Então me lembrei que, ao retornar da malfadada viagem com Aline, prometera a mim mesmo que iria mudar o rumo da minha vida. Agora me dera conta que pouca coisa mudara e menos ainda eu fizera. Pior que isso, tive que aceitar o fato que qualquer vida sem a Bruna não era vida.
Depois de me acalmar, dei partida no veículo e fui para casa, pensando no que fazer para mudar minha vida no outro dia, porém, já no elevador, decidi que não precisava esperar por outro dia. Se for para mudar, por que não começar imediatamente.
Continua ...
Capítulo 07 – Reencontro
Decidido a mudar o estado em que as coisas se encontravam, entrei no apartamento gritando por minha mãe que veio do quarto assustada com o barulho que eu fazia, ainda abotoando um shorts surrado que gostava de usar em casa e depois puxando uma camiseta de malha de meu pai para cobrir a barriga. Estávamos na sala de visitas e fui logo intimando-a para que se sentasse no sofá, ocupando uma poltrona diretamente a frente dela, e fui logo dizendo:
–(Renato) Eu tenho algumas perguntas que quero que você me responda.
Ela apenas me encarou. Como se já tivesse programado a ordem das perguntas, comecei com a mais insignificante para mim:
–(Renato) Por que a senhora pagou para a Aline viajar comigo em julho?
–(Elaine) Que conversa é essa, menino? – Respondeu ela tentando fazer uma cara de quem não estava entendendo nada.
Mas eu já conhecia minha mãe e sabia que ela é uma péssima artista. Então fui logo ao ponto:
–(Renato) Vamos pular essa parte de que você não sabe de nada. Está bem? Não se esqueça que sou eu que sempre estou tirando suas dúvidas quanto meu pai implica com suas contas. Para isso, tenho sua senha e sei muito bem obter essas informações pela internet.
–(Elaine) E o que você viu na Internet?
–(Renato) Algumas coisas que deixam isso claro.
–(Elaine) Por exemplo?
–(Renato) Por exemplo, uma passagem de avião de Navegantes a Cumbica.
–(Elaine) Deve ser alguma doação que seu pai pediu para fazer.
–(Renato) Sem essa. Para simplificar as coisas e refrescar sua memória, está aqui a impressão. A compra foi efetuada um dia antes do pagamento do hotel onde Aline e eu nos hospedamos. Foi nesse dia e nessa hora que ela viajou.
–(Elaine) Ah meu filho! Eu tenho coisas mais importantes para fazer, me deixa ...
Ela foi dizendo isso e se levantando do sofá, então eu pulei da poltrona e praticamente a empurrei para que ela se sentasse de volta. Nunca havia agido de forma tão brusca com minha mãe e isso realmente a assustou, olhando para mim, já ia chamar minha atenção quando eu, apontando o polegar a centímetros de seu nariz, disse entre dentes:
–(Renato) Vamos deixar uma coisa clara aqui. Essa pergunta é apenas o começo e eu vou querer todas as respostas. Tudo bem?
Ela deu sinais que estava realmente entendendo e disse um está bem com a voz trêmula. Insisti na pergunta e ela finalmente respondeu:
–(Elaine) Eu queria que você se esquecesse da Bruna e ficasse com a Aline.
–(Renato) E por que isso? Eu já estava separado da Bruna. Qual o seu interesse em eu namorar a Aline se nem a conhece.
–(Elaine) Aquela Bruna não passa de uma riquinha metida e a Aline ficaria mais ligada a nós, pois além de sua família não ser bem de vida, sempre com problemas financeiros, ela é muito interesseira e, por isso mesmo, mais fácil de manipular.
–(Renato) Mas eu não estava mais com a Bruna.
–(Elaine) E também não saia com outras garotas. Eu tinha medo de que você sucumbisse e voltasse para ela depois do que ela te fez!
–(Renato) Verdade é? E o que foi que a Bruna me fez que eu nunca comentei nada aqui em casa.
–(Elaine) Você acha que seu tio Arnaldo não fica contando vantagem para toda família que comeu a sua namoradinha?
Recebi o choque e me controlei. Eu tinha que me controlar, porém, não pude deixar de criticar a atitude dela.
–(Renato) Quer dizer que vocês aqui em casa sabem o que ele fez e ainda aceitam que ele ande por aqui? Que tipo de gente você e o papai são? Me conte por favor que eu gostaria de entender.
– (Elaine) Tem muita coisa do seu tio que você não sabe.
–(Renato) Mas que você vai me contar agora. Não é mesmo?
