Amor na Escuridão - Capítulo I

Um conto erótico de M.K. Mander
Categoria: Gay
Contém 7400 palavras
Data: 14/04/2025 01:11:08
Última revisão: 14/04/2025 01:13:42

Capítulo I - O Canalha

Eu sempre me senti desconfortável em meio aos amigos da minha irmã mais velha; Loren. De algum modo, eu estou sempre deslocado entre eles. Ou melhor dizendo: "Fora da panelinha".

Não consigo me encaixar nas conversas ou no estilo de vida que eles levam — por mais que eu me esforce à beça para isso —, no entanto, ainda assim, continuo vindo à esses encontros no meio do nada, na floresta mais escura de Vespeau; minha cidade natal.

Aos sábados, todos eles se reúnem e fazem uma fogueira na parte mais afastada do centro urbano para se pegarem, fumarem e beberem enquanto ouvem mais alguma playlist de outra banda de metal.

Não sou careta, mas, sinceramente, quem aguenta ouvir esses gritos o tempo inteiro?

Loren sempre gostou de estar no meio de tudo isso, mas eu só comecei a participar do seu ritual de saideira depois que completei 16 anos de idade (ordens dos nossos religiosos pais rígidos), ela sempre criou um meio para conquistar a sua própria liberdade, e depois de um tempo, cavou uma forma de eu ter a minha também; mesmo que eu nunca antes tivesse me importado em ficar em casa.

Minha irmã sempre foi atenciosa e protetora. Acho que ela tem medo de que eu não saiba ficar sozinho, mesmo que isso nunca tenha sido um problema para mim. No mundo dela, querer ficar só é quase o mesmo que gritar: "Eu tenho depressão e quero cortar os meus pulsos", quando na verdade, tudo o que eu quero é ser um antissocial em paz.

Mas não dá para explicar isso para uma festeira de primeira igual a ela, então eu venho às festas, pelo bem do seu lado maternal comigo, e também, para garantir que a minha adolescência não se resuma a brigar na internet, mandar memes e ler livros de romance safado.

Os olhos da minha irmã ainda brilham toda vez que ela percebe que finalmente conseguiu me arrastar para fora do meu cativeiro (meu quarto) para outra de suas "reuniões" de amigos na floresta.

Porém, essa noite em questão, me arrependi de ter vindo à festa antes mesmo de ter posto os pés aqui.

A noite está muito fria. A brisa gelada debanda todas as partes do ambiente, causando-me calafrios, por esta razão, tento me manter o mais aquecido possível sentando-me no toco em volta da fogueira. Arrepios percorrem a minha pele à medida em que a rajada da ventania atinge as minhas costas não cobertas pelo calor do fogo.

Há pelo menos umas vinte e tantas pessoas nessa festa, e nenhuma delas parecem estar com tanto frio quanto eu.

— Quer uma cerveja, Dy? — Marcos, amigo de Loren, oferece, encurvando o seu corpo alto em minha direção; ele ergue a garrafa diante dos meus olhos com uma expressão maliciosa em seus lábios.

Me afasto discretamente, mantendo uma certa distância entre nossos rostos.

— Não, valeu. Não curto bebidas. — Sorrio forçado, farto de repetir esse mesmo dilema toda vez que ele me oferece álcool.

— Tem certeza? — incita, a voz mais baixa e rouca agora.

Seus olhos escuros passeiam pelos meu peito e descem pelo meu corpo.

Desconfortável com a situação, tento me cobrir com as mãos.

Marcos continua tentando me embebedar para que algum dia ele tenha alguma chance. Uma linha de raciocínio não muito sábia, pois Loren arrancaria o seu saco para me defender do seu amigo tarado antes mesmo que ele tente qualquer coisa comigo.

Ele é um garoto muito bonito, moreno, alto, corpo esguio e magro, um pouco sério e alguns brincos na orelha. Marcos tem feições que o faz parecer uns quatro anos mais novo do que realmente é, além do mais, ele age como se tivesse uns dez, apesar de ter 21. Não faz o meu tipo.

— Quem sabe uma outra hora — murmuro e volto a esfregar as mãos uma na outra à procura do calor.

— Tudo bem — ele sorri cheio de segundas intenções, e então sai, como se fosse um grande galã de novela.

Solto um riso curto de sua atuação horrorosa, mas não o olho por muito mais tempo. Ser pego encarando-o só faria o seu ego aumentar em quantidades absurdas.

Volto minha atenção para o que eu estava fazendo e percebo que já faz alguns bons minutos que minha irmã saiu de perto de mim e dos seus amigos para dar uns amassos em Kaio — seu mais novo amigo colorido — e até o momento não voltou.

Preciso me aliviar logo ou irei mijar na roupa. Eu não sou de beber nada com álcool, mas em troca, me abarroto em energéticos, o que por consequência, me fazem mijar a cada 15 minutos.

Rolo os olhos em volta da floresta, mas tudo o que encontro são um bando de adolescentes bêbados sacudindo o corpo como se estivessem sendo eletrocutados ao som de Psychosocial de Slipknot, desvio o corpo um pouco para o lado antes que eu seja atingido por alguma garrafa de vidro acidentalmente.

Continuo à procura por um rosto conhecido em toda a floresta, até que finalmente encontro o amigável ponto ruivo à poucos metros de mim.

Levanto-me depressa de onde estou e ando até Claire; que depois de dançar horrores, por fim, decidiu se sentar na traseira do seu adorável Opala para observar as faíscas da fogueira com o seu namorado Joshua — que se mantém recostado confortavelmente entre as suas pernas.

