Uma das coisas que eu mais curtia nesse site eram os contos picantes, carregados de erotismo e que passavam longe, na verdade quilômetros, destes contos de fadas de adolescentes de quinze, dezesseis anos virgens que idealizam o amor puro e perfeito, emoldurados pelo ambiente perfeito e momento perfeito. Na boa? Isso não existe. Não é assim. Acompanhei algumas sagas aqui que renderam algumas temporadas. À exceção de poucas que acompanhei sempre ávido pelos próximos capítulos, a maioria transmitia mentiras e, sobretudo, imaturidade; imaturidade, uma vez que são postadas, como já supracitado, por adolescentes que usam o site como escapismo para aprimorarem sua escrita e que, aparentemente, pouco entendem do amor e a confusão que ele pode acarretar.
Pois bem, aqui vou relatar uma história que está acontecendo comigo. Está sendo um porre e em virtude da bola de neve prestes a explodir que está se tornando, preciso desabafar. Por motivos de insegurança e privacidade, eu não irei revelar nomes e locais, apenas a cidade: Belo Horizonte. A data é este mesmo ano.
Me chamo Felipe e tenho 20 anos. Sou branco, olhos castanhos claros, uso óculos, de altura mediana, segundo o que dizem, um corpo legal e, segundo o que eu tenho certeza, gatinho. No início do ano entrei para a faculdade de Letras com habilitação em português-francês em busca de logo em seguida cair em um mestrado e, por conseguinte, ir para a docência. As aulas transcorreriam no período da noite. Conversei bastante sobre o assunto com meu namorado, sempre, em todas as longas conversas, revelando meu interesse. A zoação acontecia. Virar professor? Para quê? Passar fome e apanhar de aluno? No início eu refutava, mas passei apenas a pensar que talvez um dos motivos para a educação brasileira ser o que é, essa bosta, possa facilmente ser encontrado nesse tipo de pessoa que menospreza e desmerece a profissão.
Antes preciso dizer que meu namorado, aqui chamado de Matheus, é um cara completamente diferente de mim. Ele tem 22 anos e é a pessoa mais sem ambição de vida que conheço. Parou os estudos no ensino médio para ajudar com as despesas da casa e, deste então, pensa que sonhos são para os que não tem contas para pagar. Gostos completamente diferentes dos meus. Sou sim ligado a cultura, arte, literatura e boa música, já ele ostenta o sertanejo e funk como os melhores gêneros musicais. Não estou reclamando, pois gosto é gosto. Enquanto eu foco em estudar, aprender idiomas e tencionado a entrar para a área da editoração e docência, o Matheus é centrado no trabalho que tem e diversão para ele se resume a um dia de folga em que possa dormir o dia inteiro e assistir filmes.
Mas o que vi nele? Ah, essas coisas não são fáceis de encontrar a explicação. Nunca sobrelevei o amor ou o imaginei como é descrito nos livros românticos de Almeida Garret. Para mim bastou ele ter pegada, um sorriso bonito, honesto e carinhoso. É um moreno mais baixo do que eu, mas tão gostoso que, enquanto a maioria das nossas brigas acontecem por telefone, quando estamos juntos não penso em outra coisa a não ser em sexo.
No meu primeiro dia de aula me tornei a excitação e expectativa em pessoa. Era noite e a copa ainda não havia começado. Era correria para todo lado para concluírem as obras viárias a tempo do mundial. A avenida que leva ao centro de BH e que, por sua vez, passa pela minha faculdade, estava com uma das pistas interditada para obras. O resultado foi que cheguei bem mais de uma hora atrasado. Pedi a professora da matéria de metodologia do trabalho científico se podia entrar, e com um largo sorriso ela autorizou. A sala estava lotada. Cheia mesmo. Na hora eu sorri dos que menosprezam a área de letras, mas logo descobri que dividiríamos a sala com a turma de administração, pois tínhamos aquela matéria em comum.