Entendi na hora, pela reação de dona Elaine, que ela se deu conta que já tinha ido longe demais. Daí para frente, ficamos mais de quinze minutos com ela tentando me convencer que eu havia entendido errado, que ela não falara nada demais do meu tio e cunhado dela. Somente quando eu perdi de vez a paciência, fui até ela, coloquei uma mão em cada seu ombro e empurrava e puxava ela com tanta força que seu cabelo chegava a esvoaçar, enquanto gritava:
–(Renato) CHEGA DE TANTA MENTIRA, CHEGA DE TAPEAÇÃO. VOCÊ VAI ME CONTAR E VAI CONTAR AGORA.
–(Elaine) Pare meu filho. Por favor, não faça isso.
–(Renato) EU JÁ ESTOU FAZENDO ISSO. ANDA, COMECE A CONTAR.
Minha mãe olhou para o lado e seus olhos se fixaram preocupados no seu celular que estava em cima do console do aparelho de televisão. Imediatamente fui até lá, peguei o aparelho e fui direto para ligações recebidas. Não deu outra, as doze últimas ligações eram de telefones ligados ao meu tio: casa, escritório e celular.
Nesse instante minha mãe pulou para cima de mim e eu tive que ser forte com ela, imobilizando-a e empurrando de volta para o sofá onde ela caiu de bruços e começou a chorar. Raciocinei que, se ela chegara àquele ponto para arrancar seu celular de minhas mãos, tinha que ter ali coisas mais comprometedoras.
Busquei então pelas mensagens e havia várias dela, todas elas falando sobre sacanagem. Quando não eram avisos de que ele estava vindo para casa ou a esperando em algum lugar para transarem, eram comentários sobre a transa que tiveram. Entrei no WhatsApp e os recados tinham os mesmos teores, porém, vi que havia algumas fotos. A primeira que vi já me deixou enojado. Minha mãe, de quatro em uma cama de motel e o tio Arnaldo fodendo-a por trás. A cena era refletida em um espelho que ele registrava com seu próprio celular.
Aquilo me para mim foi demais. Minha mãe era uma puta que fodia com o próprio cunhado. Joguei o celular para o lado dela, porém, como usei pouca força, caiu no chão e vi a bateria se soltando e escorregando para baixo do sofá.
–(Renato) Desde quando isso acontece?
–(Elaine) Desde quando você tinha dois anos. Ele chegou um dia em casa e eu estava sozinha, ele foi me pegando e enfiando a mão por baixo de minha saia, forçando-me a beijá-lo e acabou me arrastando para o quarto e me comendo.
–(Renato) O papai sabe disso?
–(Elaine) Sabe sim. Eu contei para ele quando aconteceu a primeira vez.
–(Renato) E o que foi que ele fez?
–(Elaine) Saiu feito um louco atrás de seu tio e só tive notícias dele quatro horas depois. Seu tio, ligando de um hospital, disse que ele estava internado lá, muito machucado. Corri para o hospital e fiquei sabendo que seu pai tinha levado a maior surra da vida dele. E antes que você me pergunte, desse dia em diante, seu tio continuou a me usar do jeito que queria e, quando eu reclamava para seu pai ele dizia que era mentira minha e me acusava de ser uma mentirosa. Houve uma época em que ele chegou a me acusar de ter tido relações com seu tio desde antes do nosso casamento e sugerir que você seria filho do seu tio e não dele.
–(Renato) Vai ver que é por isso que ele me trata com tanta indiferença.
–(Elaine) Seu pai é um fraco. Sempre viveu na aba do seu tio e na única vez que resolveu enfrentá-lo, foi parar em um hospital onde ficou por quase uma semana de tanto que apanhou. Então, na cabeça dele, fica mais fácil ele fingir que nada acontece e que está bem.
–(Renato) E porque você continua aceitando sair com o tio Arnaldo, indo até mesmo ao encontro dele quando te chama.
–(Elaine) Não sei. No começo eu não ia, mas ele vinha atrás de mim, não me dava sossego. Com o tempo eu fui me acostumando e vou quando fico receosa de que você possa chegar em casa e nos pegar juntos. Já aconteceu de você chegar em casa e eu estar com ele no quarto e ficarmos quietos até você se fechar no seu quarto. Então continuamos a fazer o que estávamos fazendo e depois ele vai embora.
–(Renato) Nossa senhora, mãe. Que família que eu tenho!
–(Elaine) Não fala assim, sempre te demos tudo do bom e do melhor.
–(Renato) Tudo, menos uma família digna!