Claire é a melhor amiga de Loren desde os 10 anos de idade. Onde uma vai, a outra também vai. Então se minha irmã não está por perto, é a ruiva que me socorre. Ela possui um lindo e delicado rosto, mas não se pode deixar enganar pela aparência, Claire adora dar uma de Vin diesel com carros, fuma como se fosse uma chaminé ambulante, e, por acaso, já a peguei com a boca em Joshua em um lugar muito público. Cena esta, que eu ainda tento esquecer até hoje.

— Claire, tem algum banheiro químico por aqui perto? — grito, para que minha voz se sobressaia à música alta e tranço as pernas em urgência, sem conseguir mais conter a vontade de mijar.

Seus olhos azuis me olham com preocupação quando ela repuxa o canto dos lábios para baixo, em desânimo.

— Poxa, Dy. Não tem nada por aqui por perto — sua doce voz está grogue, mas felizmente ela ainda está consciente o bastante para continuar acordada.

— Se estiver muito apertado, sugiro a floresta — Joshua se pronuncia alto, em seguida leva o cigarro aos lábios e o traga, deixando à vista suas tatuagens na mão.

— Floresta? — repito desgostoso e sinto um tremor percorrer todo o meu corpo, não sei se desta vez por frio ou por medo.

Já são um pouco mais de meia noite. Entrar na floresta agora seria um ato de desespero ou de loucura. Nada e nem ninguém aqui são confiáveis para que exista alguma liberdade de ir para dentro do mato e voltar intacto. Além do mais, há tantas possibilidades diferentes de morrer por algum animal lá dentro que sinto meus ossos doerem apenas de imaginar.

— Foi mal, Dylon. Realmente não há outro lugar aqui por perto — ele confirma pesaroso e preciso contrair as pernas novamente quanto minha bexiga implora para ser esvaziada.

Queria poder rebocar Claire dali para me fazer companhia enquanto procuro por algum lugar, mas não quero ser inconveniente e nem a obrigar a cambalear pelo mato comigo. Provavelmente seria eu a carregá-la por todo o caminho de ida e volta. Um trabalho duplo que eu não estou muito afim de ter.

— Pega, usa a lanterna do meu celular. — Ela oferece quase gritando.

Claire estende o smartphone e rapidamente o tomo de sua mão. Não sei o que aconteceu com o meu, mas desconfio que Loren tenha o escondido em seu carro para que eu não tenha que atender as milhares de ligações de nossos pais a cada cinco minutos para confirmar que ainda estamos vivas. Amanhã com certeza estaremos de castigo e será — em grande parte —, culpa da minha irmã. A outra parcela de culpa eu assumo por ter concordado em vir.

— Está bem! Eu espero não me perder. — Suspiro, extremamente nervosa.

Os dois riem em uníssono.

— Só não vá para muito longe. — Joshua alerta esfregando os dedos em seu cabelo desgrenhado.

Assinto.

Saio dali com passos largos. Os pelos dos meus braços e pernas estão eriçados e meus dedos já estão dormentes de tanto frio. De vez em quando paro em algum canto para prender o xixi e volto a andar.

Não devia ter bebido tanto energético sem antes não ter usado o banheiro quando ainda podia. Odeio sentir vontade de fazer necessidades em lugares que claramente não são adaptados para isso.

Afasto-me um pouco de cada vez da multidão eufórica e barulhenta, com cuidado para não me esbarrar em ninguém, até finalmente estar de encontro com o mato aberto, longe da área descampada.

O matagal arranha meus tornozelos descobertos e de vez em quando, um galho ou outro arruína o meu cabelo, agarrando um punhado de fios. Tento marchar em passos firmes, mas o solo desnivelado me faz titubear.

Eu deveria mesmo ter vindo mais coberto. Essa regada e bermuda não tampam nada. Tentar seguir a moda dos adolescentes nunca dá certo e agora estou congelando.

Repito mentalmente "Eu sou um cretino" toda as vezes que sinto minha pele sendo rasgada por mais um graveto e todas as vezes que meus dentes rangem um no outro.

Paro de andar tão somente quando já não ouço mais sinal de música, apenas para garantir que nenhum maluco bêbado possa me perturbar aqui.

A floresta é extensa e larga, contudo, cheia de lindas árvores recheadas de folhas verdes e robustas, já outras, pequenas, magras e mortas com enormes galhos secos que estralam toda vez que o vento as balança, tornando o cenário ainda mais pavoroso.

Já estou distante o suficiente, e até mesmo mais do que deveria. Sou inseguro demais para que acabem me vendo nu sem querer, seria muito constrangedor e altamente perigoso.

Apoio o celular de Claire em um toco qualquer e tiro meu pau pra fora e finalmente consigo soltar o xixi que prendi por horas.

Suspiro fundo e abraço o meu braço gelado, com a falsa esperança de conseguir aquecer a minha pele. Tento aproveitar a sensação de estar ao ar livre, e não me sentir desesperado com o fato de estar em um local escuro e deserto com vários bichos ao meu redor.

A paranoia ainda vai me matar antes mesmo que algo realmente sério aconteça.

Sempre odiei a ideia de acabar me perdendo no meio do mato e nunca mais conseguir voltar para a casa. Acho que por estar sempre evitando festas e pessoas, passei tempo demais vendo documentários de assassinatos.

A ideia de que alguém vai a qualquer momento pular do mato com um machado na mão me obriga a mijar mais rápido.

Olho para cima a fim de desviar minha atenção e fito a vasta escuridão do imenso céu, mas um pingo ralo de água atinge o meu ombro, em seguida mais outro, outro e outro.

Ótimo, lá vem chuva!

Termino de fazer minha necessidade e sacudo o pau, empenhando-me em fazer o melhor que posso para me secar.

A garoa torna a cair cada vez mais rápido, em um aviso furtivo para que eu me apresse antes de presenciar o temporal que está por vir.