No intervalo fui conhecendo o pessoal da minha área e fomos nos entrosando, perguntando nomes, idades, bairros onde moram e outras futilidades. Descobri que eu era o mais novo, com até então 19 anos. Alguns eram bem mais velhos, como a Sara, corretora de imóveis, uma mulher de 53 anos que se tornaria uma de minhas amigas. Não me conceituo como sendo tímido, mas evito grupos que passe de quatro pessoas e que a conversa gire em um tom de voz elevado e regada a gargalhadas sem sentido. Sou mais na minha. Inteligente, sim, eu assumo. Ouso a dizer que o mais foda da turma, pois aos poucos meus colegas foram se revelando desinteressados, preguiçosos, alguns estudando ali porque não conseguiram passar em outras áreas, e já outros, os mais velhos, porque queriam se formarem em algum curso superior.
À medida que os dias e semanas transcorriam, fui conhecendo mais os professores e, claro, meus colegas também. E é aí que meu problema começa. Volto para casa de carro com uma amiga de turma que mora na mesma região. Em um desses dias que acabávamos de ter uma aula “pesada” de teoria literária e o relógio anunciava que todos podiam ir embora, um dos caras um pouco velho, de 36 anos, chegou perto de mim e da Fernanda, a fim de jogar conversa fora. Ele se chama Pedro. Perguntou onde eu moro e eu falei o bairro sem nenhum problema. Foi a primeira vez que conversamos e, logo de cara, fui violentado pelos seus olhos que me fitaram de uma maneira constrangedora, como se estivesse gostando disso. Ele é formado em gastronomia, mas não conseguiu nada na área; faz parte da turma dos desinteressados e juro que logo de início não fui com a sua cara.
Mais e mais dias foram se passando. Meu namoro com o Matheus seguia na mesma, nada acalorado, mas também sem brigas ou discussões banais. Acho que a maioria dos casais são assim. Na faculdade eu me destacava, seja porque não havia concorrência ou porque eu estou engajado em tirar as maiores notas para conseguir o intercâmbio para estudar na faculdade de Coimbra, Portugal. Não trabalho, então na parte da manhã sempre procuro ler e me informar de assuntos que possam me adiantar nas aulas. Sou o típico nerd, ou o mais recente geek: apaixonado por literatura fantástica, jogos, gibis e quadrinhos, animes e toda sorte de filmes.
Na faculdade eu já tinha minha turma que eu escolhi a dedo. Com o resto não conversava e ainda não converso. Tenho vergonha de ter colegas de futura profissão que só estão estudando porque não conseguiram nada melhor, o que por consequência irá refletir na prática profissional e eles formarão alunos também desinteressados. Patético. Sempre via o Pedro rodeado de garotas que se intitulavam como suas “esposas”. Também acho isso patético. Os assuntos dele sempre giram em radicalismos: todo europeu não vale nada, os Estados Unidos é um país infértil, a sociedade brasileira é putrefata, essa geração nova está perdida, sexo, sexo e mais sexo... e por aí vai. Mas o que ele tem de estúpido e tendencioso, ele tem no fato de se gostoso: moreno também, mais alto do que eu, forte, olhos castanhos escuros, um sorriso branco e lindo, cabelo curto e barba sempre bem feita, bem vestido, perfumado e um volume entre as pernas que me faz suspirar. Mas embora tais atributos despertassem minha atenção, seu modo de ser relaxado e bastante sociável, muito popular, preguiçoso, fã de usar whatsapp durante as aulas, reproduzem em mim decepção e cólera.
Certo dia eu postei no grupo da nossa turma do facebook se em uma determinada sexta haveria aula. E eis que o próprio responde que não, rindo da minha preocupação acadêmica. Ignorei. Não demorou muito para que ele me mandasse uma solicitação de amizade, e é aí que a nossa história realmente começa....
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Para quem gostou comente e dê a nota que achar que eu mereça. Aviso que os fatos ainda estão acontecendo, portanto terão que ter paciência. Atualmente minha vida tornou-se um terremoto. Espero poder dividir isso com vocês e, por ventura, encontrar a solução :)