–(Elaine) Meu filho, você não pode ...
–(Renato) Cale a boca sua vadia. – Não sei onde encontrei forças para dizer isso a minha própria mãe e para continuar ali, mas eu ainda queria algumas respostas. Antes, porém, me ocorreu fazer uma pergunta que eu não tinha previsto: – Por acaso essa comédia que você e Aline representaram para cima de mim no intuito de eu namorar a ela e esquecer definitivamente a Bruna tem a ver com ciúmes de sua parte?
Dona Eliane me olhou assustada, abriu e fechou a boca mais de uma vez sem emitir som nenhum e não disse nada. Mas para mim não precisava, aquilo confirmou o que eu desejava saber.
–(Renato) Eles, o tio e a Bruna, ainda estão transando?
–(Elaine) Não. Não estão. Aliás, ele anda muito irritado com isso. Também, depois de ficar ligando e insistindo para ela sair sem conseguir nada, passou a fazer ameaças. Não sei como Bruna fez para alertar os pais dela, o que sei é que ela passou a ser seguida por seguranças aonde fosse.
–(Renato) Como é que você sabe disso?
–(Elaine) Porque ele me contou que um dia a seguiu e, chegando próximo à casa dela, em uma rua deserta, a ultrapassou e deu uma fechada, obrigando-a a parar. Mas quando ele desceu do carro para ir em direção ao carro dela, surgiu um carro preto a toda velocidade, que freou bruscamente próximo ao carro de Bruna. Desse carro desceram dois homens que, pelo tamanho e porte físico, não deixavam dúvidas quanto à suas intenções. E para piorar as coisas, um deles puxou a aba do paletó do terno que usava para o lado para que deixasse o Arnaldo ver que estava armado. Seu tio apenas se virou, entrou em seu próprio carro e sumiu dali. Depois disso, não tentou se aproximar de Bruna, mas continua telefonando para ela com ameaças de contar tudo o que eles fizeram na faculdade para os colegas dela.
–(Renato) Um verdadeiro filho da puta, – comentei baixinho para mim mesmo, – depois mudei de assunto, enquanto via que minha mãe agora me sondava, em uma visível intenção de ver qual seria minha reação pelo que eu acabara de ouvir. Ela só não se dava conta do meu estado de espírito muito alterado para ter qualquer reação. – Então passei à próxima pergunta:
–(Renato) E a Aline, ele já comeu também?
–(Elaine) Nunca. Você acha que eu a deixaria se aproximar dele? Aquela biscate ia adorar ser fodida por ele.
“Que mundo estranho”, pensei, “ela acusa meu tio de ser um animal, mas tem ciúmes dele como se fosse sua esposa”.
Diante das surpresas que tive com as revelações de minha mãe, decidi abandonar os demais questionamentos que tinha e fui em direção ao meu quarto, entrando e trancando a porta. Abri duas malas sobre a cama e comecei a colocar minhas roupas nela. Depois, em uma sacola, a maior que consegui encontrar, joguei sapatos, tênis e outras bugigangas.
Quando estava tudo pronto e já ia saindo, me lembrei do computador. Sobre a mesa estava o computador e o notebook. Eu costumava fazer compartilhamento de ambos, assim, tudo o que havia em um era encontrado no outro. Embalei o notebook, sentei-me diante do computador, inseri o disco de instalação do Windows e acionei o comando de formatar.
Em questão de segundos, após confirmar o comando, tudo o que existia ali estava se apagando. Não esperei pela conclusão do processo, pois sabia que seria demorado, então peguei uma mala e a sacola e levei até a garagem no subsolo. Acomodei no porta-malas e regressei ao apartamento. Peguei a outra mala e a bolsa onde estava o notebook, conferi a gaveta onde guardava meus documentos pessoais, tirando dali uma pasta com todos eles, acondicionei essa pasta junto com o notebook e sai novamente.
Quando estava atingindo a porta, minha mãe que até então permanecera estática no sofá, atirou-se a minha frente, pedindo pelo amor de Deus que eu não saísse de casa e evitando com todas suas forças, que eu a empurrasse do lado e saísse. Primeiro pediu, depois implorou e, quando viu que nada disso estava tendo resultado, ameaçou:
–(Elaine) Se você sair por essa porta vai se arrepender. Vou fazer com que seu pai não te dê mais nenhum tostão e você vai passar fome.
–(Renato) Eu posso trabalhar, – disse a ela tentando, mais uma vez, tirá-la a minha frente, o que não conseguia por ter as duas mãos ocupadas.