Ouço as folhas de árvores se arrastarem no chão conforme o tempo se transforma. Um estrondoso ruído estoura provindo de um raio que ilumina o céu e estremeço.

No entanto, é um barulho incomum que chama ainda mais a minha atenção. Ouço estalos atrás de mim, como se algo esmagasse os gravetos avulsos no chão. Viro a cabeça sobre os ombros ao ouvir o som pesado se aproximar por trás de mim.

Ainda parado, meu corpo é tomado pelo pânico ao ver um homem com estatura alta e forte aproximar-se de onde estou. Minhas pernas ficam mole e meu coração dispara feito louco.

A escuridão da noite cobre a maior parte do seu rosto e do seu gigante corpo, tornando o momento em algo extremamente aterrorizante.

No mesmo instante, outro trovão estronda no céu, coincidindo com a tensão que acaba de se formar.

— Ai caramba! — berro nervoso e desato a me vestir rapidamente.

Puxo a minha bermuda de uma só vez, tentando me cobrir fazendo o que melhor que posso. De qualquer modo, o sujeito continua atrás de mim estagnado, aparentemente tão surpreso quanto eu.

Arregalo os olhos quando ouço-o rir e giro os calcanhares para ele.

— Mas que porra! — sua voz grossa e rouca sussurra divertida, quase como se estivesse falando sozinho.

Sinto meu torso trepidar e minhas bochechas queimarem de vergonha. Tentar correr agora pode ser tão inútil quanto ficar e tentar lutar caso o gigante decida fazer algo comigo.

— Q-quem é você? — minha voz vacila.

Percebo quando ele troca o peso do corpo de uma perna para a outra, muito à vontade com tudo isso.

Poderia estar apenas alucinando, mas seria capaz de jurar — mesmo na escuridão em que seu corpo se esconde — que o seu rosto está coberto por linhas que mais parecem raízes escuras entorno de seus olhos. No entanto, com certeza não seria tão bizarro se estivesse, os garotos da minha cidade possuem um costume estranho e gótico de se pintarem para irem à florestas ou cemitérios.

— Depende. — brinca, todavia, a sua entonação soa tão gélida e rouca que é quase possível perfurar a minha pele.

Ergo as sobrancelhas, já entrando em total desespero e recuo um passo.

— Depende? — arregalo os olhos.

Ele ri e logo abaixa a cabeça, deixando que um longo suspiro escape de seus lábios, como se estivesse em uma luta interna consigo próprio. Mas aos poucos, parece retornar a si.

O chuvisco cai continuamente, molhando de pouco em pouco o meu corpo inteiro. Meus dentes já não param mais de bater um no outro.

Eu preciso sair o mais rápido possível dessa situação. E de preferência, vivo.

Em um rápido movimento me abaixo, eu pego o celular de Claire e aponto para o flash para o desconhecido. Ele logo abaixa as pálpebras ao ser atingido pela luz diretamente em seus olhos e cobre o rosto com os braços.

— Tira esse negócio da minha cara seu doido. — O homem gargalha ao dizer, sua voz está menos densa e assustadora, porém agora parece meio arrastada.

Franzo a testa.

— Está drogado? — investigo ao constatar a embriaguez em seu timbre.

Baixo o celular bem devagar e ele faz o mesmo com os braços. Viro discretamente meu rosto sobre os ombros e percorro os olhos para o caminho de onde eu vim, procurando de repente por uma salvação e torcendo muito para que algum maluco tenha realmente vindo atrás de mim.

— Vem cá, que merda você está fazendo no escuro garoto?

— Não é da sua conta. — Rebato, mais rígido do que queria e me arrependo no segundo seguinte, com medo do que ele possa fazer.

Arregalo tanto os meus olhos que temo que meus globos oculares possam cair do meu rosto. Entretanto, ele ri, contrariando toda a situação.

— Calma, seu maluco.

Aperto os dentes, irritado.

— Se vai mijar, poderia ter feito em algum lugar mais escondido, sabe? — se diverte, a voz cheia de gracinha.

— Foi você quem apareceu aqui para me interromper, poderia só ter desviado e ido embora. — Rebato, furioso.

— Eu vi você balançando a sua bunda, achei que precisasse de ajuda. — Responde risonho.

Dou outro passo para trás, olhando indignado para a sua silhueta.

O garoto torna a rir sem controle algum e ergue as mãos.

— Qual é! Eu não fiz nada. — Se defende, cínico.

— Olha só, eu não te conheço e tem muita gente na festa comigo. Se por algum acaso eu não voltar agora mesmo, vai ser muito ruim para você. — é agora ou nunca.

Mesmo com o seu corpo debaixo das sombras, consigo vê-lo balançar os ombros.

— E-eu vou gritar hein! — ameaço, sentindo meu estômago se revirar de medo.

Ele solta um riso despreocupado.

— Grita.

— Tô falando sério!

— Ué, então grita.

Tombo o rosto para o lado.

— Não estou brincando, garoto!

Ele suspira.

— Tá, tá bom. Chega disso. — Ele suspira e me ignorando completamente, o desconhecido passa por mim, dando passos largos e descontraídos, como se só passeasse pela floresta, alheio.

Ele não ia mesmo fazer nada?

Viro-me para ele.

— Quem é você? — questiono.

O garoto se vira para mim e aponto a lanterna do celular para ele, dessa vez, não diretamente para o seu rosto, o que me dá a possibilidade de vê-lo com uma melhor clareza.

Os seus olhos são de um verde tão claro que se parecem mais como lentes de contato. O rosto marcado e os olhos levemente puxados. Os seus lábios são cheios e bem desenhados. Abaixo do seu rosto encontro várias tatuagens em seu pescoço, e em seu corpo, vejo que está vestido em uma camiseta branca, um enorme casaco preto com capuz e uma calça jeans escura. As mãos estão postas nos bolsos, como um homem de negócios.

