o cuzinho piscando, o gosto dele ainda na boca, mas o medo cortando tudo. Passos leves vieram do pátio, alguém tossindo baixo, talvez um dos trabalhadores da reforma, mexendo nas tábuas esquecidas. Ele olhou pra mim, os olhos brilhando, e tocou meu rosto, rápido, os dedos quentes na bochecha.
O padre se levantou, rápido, o corpo grande se movendo no escuro, a regata esticada no peito enquanto pegava a camisa jogada na cadeira. Tocou meu rosto, os dedos quentes na bochecha, e sussurrou:
— Amanhã, Gabriel. — a voz grave, cheia de promessa. Olhou pra mim, os olhos brilhando, e disse, baixo. — Fica quieto aqui dentro, eu já volto.
Fiquei olhando pro teto, o peito subindo rápido, o gosto dele na boca, o corpo tremendo, o desejo gritando enquanto o som lá fora sumia, o silêncio voltando pesado. Ele saiu, a porta rangendo leve, e fiquei ali, sozinho, o pau duro, o cuzinho piscando, a promessa dele ecoando na cabeça — amanhã, ele voltava, e eu sabia que ele me tinha, me queria, e eu queria ele, inteiro, mesmo que doesse, mesmo que o mundo lá fora tentasse parar.