Acordei cedo naquela sábado com uma grande expectativa. Resolvi ficar em casa o dia todo esperando a ligação de Matheus que com certeza me ligaria a qualquer momento. Apesar de um certo receio pelo excesso de confiança, o coração não parou quieto instante algum.
Entrei no box da suite e tomei um longo banho. Por conta do Matheus também havia acostumado a ouvir uma determinada rádio que só tocava música antiga e quando o locutor anunciou o cantor Hildo, eu apenas o acompanhei na bela música... A LUA E EU, A LUA E EU... MAIS UM ANO SE PASSOU E NEM SEQUER OUVI FALAR SEU NOME... A LUA E EU... CAMINHANDO PELA ESTRADA, EU OLHO EM VOLTA E SÓ VEJO PEGADAS, MAIS NÃO SÃO AS SUAS, EU SEI... EU SEI... EU SEI... O TEMPO FAZ, EU LEMBRAR VOCÊ... AS FOLHAS CAEM MORTAS COMO EU... QUANDO OLHO NO ESPELHO, ESTOU FICANDO VELHO E ACABADO... PROCURO ENCONTRAR, NÃO SEI ONDE ESTA... VOCÊ, VOCÊ... VOCÊ... O TEMPO FAZ, EU LEMBRAR VOCÊ, AS FOLHAS CAEM, MORTAS COMO EU... Confesso que viajei legal e meu coração ficou mais cheio de confiança pra poder esperar pelos acontecimentosAcordei naquela manhã de sábado ainda pensando na mensagem da minha secretária eletrônica... " Somos iguais... Amo, você "... Uma saudade repentina do meu passado ficou martelando na cabeça e no coração. Tomei banho e após o café que Maria Rosa havia servido, liguei pra minha mãe...
_ Bom dia D. Amélia... E sorri.
_ Bom dia meu querido... Por pouco você não me pega em casa. Já estava de saída.
_ Será que a Senhora pode me esperar pra que possamos ir juntos?
_ Você tem certeza de que consegue, meu amor? Sua voz já estava meio que embargada pela emoção e isso me desarmou de vez...
_ Vou sim, mãe... Por favor me espera, Ok? Já falei chorando.
O lugar era lindo e de uma calma impressionante... O vento balançava as folhas das árvores dando um clima de saudade ao lugar. Fomos até o tumulo de meu pai e ao ajoelhar para colocar as flores que mamãe havia comprado, li seu nome e a data me fez voltar no passado exatamente dezoito anos... Foi forte tudo isso e chorei abraçado minha mãe...
_ Ah, meu querido... Seu pai agora esta em paz. Você nunca quis ouvir o que sempre quis lhe falar.
_ Então acho que hoje chegou o momento, D. Amélia.
_ Seu pai era um homem condenado, meu filho. Meses antes de sua morte, ele havia feito exames de rotina e um grave problema cardíaco foi detectado. Uma forte medicação foi ministrada para que seu pai pudesse aguentar firme até o transplante que foi imediatamente recomendado pelo Cardiologista que o acompanhou. Ele se desligou do Colégio particular em que lecionava e depois que nos deixava em nossos locais de atividades voltava pra casa para repousar.
_ Mãe, a Senhora nunca nos falou nada sobre isso...
_ Porque ele me pediu. Na verdade ele me proibiu. Apesar de que isso não seria segredo por mais tanto tempo. Naquele dia quando ele ouviu você e seu amigo discutindo lá fora eu, insisti para que ele não fosse até lá porque aquilo era coisa de garotos. Ele mesmo assim foi e momentos depois quando ele voltou me disse... " Você sabia que nosso filho é um maldito bicha, Amélia? "... Eu me surpreendi com sua pergunta e ele emendou... " Prefiro morrer do que viver com essa vergonha "... E ele começou a se agitar. Quando sua irmã chegou na sala pra saber o que tava acontecendo, ele caiu já sentindo uma dor fortíssima no peito. Eu pedi pra Ana Amélia te chamar... Seu amigo entrou primeiro e já foi fazendo aquela massagem nele, já fez a respiração... Eu lembro do desespero daquele garoto e senti uma pena enorme dele por estar ali se esforçando tanto por algo que já não tinha mais jeito... Depois lembro de você batendo nele que ficou a mercê da sua dor e ódio e aquilo foi errado porque não havia culpados ali... Seu pai era um homem muito radical, severo... Ele sabia do sério problema que enfrentava e deveria ter encarado aquela revelação com mais calma... Eu só sei meu amor que perdemos todos nós... Você mais ainda porque deixou de viver e deixou que o ódio prevalecesse entre todos os seus sentimentos...