Ele não parece ser tão velho quanto imaginei que seria, porém, suas expressões são intensas que o fazem parecer sisudo e arrogante. Seu olhar pesa sobre o meu e sinto-me intimidado com a violência seriedade em que ele me encara. Tento desviar o olhar quando noto que estou o observando demais, mas não consigo, me sinto preso em uma hipnótica visão de seu rosto absurdamente lindo.

— Christian — finalmente responde — e você é...

— Dylon — sussurro nervosa — Dylon Bell.

— Ok. Foi um prazer conhecê-lo Dingo Bell, agora tenho que ir. — Diferentemente de sua aparência fria, ele está de bom-humor.

Mas não deixo de franzir a testa.

— É Dylon, e não Dingo. D-Y-L-O-N.

— Legal, Dingo Bell.

Sem mais delongas, ele volta a caminhar.

O que esse menino é? Um sem teto? E por que diabos ele está andando há uma hora dessas por aqui se não era para ir à festa?

No momento em que seu corpo some completamente de vista, a chuva cai abruptamente e me vejo correndo feito doido para voltar para onde eu estava.

**********************

4 dias depois...

— Chegamos — aviso à Loren — que ocupa sua atenção dirigindo o carro — e ergo os olhos do GPS para o nosso destino final; a antiga mansão de madeira, onde ocorre a maior festança.

Minha irmã já havia desacelerado a sua SUV antes mesmo que eu tivesse terminado de falar e procurou estacionar em uma das poucas vagas livres na entrada.

Mesmo que ela conheça todo o trajeto e tenha feito questão de me lembrar disso, resolvi usar a ajuda da tecnologia para garantir que não nos perderíamos. Loren me acha o cúmulo do exagero, mas eu me considero responsável. É por isso que somos o completo oposto um do outro, entretanto, continuo amando essa monga do mesmo jeito, apesar de ela não ter tantos neurônios funcionando.

Sentado no banco do carona, percebi que a casa está em um dos lugares mais solitários da floresta de Vespeau, e pelo o que eu soube, próxima de um lindo lago de água cristalina. Sem nenhum dono para vistoriar o local, a mansão se torna a oportunidade perfeita para festas clandestinas feitas por adolescentes. Eu nunca havia vindo aqui antes, no entanto, depois de tanto Loren insistir, acabei me rendendo.

A festa está abarrotada de pessoas transitando de lá para cá. E uma estrondosa música vem de lá de dentro. Há pelo menos três casais se beijando, ou quase transando, em um canto mais afastado. .

Meu rosto automaticamente se contrai ao notar alguns adolescentes fora de si jogados no gramado perante a casa.

Tudo aqui indica perigo de uma casa desmoronando, mas acho que ninguém parece realmente ligar para isso. As paredes parecem mal se aguentarem no lugar, e onde deveriam ser janelas, agora são apenas espaços vazios. A madeira aparenta estar deteriorada e a varanda está com as escadas quebradas.

Me retraio no banco com todo o cenário posto à minha frente e enrugo o nariz em uma careta.

— Tô falando sério, Loren, acho melhor você encontrar novos amigos, esses parecem querer nos matar nos chamando para essas festas.

Ela sorri com o seu jeito provocador e joga a cabeça para o lado, deixando que os seus cabelos castanhos — um pouco mais claro que os meus — caiam sobre o seu ombro.

— Eles não são tão perturbados quando estão sóbrios. — Os defende, sorrindo.

Ergo a sobrancelha, contrariado.

— Marcos tentou afogar você quando te conheceu. E ele estava sóbrio. — Enfatizo a última parte.

— É o jeitinho dele — ela dá de ombros.

— Você definitivamente precisa de novos amigos.

— Dy, fica tranquilo. Se alguma coisa te acontecer por causa de algum deles, eles não vão nem chegar a ver o próximo amanhecer. — Comenta tranquilamente.

— Eu estou mais preocupado com a saúde mental deles do que comigo.

Ela desliza a língua pelos lábios, tentando engolir um sorriso.

— Vamos — Loren sai do carro e me junto logo em seguida.

A brisa gelada do anoitecer nos atinge no mesmo instante e automaticamente me encolho em meu casaco. Por sorte, decidi vir com mais roupas do que em nossa última festa, na noite da fogueira.

Caminhamos de braços dados rumo à baderna; de vez em quando, desviando de um maluco ou outro. Eles estão mortos de bêbados e cambaleando sobre os próprios pés.

Loren não queria vir tão cedo à festa, mas a convenci de que o quanto antes voltássemos para casa, menor seria a punição imposta pelos nossos pais desta vez. Na última, fomos obrigados a confessar nossos pecados ao padre e rezarmos umas dez ave-marias.

Que Deus me perdoe, mas meus pecados estão acabando com os meus joelhos.

Assim que entramos, minha irmã cumprimentou a todos por onde passávamos, eu apenas repeti o gesto, mas, por alguma razão, era sempre ignorado. Uma das razões pelas quais eu sempre fico acobertado por Loren, é que sou sempre invisível, quase ninguém me enxerga, e quando me veem, eu me escondo. Do contrário, Lô parece totalmente à vontade com a atenção que recebe.

Ao passarmos pela maior parte dos festeiros, chegamos no centro da casa, que em outrora deveria ter sido uma sala elegante e rústica, no entanto, agora é só mais um amontoado de poeira e movéis quebrados.

Vistoriando tudo em volta encontramos: Marcos, Claire e Joshua, sentados no velho sofá amarelo cheio de rasgos com outros adolescentes. Estão todos obviamente bêbados, animados e postos em um círculo no cômodo.

