Um café - Parte 1 - Bourbon Amarelo e Chocolate Meio Amargo

Um conto erótico de Dr. Jeremiah
Categoria: Heterossexual
Contém 2122 palavras
Data: 11/07/2013 17:50:09
Última revisão: 13/07/2013 06:05:16

"Ela é linda", foi a primeira coisa que pensou ao vê-la. Cabelos curtos, negros, crespos. Óculos de lente quadrada, armação grossa. Poderia ser normal, não fosse linda. Você sabe descrever a beleza? É um amontoado de estatísticas? "2,63 centímetros de nariz, orelha de 5,47 centímetros." Ah... não. Beleza é algo que não se resume. É o fato dos vários brincos ao longo da orelha combinarem com os lábios avermelhados, com o sorriso no canto da boca, com o calhamaço ao lado da xícara de café, com a saia curta por baixo da mesa, com a tatuagem perto do pulso. É o conjunto.

Para seu desespero o café estava vazio demais para ter uma desculpa para pedir um lugar na mesa ; sentou perto. Não o mais perto possível. teria que ficar de cotas nesse caso, perder a chance, a possibilidade, a abertura. Lia fascinada como se fosse uma criança, cotovelo na mesa, face na mão, sorriso nos lábios. Precisaria esperar que saísse, subisse à superfície para respirar.

O menu entrou em seu campo de visão. "O que vai querer senhor?"

"Qual a marca do seu café?"

"Pé de Café. Um bourbon amarelo"

"Espresso longo. Açúcar." respondeu ainda com um olho nela. Seria seu dia de sorte? Uma mulher linda e um garçom que sabe explicar que café vende? Ela vira a página na exata hora em que se abaixa para colocar a pasta em cima da mesa e pegar seu livro. Quase para o movimento, mas continua. O barista começa a fazer o inconfundível estalo do moinho preenchendo o porta filtro e ele abre o livro, antes de perceber que não deveria estar lendo isso. Não quando o livro conta um pesadelo real, um cárcere privado, e mesmo não sendo esse o objetivo do livro, sempre o exita, e a aproximadamente três metros está a mulher mais bonita que viu em um bom tempo.

A imaginação começa a descarrilhar, enquanto lê, vigia, fantasia e aguarda. Mulheres que são multitarefa?

"Seu café senhor." Ao lado da xícara uma moeda de chocolate em embalagem verde.

"Menta?" O garçom confirma com a cabeça. "Tem meio amargo?"

"Claro. Só um momento."

Ela levantou os olhos. Ele sorri. Ela sorri e baixa os olhos para o livro de novo.

Agora, não conseguia fazer outra coisa além de imaginar o que teria chamado sua atenção. Isso e seu ritual. O gole de água com gás, o discreto bochecho, o gole de café para avaliar quanto açúcar usaria, tanto mais quanto pior o café, o adoçar. Meio sachê. Café forte, não amargo. Retrogosto intenso, e ainda havia o chocolate. Nenhuma conclusão depois o garçom trouxe a pastilha. Quando se virava para voltar ao balcão ela disse "Mais um, por favor."

A dinâmica do pedido que seria de esperar não continuou. O garçom apenas recolheu a xícara e foi embora sem perguntas. Quase perdeu o timing para perguntar.

"O que está lendo?"

"Para a faculdade..." ela respondeu displicente como se isso fosse resposta. Não fosse tão linda talvez pensasse em ficar com raiva.

"Que bom que faz um curso que gosta."

Foi pega. Agora não voltaria mais ao livro.

"Duvido que adivinhe qual é."

Rápido. Ela mesma tinha lançado o jogo. Ela também está interessada. Vamos jogar.

"Sem uma pista? Ao menos o nome do livro."

"Com o nome é fácil. O tema. É sobre a ideia da decadência. Como há meio milênio acreditamos que o mundo está condenado."

"E..." Sociologia? Filosofia? Com certeza humanas, mas qual? "está? Eu não quero estar condenado."

"Só o tempo dirá, mas como eu tenho uma camisa dizendo que sobrevivi ao fim do mundo duas vezes acho que não." Ela estufa o peito e aponta os seios, mostrando onde estaria a frase. A bata branca delineia mamilos duros, mas nenhum sinal de soutien. Isso é golpe baixo, acertando direto abaixo da linha da cintura.

"Eu preciso de uma camisa dessas."

Precisa muito.

"E o curso? Acha que vou deixar escapar?"

Com um vago "com licença" o garçom coloca a xícara onde a anterior estava. E uma embalagem marrom escura da pastilha de chocolate meio amargo.

Ele segura a xícara com as duas mãos, tem medo de tremer.