–(Elaine) Ah! Trabalhar como? Você nunca fez nada na sua vida?
Para quem acabar de deixar cair a máscara, revelando-se uma biscate, a Elaine, minha mãe, estava exagerando. Calmamente, deixei a mala no chão, ficando com a mão direita livre. Ao ver meu gesto, ela me olhou com um brilho de triunfo nos olhos. Brilho esse que pouco durou, pois o estalo de meu tapa em seu rosto soou alto e ecoou pela sala. Com raiva a voz, disse a ela?
–(Renato) Pode dizer ao corno do seu marido para enfiar o dinheiro dele no cu. Ah, e vou levar o carro porque foi um presente do meu avô.
Isso era verdade, quando eu completei dezoito anos o pai de minha mãe me deu um carro de presente e, desde então, a cada dois anos providenciava a troca do carro usado por um zero quilômetro.
Surpresa com minha reação e sabendo que havia subestimado o ódio que eu sentia, ela saiu para o lado com a mão sobre a face que já mostrava as marcas de meus dedos. Abri a porta, apanhei a mala, e saí, sem me incomodar em fechá-la. O elevador ainda estava no andar e vi de relance, minha mãe encostada na porta. Nossos olhos se encontraram e vi raiva naqueles olhos. Naquela hora soube que havia dado um passo que não teria mais volta. Confesso, porém, que aquilo me fez sentir aliviado.
Ainda na garagem, usei meu celular e liguei para o Kleyton que atendeu no segundo toque. Ele sempre atendia:
–(Kleyton) Fala brother, – disse ele na sua linguagem informal de sempre, – acho que a questão do trabalho está resolvida. Você fica com a Edna e a Bruna com o Álvaro. Eu e a Aline cuidaremos da parte que restar.
–(Renato) Eu ia te falar sobre isso mesmo, Kleyton. É o seguinte, concordo quando você diz que é sacanagem a Edna e o Álvaro terem que se separar. Pode me deixar com a Bruna que pra mim está tudo bem?
–(Kleyton) Ah! Vai! – Você nem fala mais com a mina! – Como vão poder fazer algo direito?
–(Renato) Isso você deixa por minha conta. Afinal, é problema meu e não seu.
–(Kleyton) Eu só quero que essas frescuras de vocês não atrapalhem as pesquisas porque se isso acontecer, todos serão prejudicados.
–(Renato) Pode deixar que prometo que não vai atrapalhar. Ah! Outra coisa cara, você ainda mora naquela república? – Os pais de Kleyton haviam se mudado pra o interior e ele não quis ficar morando sozinho no apartamento que eles deixaram para ele. Então alugou o apartamento e foi morar em uma república. Com o valor que recebia do aluguel, pagava a república e ainda lhe sobrava dinheiro.
–(Kleyton) Tem duas vagas. Por quê? Você sabe de alguém que está precisando?
–(Renato) Sei de um.
–(Kleyton) Mas já vou te avisando. Tem que ser gente boa. Não queremos gente encrenqueira aqui.
–(Renato) É gente finíssima. Acho que você vai aprovar. – Passe o endereço que vou mandá-lo aí.
Ele passou o endereço que anotei mentalmente, dei partido e saí do prédio. Parei em frente, dei uma última olhada para o local que havia sido minha residência nos últimos dezesseis anos e depois sai, sentindo um vazio no peito, mas como era um vazio que substituía um peso que carregara os últimos meses, me senti melhor.
Estava imaginando qual seria a reação do Kleyton quando lhe dissesse que o novo morador da república seria eu, quando meu celular tocou. Era Edna que, com sua voz calma e tranquila, me dava os parabéns pela decisão de participar do trabalho junto com Bruna. Trocamos poucas palavras e ela, dizendo que quando eu precisasse conversar com alguém que podia procurar por ela e seu marido, se despediu. Mal desliguei o celular e ele tocou novamente. Quando vi o número que chamava, meu coração gelou. Era Bruna que, com uma voz cuidadosa, como de alguém pisando em ovos, perguntou:
–(Bruna) Posso falar com você?
–(Renato) Você já está falando comigo. – Respondi da forma mais seca que consegui.
Ela vacilou ao perceber minha postura de distanciamento, mas depois disparou apressadamente, como que acabara de se encher de coragem:
–(Bruna) É verdade o que o Kleyton me disse? É verdade que nós dois vamos formar a dupla de pesquisa?
–(Renato) É verdade, – respondi com a voz mais distanciada que consegui e resolvi alfinetar, – por quê? Você não quer? Se não quiser pode falar que voltamos às formações anteriores.