Há uma garrafa no meio da roda de pessoas, em cima de uma mesa de centro de madeira. Alguém fica encarregado de rodá-la enquanto os outros ficam na expectativa de onde ela vai parar. Um tipo de jogo que mais recorda "verdade ou desafio", porém não parece ser essa a brincadeira.

Me sento no braço quebrado do sofá e Loren se acomoda na parte estofada, ao meu lado.

— Qual é a dessa brincadeira? — Pergunto baixinho, para que apenas ela me escute.

Loren se inclina um pouco em minha direção.

— É beijo ou consequência. Ou você beija alguém, ou tem que cumprir um desafio.

— E é a pessoa que escolhe quem vai beijar? — investigo, os olhos vidrados na brincadeira.

— Não, quem escolhe é a garrafa. É a mesma coisa de verdade ou desafio, mas sem a verdade.

A agitação aumenta assim que a garrafa para no lugar, o gargalo indicando um garoto com camiseta azul de Star Wars e a outra ponta para uma garota morena com peitões.

O escolhido de óculos fundo de garrafa ligeiramente enrubesce e curva um sorriso tímido em seu rosto. A garota troca um sorriso malicioso antes de tomar a atitude de se levantar primeiro.

Os burburinhos de comemoração aumentam à medida em que ela caminha confiantemente em direção ao menino; que mais parece querer se mijar de nervosismo.

— Mmm... E se a pessoa não quiser ser beijada? — Indago, incomodado com a ideia de assistir alguém ser obrigado a beijar.

— Bom, então ele ou ela vai ter que cumprir um desafio, mas não acho que seja necessário. Todo mundo sempre beija.

— Menos o Chris — o cara do sofá ao lado que, discretamente ouvia nossa conversa, comenta de repente.

— É. Menos o Chris — Loren confirma baixo, parecendo estar chateada com algo.

— Chris? — pergunto intrigado.

— É só um garoto que não gosta de beijar qualquer garota ou garoto, ele meio que... tem preferência — minha irmã explica, mas em seguida dá de ombros.

— Digamos que ele é extremamente arrogante. Chris não vai com a cara de absolutamente ninguém, se o vê hoje por aqui, recomendo que saia de perto. — ele fala, em seguida estende a sua mão — Eu sou o Benjamin, mas me chamam de Ben.

— Sou Dylon, Dylon Bell. Mas me chamam de Dy ou de Bell — o cumprimento.

Ele abre um lindo sorriso que ilumina todo o seu rosto meigo e misterioso. O garoto possui cabelos encaracolados e veste roupas escuras e largas. Não sei em que momento ele se sentou do nosso lado, mas pelo visto, consegue tanto reservado quanto extrovertido.

— Vou chamar de Dy então.

Sorrio, tímido e volto a assistir o casal escolhido agarrados aos beijos, com a plateia de amigos eufóricos ao redor.

— Chris é um cuzão — minha irmã solta subitamente, os olhos fixos à sua frente e os cotovelos apoiados nas pernas.

Franzo o cenho, e Ben assim como eu, olhamos para ela curiosos.

— Do que estão falando? — Claire se aproxima, balançando os cabelos ruivos quando desiste de observar a brincadeira.

— Do Chris — respondo.

Ela ergue as duas sobrancelhas.

— Ah, então já o conhece? — murmura.

— Não, mas acho que já não gosto dele. — aponto o queixo discretamente para a minha irmã, indicando a razão para não confiar nele.

Ela ri baixo e se senta ao lado de Ben.

— Bom, ele é um idiota, mas a galera até que gosta dele.

Ergo uma sobrancelha.

— Então é para gostar dele ou não? — indago, confuso.

— Apenas não goste dele, Dylon — Loren se pronuncia.

— Ok... — pronuncio bem lentamente, desconfiado.

— Ele não é tão ruim, Lô — Claire o defende.

— Não é tão ruim? — retruca, indignada — Aquele cara é um sacana que faz da vida de todo mundo um inferno.

— Você só está dizendo isso porque ele não quis te beijar — Claire rebate.

Péssimo erro!

Agora minha irmã está a olhando como se quisesse arrancar o pescoço da melhor amiga.

— Oh-oh! — murmuro.

— Nunca mais, na sua vida, defenda aquele canalha filho de uma mãe. E não, não foi porque ele não estava afim de mim. Ele é um babaca e ponto final.

Ben e eu rimos, mas prendemos o riso assim que ela nos encara sanguinária.

— Eu só quis dizer que ele não é tão ruim. Ele é um ser humano complicado, isso é óbvio, mas sempre defende a galera. E se não fosse por ele nós já teríamos sido presas, lembra?

Loren solta um suspiro irritado e se levanta, acabando bruscamente com a conversa.

— Eu vou pegar bebidas — pronuncia desgostosa.

Olho confuso de uma para a outra, esperando por mais detalhes, entretanto, as duas continuam em um silêncio mortal, mas isso se encerra assim que Loren se afasta de nós.

— Merda! — Claire suspira — Não deveria ter dito nada, isso ainda incomoda ela.

— Por que? — questiono rapidamente.

— Ela o queria. Ele não a queria. — Esclarece.

Loren nunca me contou nada disso. E ela normalmente me conta tudo de seus relacionamentos. É bem esquisito o fato dela nunca ter mencionado esse garoto para mim antes. O que significa que ele foi uma decepção tão grande que nem ela própria teve coragem de me contar. Mas isso é papo para depois.

— Vem cá, que história é essa de prisão? — troco de assunto, antes que eu esqueça de mencionar esse grande detalhe.

Ela bufa, não muito orgulhosa das lembranças desse dia.

— Organizamos uma festa na floresta nas férias passadas e uma menina menor de idade teve uma overdose, a ambulância e a polícia chegaram, mas Chris deu um jeito para que não precisássemos ir para a delegacia, ele tem conhecidos importantes por lá e livrou a barra pra gente. Foi horrível, mas ela ficou bem.

