Fazem duas semanas que Caio praticamente se mudou pra cá. Ninguém falou isso em voz alta, mas ele agora tem escova de dente no banheiro, cuecas na gaveta de Daniel e o próprio lado da cama. O travesseiro dele tem cheiro de amaciante e suor recente. Eu sei porque às vezes, quando tô sozinho no quarto arrumando as coisas, eu me pego deitado ali, enfiando o rosto no travesseiro dele, imaginando o que fazem ali todas as noites em que sou mandado pro colchão da sala.
Na maioria dos dias, eu acordo com o barulho da porta batendo. É Daniel indo trabalhar depois de deixar Caio dormindo na nossa cama — na cama onde antes era só minha com ele. Caio costuma acordar mais tarde, descer só de cueca, esfregando os olhos e pedindo café. Não pra Daniel. Pra mim.
— Faz um pão com ovo pra mim, Lucas. E um café sem açúcar. — diz ele, sem nem me olhar.
Obedeço. Sempre obedeço.
Enquanto ele come, eu fico de pé, esperando ele terminar. Às vezes ele me manda ajoelhar, só pra marcar posição. Já me mandou lamber o chão uma vez, porque tinha derrubado um pouco de ovo. Ri quando viu minha língua encostar na sujeira.
— Boa, cachorrinho.
À noite, quando Daniel chega, os dois tomam banho juntos. Sempre juntos. Trancam a porta. Ficam rindo, falando alto, e eu ali, no corredor, de ouvido colado na porta, tentando adivinhar o que fazem. Às vezes escuto o barulho da água batendo forte no corpo de alguém, gemidos abafados, frases curtas.
— Abre mais.
— Engole tudo.
— Vai, senta até o fim.
Meu pau fica duro, apertado na cueca, mas eu não posso me tocar. Tenho que pedir permissão. Já cometi esse erro antes. E eles não me perdoaram fácil.
Uma noite, eles resolveram me chamar pro quarto. Meu coração disparou. Entrei achando que ia participar. Achei que, talvez, fosse uma noite de trégua. Besta. Iludido.
Estavam os dois pelados, deitados de conchinha. Daniel me mandou ajoelhar no canto do quarto.
— Fica aí. Só pra assistir. Se tocar, tá fodido.
Eu fiquei. De joelhos. O pau latejando. E eles começaram.
Caio subiu em cima de Daniel, cavalgando com vontade. O som da pele batendo, os gemidos, os beijos, o olhar entre eles. Daniel nunca me olhou daquele jeito. Nunca gemeu por mim daquele jeito. Caio rebolava, chamava ele de “amor”, mordia o peito dele.
E eu... só assistia. Com lágrimas escorrendo.
Daniel gozou dentro do Caio com um urro forte. O quarto inteiro cheirava a sexo. A suor. A gozo. A intimidade.
Mandaram eu limpar a bagunça antes.
— Vai, lambe o chão. A gente goza e você limpa. É pra isso que serve.
Eu lambi. Chão, lençol, pele. O gosto deles na minha boca, e nenhum deles olhava pra mim.
Naquela noite dormi no chão mesmo, sem colchão. Meu pau duro a noite toda. Sem gozar. Sem carinho. Sem nem um "boa noite".
E o pior? Eu adorei.