–(Bruna) Não, não, imagine. Quero sim. Mas ... – a hesitação dela começava a me divertir, – ... quando poderemos nos reunir.
–(Renato) A qualquer hora a partir de amanhã. – Informei. – Hoje eu tenho que fazer uma coisa ainda.
Ela concordou e desligou. A emoção que ela demonstrou em falar comigo de uma forma natural, por eu ter aceitado a ligação e por não ter ofendido a ela era visível em sua voz.
Minha aceitação na república foi simples e rápida. O fato de ser da mesma classe que Kleyton que estava entre surpreso e feliz com a informação de que o novo inquilino seria eu, foi decisivo para a aprovação dos demais. Aliás, faltou a aprovação de um deles, mas Kleyton resolveu abrir uma exceção, dizendo que ele aceitaria mesmo. Então comecei a carregar as coisas do carro para a casa com a ajuda dele.
Era um casarão antigo, enorme, com seis quartos que foram adaptados para serem suítes e cada morador ocupava uma delas. As regras eram simples: coisas de comer colocadas na geladeira eram de propriedade comum, qualquer um poderia pegar, quem quisesse manter algum tipo de alimentos só para si, deveria providenciar uma geladeira dentro da suíte, só para ele.
Mas o mais divertido era a regra quanto às mulheres: Se fosse só uma ficante ou paquera e “desse sopa”, qualquer um poderia pegar também, mas namorada, nem pensar. Eu ri da simplicidade das regras deles. As mais sérias eram com relações às despesas comuns de água e energia que determinava multas para quem fosse flagrado cometendo desperdício. Ao receber a conta, seria verificado o valor acumulado em multas e a diferença dividida em partes iguais entre os moradores. Achei justo.
Pensei em dormir, mas Telma me ligou convidando-me para ir à casa dela para uma brincadeirinha com o ela e seu marido. Era assim que ela definia nossas transas. Achei que um sexo seria bem-vindo para aliviar a tensão que havia passado durante o dia e fui. Retornei antes da meia noite e encontrei Kleyton ainda acordado que veio me informar que o cara que faltava votar tinha concordado com minha permanência na república e que estava tudo certo.
Sabendo que não conseguiria dormir fácil e estando em meio de estudantes, perguntei ao meu amigo se ele não tinha uma bomba para eu dormir tranquilo. Ele disse que tinha uma que era tiro e queda. Entrou em seu apartamento e saiu de lá já com um copo de água me avisando.
–(Kleyton) Como você não está acostumado com isso, vai ter problemas para se ligar amanhã cedo. Melhor você, ao se levantar é fazer o processo das temperaturas do chuveiro?
–(Renato) Como assim? O que é isso?
–(Kleyton) Seguinte brother. Você vai acordar, mas vai se sentir zonzo de sono. Pode voltar a dormir ou então, vá tateando até o banheiro e ligue o chuveiro no quente. Entre em baixo e vai deixando esquentar ao máximo que aguentar. Quando não estiver mais aguentando, desligue o chuveiro e abra bem a torneira para esfriar. Quando estiver bem frio, ligue novamente e deixe esquentar. Vai doer um pouco, – ele riu de sua observação, – depois de umas três ou quatro vezes já vai estar desperto.
–(Renato) E eu que não sabia disso.
–(Elder) É marmanjo, – disse o Elder, – um cara de estatura mediana, bom físico, cujos pais tinham uma fazenda em Mato Grosso e posses suficientes para mantê-lo em São Paulo estudando, coisa que ele não fazia. – Tem muita coisa que você não sabe ainda.
Rimos da observação e entrei no apartamento que me fora destinado. Tomei um banho, ingeri o comprimido, mas ainda demorei a dormir, talvez por causa dos gemidos que vinham do apartamento ao lado do meu. Alguém estava realmente castigando uma xoxota por ali.
No outro dia acordei com meu celular tocando. Como não consegui abrir os olhos para ver o número que chamava, tateei para teclar o botão e atender. Uma voz rouca e autoritária de homem foi logo dizendo:
–(Arnaldo) Onde você está? Preciso falar com você.
–(Renato) Quem está falando? – Perguntei ainda aturdido.
–(Arnaldo) Não conhece mais a minha voz? É o tio Arnaldo!
–(Renato) Oras, vá se foder. – E joguei o telefone sobre a cama, sem mesmo desligar, dirigindo-me ao banheiro, onde cumpri o ritual sugerido por meu amigo, descobrindo que funcionava mesmo.