"De início pensei Filosofia, mas é muito concreto. A maioria dos filósofos está em castelos de abstração construídos no topo de montanhas de discurso." bebe um gole para avaliar se eliminou a opção certa "Aí Sociologia, a prima mais concreta, mas a sociologia não se ocupa tanto de ideias, Weber não fez tanta escola assim e aliás, nem ele trata tanto da tal ética." outro acerto, outro gole de café. Se sentia um pouco sem opções. O que mais poderia ser? A pausa estava ficando longa demais "Então... deve ser História. Estuda ideias e trata de um intervalo de 500 anos."

Chute. Risco. Mas ela sorri.

"Impressionante. Ou você já leu o livro e está só brincando comigo?"

Ela franziu o cenho, fingindo braveza, os lábios carnudos contradizendo os olhos zangados.

"Nunca li algo sobre isso, mas se historiador lê sobre o moleiro maluco que acredita que a nós somos todos uns vermes..."

Ela ri um pouco, provavelmente mais do fato de ser uma piada interna que da piada em si, horrorosa, ele tinha que admitir. Era isso? Uma historiadora, com bom humor, seios lindos e paixão pela área?

"Você estudou História?" Terreno amigo. Não mais um jogo.

"Antropologia na verdade, mas fiz duas optativas com a História oficialmente."

"Oficialmente?"

Tarde demais. Cântaros e fontes, cachimbos e bocas. Sempre contando a mesma piada.

"Teve um curso prático na época, mas foi extracurricular."

"Curso de quê?" Ela perguntou quando se deu conta que poderia apenas ter dito que frequentou mas não pôde se matricular.

"Anatomia feminina."

Ela ri de novo. Dessa vez melhor, mas gostoso, sonoro. Tem uma tatuagem no pescoço, escondida pela mão quando lia.

"No meu caso foi Letras." Ela respondeu sem mordacidade. "Ah, Sexualidade e Literatura..." ela suspirou teatral.

"No meu tempo não tinha isso!" Ele respondeu também teatral. Tensão sexual é um jogo. E os movimentos começavam a aparecer. "No máximo as índias peladas dos irmãos Vilas Boas." Riu da própria piada, ela também. Bom sinal. Pausa, ela levanta a xícara. Sem açúcar ou adoçante. Ele abre a pastilha de chocolate e põe na língua antes de colocar o café e aguardar que o chocolate derreta.

"E o que você está lendo?"

"Ah, eu tenho direito a um jogo também..."

"E o que eu preciso adivinhar?"

"O pais de quem escreveu."

"Manda."

"É uma história ficcionalmente real," ele começou a contar nos dedos "sobre escravas sexuais e tráfico humano, ditaduras maníacos em estados policiais, deportações em massa, paranoia e muita elipse." Dama branca para H5.

"Eu preciso ler esse livro." Ela respondeu, mais convincente do que ele tinha sido sobre a camisa. Cavalo do rei para F6.

"O livro fala de um país, mas quem escreveu é de um país vizinho."

"Eu desisto. Agora vem cá que eu quero ver o livro." Dama captura peão do bispo do rei. Mate.

Ele tomou o resto da xícara, com ar blasé, gastou alguns segundos colocando o marcador na página com cuidado para que ela não visse a capa e foi para a mesa dela. Seu perfume era almiscarado, intenso. Havia certa eletricidade no ar. No pulso que agarrou o livro ávido estava escrito a letra de máquina de escrever, "Gott ist tot". A do pescoço ficava do outro lado.

"Você é um canalha." ela disse abrindo a orelha do livro. A dela tinha seis brincos, piercings, gostava de nunca saber como chamá-los, uma vez que estavam todos na orelha.

"E tem os detalhes sórdidos todos?" ela perguntou, interessada depois do resumo lido.

"Sim... Não... Bastante." como explicar? Pare de olhar para os seios dela. Tinha construído uma relação bem pessoal com o livro. "Sim, mas não é o objetivo. Ele não se furta a contar, a mostrar, mas não é esse o objetivo dele."

"Entendo... Como Kundera?"

"Não. O Kundera escreve pra te deixar de pau duro mesmo." Ela ri, mas ele não consegue quando percebe que ele mesmo estava na situação potencialmente embaraçosa.

"Aquele velho pervertido..." ela começou a acusação fingida "Não se fazem mais safados como antigamente."

"Quem precisa de Sade quando tem Kink.com?"

"Humm Cherry Torn..." ela disse lambendo os beiços "Foda-se Sade."

Jackpot! Ela sabe o que o nome de uma modelo, e para qual site trabalha. É linda e inteligente. Com certeza era seu dia de sorte. Diga alguma coisa inteligente. Rápido!