Isso é bem a cara dos amigos de Loren mesmo.

— Olha, eu acho que eu estava lá — Ben comenta.

— E onde eu estava? — falo, desconfiado.

— Provavelmente estudando. — Claire responde sorrindo, já que eu furar as saideiras é algo bem costumeiro.

Reviro os olhos.

— Eu e essa minha mania de querer um futuro.

Os dois riem, mas Claire para repentinamente e arregala os olhos.

— Ai, merda!

— O que é? — sondo ao vê-la entrar em alerta.

— Chris está aqui. A Loren vai surtar. — Sussurra.

— Onde? — estico o pescoço.

— Ali — aponta com a cabeça e sigo com o olhar.

O garoto completamente tatuado e absurdo de tão alto se aproxima do amontoado de gente que parece o esperar para cumprimentá-lo. Ele está totalmente à vontade, como se soubesse que será bem recepcionado por onde quer que ele passe. Os olhos verdes olham para os seus amigos com perversidade, sua boca está curvada para o canto e a sua expressão está cheia de superioridade de tanta arrogância que ele exala.

Eu teria realmente ficado encantado com a sua beleza e enojado com o seu comportamento se o garoto já não me fosse familiar.

Merda!

— Espera aí! Ele é o Chris? — me apavoro.

— O próprio. — A ruiva responde tranquilamente, não notando a urgência em minha voz.

— Christian é o Chris. — Cochicho sozinho.

O garoto que viu a minha bunda no meio da floresta é o Chris? "Chris, o babaca"?

— Oh merda!

Tapo o meu rosto com as minhas mãos, ardendo de vergonha, e me jogo onde Loren estava sentada há poucos minutos atrás, escorregando a bunda no estofado até estar quase deitado.

— Já o conhece? — Ben pergunta, confuso.

— Meio que sim, e não foi em uma situação muito boa — resmungo baixo.

Eu sinceramente esperava não o ver nunca mais em toda a minha vida. Mas cá estamos nós. Os dois na mesma festa.

Me contorço de ansiedade e solto um suspiro irritado. Curioso para saber o que está acontecendo, dou uma breve espiada por entre os dedos, e, por azar, o encontro caminhando na direção do nosso círculo, onde os outros ainda brincam de "Beijo ou consequência". Porém, seus olhos não me notaram, ainda...

*********************

À medida que a noite ia vagarosamente se desdobrando, sentia uma necessidade absurda de me encolher ou ser abduzido pelo sofá, apenas para não ser notado por Christian — que se mantinha sentado confortavelmente no círculo de jogos desde que notou que os demais estavam brincando, há pelo vinte minutos atrás.

A todo instante me mantive no mesmo lugar; enrolado em meu casaco e escondendo o meu rosto, como se eu fosse uma celebridade fugindo de paparazzis. Sempre que ele fazia menção em olhar para o rumo em que eu estava, eu abaixava a cabeça ou a virava. A essa altura, tinha medo de respirar alto demais e acabar chamando a sua atenção.

Não fazia ideia de como seria quando ele me olhasse de novo depois de toda aquela embaraçosa situação que passamos na floresta.

Tudo isso é uma grande merda! Por que diabos ele tinha que aparecer nessa festa? Ele nunca antes havia aparecido em qualquer outra em que eu estivesse, e isso acontece justo dias depois de tê-lo conhecido. É uma baita coincidência horrorosa ou uma punição?

Ele está completamente esparramado em seu assento, com os cotovelos apoiados nas laterais da sua poltrona e as pernas compridas esticadas, ocupando grande parte do espaço à sua frente, como se estivesse apenas curtindo um domingo em sua sala de estar.

Esse garoto é um absurdo de tão alto, deve ter cerca de uns 2 metros de altura, ou sei lá.

Ele ria condescendente toda vez que alguma menina se animava com a possibilidade da garrafa parar apontando para os dois, mas a oportunidade não veio a calhar. Era inevitável a decepção no rosto delas.

Tudo bem que ele é um cara atraente, mas não dava para essas garotas serem menos óbvias? Estava tão claro que isso só enchia o ego desse infame narcisista.

Sentado e distraído, pude perceber que ele não era só alto pra caramba, como também passava uma vibe caótica em meio ao fato de ter várias tatuagens espalhadas por todo o seu corpo. Algumas no pescoço, outras nas mãos e nos braços, que, por sinal, eram cheias de veias salientadas. Eu não sabia se haviam mais por debaixo de sua larga camiseta preta, mas quase podia ter certeza que sim.

Eu queria não tê-lo secado tanto com os olhos, porém, era algo quase impossível. Toda vez que ele passava a língua sobre os labios, ele o fazia bem devagarinho, e sempre curvava um breve sorriso cínico ao terminar; de modo que tivesse a certeza que estava sendo observado por alguém que claramente se sentia atingido ao ver aquilo.

Christian encarava as pessoas como se fossem livros abertos, de maneira que ele conhecesse cada um e suas histórias. Ninguém em questão parecia ser do interesse dele, ou talvez, eu estivesse tão imersa observandoo que passei a imaginar uma certa apatia de sua parte.

As pessoas na festa ainda não haviam parado de dançar. Até o volume do som fora aumentado quando a maioria já estava tão bêbada e chapada ao som da banda Midnight que pulavam feito malucos.

Ouvi falar que as festas em que minha irmã ia, eram sempre pesadas e com muitas pessoas que — assustadoramemente — não tinham limites e nunca diziam não para o que quer que lhes fosse oferecido, e, por isso, sempre que chegavam ao fim da festa, estava a maioria alucinando pelo efeito ou de: MD, maconha, LSD, cocaína, ou qualquer droga distruibuida e produzida por algum estudante louco de farmacologia.