Quando voltei para a cama, o celular chamou novamente. Atendi, dessa vez disposto a enfrentar meu tio, pois era ele.
–(Arnaldo) Fala aí meninão, onde é que você se enfiou? Sua mãe está super preocupada e não para de chorar!
–(Renato) Então vai lá e consola ela. Afinal, você é bom nisso, não é?
O choque mostrado por ele indicava que ele não ainda não soubera que eu estava a par da relação que ele mantinha com minha mãe. Mais cauteloso, tentou contemporizar:
–(Arnaldo) O que é isso rapaz? – Você não costuma respeitar mais aos mais velhos?
–(Renato) Apenas àqueles que fazem por merecer respeito.
Houve um longo silêncio, um suspiro e enfim Arnaldo voltou a falar:
–(Arnaldo) Tudo bem. Já que você quer, vamos fazer do seu jeito. Pegue agora suas coisas e volte para casa.
–(Renato) Obrigado, mas já estou bem instalado.
–(Arnaldo) Acho que você não está entendendo seu moleque. Não estou pedindo, eu estou mandando.
–(Renato) Senão? – Tentei nesta hora colocar a maior carga de desprezo em meu tom de voz. Acredito que fui bem-sucedido, pois ele aumentou seu tom de voz
–(Arnaldo) Senão você vai se arrepender, isso eu te garanto.
–(Renato) O quê? Vai me agredir como fez com meu pai quando ele descobriu que você e essa ordinária aí estavam tendo um caso.
–(Arnaldo) Seu moleque mimado, você vai aprender a ...
Desliguei o telefone irritado e comecei a me vestir. Eu já havia perdido três das primeiras aulas, mesmo assim, não me apressei e, sem pressa nenhuma, fui chegar à Faculdade quando iria se iniciar a última aula. Todos me olharam assustados, pois não era comum alguém comparecer para assistir apenas uma aula, porém, eu tinha meus planos e o meu alvo, Bruna, acompanhou toda a trajetória que fiz da porta até a cadeira que eu sempre usava, conforme pude notar olhando-a com rabo de olho.
Fiquei ali, manuseando meu notebook, aguardando que o professor encerrasse a última aula. Quando isso aconteceu, permaneci sentado, de cabeça baixa, mas com a atenção voltada para Bruna. Ela se dirigia a saída andando lentamente e me olhando. Dava para perceber a confusão que lhe ia no espírito, pois tivéramos uma conversa amena por telefone no dia anterior e agora ela esperava que eu tivesse a iniciativa de iniciar a conversa sobre o trabalho que deveríamos fazer.
Esperei até ela ficar próxima a porta e apenas dois colegas nossos ainda não tinham saído da sala para chamá-la. Ela se virou imediatamente e veio quase correndo ao meu encontro. Ela vestia uma blusa branca de mangas compridas e uma jaqueta por cima, pois estava um pouco frio e ela havia chegado à Faculdade antes das sete da manhã. Completando o conjunto, uma saia que lhe ia até os joelhos e um par de botas de canos compridos.
De visível mesmo, apenas os joelhos. Quando chegou perto, parou e ficou esperando, em seu rosto, um misto de apreensão, medo e esperança. Seus olhos estavam vermelhos. Perguntei se poderíamos conversar naquela hora sobre o trabalho e ela concordou, perguntando aonde iríamos. Dei de ombros e disse que qualquer lugar serviria e vi um traço de decepção se somar às emoções estampadas em seu rosto. Então resolvi ceder um pouco e sugeri:
–(Renato) Vou deixar a decisão a seu cargo. Onde você quiser, nós vamos.
–(Bruna) Então vamos, – disse ela sorrindo timidamente.
Ela se dirigiu ao seu carro e a segui. Já que eu deixara a decisão para ela, então que ela dirigisse. Saindo do estacionamento da Faculdade, ela foi em direção à marginal Tietê. Enquanto dirigia, foi me passando as informações sobre o trabalho e o que já havia pesquisado a respeito. Parado em um sinal de trânsito, ela olhou pelo retrovisor e aquilo me deixou um pouco preocupado.
Quando o sinal ficou verde, ela entrou por uma ruazinha à nossa direita e parou na primeira vaga que encontrou, pegou o celular e discou com apenas um toque em uma tecla programada. Quando alguém a atendeu disse apenas que estava tudo bem, que ela estava com um colega de confiança, encerrando e ordenando para alguém que podia ir embora. Ficou quieta escutando uma resposta que, pelo jeito, não a agradou, pois começou a discutir mais bruscamente.