"Adeus vovô Alphonsus." ele acenava como se despedindo de um trem que parte "Obrigado por tudo, mas estou apenas seguindo a natureza." olha para os lados freneticamente "Cherry?"

Ela já está gargalhando. Acerta um tapa de brincadeira em seu braço. "Seu palhaço."

"Só fora da sala. Meus alunos devem pensar que eu sou pior que Stálin."

"Infantil, assexuado e maníaco?" A tensão sexual já estava em níveis críticos. O jogo já caminhava para os limites do suportável. Então ela descruza as pernas.

"Efeito observador. Fenomenologia. Mecânica quântica." Pausa. "Já disse buzzwords o bastante?"

"Você dá aula onde?" ela pergunta, subitamente em um tom de voz casual. Teria sido um balançar afirmativo com a cabeça o que viu?

"Algumas aulas em uma faculdade particular," pôs a mão sobre a coxa dela, perto do joelho. O aceno quase imperceptível se repetiu. "três por semana. Muitas na rede estadual" deslizou a mão para a parte de dentro da coxa "oito por semana." ela continuava com o rosto completamente normal. "O resto do tempo sou aluno no mestrado. Sociedades complexas." deslizou a mão 'para cima', se aproximando da zona perigosa. "Meu projeto é sobre construção de identidades através de circuitos de lazer." A coxa dela era lisa e rija, quente e acolhedora. Acariciava com a ponta dos dedos a penugem macia e apertava com a palma da mão. Uma gota de suor surgiu na têmpora dela quando outra vez o movimento quase invisível da cabeça."Muita leitura da USP sobre antropologia urbana."

"Que tribo exatamente quer identificar?" Tocou com a ponta do médio o púbis. Liso, carne, quente. Sem calcinha, sem obstáculo, sem recusa.

"Exatamente identificar essa tribo." Seus lábios eram grandes, flexíveis. Entre os dedos, médio e indicador, deslizando. "Existe uma tribo 'independente' aqui que ninguém sabe identificar" Romper limites. Ainda mais. Entre os nós dos dedos, apertar sua carne macia com força. Ela mordeu o lábio inferior, mas sorriu. "um 'sincretismo' de candomblé, induísmo, anarquistas, hippies, rastafari..." Começou a penetrar sua fenda. Encharcada. Atolada. Inundada. Fervente como a cratera de um vulcão. "Essas pessoas se identificam, se reconhecem como grupo, mas é um grupo muito diverso." Já estava ficando torto na cadeira. A saia perigosamente alta. O médio adentrou a caverna. Sentiu um arquejo, mas ela tinha um autocontrole impressionante. Começou a procurar o clítoris com o polegar "Parte da sua identidade é a sua diversidade. E esse grupo tem artistas de vanguarda, que acharam o caminho das pedras das leis de incetivo" embaixo do seu polegar o clítoris escorregava, ora a direita, ora a esquerda do movimento circular. O indicador, dobrado em gancho deslizando para a frente e para trás na área áspera da parte de cima da vagina. Ela estava começando a ficar suada. Ele também. "Então esse grupo influencia parcelas importantes da sociedade. Tem artistas conhecidos, muitos universitários." Os braços dela começaram a tremer. Às suas costas, o garçom e o barista poderiam não estar suspeitando de nada, ou vendo tudo. "Mestre eu posso..." ela sussurrou, quase inaudível. "Sim, claro." ele respondeu com naturalidade como se fosse um pedido de licença no ônibus.

Ela tossiu, não de verdade, ele percebeu. Para não gemer, enquanto apertava com força as mão dele entre as coxas e a encharcava ainda mais. Com um movimento abrupto fechou os braços, arrastando sua xícara para fora da mesa. O café, já frio, acertou seu braço, a bata e a saia dela. Finalmente libertou sua mão. A tirou a zona de perigo antes que algum empregado aparecesse.

"Desculpe" disse entre uma residual tosse e outra "Molhei você todo" ela pegou vários guardanapos de papel e passou para ele. A expressão de pesar com que ela passava os guardanapos entre seus dedos molhados era quase maior que a dele.

"E você? Você se molhou toda." O café colou a bata na pele, mostrando um piercing no umbigo.

"Tenho outra muda de roupa nos fundos" Ela sorriu. O garçom agora já estava ao lado, um pano e mais guardanapos.

"Você trabalha aqui?" Ele perguntou espantado.

"Eu sou a dona daqui." ela respondeu com um sorriso de orgulho. "Carolina Venciani, a seu dispor."

"Saulo Castro." a mão fez o gesto de se oferecer, mas ainda estava sendo limpa pela outra.

[Revisão ortográfica 1]

[Revisão estilística 1]

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