Eu sempre me abismei com a forma em que eles se divertiam, por isso evitava me manter no meio disso.

Claire e Joshua eram os únicos amigos de Loren que, em grande parte das vezes, tinham mais responsabilidade. Em todas essas festas, sempre havia um grupinho mais quieto, que preferia ficar retido da bagunça, e era desses que eu ficava perto; bem como agora.

Minha irmã se acomodou um pouco mais afastada de mim, em um banquinho, estava bebendo e evitava olhar diretamente para Christian. Eu sabia que ela estava desconfortável, mas ela não iria admitir isso, tampouco tocar no assunto novamente.

Os outros permaneciam brincando, ainda na mesma empolgação de quando começaram, mas, de repente, se fez um silêncio brutal na sala quando tudo foi tomado por um grande suspense nos últimos giros da garrafa, antes dela parar.

— Oh merda! — A voz de Marcos se sobressaltou animada quando Christian finalmente foi escolhido.

Junto dele, o objeto de vidro também apontava para uma garota de pele negra e belíssimos olhos safiras, sentada em uma cadeira próximo do círculo.

Estavam todos estáticos e surpresos.

Enquanto isso, Chris deslizava os olhos com malícia sobre o corpo cheio de curvas da menina. De fato, ele não parecia querer ninguém na festa, mas ela parecia tê-lo interessado. Já a morena o olhava boquiaberta, parecia ainda não acreditar que iria beijar o tão "desejado Christian".

Argh!

O grandalhão cheio de tatuagens a chamou com a mão sem qualquer cerimônia. Desajeitada e com um sorriso tímido, ela se levantou e foi até ele. Chris a pegou pela cintura e a fez sentar em seu colo de frente para si, ele sussurrou algo em seu ouvido e então, a puxou pelo rosto, encaixando os lábios dos dois um ao outro.

Eu prometi a mim que só olharia o suficiente, mas falhei.

Eu assisti ele agarrar os quadris dela e puxar com força para ele enquanto enfiava os dedos no cabelo cacheado da garota para pressionar os lábios dela ainda mais nos deles. Também vi quando ele escorregou uma de suas mãos tatuadas para debaixo do vestido dela, mas parou na bunda e a apertou com ferocidade. Notei o empenho que ele mantinha em manter um ritmo selvagem de sua língua dentro da boca dela, como se quisesse dominá-la por inteiro.

Aquilo definitivamente havia passado de apenas um beijo de brincadeira e havia se tornado uma cena de pré-sexo. Eu tenho certeza.

Evitei manter os olhos na cena posta diante de mim quando comecei a me sentir nauseado, logo virei o rosto, poupando-me do resto. Voltei a olhar apenas quando ouvi Ben ao meu lado murmurando enojado: "Finalmente acabou".

A garota estava sem fôlego e ainda o segurava pelo pescoço; parecia ofegante e atônita. Acho que beijá-lo deve ter sido um sonho realizado, ou então, tão bom que a deixou bêbada.

— Terminamos por aqui. — Chris a informa, novamente entediado.

Ela ficou em choque, parecia esperar por mais, até que se tocou que o cara à sua frente não tinha planos de pegar o seu número, chamá-la para sair ou continuar a beijando. Foi então que ela se levantou e voltou para onde estava, com o rosto visivelmente constrangido.

Para ele, ela era só mais um desafio. Nada mais. E isso foi um terrível balde de água gelada para a pobre e iludida garota.

— Dylon, você está brincando? — a voz de Marcos instantaneamente me fez entrar em pânico.

Em pé, diante do círculo, como se administrasse o jogo, ele me olhava sereno, enquanto eu surtava internamente ao constatar que havia perdido minha camuflagem.

Meu rosto inteiro arde de vergonha e arregalo os olhos ao ganhar a atenção de todos ali, até mesmo a de Christopher; que deixa um sorriso irônico despontar em seus lábios. Seus olhos verdes deslizam de cima a baixo sobre o meu corpo, sem o menor pudor.

Meu estômago se revira e preciso lembrar-me de respirar.

Apenas por tê-lo me encarando, sinto como se uma avalanche recaísse sobre mim de maneira abrupta e eu não soubesse o que fazer ou como escapar.

Cruzo os dedos uns nos outros e olho para Marcos, que, por sua vez, ainda espera uma resposta.

— Definitivamente, não. Para todos os efeitos, me vejam apenas como um abajur de decoração e esqueçam que eu estou aqui — disparo trêmulo e todos riem, menos eu.

Marcos cruza os braços e me lança um olhar com descrença.

— Não vai mesmo brincar? — insiste.

Balanço a cabeça.

— Fora de cogitação.

— Dylon não curte essas brincadeiras — Loren reforça, com o seu modo irmã protetora ativado, em seguida toma mais um gole de sua cerveja.

Ele parece contrariado, mas acaba assentindo. Sabe que rebater a minha irmã é o mesmo que pedir por uma guerra.

— Ok. E você, Ben? — Marcos aponta, tirando o foco de mim, e mentalmente o agradeço. Os olhares se vão para o garoto ao meu lado, ou, pelo menos, quase todos.

Sinto minha pele sendo fuzilada pelo olhar maciço de Christian, ainda em mim.

Meu coração está disparado no peito e minhas mãos soam frias. Por alguma razão ele continua me encarando. E, por soslaio, percebo seu olhar vagando por cada mísero pedaço do meu rosto, como se não pudesse se conter.

— Vou, eu não tenho nada melhor para fazer mesmo — Ben suspira.

— Ok, então... beijo ou consequência? — Marcos incita sorrindo.

— Espera! Você não vai girar a garrafa? — intervém, confuso.

Os dois trocam olhares. Marcos mantém um sorriso perverso no rosto, como se planejasse algo, até que o responde:

— Que se dane a garrafa.