A discussão durou alguns segundos e, do outro lado, alguém insistia em não cumprir o que ela determinava. Por fim, dando-se por vencida, desligou e deu um suspiro longo. Nesta hora, ela olhou para mim e, pela primeira vez em muitos meses, nos encaramos. Olhos nos olhos. Bruna estava linda, mesmo com o cabelo preso em um coque, com o auxílio de uma caneta, coisa que ela era acostumada a fazer.
Seus olhos estavam com um tom verde claro, a pele perfeita, com pouca maquiagem. Prendi o seu olhar com o meu e não falamos nada por um longo minuto. Então eu tomei a iniciativa e fiz algo que sempre fazia. Era comum, quando ela prendia o cabelo daquela forma, que eu tirasse a caneta e, usando a mesma, ficava puxando o seu cabelo para que ele caísse como uma cascata negra cobrindo suas costas.
Ela, com um sorriso nos lábios, afastou seu tronco do encosto do carro para facilitar meu trabalho. Então nós nos olhamos de novo e vi duas lágrimas se formarem sob cílios longos que emolduravam seus olhos já perfeitos, dando-lhe maior beleza. Então ela se inclinou, encostando a cabeça em meu peito e iniciou um pranto longo e silencioso.
Suas lágrimas já molhavam minha camisa, quando suavemente, puxei-lhe a cabeça, segurei-lhe o queixo e a puxei de encontro a mim, beijando com ternura seus lábios carnudos que tremiam. Ela correspondeu ao beijo, sua respiração se alterou e ela forçou sua língua para de minha boca, transformando a suavidade do beijo em algo mais intenso, intensidade essa que foi aumentando até que nossas línguas duelavam dentro da boca, ora de um, ora de outro.
Minha mão procurou por seu joelho e foi alisando suas pernas que ela abriu, numa concordância com a minha intenção. Quando atingi sua xoxotinha por cima da calcinha, ela gemeu e arranhou minha nuca. Estava puxando a calcinha dela para o lado e já ia passar o dedo na entrada de sua bucetinha para testar sua umidade quando seu celular tocou. Ela atendeu, conversou um pouco e depois me disse:
–(Bruna) Temos que sair daqui, fui avisada que já tem uns garotos de rua sondando a gente.
Foi só nessa hora que nos demos conta que estávamos em um local onde se reuniam muitos viciados. Ela então colocou o carro em movimento e, sem me perguntar, saiu em direção à marginal, rodando até encontrar um motel onde entrou. Eu, que já me dera conta que ela estava sendo seguida por seus seguranças, perguntei:
–(Renato) E os guardas costas? Eles vão fazer o que?
–(Bruna) Irão ficar próximo a saída me esperando. Ah sim, e por falar nisso, – pegou o celular, repetiu a operação de ligar e foi logo falando: – Eu não tenho hora para sair. Se meus pais ligarem, digam a eles que estou bem, muito bem. – Depois desligou sorrindo de sua própria piada.
Entramos na suíte do motel que já estava aquecida. Ela arrancou a jaqueta e se abraçou a mim. Beijamo-nos eu a afastei de mim e comecei a desabotoar sua blusa. Cada botão que abria, lhe dava um beijo, ora no rosto, ora um selinho na boca. Quando abri por completo ela fez um movimento com os ombros que fez com que sua blusa caísse no chão. Fiz com que ela virasse, atirei seu cabelo por cima do ombro e soltei o fecho do sutiã, fazendo com que ela se voltasse para mim.
Que visão maravilhosa quando acabei de despir aquela peça e os dois seios se soltaram. Um deles totalmente exposto enquanto o outro mostrava apenas o mamilo que se sobressaia entre seus cabelos negros. Segurei os dois mamilos com o indicador e o polegar e ela gemeu baixinho. Repeti o gesto e ela não aguentou, colocou a mão em minha nuca, puxou-me de encontro a sua boca, enquanto seu quadril pressionava meu pau já duro, fazendo movimentos circulares.
Paramos o beijo, olhamos um para o outro e ela, sorrindo e com lágrimas a lhe escorrer pelo rosto, começou a soltar a saia. Animado com o gesto dela, arranquei minha blusa, tirei a calça jeans jogando os tênis para o lado e arranquei as meias. Acho que tinha acabado de bater meu próprio recorde em me despir quando vi que ela, sentada na cama só de calcinha e botas, começava a tirar essas últimas.
–(Renato) Não, – pedi, – fique com as botas.