Na volta pra casa fu percebendo que o peso que carregava no peito e a saudade que sentia de meu pai foram diminuindo gradativamente porque finalmente eu pude vislumbrar que nunca houve pessoas culpadas, houveram pessoas atingidas por uma tremenda e irremediável fatalidade.
_ Obrigado, mãe por me contar tudo aquilo. Amo você... Foi tudo o que disse quando a deixei na porta do Condomínio em que ela e Ana Amélia moravam.
Quando entrei em casa já fui dizendo pra minha fiel escudeira...
_ Alguém me ligou, Rosa?
_ Não Seu Matheus. Apesar de que eu atendi uma ligação e a pessoa desligou... Depois ligou de novo e desligou de novo quando atendi... O Senhor vai me desculpar mais mandei a criatura pro inferno.
_ Isso até que me surpreende, Rosa. Alguém conseguiu te tirar do eixo? Sorri já tirando a camisa pra poder tomar banho. Tô morto de fome. Acelera esse almoço que vou tomar um banho rápido.
Liguei a rádio e assim que entrei no banho ZIZI POSSI começou... QUANTAS NOITES NÃO DURMO, A ROLAR-ME NA CAMA, A SENTIR TANTA COISA QUE A GENTE NÃO SABE EXPLICAR QUANDO AMA... O CALOR DAS COBERTAS, NÃO AQUECE DIREITO... NÃO HÁ NADA NO MUNDO QUE POSSA AFASTAR ESSE FRIO DO MEU PEITO... VOLTA, VEM VIVER OUTRA VEZ A MEU LADO, NÃO CONSIGO DORMIR SEM SEU BRAÇO POIS MEU CORPO ESTA ACOSTUMADO... Apenas sorri sem nem mesmo saber o porquê.
Comi praticamente tudo o que minha querida Maria Rosa colocou em cima daquela mesa pelo menos duas vezes. O vinho que acompanhou aquele peixe ao molho estava gelado na temperatura certa e quando o doce caseiro que mamãe sempre mandava foi servido eu tive certeza de que se não levantasse dali, não conseguiria levantar nunca mais... Fui para o quarto pra tirar uma boa soneca, só que o celular me olhava como se quisesse me obrigar a fazer uma certa ligação que eu sabia que faria, só tinha medo do que daria tudo aquilo...
No terceiro toque ...
_ Matheus? Era quase visível sua cara de surpresa...
_ Eu mesmo - Hesitei antes de prosseguir - Há dois dias atrás você me deixou uma mensagem na secretária eletrônica e é por causa dela que estou ligando.
_ Confesso que tava aqui só esperando você ligar...
_ Precisamos colocar um ponto final nesse passado, né mesmo?
_ Acho que precisamos superar o que houve... Quanto a esse ponto final, não sei se estou preparado... Posso te ver? Ele falou com certa cautela.
_ Também quero te ver... Você pode vir em minha casa? Perguntei.
_ Gostaria muito...
_ Anota meu endereço então...
_ Não preciso, já sei... Me diz apenas a hora...
_ 20:00 h ta bom pra você? Ou vou atrapalhar algum compromisso que você já tenha? Se for o casso pode ser...
_ O horário tá perfeito. Vou tentar ser britânico dessa vez...
_ Assim espero, porque você nunca chegou na hora...
Ele riu por talvez lembrar do passado assim como eu e encerramos a ligação...
MARISA MONTE cantava a plenos pulmões... AGORA VEM PRA PERTO, VEM... VEM DEPRESSA, VEM SEM FIM, DENTRO DE MIM... QUE EU QUERO SENTIR O TEU CORPO PESANDO SOBRE O MEU... VEM MEU AMOR, VEM PRA MIM, ME ABRAÇA DEBAGAR... ME BEIJA E ME FAZ ESQUECER...BEM QUE SE QUIS... E dormi um sono tranquilo como nunca mais tinha dormido nos últimos dezoito anos da minha vida.
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Querido Povo do Lado Esquerdo, ontem quis muito cumprir minha promessa de volta com a postagem da noite e falar com vcs... O site não me deixou publicar de jeito nenhum o capítulo. Se tudo der certo, logo mais a noite essa trama estará terminada e espero que o final idealizado por mim seja coerente com o que vocês me disseram ao longo dessa jornada. Uma grande abraço... Nando Mota.