Ben revira os olhos.

— Beleza! Beijo, então. — dá de ombros.

— Te desafio a beijar o Cristian — ele o provoca, aos risos.

— Ah, vá se foder! Se era o seu plano desde o início me fazer escolher consequência, era só ter dito. — Ben zomba.

Todos da roda caem na gargalhada, até mesmo Chris. O que verdadeiramente me admira, o fato dele não querer rebater que um menino foi desafiado a beijá-lo é bem legal.

Sem masculinidade frágil então. Ótimo!

— Tudo bem, consequência, então. — se rende.

— Responda, quem daqui dessa festa você gostaria de dar uns pegas?

Todos ficam apreensivos e curiosos. Até mesmo Loren se ajeita em seu banco. Exceto o som da música e das pessoas à nossa volta, ninguém mais ousou fazer barulho.

Sorrio disso. Tão curiosos.

— Não vou mentir, eu ficaria com o Dylon. — revela, curvando um breve sorriso tímido.

Ele lentamente vira o seu rosto para mim, apreensivo. E outra vez na mesma noite, arregalo os olhos e sinto minhas bochechas corarem.

Olho em volta, ainda abismado. Encontro Marcos com uma expressão irritada e os punhos cerrados. Próximo dele, vejo Christian, não muito diferente; o olhar sério e os lábios frizados. E há uma curta distância, a minha irmã... Visivelmente intrigada.

Ao que parece, a qualquer momento Ben vai ser estrangulado pelos dois garotos.

Ainda não sei o que há de tão errado dele ter dito isso, mas parece que de alguma forma conseguiu incomodá-los.

— Bom, não é como se eu fosse obrigar o Dylon a me beijar — prossegue, em seguida baixa a voz, em tom sugestivo agora: —, mas se ele quiser....

— Caramba, Dylon. — Joshua, ao lado de Claire, brinca, todo orgulhoso.

É claro que isso iria deixar os amigos de Loren chocados. Ninguém nunca menciona o meu nome em brincadeiras assim.

— E-eu acho melhor eu ir ao banheiro. — Gaguejo.

Tento não fazer cara de desespero. Já é constrangedor demais ter que passar por isso.

— Ok, vamos parar a brincadeira por aqui — Marcos determina, com um fundo de raiva.

— Eu não vou forçar um beijo, só quero que ele saiba que eu tô aqui para caso ele tenha interesse — Ben se defende.

— Não acho que o Dingo Bells tenha tão mal gosto assim para ficar com você — Christian se pronuncia, a voz rouca e grave.

— Que apelido é esse? — Loren se alerta.

Ah meu Deus!

Levanto-me de supetão e ergo a mão.

— Marcos tem razão! Já chega dessa brincadeira. — intervenho, nervoso.

Achei que finalmente íamos acabar com isso, contudo, Benjamin decidiu que era um bom momento para debater com Christian.

— E quem ele devia beijar? Você? — provoca ironico.

Chris se levanta com determinação e todos em volta olham para o enorme garoto.

— O que ele vai fazer? — ouço Claire murmurar.

Ele caminha confiante até a mim, sem nunca parar de me olhar. Tão depressa o seu cheiro me inunda; uma mistura de álcool e perfume masculino. Meu corpo estremece à medida em que ele fica mais próximo e me arrepio quando ele toca o meu rosto, deslizando o seu dedo suavemente sobre a minha bochecha.

Aquelas duas esmeraldas me fitam sérias. Ele se encurva até estar com o rosto próximo do meu ouvido.

Apesar de eu ter 1,70 de altura, isso não nos deixa em posições mais favoráveis, ainda assim, alcanço apenas o seu ombro.

— Vê-lo fazer cara de idiota, será quase tão mais satisfatório do que ter visto a sua bunda, Dingo Bells.

Engulo em seco.

— Não ouse me beijar ou eu arranco as suas bolas — ameaço.

Ele ri baixinho, achando aquilo puramente engraçado. Christian se afasta apenas o suficiente para ficarmos cara a cara.

–- Não se preocupe, no final dessa nossa brincadeira, vai estar implorando para que eu o beije — Cochicha apenas para mim e se retém por um momento, antes de prosseguir: — e não será nos seus lábios que irá me pedir para eu colocar a minha boca.

Seu rosto está tomado por malícia, enquanto que o meu está completamente cheio de vergonha.

Christian dá a volta e para logo atrás do meu corpo. Meu corpo se arrepia quando sou surpreendido e treme mais ainda quando sinto seus lábios sugando o meu pescoço.

Ben fica vermelho e vira a cara, ouço Christian rir baixinho, satisfeito com o que causou.

— Olhe para cá e aprenda a como deixar um cara duro, Ben, e só depois, o chame para um beijo.

Oh, não! Ele não disse isso.

Automaticamente meu cenho se crispou em raiva e me virei de uma só vez para ele. Antes mesmo que meu cérebro tenha se conectado com o resto, minha mão já estava quente com o impacto dela em seu rosto.

O suspiro dos que nos assistiam foi em um tipo de coral esquisito de se ouvir.

Quando me dei conta do que eu havia feito, já estava arrependido e com as duas mãos cobrindo a boca.

— Ai não... — arfo.

— Seu babaca! — Loren berrou — Vem, Dy. — de alguma forma ela já estava ao meu lado segurando o meu braço, pronta para me tirar dali.

Christian me encarava intrigado, enquanto a marca da minha mão em seu rosto ganhava aos poucos uma coloração mais avermelhada. Ele não parecia irritado com aquilo, apenas sorriu maligno, em um tipo de recado que dizia que isso não acabaria ali.

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Comentários

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AMEI!!!!!! Continua, por favor!. Mas que tenha uma boa continuação e um fim, né.

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