Ela me olhou com um olhar divertido e subiu na cama. Fui para cima dela e comecei a beijá-la ternamente. Fui descendo com meus lábios em seu pescoço até atingir seus seios que foram chupados com carinho. Depois continuei a descer e fui tirando a sua calcinha com a ajuda dela e atingi seu grelinho com meus lábios.
Chupei aquele botãozinho durinho que brilhava e depois fui separando os lábios de sua buceta com a língua, lambendo o suco que já abundava ali. Mal posicionei minha língua na entrada da sua buceta e senti a pressão que ela fazia suspendendo o quadril e procurando minha boca com sua xoxota, enquanto seu gemido ia crescendo até se transformar em gritinhos.
Fiquei admirado, pois mal começávamos a trepar. Sem parar de gemer, ela me puxou pelos cabelos, fazendo com que eu ficasse sobre ela, na posição de penetração. Falei baixinho ao seu ouvido que ela nem tinha me chupado ainda e ela insistiu:
–(Bruna) Primeiro você me come. Me fode gostoso. Depois eu te chupo, eu faço tudo o que você quiser. A gente tem a vida inteira para ficar aqui. Eu vou fazer tuuudooo ...
Meu pau, com a ajuda dela, acabara de afundar em sua buceta e ela começou a gozar pela segunda vez. Comecei a fazer movimentos lentos e ela gemia e não demorou para que ela acelerasse os movimentos que fazia com os quadris, aumentando o meu tesão e fazendo com que eu também socasse com mais rapidez em sua buceta faminta. Nessa hora, perdi o controle que procurara manter até ali e gozei junto com ela.
Sem tirar o pau de sua buceta, permaneci sobre ela. Quando nossas respirações voltaram ao normal, disse em tom de brincadeira que ela estava muito tesão, pois já gozara três vezes. Ela então me respondeu:
–(Bruna) Lógico. Já faz mais de seis meses que não transo.
–(Renato) Mentirosa. – Disse isso beliscando um de seus mamilos e fui me levantando.
–(Bruna) Aonde você vai? – Quando eu disse que ia tomar um banho ela fez menção de tirar as botas, dizendo para eu esperar que ela ia junto.
–(Renato) Não vai não, disse eu. Hoje você vai ficar de botas. Você me dá muito tesão desse jeito.
–(Bruna) Mas como vou me limpar?
–(Renato) Se vira. Dá seu jeito.
Entrei na ducha e vi Bruna ir atrás de mim. Chegando ao banheiro, ela se sentou no vaso, pegou um chuveirinho que havia ali ao lado, regulou a temperatura da água e se lavou. Voltou para o quarto e quando eu cheguei lá, me esfregando com a toalha, ela estava nua, deitada com as pernas abertas, deixando à mostra aquela buceta que era um verdadeiro convite ao sexo.
Sorrindo, perguntou o que eu ia fazendo. Parei olhando para ela e fingindo pensar, então disse:
–(Renato) Bem gata. A gente acabou de fazer amor. Agora eu vou te foder.
–(Bruna) Como assim? – perguntou ela se divertindo.
–(Renato) Já lhe mostro. – Disse isso enquanto fazia o movimento com o indicador, chamando-a para perto de mim.
Quando ela chegou ao alcance da minha mão, desferi um tapa com a mão aberta em seu rosto. O estalo de tapa foi assustador. Achei que havia colocado mais força do que pretendia, porém, estava decidido agora a ir à forra. Ela me olhou assustada e não me comovi, desfechando outro tapa de igual intensidade na outra face.
Seus olhos estavam mais claros e pareciam ter aumentado em tamanho. Sua boca começou a se abrir e parou, mostrando seus dentes brancos. Suas narinas se dilatavam em uma respiração ofegante. Então nossos olhos se encontraram e uma centelha de eletricidade percorreu nossos corpos, como se partissem de um para outro.
Era como se eu dissesse que havia aprendido a lidar com ela ao mesmo tempo em que ela se admirava por isso e se preparava para o que estava por vir. Nesta hora, me ocorreu se aquilo não seria a definição que todos procuram.
Afinal, o que é o amor? Pensei e encontrei a resposta?! Primeiro a entrega recíproca, eu dela e ela minha. A ternura de ambos se dando e obtendo cada um a recompensa pela entrega. Agora o momento era meu, pois eu seria o dono, o dominador, o caçador. Bruna era apenas a caça, o objeto preparado para a entrega total.
Isso é o amor! – Pensei antes de ir para cima daquela cama.
Continua ...